Ficamos sabendo, graças ao O Globo, que a “ingerência política” do Governo está obrigando a Petrobras a apressar a instalação de nove unidades de produção, vão representar um acréscimo de um milhão de barris de petróleo por dia de capacidade instalada no país a partir do ano que vem. Ou, “apenas” mais 50% em nossa produção de óleo cru.
Deu para perceber que coisa escandalosa? Uma empresa de petróleo produzir mais petróleo e mais rápido para ter recursos para procurar e extrair mais petróleo?
Ora, qualquer um sabe – até o “consultor” de O Globo, Adriano Pires – que empresas de petróleo, quando possuem condições técnicas e financeiras, buscam antecipar ao máximo a entrada em produção de seus campos. Exatamente porque o petróleo que sai dali gera caixa para fazer frente a novos investimentos.
É curioso que, em abril deste ano, o mesmo jornal anunciava, com grande destaque, que tudo na Petrobras estava atrasado, em matéria de produção
“(…)a estatal enfrenta atrasos na construção em seis de dez projetos de produção previstos para este ano e o próximo — elevando, assim, segundo analistas, os riscos de não cumprimento de suas metas. De acordo com o Plano de Negócios 2013/2017, a situação mais crítica ocorre nos sistemas planejados para 2013: dos sete, cinco estão fora do cronograma. Para 2014, um dos três previstos está atrasado”.
E aí, claro, começa a cantilena pelo aumento do preço dos combustíveis, que estão baratos demais, embora O Globo não pare de publicar matérias sobre como é cara a gasolina brasileira.
Tudo para ir dourando a pílula e chegar num ponto que não pode ser dito diretamente, e que é o central para essa gente.
“A outra opção seria o governo não exigir que a Petrobras tenha, no mínimo, 30% de participação na exploração do pré-sal. Caso contrário, segundo Ana, o desenvolvimento da indústria petrolífera terá seu ritmo ditado pela capacidade de investimentos limitada da Petrobras.”
Capacidade limitada de investimentos que, como se vê, foi capaz de acelerar a construção e equipagem de navios e sistemas para poder ampliar, em pouco mais de um ano, em 50% a produção. E falar em desenvolvimento da indústria petrolífera, você sabe, é igual àquela história da Vale: tudo lá fora.
Ou você leu sobre alguma petroleira que esteja encomendando um navio, uma plataforma, algum equipamento pesado aqui?
É por isso que esse onirismo de “deixa o petróleo lá” esperando que tudo seja um mar de rosas é, quando não é puerilidade, é irresponsabilidade.
Ou, pior, um ardil para que, amanhã, possam voltar ao esquema entreguista do passado, que está fazendo o possível para tentar passar a imagem de “fracasso” de nossa política de exploração de petróleo e de nossa petroleira, a maior ferramenta de progresso econômico do Brasil, a Petrobras.
Por: Fernando Brito
O objetivo deste blog é discutir um projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil. Esse projeto não brotará naturalmente das forças de mercado e sim de um engajamento político que direcionará os recursos do país na criação de uma nação soberana, desenvolvida e com justiça social.
segunda-feira, setembro 30, 2013
Pnad mostra que Brasil cresceu em ritmo chinês, diz ministro Marcelo Neri
O secretário de Assuntos Estratégicos atribuiu o avanço registrado pela Pnad ao forte crescimento do mercado de trabalho
Agência Brasil
Rio de Janeiro – Os números divulgados nesta sexta-feira (27/9) pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), referentes ao ano passado, mostram que existem dois Brasis: um que gerou Produto Interno Bruto (PIB) de 0,9%, apelidado de “pibinho”, e outro, mostrado pela pesquisa, que revelou crescimento de 8% na renda média dos trabalhadores, "um desempenho de nível chinês". A análise foi feita secretário de Assuntos Estratégicos, ministro Marcelo Neri, que também acumula a presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
“A Pnad 2012 surpreende muito, porque foi o ano do 'pibinho' – o PIB cresceu 0,9%, mas a renda média dos brasileiros cresceu 8,9%. Ou seja, uma diferença de 8 pontos percentuais. O Brasil dos economistas está indo muito pior que o Brasil dos brasileiros. A desigualdade deu uma estabilizada [descendente] em 2012, mas, com certeza, a pobreza teve uma queda espetacular por conta do crescimento", afirmou Neri.
Segundo o ministro, em todos os extratos da população, a renda aumentou bastante, "em ritmo chinês", e "isso está em completa dissonância com os dados das contas nacionais do PIB”.
Marcelo Neri atribuiu o avanço registrado pela Pnad ao forte crescimento do mercado de trabalho, principalmente pelo aumento do salário e não tanto pelo crescimento na ocupação, pois o país está vivendo quase um momento de pleno emprego. “Houve uma melhora em termos de formalidade e mais acesso a direitos trabalhistas. Fundamentalmente, é uma economia em que o mercado de trabalho está descolado do crescimento do PIB. São dois Brasis completamente diferentes.”
Outros fatores que contribuíram para o bom momento da economia brasileira demonstrado na Pnad foram a melhor distribuição de renda e os ganhos reais do salário mínimo, destacou o ministro, que apontou nova queda na desigualdade: “de 2003 até 2011, tivemos um crescimento da renda na Pnad de 40,5% no acumulado. E o PIB per capita cresceu 27,7% nesse período.”
O ministro Marcelo Neri falou com a imprensa durante o 13º Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, promovido pela secretaria, em parceria com o Ministério da Defesa. O evento foi na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.
Agência Brasil
Rio de Janeiro – Os números divulgados nesta sexta-feira (27/9) pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), referentes ao ano passado, mostram que existem dois Brasis: um que gerou Produto Interno Bruto (PIB) de 0,9%, apelidado de “pibinho”, e outro, mostrado pela pesquisa, que revelou crescimento de 8% na renda média dos trabalhadores, "um desempenho de nível chinês". A análise foi feita secretário de Assuntos Estratégicos, ministro Marcelo Neri, que também acumula a presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
“A Pnad 2012 surpreende muito, porque foi o ano do 'pibinho' – o PIB cresceu 0,9%, mas a renda média dos brasileiros cresceu 8,9%. Ou seja, uma diferença de 8 pontos percentuais. O Brasil dos economistas está indo muito pior que o Brasil dos brasileiros. A desigualdade deu uma estabilizada [descendente] em 2012, mas, com certeza, a pobreza teve uma queda espetacular por conta do crescimento", afirmou Neri.
Segundo o ministro, em todos os extratos da população, a renda aumentou bastante, "em ritmo chinês", e "isso está em completa dissonância com os dados das contas nacionais do PIB”.
Marcelo Neri atribuiu o avanço registrado pela Pnad ao forte crescimento do mercado de trabalho, principalmente pelo aumento do salário e não tanto pelo crescimento na ocupação, pois o país está vivendo quase um momento de pleno emprego. “Houve uma melhora em termos de formalidade e mais acesso a direitos trabalhistas. Fundamentalmente, é uma economia em que o mercado de trabalho está descolado do crescimento do PIB. São dois Brasis completamente diferentes.”
Outros fatores que contribuíram para o bom momento da economia brasileira demonstrado na Pnad foram a melhor distribuição de renda e os ganhos reais do salário mínimo, destacou o ministro, que apontou nova queda na desigualdade: “de 2003 até 2011, tivemos um crescimento da renda na Pnad de 40,5% no acumulado. E o PIB per capita cresceu 27,7% nesse período.”
O ministro Marcelo Neri falou com a imprensa durante o 13º Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, promovido pela secretaria, em parceria com o Ministério da Defesa. O evento foi na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.
Mantega estima crescimento de 40% do PIB per capita em dez anos
Pela projeção, renda média per capita do brasileiro passaria a R$ 30 mil em 2022
por Fernanda Cruz, da Agência Brasil
Para ministro, dobrar o PIB em 15 anos é 'meta ambiciosa'
São Paulo – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, estimou hoje (30) um crescimento de 40% no Produto Interno Bruto (PIB) per capita entre 2013 e 2022, chegando ao valor de R$ 30 mil ao fim do período. Segundo o ministro, para isso seria necessária uma elevação de 4% no PIB, em média, e o investimento teria de crescer 7% ao ano, em média.
Ele destacou que o crescimento registrado de 2003 a 2012 foi 28%, sendo que o PIB per capita no país era R$ 16,6 mil em 2003 e passou para R$ 21,3 mil em 2012. Nessa época, o PIB cresceu 3,6% ao ano e o investimento teve alta média de 5,7%.
Mantega falou na capital paulista, na abertura do 10° Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), promovido em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O tema do encontro foi Estratégias para Dobrar a Renda Per Capita do Brasil em 15 Anos.
“Para dobrar em 15 anos, precisa de muita estratégia. É uma meta ambiciosa, que poucos países conseguiram atingir nesse período de tempo”, disse o ministro.
Ele traçou um panorama sobre o crescimento do PIB per capita nos últimos dez anos. De acordo com Mantega, na década, houve investimento em capital humano, não apenas em produção e infraestrutura.
O novo ciclo de crescimento, destacou o ministro da Fazenda, será impulsionado, sobretudo, pelo investimento em infraestrutura. O governo foca no Programa de Concessões, que investe R$ 500 bilhões em setores como portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e energia.
Ele lembrou que os leilões de energia e rodovias que estão em andamento têm como objetivo entregar a questão ao setor privado , que tem mais agilidade. “O investimento é um elevado multiplicador do PIB, é o que tem mais efeito multiplicador na economia”, declarou.
Para viabilizar investimentos, o país adotou medidas de redução de custo. O câmbio foi desvalorizado para favorecer o custo dos insumos, o país reduziu o custo da energia, minimizou o custo da elevação da mão de obra, por meio da desoneração da folha de pagamentos, e reduziu os custos financeiros (taxa de juros) e tributários (de impostos).
sexta-feira, setembro 27, 2013
Feinsilver: “Eu acho condenável os médicos brasileiros assediarem os cubanos, que foram para o seu país ajudar os mais pobres entre os pobres”
UOL – Médicos cubanos foram perseguidos em outros países?
Feinsilver – Não! Eu acho condenável os médicos brasileiros assediarem os cubanos, que foram para o seu país ajudar os mais pobres entre os pobres.
Para socióloga americana, médico brasileiro teme concorrência com cubano
Por: Cármen Guaresemin e Camila Neuman, UOL
Estudiosa da diplomacia médica cubana, a socióloga norte-americana Julie Feinsilver, formada pela Universidade de Yale, é uma exceção em seu país. Admiradora da medicina praticada no país governado pelos irmãos Raúl e Fidel Castro, ela lançou em 1993 o livro “Healing the Masses” (“curando as massas”, em tradução livre), no qual abordava o modelo implantado na ilha.
Hoje, tanto o livro como artigos da socióloga se transformaram em referências para quem quer se aprofundar em medicina cubana. Feinsilver, que vive em Washington, já contou em entrevistas que teria sido vigiada pela CIA e FBI, com direito a telefone grampeado.
“Acho condenável os médicos brasileiros assediarem os cubanos, que foram para o seu país ajudar os mais pobres entre os pobres”, disse Feinsilver em entrevista, por e-mail, aoUOL. “Houve protestos por parte de algumas sociedades médicas por causa de um medo infundado: a concorrência.”
UOL – No Brasil, o salário de um médico cubano que participa do programa Mais Médicos será de R$ 10.000, ou cerca de US$ 4.000. No entanto, 85% desse valor vai para o governo cubano. Cuba sempre faz esse tipo de acordo?
Julie Feinsilver – Sim, o governo oferece educação gratuita e muito mais para os médicos, e atua como um headhunter encontrando os postos de trabalho e gerenciando a contratação. Em um país capitalista, os profissionais pagariam impostos por todos os serviços e necessidades sociais básicas fornecidas, além de uma taxa para o headhunter. Não é razoável que o governo cubano negocie um acordo que seja bom para ele e para os médicos?
Em relação à porcentagem real de dinheiro no contrato com os médicos cubanos, não sei se 85% é a parte do governo. Falo baseada no caso típico em que o governo recebe a parte do leão. Um amigo me informou que o Brasil tem uma lei de transparência que torna pública a informação dos salários (Lei Complementar 131, também conhecida como Lei da Transparência, sancionada em 2009 e que obriga a União, os Estados e municípios com menos de 50 mil habitantes a divulgarem seus gastos na web), o que eu acho uma excelente ideia. Infelizmente, isso não é comum na maioria dos lugares e, em alguns casos, pela própria lei, essa informação fica “escondida”, ou seja, não é fácil de ser encontrada.
UOL – Sabe qual é o salário médio que os médicos recebem em Cuba e em outros países?
Feinsilver – Não há uma média. Salários dependem do acordo feito entre governo e o país interessado. No entanto, os salários em Cuba são muito baixos porque toda a educação e cuidados de saúde são gratuitos e o restante é altamente subsidiado. Isso não quer dizer que tudo seja maravilhoso em Cuba. Não é, mas os custos beiram o insignificante para necessidades muito básicas. Você não pode comparar preços, salários e custos em Cuba aos de qualquer outro lugar. Toda economia de lá é diferente da dos países capitalistas.
“Healing the Masses”, livro no qual a socióloga explica o modelo de medicina cubano; a obra é inédita no Brasil
UOL – Como o governo cubano repassa o dinheiro para os médicos? É possível monitorar se eles estão repassando os valores corretamente?
Feinsilver – Seus salários são pagos para suas famílias em Cuba com bônus por estarem no exterior, e o adicional é pago a eles no país onde estão, mas eu tenho sérias dúvidas de que isso possa ser monitorado. O governo brasileiro ou empresas brasileiras permitem que estranhos monitorem como pagam seu próprio pessoal? Eu duvido. Então, por que esperar que os cubanos façam isso?
UOL – Aqui no Brasil, os médicos cubanos vão trabalhar nas regiões mais pobres e remotas, onde os profissionais brasileiros não querem ir por falta de estrutura no local. Essa diferença foi vista no Brasil, por opositores ao programa federal Mais Médicos, como uma forma de exploração de médicos cubanos. Você concorda com essa afirmação?
Feinsilver – Não. Cubanos têm uma ideologia muito diferente da dos brasileiros. Eles se voluntariam para ir a áreas remotas e carentes em outros países e consideram um dever servir no exterior e ajudar os necessitados. Ganham muito mais dinheiro e obtêm vantagens fazendo isso, apesar de parecer um ganho muito baixo para os brasileiros. Claro que também estão altamente motivados pelo dinheiro extra e benefícios que receberão prestando serviço internacional.
Queria salientar que sua formação ideológica, desde a infância, é muito diferente da de pessoas de países capitalistas. No entanto, isso não significa que eles não estão interessados em ganhar muito mais dinheiro, principalmente porque nas recentes reformas econômicas (os cubanos gostam de chamar de “atualização de sua economia”), os médicos ficaram em desvantagem se comparados às pessoas que trabalham no turismo, área na qual gorjetas e ganhos em moedas fortes são comuns.
Missões no exterior ajudam a nivelar as condições de igualdade para eles, mas com grande sacrifício pessoal, pois deixam o seu país e os seus entes queridos para viver em condições ainda mais modestas e, por vezes, muito pior em outros países onde servem os pobres. Motivação ideológica dos médicos (saúde é um direito humano básico para todos) fornece uma justificativa importante para esse sacrifício, assim como o dinheiro que ganham.
“Cubanos têm uma ideologia muito diferente da dos brasileiros”, diz a socióloga
UOL – As principais entidades médicas brasileiras são contra a vinda de médicos estrangeiros, especialmente os cubanos, por serem a maioria, pois não vão fazer a mesma avaliação exigida aos que estudam fora para exercer a medicina no Brasil. Concorda com esse argumento?
Feinsilver – Não, médicos cubanos vão trabalhar em áreas carentes, onde a população tem necessidades básicas de saúde e pode ser mais do que adequadamente tratada por eles. A formação e o treinamento dos cubanos são diferentes das dos brasileiros (e de profissionais de outros países) porque junto com a medicina curativa, estudam e enfatizam a atenção primária, a prevenção de doenças e epidemias e a promoção da saúde. Eles avaliam o paciente como um ser vivo bio-psico-social e trabalham em um ambiente específico que também deve ser avaliado para melhorar a saúde da população.
UOL – Médicos cubanos foram perseguidos em outros países?
Feinsilver – Não! Eu acho condenável os médicos brasileiros assediarem os cubanos, que foram para o seu país ajudar os mais pobres entre os pobres. Eles [brasileiros] podem protestar para o seu governo, mas o tratamento que deram aos médicos cubanos foi antiprofissional e desumano. Houve protestos por parte de algumas sociedades médicas por causa de um medo infundado: a concorrência. Porém, os médicos locais se recusam a trabalhar onde os cubanos estão dispostos a ir: as áreas remotas e os bairros pobres.
UOL – O que motivou a senhora a estudar a medicina cubana?
Feinsilver – Vi as desigualdades dentro e entre os países enquanto pegava carona ao redor da América do Sul e Europa, muitos anos atrás. Isso me levou a estudar o que, na época, era um experimento social fascinante. E a saúde universal grátis era uma parte importante dessa experiência. O fato de um país pobre e em desenvolvimento decidir ajudar outros países prestando serviços de saúde gratuitos aos pacientes foi muito impressionante e esse é o tipo de ajuda externa que muitas nações mais desenvolvidas poderiam proporcionar.
O tratamento que os profissionais brasileiros deram aos médicos cubanos foi antiprofissional e desumano
UOL – O que atrai sua atenção na medicina cubana?
Feinsilver – A vontade e a capacidade de compartilhar seus conhecimentos e habilidades, da atenção primária à evolução do desenvolvimento da biotecnologia (devacinas e tratamentos) e transplantes de órgãos sofisticados, entre outros, a populações carentes de outros países. Além de fornecer gratuitamente educação médica para dezenas de milhares de estudantes pobres do mundo em desenvolvimento desde 1961, apesar de ter perdido metade de seus próprios médicos à emigração logo após a revolução (1959).
UOL – Como foi sua experiência como consultora na Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz)? (A socióloga morou um período no Brasil em 1996.)
Feinsilver – Foi maravilhosa, porém, eu só fiz uma breve consultoria, muitos anos atrás. Os executivos e cientistas que conheci eram altamente qualificados, muito bem educados, trabalhadores, pessoas dedicadas, além de serem interessantes e agradáveis para se trabalhar em grupo. Eu ficaria feliz em fazer outra consultoria se surgisse uma oportunidade.
UOL – Lembra-se do que viu aqui e de como era a saúde quando nos visitou?
Feinsilver – Lembro-me muito do Brasil, pois quando fui consultora da Fiocruz não foi a única vez que eu estive aí. Na verdade, eu peguei carona por todo o país, inclusive para Manaus, muitos anos antes e até assisti a algumas conferências. Também já passei férias aí.
No que diz respeito à saúde, lembro-me de muitas áreas com necessidades de melhoria e de médicos de classe mundial no Rio de Janeiro e em São Paulo. Eu não posso falar sobre todas as cidades, mas tenho certeza de que muitas tenham igualmente bons médicos… se você puder pagar por eles.
Feinsilver – Não! Eu acho condenável os médicos brasileiros assediarem os cubanos, que foram para o seu país ajudar os mais pobres entre os pobres.
Para socióloga americana, médico brasileiro teme concorrência com cubano
Por: Cármen Guaresemin e Camila Neuman, UOL
Estudiosa da diplomacia médica cubana, a socióloga norte-americana Julie Feinsilver, formada pela Universidade de Yale, é uma exceção em seu país. Admiradora da medicina praticada no país governado pelos irmãos Raúl e Fidel Castro, ela lançou em 1993 o livro “Healing the Masses” (“curando as massas”, em tradução livre), no qual abordava o modelo implantado na ilha.
Hoje, tanto o livro como artigos da socióloga se transformaram em referências para quem quer se aprofundar em medicina cubana. Feinsilver, que vive em Washington, já contou em entrevistas que teria sido vigiada pela CIA e FBI, com direito a telefone grampeado.
“Acho condenável os médicos brasileiros assediarem os cubanos, que foram para o seu país ajudar os mais pobres entre os pobres”, disse Feinsilver em entrevista, por e-mail, aoUOL. “Houve protestos por parte de algumas sociedades médicas por causa de um medo infundado: a concorrência.”
UOL – No Brasil, o salário de um médico cubano que participa do programa Mais Médicos será de R$ 10.000, ou cerca de US$ 4.000. No entanto, 85% desse valor vai para o governo cubano. Cuba sempre faz esse tipo de acordo?
Julie Feinsilver – Sim, o governo oferece educação gratuita e muito mais para os médicos, e atua como um headhunter encontrando os postos de trabalho e gerenciando a contratação. Em um país capitalista, os profissionais pagariam impostos por todos os serviços e necessidades sociais básicas fornecidas, além de uma taxa para o headhunter. Não é razoável que o governo cubano negocie um acordo que seja bom para ele e para os médicos?
Em relação à porcentagem real de dinheiro no contrato com os médicos cubanos, não sei se 85% é a parte do governo. Falo baseada no caso típico em que o governo recebe a parte do leão. Um amigo me informou que o Brasil tem uma lei de transparência que torna pública a informação dos salários (Lei Complementar 131, também conhecida como Lei da Transparência, sancionada em 2009 e que obriga a União, os Estados e municípios com menos de 50 mil habitantes a divulgarem seus gastos na web), o que eu acho uma excelente ideia. Infelizmente, isso não é comum na maioria dos lugares e, em alguns casos, pela própria lei, essa informação fica “escondida”, ou seja, não é fácil de ser encontrada.
UOL – Sabe qual é o salário médio que os médicos recebem em Cuba e em outros países?
Feinsilver – Não há uma média. Salários dependem do acordo feito entre governo e o país interessado. No entanto, os salários em Cuba são muito baixos porque toda a educação e cuidados de saúde são gratuitos e o restante é altamente subsidiado. Isso não quer dizer que tudo seja maravilhoso em Cuba. Não é, mas os custos beiram o insignificante para necessidades muito básicas. Você não pode comparar preços, salários e custos em Cuba aos de qualquer outro lugar. Toda economia de lá é diferente da dos países capitalistas.
“Healing the Masses”, livro no qual a socióloga explica o modelo de medicina cubano; a obra é inédita no Brasil
UOL – Como o governo cubano repassa o dinheiro para os médicos? É possível monitorar se eles estão repassando os valores corretamente?
Feinsilver – Seus salários são pagos para suas famílias em Cuba com bônus por estarem no exterior, e o adicional é pago a eles no país onde estão, mas eu tenho sérias dúvidas de que isso possa ser monitorado. O governo brasileiro ou empresas brasileiras permitem que estranhos monitorem como pagam seu próprio pessoal? Eu duvido. Então, por que esperar que os cubanos façam isso?
UOL – Aqui no Brasil, os médicos cubanos vão trabalhar nas regiões mais pobres e remotas, onde os profissionais brasileiros não querem ir por falta de estrutura no local. Essa diferença foi vista no Brasil, por opositores ao programa federal Mais Médicos, como uma forma de exploração de médicos cubanos. Você concorda com essa afirmação?
Feinsilver – Não. Cubanos têm uma ideologia muito diferente da dos brasileiros. Eles se voluntariam para ir a áreas remotas e carentes em outros países e consideram um dever servir no exterior e ajudar os necessitados. Ganham muito mais dinheiro e obtêm vantagens fazendo isso, apesar de parecer um ganho muito baixo para os brasileiros. Claro que também estão altamente motivados pelo dinheiro extra e benefícios que receberão prestando serviço internacional.
Queria salientar que sua formação ideológica, desde a infância, é muito diferente da de pessoas de países capitalistas. No entanto, isso não significa que eles não estão interessados em ganhar muito mais dinheiro, principalmente porque nas recentes reformas econômicas (os cubanos gostam de chamar de “atualização de sua economia”), os médicos ficaram em desvantagem se comparados às pessoas que trabalham no turismo, área na qual gorjetas e ganhos em moedas fortes são comuns.
Missões no exterior ajudam a nivelar as condições de igualdade para eles, mas com grande sacrifício pessoal, pois deixam o seu país e os seus entes queridos para viver em condições ainda mais modestas e, por vezes, muito pior em outros países onde servem os pobres. Motivação ideológica dos médicos (saúde é um direito humano básico para todos) fornece uma justificativa importante para esse sacrifício, assim como o dinheiro que ganham.
“Cubanos têm uma ideologia muito diferente da dos brasileiros”, diz a socióloga
UOL – As principais entidades médicas brasileiras são contra a vinda de médicos estrangeiros, especialmente os cubanos, por serem a maioria, pois não vão fazer a mesma avaliação exigida aos que estudam fora para exercer a medicina no Brasil. Concorda com esse argumento?
Feinsilver – Não, médicos cubanos vão trabalhar em áreas carentes, onde a população tem necessidades básicas de saúde e pode ser mais do que adequadamente tratada por eles. A formação e o treinamento dos cubanos são diferentes das dos brasileiros (e de profissionais de outros países) porque junto com a medicina curativa, estudam e enfatizam a atenção primária, a prevenção de doenças e epidemias e a promoção da saúde. Eles avaliam o paciente como um ser vivo bio-psico-social e trabalham em um ambiente específico que também deve ser avaliado para melhorar a saúde da população.
UOL – Médicos cubanos foram perseguidos em outros países?
Feinsilver – Não! Eu acho condenável os médicos brasileiros assediarem os cubanos, que foram para o seu país ajudar os mais pobres entre os pobres. Eles [brasileiros] podem protestar para o seu governo, mas o tratamento que deram aos médicos cubanos foi antiprofissional e desumano. Houve protestos por parte de algumas sociedades médicas por causa de um medo infundado: a concorrência. Porém, os médicos locais se recusam a trabalhar onde os cubanos estão dispostos a ir: as áreas remotas e os bairros pobres.
UOL – O que motivou a senhora a estudar a medicina cubana?
Feinsilver – Vi as desigualdades dentro e entre os países enquanto pegava carona ao redor da América do Sul e Europa, muitos anos atrás. Isso me levou a estudar o que, na época, era um experimento social fascinante. E a saúde universal grátis era uma parte importante dessa experiência. O fato de um país pobre e em desenvolvimento decidir ajudar outros países prestando serviços de saúde gratuitos aos pacientes foi muito impressionante e esse é o tipo de ajuda externa que muitas nações mais desenvolvidas poderiam proporcionar.
O tratamento que os profissionais brasileiros deram aos médicos cubanos foi antiprofissional e desumano
UOL – O que atrai sua atenção na medicina cubana?
Feinsilver – A vontade e a capacidade de compartilhar seus conhecimentos e habilidades, da atenção primária à evolução do desenvolvimento da biotecnologia (devacinas e tratamentos) e transplantes de órgãos sofisticados, entre outros, a populações carentes de outros países. Além de fornecer gratuitamente educação médica para dezenas de milhares de estudantes pobres do mundo em desenvolvimento desde 1961, apesar de ter perdido metade de seus próprios médicos à emigração logo após a revolução (1959).
UOL – Como foi sua experiência como consultora na Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz)? (A socióloga morou um período no Brasil em 1996.)
Feinsilver – Foi maravilhosa, porém, eu só fiz uma breve consultoria, muitos anos atrás. Os executivos e cientistas que conheci eram altamente qualificados, muito bem educados, trabalhadores, pessoas dedicadas, além de serem interessantes e agradáveis para se trabalhar em grupo. Eu ficaria feliz em fazer outra consultoria se surgisse uma oportunidade.
UOL – Lembra-se do que viu aqui e de como era a saúde quando nos visitou?
Feinsilver – Lembro-me muito do Brasil, pois quando fui consultora da Fiocruz não foi a única vez que eu estive aí. Na verdade, eu peguei carona por todo o país, inclusive para Manaus, muitos anos antes e até assisti a algumas conferências. Também já passei férias aí.
No que diz respeito à saúde, lembro-me de muitas áreas com necessidades de melhoria e de médicos de classe mundial no Rio de Janeiro e em São Paulo. Eu não posso falar sobre todas as cidades, mas tenho certeza de que muitas tenham igualmente bons médicos… se você puder pagar por eles.
“NÃO CREIO EM GERAÇÃO ESPONTÂNEA NA ECONOMIST” diz Maria da Conceição Tavares
Professora Maria da Conceição Tavares já deixou registrado que revista inglesa é pautada por interesses escusos do capitalismo global; e não apenas por seus jornalistas; matriarca dos desenvolvimentistas do País diz: "Não acredito nessa geração espontânea nas páginas da Economist, por mais que isso combine com o seu conservadorismo"; para ela, "o alvo é 2014"; análise se deu a respeito de pedido da cabeça do ministro Guido Mantega, feito pelo magazine da terra da rainha Elizabeth no final do ano passado; mas vale para o caso atual de crítica grosseira à economia brasileira; 247 apurou que ex-ministro Pedro Malan tornou-se uma das principais fontes de informação da publicação; artigo
247 – Entre os mais de 150 comentários gerados nas primeiras duas horas de exposição do texto Economist Ataca Brasil na Hora de Nova Decolagem, um leitor enviou artigo da professora Maria da Conceição Tavares como contribuição ao debate.
A matriarca dos economistas desenvolvimentistas do Pais sustentava, no referido texto, que a publicação inglesa não possui "geração espontânea" de reportagens quando se trata de assuntos de interesse do grande capital internacional. Ao contrário. Para a professora, sempre que esses interesses estão em jogo, a Economist se pauta por eles, e não simplesmente pelos fatos jornalísticos.
Escrito na virada de 2012 para 2013, quando a Economist, com todas as letras, e de maneira grosseira, pediu a cabeça do ministro da Fazenda, Guido Mantega, à presidente Dilma Rousseff, o artigo de Maria da Conceição serve como uma luva para o caso presente: na capa desta semana, o magazine volta a fazer carga pela desestabilização da economia brasileira.
Na ocasião, 247 apurou que o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, atual diretor do banco Itaú, era uma das principais fontes da revista inglesa no Brasil (aqui).
Abaixo, o texto de autoria da professora Maria da Conceição Tavares remetido ao 247, publicado originalmente no site Carta Maior:
"A revista Economist sabe, e se não sabe deveria saber o que está acontecendo no mundo; a revista Economist, suponho, enxerga o que se passa na Europa; sobretudo, não é cega a ponto de não ver o que salta aos olhos em sua própria casa.
"A economia inglesa despenca de cabo a rabo atrelada ao que há de mais regressivo no receituário ortodoxo, numa escalada pró-cíclica de fazer medo ao abismo. Então que motivações ela teria para criticar o Brasil com a audácia de pedir a cabeça do ministro da economia de um governo que se notabiliza por não incorrer nas trapalhadas que estão levando o mundo à breca?
"O coro contra o Mantega não me convence. Nem nas suas alegações, nem nos seus protagonistas, nem na sua batuta.
"Não acredito nessa geração espontânea nas páginas da Economist,por mais que isso combine com o seu conservadorismo. Não acredito que a motivação seja econômica e não acredito que o alvo seja o Mantega
"Pela afinação do coro vejo mais como algo plantado daqui para lá; o alvo é 2014 e o objetivo é fortalecer o mineiro (NR Aécio Neves)
"A mim não me enganam. Ah, quer dizer então que o Brasil vive uma crise de confiança, por isso os empresários não investem? Sei...
"O investimento está retraído no planeta Terra, nos dois hemisférios do globo. Bem, a isso se dá o nome de crise sistêmica. É disso que se trata. Hoje e desde 2008; e, infelizmente, por mais um tempo o qual ninguém sabe até quando irá, mas não é coisa para amanhã ou depois, isso é certo. Então não existe horizonte sistemico de longo prazo e sem isso o dinheiro foge de compromissos que o imobilizem. Fica ancorado em liquidez e segurança, em papéis de governo ricos, em especial (paga para se abrigar nos papéis alemães,por exemplo, recebendo em troca menos que a inflação).
"Não é fácil você compensar em um país aquilo que o neoliberalismo esfarelou e pisoteou nos quatro cantos do globo. Por isso não se investe nem aqui, nem na China ou nos EUA do Obama. E porque também mitos setores estão com capacidade ociosa –no mundo, repito, no mundo.
"A política monetária sozinha não compensa isso, da mesma forma que o consumo não alarga o horizonte a ponto de estender o longo prazo requerido pelo capital. Então do que essa gente está falando?
"Alguns deles certamente conseguem compreender o que estou dizendo. Estes, por certo não fazem a crítica que eu faria, se fosse o caso de fazer alguma. A meu ver o Brasil tem que ser ainda mais destemido na redução do superávit primário – e nisso Mantega está sendo até excessivamente fiscalista, para o meu gosto.
"Mas com certeza a malta que pede a sua cabeça não pensa assim. Também não pensa, como eu penso, que o governo deve ir mais depressa no investimento estatal, fazer das tripas coração no PAC , porque é daí, do investimento público robustecido que pode irradir a energia capaz de destravar a inversão privada.
"Mas não. A coisa toda cheira eleitoral. A economia internacional não vai crescer muito em 2013. O Brasil deve ficar acima da média. Mas, claro,nenhum desempenho radiante e eles sabem disso.
"Então imaginam ter encontrado a brecha para fincar o pé de palanque do mineiro. E começam a disparar para atingir Dilma.
"Agora pergunte o que eles propõem ao Brasil. Pergunte. E depois confira onde querem chegar olhando as estatísticas de emprego, investimento e as sondagens quanto a confiança dos empresários em Portugal, na Inglaterra, Espanha... Ora, façam-me o favor"
MUJICA DO URUGUAI, O DOCE GIGANTE DA ONU
Do Conversa Afiada
“É muito difícil inventar uma força pior que o nacionalismo chovinista das grandes potências. A força é que liberta os fracos.”
Amigos, sou do sul, venho do sul. Esquina do Atlântico e do Prata, meu país é uma planície suave, temperada, uma história de portos, couros, charque, lãs e carne. Houve décadas púrpuras, de lanças e cavalos, até que, por fim, no arrancar do século 20, passou a ser vanguarda no social, no Estado, no Ensino. Diria que a social-democracia foi inventada no Uruguai.
Durante quase 50 anos, o mundo nos viu como uma espécie de Suíça. Na realidade, na economia, fomos bastardos do império britânico e, quando ele sucumbiu, vivemos o amargo mel do fim de intercâmbios funestos, e ficamos estancados, sentindo falta do passado.
Quase 50 anos recordando o Maracanã, nossa façanha esportiva. Hoje, ressurgimos no mundo globalizado, talvez aprendendo de nossa dor. Minha história pessoal, a de um rapaz — por que, uma vez, fui um rapaz — que, como outros, quis mudar seu tempo, seu mundo, o sonho de uma sociedade libertária e sem classes. Meus erros são, em parte, filhos de meu tempo. Obviamente, os assumo, mas há vezes que medito com nostalgia.
Quem tivera a força de quando éramos capazes de abrigar tanta utopia! No entanto, não olho para trás, porque o hoje real nasceu das cinzas férteis do ontem. Pelo contrário, não vivo para cobrar contas ou para reverberar memórias.
Me angustia, e como, o amanhã que não verei, e pelo qual me comprometo. Sim, é possível um mundo com uma humanidade melhor, mas talvez, hoje, a primeira tarefa seja cuidar da vida.
Mas sou do sul e venho do sul, a esta Assembleia, carrego inequivocamente os milhões de compatriotas pobres, nas cidades, nos desertos, nas selvas, nos pampas, nas depressões da América Latina pátria de todos que está se formando.
Carrego as culturas originais esmagadas, com os restos de colonialismo nas Malvinas, com bloqueios inúteis a este jacaré sob o sol do Caribe que se chama Cuba. Carrego as consequências da vigilância eletrônica, que não faz outra coisa que não despertar desconfiança. Desconfiança que nos envenena inutilmente. Carrego uma gigantesca dívida social, com a necessidade de defender a Amazônia, os mares, nossos grandes rios na América.
Carrego o dever de lutar por pátria para todos.
Para que a Colômbia possa encontrar o caminho da paz, e carrego o dever de lutar por tolerância, a tolerância é necessária para com aqueles que são diferentes, e com os que temos diferencas e discrepâncias. Não se precisa de tolerância com aqueles com quem estamos de acordo.
A tolerância é o fundamento de poder conviver em paz, e entendendo que, no mundo, somos diferentes.
O combate à economia suja, ao narcotráfico, ao roubo, à fraude e à corrupção, pragas contemporâneas, procriadas por esse antivalor, esse que sustenta que somos felizes se enriquecemos, seja como seja. Sacrificamos os velhos deuses imateriais. Ocupamos o templo com o deus mercado, que nos organiza a economia, a política, os hábitos, a vida e até nos financia em parcelas e cartões a aparência de felicidade.
Parece que nascemos apenas para consumir e consumir e, quando não podemos, nos enchemos de frustração, pobreza e até autoexclusão.
O certo, hoje, é que, para gastar e enterrar os detritos nisso que se chama pela ciência de poeira de carbono, se aspirarmos nesta humanidade a consumir como um americano médio, seriam imprescindíveis três planetas para poder viver.
Nossa civilização montou um desafio mentiroso e, assim como vamos, não é possível satisfazer esse sentido de esbanjamento que se deu à vida. Isso se massifica como uma cultura de nossa época, sempre dirigida pela acumulação e pelo mercado.
Prometemos uma vida de esbanjamento, e, no fundo, constitui uma conta regressiva contra a natureza, contra a humanidade no futuro. Civilização contra a simplicidade, contra a sobriedade, contra todos os ciclos naturais.
O pior: civilização contra a liberdade que supõe ter tempo para viver as relações humanas, as únicas que transcendem: o amor, a amizade, aventura, solidariedade, família.
Civilização contra tempo livre que não é pago, que não se pode comprar, e que nos permite contemplar e esquadrinhar o cenário da natureza.
Arrasamos a selva, as selvas verdadeiras, e implantamos selvas anônimas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insônia com comprimidos, a solidão com eletrônicos, porque somos felizes longe da convivência humana.
Cabe se fazer esta pergunta, ouvimos da biologia que defende a vida pela vida, como causa superior, e a suplantamos com o consumismo funcional à acumulação.
A política, eterna mãe do acontecer humano, ficou limitada à economia e ao mercado. De salto em salto, a política não pode mais que se perpetuar, e, como tal, delegou o poder, e se entretém, aturdida, lutando pelo governo. Debochada marcha de historieta humana, comprando e vendendo tudo, e inovando para poder negociar de alguma forma o que é inegociável. Há marketing para tudo, para os cemitérios, os serviços fúnebres, as maternidades, para pais, para mães, passando pelas secretárias, pelos automóveis e pelas férias. Tudo, tudo é negócio.
Todavia, as campanhas de marketing caem deliberadamente sobre as crianças, e sua psicologia para influir sobre os adultos e ter, assim, um território assegurado no futuro. Sobram provas de essas tecnologias bastante abomináveis que, por vezes, conduzem a frustrações e mais.
O homenzinho médio de nossas grandes cidades perambula entre os bancos e o tédio rotineiro dos escritórios, às vezes temperados com ar condicionado. Sempre sonha com as férias e com a liberdade, sempre sonha com pagar as contas, até que, um dia, o coração para, e adeus. Haverá outro soldado abocanhado pelas presas do mercado, assegurando a acumulação. A crise é a impotência, a impotência da política, incapaz de entender que a humanidade não escapa nem escapará do sentimento de nação. Sentimento que está quase incrustado em nosso código genético.
Hoje é tempo de começar a talhar para preparar um mundo sem fronteiras. A economia globalizada não tem mais condução que o interesse privado, de muitos poucos, e cada Estado Nacional mira sua estabilidade continuísta, e hoje a grande tarefa para nossos povos, em minha humilde visão, é o todo.
Como se isto fosse pouco, o capitalismo produtivo, francamente produtivo, está meio prisioneiro na caixa dos grandes bancos. No fundo, são o vértice do poder mundial. Mais claro, cremos que o mundo requer a gritos regras globais que respeitem os avanços da ciência, que abunda. Mas não é a ciência que governa o mundo. Se precisa, por exemplo, uma larga agenda de definições, quantas horas de trabalho e toda a terra, como convergem as moedas, como se financia a luta global pela água e contra os desertos.
Como se recicla e se pressiona contra o aquecimento global. Quais são os limites de cada grande questão humana. Seria imperioso conseguir consenso planetário para desatar a solidariedade com os mais oprimidos, castigar impositivamente o esbanjamento e a especulação. Mobilizar as grandes economias não para criar descartáveis com obsolescência calculada, mas bens úteis, sem fidelidade, para ajudar a levantar os pobres do mundo. Bens úteis contra a pobreza mundial. Mil vezes mais rentável que fazer guerras. Virar um neo-keynesianismo útil, de escala planetária, para abolir as vergonhas mais flagrantes deste mundo.
Talvez nosso mundo necessite menos de organismos mundiais, desses que organizam fórums e conferências, que servem muito às cadeias hoteleiras e às companhias aéreas e, no melhor dos casos, não reúne ninguém e transforma em decisões…
Precisamos sim mascar muito o velho e o eterno da vida humana junto da ciência, essa ciência que se empenha pela humanidade não para enriquecer; com eles, com os homens de ciência da mão, primeiros conselheiros da humanidade, estabelecer acordos para o mundo inteiro. Nem os Estados nacionais grandes, nem as transnacionais e muito menos o sistema financeiro deveriam governar o mundo humano. Sim, a alta política entrelaçada com a sabedoria científica, ali está a fonte. Essa ciência que não apetece o lucro, mas que mira o por vir e nos diz coisas que não escutamos. Quantos anos faz que nos disseram coisas que não entendemos? Creio que se deve convocar a inteligência ao comando da nave acima da terra, coisas assim e coisas que não posso desenvolver nos parecem impossíveis, mas requeririam que o determinante fosse a vida, não a acumulação.
Obviamente, não somos tão iludidos, nada disso acontecerá, nem coisas parecidas. Nos restam muitos sacrifícios inúteis daqui para diante, muitos remendos de consciência sem enfrentar as causas. Hoje, o mundo é incapaz de criar regras planetárias para a globalização e isso é pela enfraquecimento da alta política, isso que se ocupa de todo. Por último, vamos assistir ao refúgio de acordos mais ou menos “reclamáveis”, que vão plantear um comércio interno livre, mas que, no fundo, terminarão construindo parapeitos protecionistas, supranacionais em algumas regiões do planeta. A sua vez, crescerão ramos industriais importantes e serviços, todos dedicados a salvar e a melhorar o meio ambiente. Assim vamos nos consolar por um tempo, estaremos entretidos e, naturalmente, continuará a parecer que a acumulação é boa, para a alegria do sistema financeiro.
Continuarão as guerras e, portanto, os fanatismos, até que, talvez, a mesma natureza faça um chamado à ordem e torne inviáveis nossas civilizações. Talvez nossa visão seja demasiado crua, sem piedade, e vemos ao homem como uma criatura única, a única que há acima da terra capaz de ir contra sua própria espécie. Volto a repetir, porque alguns chamam a crise ecológica do planeta de consequência do triunfo avassalador da ambição humana. Esse é nosso triunfo e também nossa derrota, porque temos impotência política de nos enquadrarmos em uma nova época. E temos contribuído para sua construção sem nos dar conta.
Por que digo isto? São dados, nada mais. O certo é que a população quadruplicou e o PIB cresceu pelo menos vinte vezes no último século. Desde 1990, aproximadamente a cada seis anos o comércio mundial duplica. Poderíamos seguir anotando dados que estabelecem a marcha da globalização. O que está acontecendo conosco? Entramos em outra época aceleradamente, mas com políticos, enfeites culturais, partidos e jovens, todos velhos ante a pavorosa acumulação de mudanças que nem sequer podemos registrar. Não podemos manejar a globalização porque nosso pensamento não é global. Não sabemos se é uma limitação cultural ou se estamos chegano a nossos limites biológicos.
Nossa época é portentosamente revolucionária como não conheceu a história da humanidade. Mas não tem condução consciente, ou ao menos condução simplesmente instintiva. Muito menos, todavia, condução política organizada, porque nem se quer tivemos filosofia precursora ante a velocidade das mudanças que se acumularam.
A cobiça, tão negativa e tão motor da história, essa que impulsionou o progresso material técnico e científico, que fez o que é nossa época e nosso tempo e um fenomenal avanço em muitas frentes, paradoxalmente, essa mesma ferramenta, a cobiça que nos impulsionou a domesticar a ciência e transformá-la em tecnologia nos precipita a um abismo nebuloso. A uma história que não conhecemos, a uma época sem história, e estamos ficando sem olhos nem inteligência coletiva para seguir colonizando e para continuar nos transformando.
Porque se há uma característica deste bichinho humano é a de que é um conquistador antropológico.
Parece que as coisas tomam autonomia e essas coisas subjugam os homens. De um lado a outro, sobram ativos para vislumbrar tudo isso e para vislumbrar o rombo. Mas é impossível para nós coletivizar decisões globais por esse todo. A cobiça individual triunfou grandemente sobre a cobiça superior da espécie. Aclaremos: o que é “tudo”, essa palavra simples, menos opinável e mais evidente? Em nosso Ocidente, particularmente, porque daqui viemos, embora tenhamos vindo do sul, as repúblicas que nasceram para afirmas que os homens são iguais, que ninguém é mais que ninguém, que os governos deveriam representar o bem comum, a justiça e a igualdade. Muitas vezes, as repúblicas se deformam e caem no esquecimento da gente que anda pelas ruas, do povo comum.
Não foram as repúblicas criadas para vegetar, mas ao contrário, para serem um grito na história, para fazer funcionais as vidas dos próprios povos e, por tanto, as repúblicas que devem às maiorias e devem lutar pela promoção das maiorias.
Seja o que for, por reminiscências feudais que estão em nossa cultura, por classismo dominador, talvez pela cultura consumista que rodeia a todos, as repúblicas frequentemente em suas direções adotam um viver diário que exclui, que se distância do homem da rua.
Esse homem da rua deveria ser a causa central da luta política na vida das repúblicas. Os governos republicanos deveriam se parecer cada vez mais com seus respectivos povos na forma de viver e na forma de se comprometer com a vida.
A verdade é que cultivamos arcaísmos feudais, cortesias consentidas, fazemos diferenciações hierárquicas que, no fundo, amassam o que têm de melhor as repúblicas: que ninguém é mais que ninguém. O jogo desse e de outros fatores nos retém na pré-história. E, hoje, é impossível renunciar à guerra quando a política fracassa. Assim, se estrangula a economia, esbanjamos recursos.
Ouçam bem, queridos amigos: em cada minuto no mundo se gastam US$ 2 milhões em ações militares nesta terra. Dois milhões de dólares por minuto em inteligência militar!! Em investigação médica, de todas as enfermidades que avançaram enormemente, cuja cura dá às pessoas uns anos a mais de vida, a investigação cobre apenas a quinta parte da investigação militar.
Este processo, do qual não podemos sair, é cego. Assegura ódio e fanatismo, desconfiança, fonte de novas guerras e, isso também, esbanjamento de fortunas. Eu sei que é muito fácil, poeticamente, autocriticarmo-nos pessoalmente. E creio que seria uma inocência neste mundo plantear que há recursos para economizar e gastar em outras coisas úteis. Isso seria possível, novamente, se fôssemos capazes de exercitar acordos mundiais e prevenções mundiais de políticas planetárias que nos garantissem a paz e que a dessem para os mais fracos, garantia que não temos. Aí haveria enormes recursos para deslocar e solucionar as maiores vergonhas que pairam sobre a Terra. Mas basta uma pergunta: nesta humanidade, hoje, onde se iria sem a existência dessas garantias planetárias? Então cada qual esconde armas de acordo com sua magnitude, e aqui estamos, porque não podemos raciocinar como espécie, apenas como indivíduos.
As instituições mundiais, particularmente hoje, vegetam à sombra consentida das dissidências das grandes nações que, obviamente, querem reter sua cota de poder.
Bloqueiam esta ONU que foi criada com uma esperança e como um sonho de paz para a humanidade. Mas, pior ainda, desarraigam-na da democracia no sentido planetário porque não somos iguais. Não podemos ser iguais nesse mundo onde há mais fortes e mais fracos. Portanto, é uma democracia ferida e está cerceando a história de um possível acordo mundial de paz, militante, combativo e verdadeiramente existente. E, então, remendamos doenças ali onde há eclosão, tudo como agrada a algumas das grandes potências. Os demais olham de longe. Não existimos.
Amigos, creio que é muito difícil inventar uma força pior que nacionalismo chovinista das grandes potências. A força é que liberta os fracos. O nacionalismo, tão pai dos processos de descolonização, formidável para os fracos, se transforma em uma ferramenta opressora nas mãos dos fortes e, nos últimos 200 anos, tivemos exemplos disso por toda a parte.
A ONU, nossa ONU, enlanguece, se burocratiza por falta de poder e de autonomia, de reconhecimento e, sobretudo, de democracia para o mundo mais fraco que constitui a maioria esmagadora do planeta. Mostro um pequeno exemplo, pequenino. Nosso pequeno país tem, em termos absolutos, a maior quantidade de soldados em missões de paz em todos os países da América Latina. E ali estamos, onde nos pedem que estejamos. Mas somos pequenos, fracos. Onde se repartem os recursos e se tomam as decisões, não entramos nem para servir o café. No mais profundo de nosso coração, existe um enorme anseio de ajudar para que o homem saia da pré-história. Eu defino que o homem, enquanto viver em clima de guerra, está na pré-história, apesar dos muitos artefatos que possa construir.
Até que o homem não saia dessa pré-história e arquive a guerra como recurso quando a política fracassa, essa é a larga marcha e o desafio que temos daqui adiante. E o dizemos com conhecimento de causa. Conhecemos a solidão da guerra. No entanto, esses sonhos, esses desafios que estão no horizonte implicam lutar por uma agenda de acordos mundiais que comecem a governar nossa história e superar, passo a passo, as ameaças à vida. A espécie como tal deveria ter um governo para a humanidade que superasse o individualismo e primasse por recriar cabeças políticas que acudam ao caminho da ciência, e não apenas aos interesses imediatos que nos governam e nos afogam.
Paralelamente, devemos entender que os indigentes do mundo não são da África ou da América Latina, mas da humanidade toda, e esta deve, como tal, globalizada, empenhar-se em seu desenvolvimento, para que possam viver com decência de maneira autônoma. Os recursos necessários existem, estão neste depredador esbanjamento de nossa civilização.
Há poucos dias, fizeram na Califórnia, em um corpo de bombeiros, uma homenagem a uma lâmpada elétrica que está acesa há cem anos. Cem anos que está acesa, amigo! Quantos milhões de dólares nos tiraram dos bolsos fazendo deliberadamente porcarias para que as pessoas comprem, comprem, comprem e comprem.
Mas esta globalização de olhar para todo o planeta e para toda a vida significa uma mudança cultural brutal. É o que nos requer a história. Toda a base material mudou e cambaleou, e os homens, com nossa cultura, permanecem como se não houvesse acontecido nada e, em vez de governarem a civilização, deixam que ela nos governe. Há mais de 20 anos que discutimos a humilde taxa Tobin. Impossível aplicá-la no tocante ao planeta. Todos os bancos do poder financeiro se irrompem feridos em sua propriedade privada e sei lá quantas coisas mais. Mas isso é paradoxal. Mas, com talento, com trabalho coletivo, com ciência, o homem, passo a passo, é capaz de transformar o deserto em verde.
O homem pode levar a agricultura ao mar. O homem pode criar vegetais que vivam na água salgada. A força da humanidade se concentra no essencial. É incomensurável. Ali estão as mais portentosas fontes de energia. O que sabemos da fotossíntese? Quase nada. A energia no mundo sobra, se trabalharmos para usá-la bem. É possível arrancar tranquilamente toda a indigência do planeta. É possível criar estabilidade e será possível para as gerações vindouras, se conseguirem raciocinar como espécie e não só como indivíduos, levar a vida à galáxia e seguir com esse sonho conquistador que carregamos em nossa genética.
Mas, para que todos esses sonhos sejam possíveis, precisamos governar a nos mesmos, ou sucumbiremos porque não somos capazes de estar à altura da civilização em que fomos desenvolvendo.
Este é nosso dilema. Não nos entretenhamos apenas remendando consequências. Pensemos na causa profundas, na civilização do esbanjamento, na civilização do usa-tira que rouba tempo mal gasto de vida humana, esbanjando questões inúteis. Pensem que a vida humana é um milagre. Que estamos vivos por um milagre e nada vale mais que a vida. E que nosso dever biológico, acima de todas as coisas, é respeitar a vida e impulsioná-la, cuidá-la, procriá-la e entender que a espécie é nosso “nós”.
PS. Obrigado, muito obrigado, ao Kiko Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, por ter trazido e traduzido para mim e para todos esta maravilha.
Por: Fernando Brito
“É muito difícil inventar uma força pior que o nacionalismo chovinista das grandes potências. A força é que liberta os fracos.”
Amigos, sou do sul, venho do sul. Esquina do Atlântico e do Prata, meu país é uma planície suave, temperada, uma história de portos, couros, charque, lãs e carne. Houve décadas púrpuras, de lanças e cavalos, até que, por fim, no arrancar do século 20, passou a ser vanguarda no social, no Estado, no Ensino. Diria que a social-democracia foi inventada no Uruguai.
Durante quase 50 anos, o mundo nos viu como uma espécie de Suíça. Na realidade, na economia, fomos bastardos do império britânico e, quando ele sucumbiu, vivemos o amargo mel do fim de intercâmbios funestos, e ficamos estancados, sentindo falta do passado.
Quase 50 anos recordando o Maracanã, nossa façanha esportiva. Hoje, ressurgimos no mundo globalizado, talvez aprendendo de nossa dor. Minha história pessoal, a de um rapaz — por que, uma vez, fui um rapaz — que, como outros, quis mudar seu tempo, seu mundo, o sonho de uma sociedade libertária e sem classes. Meus erros são, em parte, filhos de meu tempo. Obviamente, os assumo, mas há vezes que medito com nostalgia.
Quem tivera a força de quando éramos capazes de abrigar tanta utopia! No entanto, não olho para trás, porque o hoje real nasceu das cinzas férteis do ontem. Pelo contrário, não vivo para cobrar contas ou para reverberar memórias.
Me angustia, e como, o amanhã que não verei, e pelo qual me comprometo. Sim, é possível um mundo com uma humanidade melhor, mas talvez, hoje, a primeira tarefa seja cuidar da vida.
Mas sou do sul e venho do sul, a esta Assembleia, carrego inequivocamente os milhões de compatriotas pobres, nas cidades, nos desertos, nas selvas, nos pampas, nas depressões da América Latina pátria de todos que está se formando.
Carrego as culturas originais esmagadas, com os restos de colonialismo nas Malvinas, com bloqueios inúteis a este jacaré sob o sol do Caribe que se chama Cuba. Carrego as consequências da vigilância eletrônica, que não faz outra coisa que não despertar desconfiança. Desconfiança que nos envenena inutilmente. Carrego uma gigantesca dívida social, com a necessidade de defender a Amazônia, os mares, nossos grandes rios na América.
Carrego o dever de lutar por pátria para todos.
Para que a Colômbia possa encontrar o caminho da paz, e carrego o dever de lutar por tolerância, a tolerância é necessária para com aqueles que são diferentes, e com os que temos diferencas e discrepâncias. Não se precisa de tolerância com aqueles com quem estamos de acordo.
A tolerância é o fundamento de poder conviver em paz, e entendendo que, no mundo, somos diferentes.
O combate à economia suja, ao narcotráfico, ao roubo, à fraude e à corrupção, pragas contemporâneas, procriadas por esse antivalor, esse que sustenta que somos felizes se enriquecemos, seja como seja. Sacrificamos os velhos deuses imateriais. Ocupamos o templo com o deus mercado, que nos organiza a economia, a política, os hábitos, a vida e até nos financia em parcelas e cartões a aparência de felicidade.
Parece que nascemos apenas para consumir e consumir e, quando não podemos, nos enchemos de frustração, pobreza e até autoexclusão.
O certo, hoje, é que, para gastar e enterrar os detritos nisso que se chama pela ciência de poeira de carbono, se aspirarmos nesta humanidade a consumir como um americano médio, seriam imprescindíveis três planetas para poder viver.
Nossa civilização montou um desafio mentiroso e, assim como vamos, não é possível satisfazer esse sentido de esbanjamento que se deu à vida. Isso se massifica como uma cultura de nossa época, sempre dirigida pela acumulação e pelo mercado.
Prometemos uma vida de esbanjamento, e, no fundo, constitui uma conta regressiva contra a natureza, contra a humanidade no futuro. Civilização contra a simplicidade, contra a sobriedade, contra todos os ciclos naturais.
O pior: civilização contra a liberdade que supõe ter tempo para viver as relações humanas, as únicas que transcendem: o amor, a amizade, aventura, solidariedade, família.
Civilização contra tempo livre que não é pago, que não se pode comprar, e que nos permite contemplar e esquadrinhar o cenário da natureza.
Arrasamos a selva, as selvas verdadeiras, e implantamos selvas anônimas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insônia com comprimidos, a solidão com eletrônicos, porque somos felizes longe da convivência humana.
Cabe se fazer esta pergunta, ouvimos da biologia que defende a vida pela vida, como causa superior, e a suplantamos com o consumismo funcional à acumulação.
A política, eterna mãe do acontecer humano, ficou limitada à economia e ao mercado. De salto em salto, a política não pode mais que se perpetuar, e, como tal, delegou o poder, e se entretém, aturdida, lutando pelo governo. Debochada marcha de historieta humana, comprando e vendendo tudo, e inovando para poder negociar de alguma forma o que é inegociável. Há marketing para tudo, para os cemitérios, os serviços fúnebres, as maternidades, para pais, para mães, passando pelas secretárias, pelos automóveis e pelas férias. Tudo, tudo é negócio.
Todavia, as campanhas de marketing caem deliberadamente sobre as crianças, e sua psicologia para influir sobre os adultos e ter, assim, um território assegurado no futuro. Sobram provas de essas tecnologias bastante abomináveis que, por vezes, conduzem a frustrações e mais.
O homenzinho médio de nossas grandes cidades perambula entre os bancos e o tédio rotineiro dos escritórios, às vezes temperados com ar condicionado. Sempre sonha com as férias e com a liberdade, sempre sonha com pagar as contas, até que, um dia, o coração para, e adeus. Haverá outro soldado abocanhado pelas presas do mercado, assegurando a acumulação. A crise é a impotência, a impotência da política, incapaz de entender que a humanidade não escapa nem escapará do sentimento de nação. Sentimento que está quase incrustado em nosso código genético.
Hoje é tempo de começar a talhar para preparar um mundo sem fronteiras. A economia globalizada não tem mais condução que o interesse privado, de muitos poucos, e cada Estado Nacional mira sua estabilidade continuísta, e hoje a grande tarefa para nossos povos, em minha humilde visão, é o todo.
Como se isto fosse pouco, o capitalismo produtivo, francamente produtivo, está meio prisioneiro na caixa dos grandes bancos. No fundo, são o vértice do poder mundial. Mais claro, cremos que o mundo requer a gritos regras globais que respeitem os avanços da ciência, que abunda. Mas não é a ciência que governa o mundo. Se precisa, por exemplo, uma larga agenda de definições, quantas horas de trabalho e toda a terra, como convergem as moedas, como se financia a luta global pela água e contra os desertos.
Como se recicla e se pressiona contra o aquecimento global. Quais são os limites de cada grande questão humana. Seria imperioso conseguir consenso planetário para desatar a solidariedade com os mais oprimidos, castigar impositivamente o esbanjamento e a especulação. Mobilizar as grandes economias não para criar descartáveis com obsolescência calculada, mas bens úteis, sem fidelidade, para ajudar a levantar os pobres do mundo. Bens úteis contra a pobreza mundial. Mil vezes mais rentável que fazer guerras. Virar um neo-keynesianismo útil, de escala planetária, para abolir as vergonhas mais flagrantes deste mundo.
Talvez nosso mundo necessite menos de organismos mundiais, desses que organizam fórums e conferências, que servem muito às cadeias hoteleiras e às companhias aéreas e, no melhor dos casos, não reúne ninguém e transforma em decisões…
Precisamos sim mascar muito o velho e o eterno da vida humana junto da ciência, essa ciência que se empenha pela humanidade não para enriquecer; com eles, com os homens de ciência da mão, primeiros conselheiros da humanidade, estabelecer acordos para o mundo inteiro. Nem os Estados nacionais grandes, nem as transnacionais e muito menos o sistema financeiro deveriam governar o mundo humano. Sim, a alta política entrelaçada com a sabedoria científica, ali está a fonte. Essa ciência que não apetece o lucro, mas que mira o por vir e nos diz coisas que não escutamos. Quantos anos faz que nos disseram coisas que não entendemos? Creio que se deve convocar a inteligência ao comando da nave acima da terra, coisas assim e coisas que não posso desenvolver nos parecem impossíveis, mas requeririam que o determinante fosse a vida, não a acumulação.
Obviamente, não somos tão iludidos, nada disso acontecerá, nem coisas parecidas. Nos restam muitos sacrifícios inúteis daqui para diante, muitos remendos de consciência sem enfrentar as causas. Hoje, o mundo é incapaz de criar regras planetárias para a globalização e isso é pela enfraquecimento da alta política, isso que se ocupa de todo. Por último, vamos assistir ao refúgio de acordos mais ou menos “reclamáveis”, que vão plantear um comércio interno livre, mas que, no fundo, terminarão construindo parapeitos protecionistas, supranacionais em algumas regiões do planeta. A sua vez, crescerão ramos industriais importantes e serviços, todos dedicados a salvar e a melhorar o meio ambiente. Assim vamos nos consolar por um tempo, estaremos entretidos e, naturalmente, continuará a parecer que a acumulação é boa, para a alegria do sistema financeiro.
Continuarão as guerras e, portanto, os fanatismos, até que, talvez, a mesma natureza faça um chamado à ordem e torne inviáveis nossas civilizações. Talvez nossa visão seja demasiado crua, sem piedade, e vemos ao homem como uma criatura única, a única que há acima da terra capaz de ir contra sua própria espécie. Volto a repetir, porque alguns chamam a crise ecológica do planeta de consequência do triunfo avassalador da ambição humana. Esse é nosso triunfo e também nossa derrota, porque temos impotência política de nos enquadrarmos em uma nova época. E temos contribuído para sua construção sem nos dar conta.
Por que digo isto? São dados, nada mais. O certo é que a população quadruplicou e o PIB cresceu pelo menos vinte vezes no último século. Desde 1990, aproximadamente a cada seis anos o comércio mundial duplica. Poderíamos seguir anotando dados que estabelecem a marcha da globalização. O que está acontecendo conosco? Entramos em outra época aceleradamente, mas com políticos, enfeites culturais, partidos e jovens, todos velhos ante a pavorosa acumulação de mudanças que nem sequer podemos registrar. Não podemos manejar a globalização porque nosso pensamento não é global. Não sabemos se é uma limitação cultural ou se estamos chegano a nossos limites biológicos.
Nossa época é portentosamente revolucionária como não conheceu a história da humanidade. Mas não tem condução consciente, ou ao menos condução simplesmente instintiva. Muito menos, todavia, condução política organizada, porque nem se quer tivemos filosofia precursora ante a velocidade das mudanças que se acumularam.
A cobiça, tão negativa e tão motor da história, essa que impulsionou o progresso material técnico e científico, que fez o que é nossa época e nosso tempo e um fenomenal avanço em muitas frentes, paradoxalmente, essa mesma ferramenta, a cobiça que nos impulsionou a domesticar a ciência e transformá-la em tecnologia nos precipita a um abismo nebuloso. A uma história que não conhecemos, a uma época sem história, e estamos ficando sem olhos nem inteligência coletiva para seguir colonizando e para continuar nos transformando.
Porque se há uma característica deste bichinho humano é a de que é um conquistador antropológico.
Parece que as coisas tomam autonomia e essas coisas subjugam os homens. De um lado a outro, sobram ativos para vislumbrar tudo isso e para vislumbrar o rombo. Mas é impossível para nós coletivizar decisões globais por esse todo. A cobiça individual triunfou grandemente sobre a cobiça superior da espécie. Aclaremos: o que é “tudo”, essa palavra simples, menos opinável e mais evidente? Em nosso Ocidente, particularmente, porque daqui viemos, embora tenhamos vindo do sul, as repúblicas que nasceram para afirmas que os homens são iguais, que ninguém é mais que ninguém, que os governos deveriam representar o bem comum, a justiça e a igualdade. Muitas vezes, as repúblicas se deformam e caem no esquecimento da gente que anda pelas ruas, do povo comum.
Não foram as repúblicas criadas para vegetar, mas ao contrário, para serem um grito na história, para fazer funcionais as vidas dos próprios povos e, por tanto, as repúblicas que devem às maiorias e devem lutar pela promoção das maiorias.
Seja o que for, por reminiscências feudais que estão em nossa cultura, por classismo dominador, talvez pela cultura consumista que rodeia a todos, as repúblicas frequentemente em suas direções adotam um viver diário que exclui, que se distância do homem da rua.
Esse homem da rua deveria ser a causa central da luta política na vida das repúblicas. Os governos republicanos deveriam se parecer cada vez mais com seus respectivos povos na forma de viver e na forma de se comprometer com a vida.
A verdade é que cultivamos arcaísmos feudais, cortesias consentidas, fazemos diferenciações hierárquicas que, no fundo, amassam o que têm de melhor as repúblicas: que ninguém é mais que ninguém. O jogo desse e de outros fatores nos retém na pré-história. E, hoje, é impossível renunciar à guerra quando a política fracassa. Assim, se estrangula a economia, esbanjamos recursos.
Ouçam bem, queridos amigos: em cada minuto no mundo se gastam US$ 2 milhões em ações militares nesta terra. Dois milhões de dólares por minuto em inteligência militar!! Em investigação médica, de todas as enfermidades que avançaram enormemente, cuja cura dá às pessoas uns anos a mais de vida, a investigação cobre apenas a quinta parte da investigação militar.
Este processo, do qual não podemos sair, é cego. Assegura ódio e fanatismo, desconfiança, fonte de novas guerras e, isso também, esbanjamento de fortunas. Eu sei que é muito fácil, poeticamente, autocriticarmo-nos pessoalmente. E creio que seria uma inocência neste mundo plantear que há recursos para economizar e gastar em outras coisas úteis. Isso seria possível, novamente, se fôssemos capazes de exercitar acordos mundiais e prevenções mundiais de políticas planetárias que nos garantissem a paz e que a dessem para os mais fracos, garantia que não temos. Aí haveria enormes recursos para deslocar e solucionar as maiores vergonhas que pairam sobre a Terra. Mas basta uma pergunta: nesta humanidade, hoje, onde se iria sem a existência dessas garantias planetárias? Então cada qual esconde armas de acordo com sua magnitude, e aqui estamos, porque não podemos raciocinar como espécie, apenas como indivíduos.
As instituições mundiais, particularmente hoje, vegetam à sombra consentida das dissidências das grandes nações que, obviamente, querem reter sua cota de poder.
Bloqueiam esta ONU que foi criada com uma esperança e como um sonho de paz para a humanidade. Mas, pior ainda, desarraigam-na da democracia no sentido planetário porque não somos iguais. Não podemos ser iguais nesse mundo onde há mais fortes e mais fracos. Portanto, é uma democracia ferida e está cerceando a história de um possível acordo mundial de paz, militante, combativo e verdadeiramente existente. E, então, remendamos doenças ali onde há eclosão, tudo como agrada a algumas das grandes potências. Os demais olham de longe. Não existimos.
Amigos, creio que é muito difícil inventar uma força pior que nacionalismo chovinista das grandes potências. A força é que liberta os fracos. O nacionalismo, tão pai dos processos de descolonização, formidável para os fracos, se transforma em uma ferramenta opressora nas mãos dos fortes e, nos últimos 200 anos, tivemos exemplos disso por toda a parte.
A ONU, nossa ONU, enlanguece, se burocratiza por falta de poder e de autonomia, de reconhecimento e, sobretudo, de democracia para o mundo mais fraco que constitui a maioria esmagadora do planeta. Mostro um pequeno exemplo, pequenino. Nosso pequeno país tem, em termos absolutos, a maior quantidade de soldados em missões de paz em todos os países da América Latina. E ali estamos, onde nos pedem que estejamos. Mas somos pequenos, fracos. Onde se repartem os recursos e se tomam as decisões, não entramos nem para servir o café. No mais profundo de nosso coração, existe um enorme anseio de ajudar para que o homem saia da pré-história. Eu defino que o homem, enquanto viver em clima de guerra, está na pré-história, apesar dos muitos artefatos que possa construir.
Até que o homem não saia dessa pré-história e arquive a guerra como recurso quando a política fracassa, essa é a larga marcha e o desafio que temos daqui adiante. E o dizemos com conhecimento de causa. Conhecemos a solidão da guerra. No entanto, esses sonhos, esses desafios que estão no horizonte implicam lutar por uma agenda de acordos mundiais que comecem a governar nossa história e superar, passo a passo, as ameaças à vida. A espécie como tal deveria ter um governo para a humanidade que superasse o individualismo e primasse por recriar cabeças políticas que acudam ao caminho da ciência, e não apenas aos interesses imediatos que nos governam e nos afogam.
Paralelamente, devemos entender que os indigentes do mundo não são da África ou da América Latina, mas da humanidade toda, e esta deve, como tal, globalizada, empenhar-se em seu desenvolvimento, para que possam viver com decência de maneira autônoma. Os recursos necessários existem, estão neste depredador esbanjamento de nossa civilização.
Há poucos dias, fizeram na Califórnia, em um corpo de bombeiros, uma homenagem a uma lâmpada elétrica que está acesa há cem anos. Cem anos que está acesa, amigo! Quantos milhões de dólares nos tiraram dos bolsos fazendo deliberadamente porcarias para que as pessoas comprem, comprem, comprem e comprem.
Mas esta globalização de olhar para todo o planeta e para toda a vida significa uma mudança cultural brutal. É o que nos requer a história. Toda a base material mudou e cambaleou, e os homens, com nossa cultura, permanecem como se não houvesse acontecido nada e, em vez de governarem a civilização, deixam que ela nos governe. Há mais de 20 anos que discutimos a humilde taxa Tobin. Impossível aplicá-la no tocante ao planeta. Todos os bancos do poder financeiro se irrompem feridos em sua propriedade privada e sei lá quantas coisas mais. Mas isso é paradoxal. Mas, com talento, com trabalho coletivo, com ciência, o homem, passo a passo, é capaz de transformar o deserto em verde.
O homem pode levar a agricultura ao mar. O homem pode criar vegetais que vivam na água salgada. A força da humanidade se concentra no essencial. É incomensurável. Ali estão as mais portentosas fontes de energia. O que sabemos da fotossíntese? Quase nada. A energia no mundo sobra, se trabalharmos para usá-la bem. É possível arrancar tranquilamente toda a indigência do planeta. É possível criar estabilidade e será possível para as gerações vindouras, se conseguirem raciocinar como espécie e não só como indivíduos, levar a vida à galáxia e seguir com esse sonho conquistador que carregamos em nossa genética.
Mas, para que todos esses sonhos sejam possíveis, precisamos governar a nos mesmos, ou sucumbiremos porque não somos capazes de estar à altura da civilização em que fomos desenvolvendo.
Este é nosso dilema. Não nos entretenhamos apenas remendando consequências. Pensemos na causa profundas, na civilização do esbanjamento, na civilização do usa-tira que rouba tempo mal gasto de vida humana, esbanjando questões inúteis. Pensem que a vida humana é um milagre. Que estamos vivos por um milagre e nada vale mais que a vida. E que nosso dever biológico, acima de todas as coisas, é respeitar a vida e impulsioná-la, cuidá-la, procriá-la e entender que a espécie é nosso “nós”.
PS. Obrigado, muito obrigado, ao Kiko Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, por ter trazido e traduzido para mim e para todos esta maravilha.
Por: Fernando Brito
Paulo Nogueira critica ‘exagero’ da ‘Economist’ Ana Paula Grabois (ana.grabois@brasileconomico.com.br)
Do Brasil Econômico
Para representante do Brasil no FMI, há sinais claros de uma recuperação econômica
Diretor-executivo e representante do Brasil e de mais dez países no Fundo Monetário Internacional (FMI), Paulo Nogueira Batista criticou a revista britânica "The Economist" pelo tom negativo atribuído ao Brasil na reportagem especial de capa de sua última edição, que circulou ontem. A publicação mostra a estátua do Cristo Redentor como um foguete em queda e questiona se o Brasil "estragou tudo". É uma nova versão de uma capa de 2010 da revista, que celebrava o bom crescimento do país.
"O Brasil passou por uma fase de grande sucesso, era moda, referência, havia certo exagero naquela época. Agora, uma reavaliação mais negativa está indo para o extremo oposto", disse durante seminário de governança financeira no pós-crise, no Rio. Para ele, "a imprensa é muito influenciada pela visão dos mercados" e adquire "um pouco sua ciclotimia".
A publicação saiu na mesma data em que a presidenta Dilma Rousseff completava mais um dia falando a investidores da situação fiscal "sólida" do país, em busca de recursos para as concessões de infraestrutura.
Nogueira Batista, que disse que não se pronunciava como representante do FMI, é otimista com o Brasil. "Estamos vendo uma recuperação mais clara, ainda incipiente, mas os dados mostram que a economia está se reativando. O mercado de trabalho ficou positivo nesse período todo", afirmou.
Da mesma forma, Nogueira Batista considera exageradas as previsões dos efeitos negativos sobre as economias emergentes na hipótese de o Fed, o banco central norte-americano, retirar os estímulos à expansão doméstica. "O crescimento mundial continua liderado pelos países emergentes e em desenvolvimento. Houve uma desaceleração e alguma recuperação dos avançados, mas o grosso do crescimento previsto irá ocorrer nos emergentes", afirmou.
Para o diretor do Fundo Monetário Internacional, pode ocorrer queda do fluxo de capital especulativo, de curto prazo, mas nada comparável às crises anteriores, pois a maioria dos emergentes possui reservas mais elevadas, adota câmbio flexível e tem fundamentos fiscais "que não são fracos".
Para representante do Brasil no FMI, há sinais claros de uma recuperação econômica
Diretor-executivo e representante do Brasil e de mais dez países no Fundo Monetário Internacional (FMI), Paulo Nogueira Batista criticou a revista britânica "The Economist" pelo tom negativo atribuído ao Brasil na reportagem especial de capa de sua última edição, que circulou ontem. A publicação mostra a estátua do Cristo Redentor como um foguete em queda e questiona se o Brasil "estragou tudo". É uma nova versão de uma capa de 2010 da revista, que celebrava o bom crescimento do país.
"O Brasil passou por uma fase de grande sucesso, era moda, referência, havia certo exagero naquela época. Agora, uma reavaliação mais negativa está indo para o extremo oposto", disse durante seminário de governança financeira no pós-crise, no Rio. Para ele, "a imprensa é muito influenciada pela visão dos mercados" e adquire "um pouco sua ciclotimia".
A publicação saiu na mesma data em que a presidenta Dilma Rousseff completava mais um dia falando a investidores da situação fiscal "sólida" do país, em busca de recursos para as concessões de infraestrutura.
Nogueira Batista, que disse que não se pronunciava como representante do FMI, é otimista com o Brasil. "Estamos vendo uma recuperação mais clara, ainda incipiente, mas os dados mostram que a economia está se reativando. O mercado de trabalho ficou positivo nesse período todo", afirmou.
Da mesma forma, Nogueira Batista considera exageradas as previsões dos efeitos negativos sobre as economias emergentes na hipótese de o Fed, o banco central norte-americano, retirar os estímulos à expansão doméstica. "O crescimento mundial continua liderado pelos países emergentes e em desenvolvimento. Houve uma desaceleração e alguma recuperação dos avançados, mas o grosso do crescimento previsto irá ocorrer nos emergentes", afirmou.
Para o diretor do Fundo Monetário Internacional, pode ocorrer queda do fluxo de capital especulativo, de curto prazo, mas nada comparável às crises anteriores, pois a maioria dos emergentes possui reservas mais elevadas, adota câmbio flexível e tem fundamentos fiscais "que não são fracos".
quinta-feira, setembro 26, 2013
O jogo começa a virar
Do Tijolaço
A farsa do mensalão está fazendo água, apavorando a mídia com a possibilidade de uma histórica e talvez definitiva derrota política.
Ela perdeu várias batalhas recentes na opinião pública, mas até o momento tinha orgulho de manter ao menos um grande trunfo: o mensalão é visto pela maioria dos brasileiros como um sujo escândalo de corrupção, que merece terminar em duras condenações.
Esse é um tipo de manipulação relativamente fácil de fazer, desde que se não tenha escrúpulos em manipular a tendência natural da população de achar que “todo político é corrupto” e que todos, portanto, são culpados, até prova em contrário.
A mídia explorou também o preconceito de classe das elites dirigentes e dos estamentos superiores contra o PT. Estamento é um termo sociológico muito usado por Raymundo Faoro para designar a elite do serviço público. Aliás, não consigo esquecer o fato de Roberto Gurgel, então procurador-geral da República, ter iniciado a sua acusação lembrando a justa denúncia de Faoro contra o histórico patrimonialismo brasileiro. Mas Gurgel inverteu a teoria de Faoro. Em seu clássico Os Donos do Poder, Faoro explica como o advento da república e a institucionalização progressiva das atividades públicas fez emergir uma nova elite: os estamentos, ou seja, a burocracia. Era o coronelismo político que tentava manter seu prestígio e poder mediante a ocupação dos cargos públicos. O patrimonialismo mais nocivo, portanto, era aquele praticado pelos servidores, em especial aqueles não filtrados pelo voto. Juízes, promotores, auditores, militares, passavam a usar seu poder, que deveria ser republicano, em prol das elites. Faoro prevê a radicalização desse tipo de patrimonialismo, e com isso, previu, de certa maneira, o golpe militar de 64, que nada mais foi que um golpe patrimonial de servidores públicos, liderados por militares. O engajamento ideológico, quase histérico, de Gurgel – e antes dele, de Antônio Fernando de Souza – no esforço para condenar, mesmo sem provas, os réus da Ação Penal 470, inscreve-se, portanto, na tradição patrimonial brasileira de usar um cargo público em tese não-político, para defender uma posição ideológica e política que interessa a determinados grupos de poder.
Por isso a mídia apostou tão alto contra os embargos infringentes. Ela já intuía que o jogo estava virando. As críticas à Ação Penal 470 emergem de todo o lado, e não apenas de setores identificados ideologicamente com o PT.
Semana passada, li uma nota dizendo que Ricardo Lewandowski, na quarta-feira à noite, após o voto de Celso de Mello, foi recebido com uma salva de palmas num restaurante em Brasília. Ele mesmo admitiu que estava estupefato, porque, até então, só apanhava.
A entrevista de Ives Gandra publicada hoje na Folha (e já comentada aqui), por sua vez, cai como uma bomba atômica no colo da grande mídia, porque Gandra é um ícone, um semideus, do conservadorismo e do antipetismo, em matéria penal, constitucional ou jurídica. Gandra é um clássico.
Isso é um escândalo!
Um escândalo ainda maior que o mensalão em si, porque se o mesmo correspondeu a um grave crime de caixa 2, a Ação Penal 470, ao condenar, sem provas, uma das maiores lideranças da resistência democrática, integrou uma tentativa de golpe político. Com apoio, engajado ou pusilânime, de boa parte dos ministros do STF!
Conforme publicamos aqui, respeitado constitucionalista e agora membro do Conselho do Ministério Público, o Dr. Luiz Moreira, vai bem mais longe e acusa duramente a Ação Penal 470 de ser uma “peça de ficção”.
A sociedade brasileira está começando a reagir, portanto, com dureza, a mais essa tentativa espúria de setores da elite, aos quais seria um elogio chamar de “conservadores”, visto que eles se mostraram abaixo do conservadorismo, de atropelar o Estado Democrático de Direito para derrotar seus adversários políticos.
Alguns jornais, como a Folha, já identificaram esse movimento de virada e estão tentando se descolar do golpismo exagerado da Globo.
A Folha de hoje dá várias matérias que podem ser consideradas “meia-culpas”. Além da entrevista com Ives Gandra, há um artigo de Fabio Wanderley Reis, no qual o cientista político de 75 anos, doutor por Harvard, faz uma denúncia gravíssima. Segundo ele, “o velho viés da Justiça respalda a hipótese de lhe ser mais fácil julgar severamente um partido com o perfil do PT do que outros”. E arremata: “Se a severidade, que alguns temem ter sido comprometida pelos embargos infringentes, vier a resultar em que se transformem em jurisprudência efetiva os padrões rigorosos exibidos até agora, teremos avançado por linhas tortas”.
Ou seja, com sua linguagem acadêmica, Reis também denuncia severamente a manipulação da Justiça em detrimento de alguns partidos.
E não termina aí. A Ombudsman da Folha, Suzana Singer, tenta descolar o jornal do clima de derrotismo sombrio no qual mergulharam a maioria dos grandes jornais. Singer apela, contudo, para uma falsa simetria e termina com um orientalismo de R$ 1,99 ao afirmar que a verdade está “em algum lugar no meio do caminho”.
Nem sempre, Suzana.
Salomão ensinava que fazer justiça não é cortar o bebê pela metade.
Por: Miguel do Rosário
A farsa do mensalão está fazendo água, apavorando a mídia com a possibilidade de uma histórica e talvez definitiva derrota política.
Ela perdeu várias batalhas recentes na opinião pública, mas até o momento tinha orgulho de manter ao menos um grande trunfo: o mensalão é visto pela maioria dos brasileiros como um sujo escândalo de corrupção, que merece terminar em duras condenações.
Esse é um tipo de manipulação relativamente fácil de fazer, desde que se não tenha escrúpulos em manipular a tendência natural da população de achar que “todo político é corrupto” e que todos, portanto, são culpados, até prova em contrário.
A mídia explorou também o preconceito de classe das elites dirigentes e dos estamentos superiores contra o PT. Estamento é um termo sociológico muito usado por Raymundo Faoro para designar a elite do serviço público. Aliás, não consigo esquecer o fato de Roberto Gurgel, então procurador-geral da República, ter iniciado a sua acusação lembrando a justa denúncia de Faoro contra o histórico patrimonialismo brasileiro. Mas Gurgel inverteu a teoria de Faoro. Em seu clássico Os Donos do Poder, Faoro explica como o advento da república e a institucionalização progressiva das atividades públicas fez emergir uma nova elite: os estamentos, ou seja, a burocracia. Era o coronelismo político que tentava manter seu prestígio e poder mediante a ocupação dos cargos públicos. O patrimonialismo mais nocivo, portanto, era aquele praticado pelos servidores, em especial aqueles não filtrados pelo voto. Juízes, promotores, auditores, militares, passavam a usar seu poder, que deveria ser republicano, em prol das elites. Faoro prevê a radicalização desse tipo de patrimonialismo, e com isso, previu, de certa maneira, o golpe militar de 64, que nada mais foi que um golpe patrimonial de servidores públicos, liderados por militares. O engajamento ideológico, quase histérico, de Gurgel – e antes dele, de Antônio Fernando de Souza – no esforço para condenar, mesmo sem provas, os réus da Ação Penal 470, inscreve-se, portanto, na tradição patrimonial brasileira de usar um cargo público em tese não-político, para defender uma posição ideológica e política que interessa a determinados grupos de poder.
Por isso a mídia apostou tão alto contra os embargos infringentes. Ela já intuía que o jogo estava virando. As críticas à Ação Penal 470 emergem de todo o lado, e não apenas de setores identificados ideologicamente com o PT.
Semana passada, li uma nota dizendo que Ricardo Lewandowski, na quarta-feira à noite, após o voto de Celso de Mello, foi recebido com uma salva de palmas num restaurante em Brasília. Ele mesmo admitiu que estava estupefato, porque, até então, só apanhava.
A entrevista de Ives Gandra publicada hoje na Folha (e já comentada aqui), por sua vez, cai como uma bomba atômica no colo da grande mídia, porque Gandra é um ícone, um semideus, do conservadorismo e do antipetismo, em matéria penal, constitucional ou jurídica. Gandra é um clássico.
Isso é um escândalo!
Um escândalo ainda maior que o mensalão em si, porque se o mesmo correspondeu a um grave crime de caixa 2, a Ação Penal 470, ao condenar, sem provas, uma das maiores lideranças da resistência democrática, integrou uma tentativa de golpe político. Com apoio, engajado ou pusilânime, de boa parte dos ministros do STF!
Conforme publicamos aqui, respeitado constitucionalista e agora membro do Conselho do Ministério Público, o Dr. Luiz Moreira, vai bem mais longe e acusa duramente a Ação Penal 470 de ser uma “peça de ficção”.
A sociedade brasileira está começando a reagir, portanto, com dureza, a mais essa tentativa espúria de setores da elite, aos quais seria um elogio chamar de “conservadores”, visto que eles se mostraram abaixo do conservadorismo, de atropelar o Estado Democrático de Direito para derrotar seus adversários políticos.
Alguns jornais, como a Folha, já identificaram esse movimento de virada e estão tentando se descolar do golpismo exagerado da Globo.
A Folha de hoje dá várias matérias que podem ser consideradas “meia-culpas”. Além da entrevista com Ives Gandra, há um artigo de Fabio Wanderley Reis, no qual o cientista político de 75 anos, doutor por Harvard, faz uma denúncia gravíssima. Segundo ele, “o velho viés da Justiça respalda a hipótese de lhe ser mais fácil julgar severamente um partido com o perfil do PT do que outros”. E arremata: “Se a severidade, que alguns temem ter sido comprometida pelos embargos infringentes, vier a resultar em que se transformem em jurisprudência efetiva os padrões rigorosos exibidos até agora, teremos avançado por linhas tortas”.
Ou seja, com sua linguagem acadêmica, Reis também denuncia severamente a manipulação da Justiça em detrimento de alguns partidos.
E não termina aí. A Ombudsman da Folha, Suzana Singer, tenta descolar o jornal do clima de derrotismo sombrio no qual mergulharam a maioria dos grandes jornais. Singer apela, contudo, para uma falsa simetria e termina com um orientalismo de R$ 1,99 ao afirmar que a verdade está “em algum lugar no meio do caminho”.
Nem sempre, Suzana.
Salomão ensinava que fazer justiça não é cortar o bebê pela metade.
Por: Miguel do Rosário
The Economist: abatendo o Cristo que está saindo de sua órbita?
Do Tijolaço
Publico, abaixo, post de meu companheiro Miguel do Rosário, em seu blog O Cafezinho, sobre a próxima capa da revista The Economist, que – depois de um ano de catastrofismo tupiniquim – resolveu aderir ao coro dos urubus. Não sei se atrasada, não sei se mandada pelos “primos” americanos, ou mesmo por estar de “bico” pelas petroleiras inglesas terem ficado fora de Libra, a revista escolheu má hora para entrar no coral urubulino: justo quando os sinais da atividade econômica começam a dar sinais mais fortes de ascensão.
Rosário, você vai ler, desmonta a história com dados e comparações. E eu, assim que puder, volto ao tema para falar o que acho: eles não ficam muito satisfeitos quando percebem que algum cristo tem a ousadia de estar saindo de sua órbita e tomando seus rumos.
Resposta ao ataque da Economist ao Brasil
Miguel do Rosário
Parece até brincadeira, mas a menos que seja uma barriga gigante do UOL, a próxima capa da Economist representará um ataque frontal ao Brasil. A mídia tupi, que sempre escondeu os inúmeros elogios que o governo recebeu da mídia estrangeira, nos últimos dez anos, agora poderá fazer o contrário. Jornal Nacional, Fantástico, capas, a diatribe da revista britânica com certeza vai ganhar destaque em todos os meios.
Então eu voltei lá na Economist, para ver o que tinha mudado. E deparei com o artigo principal da última edição, O Ocidente Enfraquecido, um ridículo, desorientado e desonesto libelo em favor de mais intervenções militares norte-americanas no Oriente Médio, a começar pela Síria.
A Economist, que sempre foi conservadora, deu uma guinada à direita ainda mais forte nos últimos tempos. E deu fim à lua de mel com países em desenvolvimento.
Não é tão difícil entender, contudo. Segundo dados do Banco Mundial, o fluxo crescente de investimentos estrangeiros diretos para o Brasil desvia verbas que, até então, iam apenas para as grandes potências ocidentais, a começar por EUA e Reino Unido.
Confiram o gráfico abaixo. Observem que o Reino Unido, pátria-mãe da Economist, sofreu violenta queda de seus investimentos produtivos, e agora recebe menos dinheiro que o Brasil. Ou seja, a Economist pode resmungar à vontade. Na hora de botar a mão no bolso e investir, o mundo prefere o Brasil.
Aliás, esse é um fator para o qual devemos olhar sempre, porque a crise financeira do mundo desenvolvido está forçando seus governos a adotarem medidas algo drásticas para interromperem o fluxo de recursos para países emergentes, como o Brasil. Com o poder que eles detêm sobre a informação, há sempre o risco de incitarem desordens aqui com objetivo de fazer os investidores desistirem do Brasil e voltarem a aplicar nas praças tradicionais, como Londres e Nova York.
Segundo a consultoria ATKearney, que há anos produz um índice de investimento estrangeiro direto (em inglês, FDI, Foreign Direct Investment), o Brasil subiu várias posições nos últimos anos, e hoje está em terceiro lugar no ranking global, atrás apenas de EUA e China. A Inglaterra, por sua vez, tem perdido pontos, e está hoje em oitavo lugar, após décadas entre os três primeiros.
A avaliação que a consultoria faz do Brasil é ultra-positiva: 40% de razões para otimismo, contra apenas 10% para pessimismo. Os investidores têm sido atraídos por nossa demografia espetacular (muitos jovens em idade produtiva) e pelo aumento da renda dos trabalhadores. Em 2012, o investimento estrangeiro direto no Brasil, segundo a empresa, foi de US$ 65,2 bilhões, só um pouquinho abaixo do recorde registrado no ano anterior, de US$ 66,7 bilhões.Nesses primeiros dois anos do governo Dilma, os investimentos estrangeiros diretos (ou seja, em produção; não em especulação) foram os maiores da história.
A Inglaterra também não pode chorar de barriga cheia. Recebeu US$ 62,7 bilhões de investimentos estrangeiros diretos em 2012. Mas entende-se a choradeira: em 2008, recebeu quase US$ 90 bilhões. A avaliação que a ATKearney faz do Reino Unido, em matéria de atração aos investidores, é menos positiva, porém, que a do Brasil: apenas 24% de razões positivas, contra 13% negativas.
Investimento Estrangeiro Direto – Gráfico Comparativo – Reino Unido e Brasil
Fonte: Banco Mundial.
Alguém poderia também lembrar à Economist que o desemprego no Brasil já está bem abaixo da taxa britânica. E a renda dos trabalhadores brasileiros tem crescido regularmente, ao contrário do que acontece na Inglaterra, onde tem caído. O Brasil ainda precisa avançar muito para alcançar o nível de desenvolvimento da Inglaterra. Mas não podemos perder de vista dois fatores:
As estatísticas mostram que estamos no caminho certo.
A história mostra que a Inglaterra sempre jogou contra o Brasil.
Desemprego no Reino Unido:
Desemprego no Brasil:
E já que a revista desenhou o Cristo Redentor caindo feito um míssil sobre o Rio de Janeiro, o Cafezinho retribui com um contra-ataque semiótico: uma bela foto da cidade maravilhosa. Última informação: segundo o IBGE, o desemprego na região metropolitana do Rio, em agosto, ficou em 4,5%, o menor da história da nossa cidade!
Comentário E & P
A falta que nos faz de uma mídia de massa. A subelite brasileira, parcela da classe dominante que é vassala dos Estados Unidos, da Europa e do Japão que estão atrelados aos interesses desses países reproduz de forma acrítica o que um periódico de forma histérica publica. A The Economist está sentindo a queda da Inglaterra no mundo e está fazendo o jus speneandi. É óbvio que comentaristas com complexo de vira-lata como Miriam Leitão e Sardenberg vão reperticutir a matéria da revista inglesa como se ela fosse séria. Essa revista defende o neoliberalismo, dogma fundamentalista que não se importa com o bem-estar dos povos do mundo e do desenvolvimentos dos países e sim com o retorno financeiro de uma minoria rica que quer ganhar mais ainda em detrimento da população mundial. São malthusianos ou seja, que os pobres se ferrem, como escreveu Malthus, economista inglês do século XVIII e XIX, que devia odiar os pobres. E os editores da revista devem estar muito putos da vida porque não vão poder ficar com o petróleo de Libra. Esses ingleses são uns ingratos, já surrupiaram o ouro das Minas Gerais, via Portugal e agora querem surrupiar o petróleo do pré-sal com ajuda do PSDB, braço político da subelite brasileira,e da imprensa venal brasileira que é o braço midiático da subelite brasileira.
Publico, abaixo, post de meu companheiro Miguel do Rosário, em seu blog O Cafezinho, sobre a próxima capa da revista The Economist, que – depois de um ano de catastrofismo tupiniquim – resolveu aderir ao coro dos urubus. Não sei se atrasada, não sei se mandada pelos “primos” americanos, ou mesmo por estar de “bico” pelas petroleiras inglesas terem ficado fora de Libra, a revista escolheu má hora para entrar no coral urubulino: justo quando os sinais da atividade econômica começam a dar sinais mais fortes de ascensão.
Rosário, você vai ler, desmonta a história com dados e comparações. E eu, assim que puder, volto ao tema para falar o que acho: eles não ficam muito satisfeitos quando percebem que algum cristo tem a ousadia de estar saindo de sua órbita e tomando seus rumos.
Resposta ao ataque da Economist ao Brasil
Miguel do Rosário
Parece até brincadeira, mas a menos que seja uma barriga gigante do UOL, a próxima capa da Economist representará um ataque frontal ao Brasil. A mídia tupi, que sempre escondeu os inúmeros elogios que o governo recebeu da mídia estrangeira, nos últimos dez anos, agora poderá fazer o contrário. Jornal Nacional, Fantástico, capas, a diatribe da revista britânica com certeza vai ganhar destaque em todos os meios.
Então eu voltei lá na Economist, para ver o que tinha mudado. E deparei com o artigo principal da última edição, O Ocidente Enfraquecido, um ridículo, desorientado e desonesto libelo em favor de mais intervenções militares norte-americanas no Oriente Médio, a começar pela Síria.
A Economist, que sempre foi conservadora, deu uma guinada à direita ainda mais forte nos últimos tempos. E deu fim à lua de mel com países em desenvolvimento.
Não é tão difícil entender, contudo. Segundo dados do Banco Mundial, o fluxo crescente de investimentos estrangeiros diretos para o Brasil desvia verbas que, até então, iam apenas para as grandes potências ocidentais, a começar por EUA e Reino Unido.
Confiram o gráfico abaixo. Observem que o Reino Unido, pátria-mãe da Economist, sofreu violenta queda de seus investimentos produtivos, e agora recebe menos dinheiro que o Brasil. Ou seja, a Economist pode resmungar à vontade. Na hora de botar a mão no bolso e investir, o mundo prefere o Brasil.
Aliás, esse é um fator para o qual devemos olhar sempre, porque a crise financeira do mundo desenvolvido está forçando seus governos a adotarem medidas algo drásticas para interromperem o fluxo de recursos para países emergentes, como o Brasil. Com o poder que eles detêm sobre a informação, há sempre o risco de incitarem desordens aqui com objetivo de fazer os investidores desistirem do Brasil e voltarem a aplicar nas praças tradicionais, como Londres e Nova York.
Segundo a consultoria ATKearney, que há anos produz um índice de investimento estrangeiro direto (em inglês, FDI, Foreign Direct Investment), o Brasil subiu várias posições nos últimos anos, e hoje está em terceiro lugar no ranking global, atrás apenas de EUA e China. A Inglaterra, por sua vez, tem perdido pontos, e está hoje em oitavo lugar, após décadas entre os três primeiros.
A avaliação que a consultoria faz do Brasil é ultra-positiva: 40% de razões para otimismo, contra apenas 10% para pessimismo. Os investidores têm sido atraídos por nossa demografia espetacular (muitos jovens em idade produtiva) e pelo aumento da renda dos trabalhadores. Em 2012, o investimento estrangeiro direto no Brasil, segundo a empresa, foi de US$ 65,2 bilhões, só um pouquinho abaixo do recorde registrado no ano anterior, de US$ 66,7 bilhões.Nesses primeiros dois anos do governo Dilma, os investimentos estrangeiros diretos (ou seja, em produção; não em especulação) foram os maiores da história.
A Inglaterra também não pode chorar de barriga cheia. Recebeu US$ 62,7 bilhões de investimentos estrangeiros diretos em 2012. Mas entende-se a choradeira: em 2008, recebeu quase US$ 90 bilhões. A avaliação que a ATKearney faz do Reino Unido, em matéria de atração aos investidores, é menos positiva, porém, que a do Brasil: apenas 24% de razões positivas, contra 13% negativas.
Investimento Estrangeiro Direto – Gráfico Comparativo – Reino Unido e Brasil
Fonte: Banco Mundial.
Alguém poderia também lembrar à Economist que o desemprego no Brasil já está bem abaixo da taxa britânica. E a renda dos trabalhadores brasileiros tem crescido regularmente, ao contrário do que acontece na Inglaterra, onde tem caído. O Brasil ainda precisa avançar muito para alcançar o nível de desenvolvimento da Inglaterra. Mas não podemos perder de vista dois fatores:
As estatísticas mostram que estamos no caminho certo.
A história mostra que a Inglaterra sempre jogou contra o Brasil.
Desemprego no Reino Unido:
Desemprego no Brasil:
E já que a revista desenhou o Cristo Redentor caindo feito um míssil sobre o Rio de Janeiro, o Cafezinho retribui com um contra-ataque semiótico: uma bela foto da cidade maravilhosa. Última informação: segundo o IBGE, o desemprego na região metropolitana do Rio, em agosto, ficou em 4,5%, o menor da história da nossa cidade!
Comentário E & P
A falta que nos faz de uma mídia de massa. A subelite brasileira, parcela da classe dominante que é vassala dos Estados Unidos, da Europa e do Japão que estão atrelados aos interesses desses países reproduz de forma acrítica o que um periódico de forma histérica publica. A The Economist está sentindo a queda da Inglaterra no mundo e está fazendo o jus speneandi. É óbvio que comentaristas com complexo de vira-lata como Miriam Leitão e Sardenberg vão reperticutir a matéria da revista inglesa como se ela fosse séria. Essa revista defende o neoliberalismo, dogma fundamentalista que não se importa com o bem-estar dos povos do mundo e do desenvolvimentos dos países e sim com o retorno financeiro de uma minoria rica que quer ganhar mais ainda em detrimento da população mundial. São malthusianos ou seja, que os pobres se ferrem, como escreveu Malthus, economista inglês do século XVIII e XIX, que devia odiar os pobres. E os editores da revista devem estar muito putos da vida porque não vão poder ficar com o petróleo de Libra. Esses ingleses são uns ingratos, já surrupiaram o ouro das Minas Gerais, via Portugal e agora querem surrupiar o petróleo do pré-sal com ajuda do PSDB, braço político da subelite brasileira,e da imprensa venal brasileira que é o braço midiático da subelite brasileira.
Serra não quer negócios com a China; só “negócios da China”, como vender a Vale
Do Tijolaço
Em artigo hoje, no Estadão, José Serra junta-se aos lamentos americanófilos com a provável aliança entre a Petrobras e a China para explorar, sob o controle brasileiro, o megacampo de Libra, no pré-sal.
Diz ele:
“A recente habilitação de empresas para explorar o campo de Libra, o primeiro do pré-sal sob o modelo de partilha, causou decepção. Após tantos anos sem realizar leilões em áreas exploratórias, o Brasil deixou de ser o foco das atenções do mercado, em busca de novas oportunidades, como a costa africana e a reabertura do mercado mexicano. Em razão dos riscos regulatórios e do excessivo intervencionismo do governo, o modelo afastou grandes empresas mundiais e atraiu estatais estrangeiras, como da China, mais interessada em garantir reservas e abastecimento de petróleo do que em gerar receitas e lucros.”
Quer dizer então que nós devemos escolher sócios que, em lugar de interesses estratégicos em comprar nosso petróleo estejam mais interessados em “gerar receitas e lucros”? Receitas e lucros, claro, para si mesmos, sem olhar os interesses do Brasil.
Serra, que segundo o insuspeito Fernando Henrique Cardoso, foi o grande artífice da venda da Vale, defende o mesmo modelo para o nosso pré-sal. Vender o máximo, no mais curto espaço de tempo, gerando um sucesso de lucros e dividendos que a imprensa aplaude, não importando se isso se reflete no desenvolvimento e nas compras internas, se vai gerar emprego e renda aqui…
Foi por isso que fez vender a Vale inteira por US$ 3,3 bilhões, metade do que está sendo pedido apenas no bônus inicial de Libra.
A esperança de Serra é o “fracasso” que a mídia vem apregoando.
Vai se juntar à turma da raposa das uvas verdes, que acha uma porcaria aquilo que não consegue abocanhar.
Por: Fernando Brito
Comentário E & P
Pelo jeito os investimentos que os Estados Unidos fizeram no Serra deram bom resultado. O artigo do tucano mostra mais pau mandado a serviço dos Estados Unidos no Brasil e defendendo interesse de empresas estadunidenses e não do povo brasileiro. Se empresas estatais terão menos lucro isso significa que repassarão mais petróleo ao governo brasileiro o que é de interesse nacional do Brasil. São muitas penas alugadas de pessoas que embora tenham nascidas no Brasil não defendem os interesses do nosso país e do nosso povo. E o Serra é mais um deles.
terça-feira, setembro 24, 2013
Porque me afanam de meu país ou de como o Brasil tem um destino próprio
Do Tijolaço
Quando a gente pensa o Brasil, não pode pensar nele como um país “normal”.
Porque não somos, em nenhum aspecto. Desde o tamanho, a riqueza natural, a cultura e tudo o que faz único, até a história escravagista, elitista e burra de nossas elites, que também é única no mundo, agora que os boers holandeses já se foram da África do Sul e da face da Terra.
Pensar o progresso do povo brasileiro, portanto, não pode se pautar, apenas, nos sentimentos de justiça e distributivismo da riqueza que essa elites sempre nos negaram.
Significa, sempre, reverter o retardo no desenvolvimento da riqueza que elas nos legaram.
As elites brasileiras sempre viveram das migalhas do que transferiam de nossa riqueza para o exterior. Do pau-brasil, à cana, ao ouro, ao café, ao ferro, à soja, nossa história foi transferir riqueza.
Natural, portanto, que desejem que o nosso país, internacionalmente, fale fino com os poderosos e, com os fracos, seja o menino de recados que leva a vontade do “sinhô” à senzala e ainda se ache “o máximo”, por poder frequentar a “casa-grande”.
A direita brasileira sempre se preocupou em manter essa postura. É famosa a frase do udenista Juraci Magalhães de que “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.
Por isso, ao analisar o comportamento de Dilma, acha que “isso não vai adiantar nada” e que se trata de um simples aproveitamento eleitoral interno.
É coerente com o mundo, tal como o enxergam e nele vêem o Brasil.
Eles não conseguem imaginar outro lugar para nós que não a gravitação em torno dos Estados Unidos e seu modelo de vida, riqueza e progresso. Tal como seus antepassados, há dois séculos, viam as metrópoles coloniais europeias.
Por isso mesmo, acham que até é admissível um certo palrar nacionalista, desde que seja para “inglês (ou americano) ver”.
Então, não percebe – parte delas, porque muitos percebem mas fingem que não – aquilo que eu disse no post anterior: que a diplomacia segue o rumo de todas as outras relações de troca entre países, especialmente as comerciais.
exp Separei, por isso, duas tabelas que mostram como estas relações evoluíram desde os tempos de Fernando Henrique Cardoso.
Nas exportações, que se multiplicaram por quatro em uma década, as compras norte-americanas no Brasil foram as que menos cresceram: 76,6%, passando de 15,6 para 26,8 bilhões de dólares.
Ou de um quarto do total de nossas exportações para 12% do total exportado.
import
Isso é uma decisão de não vender aos americanos? Ora, isso não passa pela cabeça de nenhum exportador, o que ocorre é a decisão de não comprar.
Compare isso com a Ásia, com a China em específico, com o Mercosul…aqui, inclusive com a fixação de barreiras comerciais nas quais os pregadores do liberalismo são mestres.
Nas importações, o quadro é bem parecido, e até um pouco mais desfavorável ao Brasil, que embora tenha ampliado as compras nos EUA bem mesmo que com qualquer outra parte do mundo ainda assim o fez num ritmo maior do que o de suas vendas para lá.
A visão americanófila que “fez a cabeça” das camadas conservadoras das elites brasileiras, de Juraci a Fernando Henrique cabe dentro das cabeças miúdas, mas não cabe mais na realidade econômica do país.
Portanto, caros e raros leitores e leitoras, essa é a visão que o nosso jornalismo econômico não lhes dá, para que possa ser compreendido nosso papel no jogo de forças mundial que, como ao longo de toda a história, é regido por dinheiro e poder.
É óbvio que não se toma aqui uma postura infantil de “yankees go home” até porque as boinas verdes vêm, com mais eficiência, na forma de notas verdes.
Mas, sim, de enxergar nossa polìtica externa, nossa diplomacia, como a projeção dos nossos princípios e dos nossos interesses.
Talvez agora fique mais fácil entender porque o Brasil pode ter tanto peso no jogo de forças mundial e porque não é a republica bananeira que as nossas elites pensam que somos.
Concluo o raciocínio com que abri este post. Para pensar o Brasil, é preciso pensar o nosso tamanho. E ver que somos, entre as nações de um mundo que se divide em hegemonias, uma das poucas que pode aspirar a um destino próprio.
Os que rastejam jamais serão capazes de ver horizontes.
Por: Fernando Brito
Comentário E & P
Os que rastejam constituem a parcela da classe dominante, formada por uma boa parcela de empresários, banqueiros, economistas neoliberais,a grande imprensa,uma parte da classe média e outros formam a subelite brasileira. subelite porque estão subordinados ao projeto de nação dos Estados Unidos, Europa e Japão, de quem são vassalos e juraram fidelidade. Essa parcela da população brasileira não se preocupa com o destino do país e do seu povo, desde que eles possam ser recompensados com algumas migalhas e eles podem viver confortavelmente no Brasil. E ainda falam mal do país e do seu povo, como se eles fossem civilizados. A construção de um país necessita de um projeto de nação tocado por uma elite. Essa elite é constituída por todos aqueles que querem o desenvolvimento social e econômico do país. São trabalhadores, estudantes, empresários nacionalistas, intelectuais entre outros que compreenderam que estamos num grande país e temos todo o potencial do mundo de nos desenvolvermos. Precisamos construir uma imprensa que seja capaz disso e não esteja controlada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos como a Veja, a Globo, a Folha de São Paulo e o Estadão. O braço político dessa subelite é composta principalmente pelo PSDB e DEM. Eles fizeram um governo fantoche no Brasil no período do Fernando Henrique Cardoso em que atuaram a favor de interesses estrangeiros. Nesse período o Menem, Fujimori entre outros também fizeram simulacros de governos. Os Estados Unidos com as subelites implantaram ditaduras militares em toda a América Latina, cometeram crimes contra a humanidade. O nosso jornalismo abana o rabo quando cita os Estados Unidos, são sabujos e adestrados. Muitos economistas brasileiros foram adestrados nos Estados Unidos e as teorias estapafúrdias que defendem são altamente prejudiciais ao povo. As subelites de Honduras e Paraguai, graças ao apoio dos Estados Unidos reverteram o processo de construção das elites locais. Essa é a luta que travamos, em torno de um projeto de nação e de povo. Não é pouca coisa.
Quando a gente pensa o Brasil, não pode pensar nele como um país “normal”.
Porque não somos, em nenhum aspecto. Desde o tamanho, a riqueza natural, a cultura e tudo o que faz único, até a história escravagista, elitista e burra de nossas elites, que também é única no mundo, agora que os boers holandeses já se foram da África do Sul e da face da Terra.
Pensar o progresso do povo brasileiro, portanto, não pode se pautar, apenas, nos sentimentos de justiça e distributivismo da riqueza que essa elites sempre nos negaram.
Significa, sempre, reverter o retardo no desenvolvimento da riqueza que elas nos legaram.
As elites brasileiras sempre viveram das migalhas do que transferiam de nossa riqueza para o exterior. Do pau-brasil, à cana, ao ouro, ao café, ao ferro, à soja, nossa história foi transferir riqueza.
Natural, portanto, que desejem que o nosso país, internacionalmente, fale fino com os poderosos e, com os fracos, seja o menino de recados que leva a vontade do “sinhô” à senzala e ainda se ache “o máximo”, por poder frequentar a “casa-grande”.
A direita brasileira sempre se preocupou em manter essa postura. É famosa a frase do udenista Juraci Magalhães de que “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.
Por isso, ao analisar o comportamento de Dilma, acha que “isso não vai adiantar nada” e que se trata de um simples aproveitamento eleitoral interno.
É coerente com o mundo, tal como o enxergam e nele vêem o Brasil.
Eles não conseguem imaginar outro lugar para nós que não a gravitação em torno dos Estados Unidos e seu modelo de vida, riqueza e progresso. Tal como seus antepassados, há dois séculos, viam as metrópoles coloniais europeias.
Por isso mesmo, acham que até é admissível um certo palrar nacionalista, desde que seja para “inglês (ou americano) ver”.
Então, não percebe – parte delas, porque muitos percebem mas fingem que não – aquilo que eu disse no post anterior: que a diplomacia segue o rumo de todas as outras relações de troca entre países, especialmente as comerciais.
exp Separei, por isso, duas tabelas que mostram como estas relações evoluíram desde os tempos de Fernando Henrique Cardoso.
Nas exportações, que se multiplicaram por quatro em uma década, as compras norte-americanas no Brasil foram as que menos cresceram: 76,6%, passando de 15,6 para 26,8 bilhões de dólares.
Ou de um quarto do total de nossas exportações para 12% do total exportado.
import
Isso é uma decisão de não vender aos americanos? Ora, isso não passa pela cabeça de nenhum exportador, o que ocorre é a decisão de não comprar.
Compare isso com a Ásia, com a China em específico, com o Mercosul…aqui, inclusive com a fixação de barreiras comerciais nas quais os pregadores do liberalismo são mestres.
Nas importações, o quadro é bem parecido, e até um pouco mais desfavorável ao Brasil, que embora tenha ampliado as compras nos EUA bem mesmo que com qualquer outra parte do mundo ainda assim o fez num ritmo maior do que o de suas vendas para lá.
A visão americanófila que “fez a cabeça” das camadas conservadoras das elites brasileiras, de Juraci a Fernando Henrique cabe dentro das cabeças miúdas, mas não cabe mais na realidade econômica do país.
Portanto, caros e raros leitores e leitoras, essa é a visão que o nosso jornalismo econômico não lhes dá, para que possa ser compreendido nosso papel no jogo de forças mundial que, como ao longo de toda a história, é regido por dinheiro e poder.
É óbvio que não se toma aqui uma postura infantil de “yankees go home” até porque as boinas verdes vêm, com mais eficiência, na forma de notas verdes.
Mas, sim, de enxergar nossa polìtica externa, nossa diplomacia, como a projeção dos nossos princípios e dos nossos interesses.
Talvez agora fique mais fácil entender porque o Brasil pode ter tanto peso no jogo de forças mundial e porque não é a republica bananeira que as nossas elites pensam que somos.
Concluo o raciocínio com que abri este post. Para pensar o Brasil, é preciso pensar o nosso tamanho. E ver que somos, entre as nações de um mundo que se divide em hegemonias, uma das poucas que pode aspirar a um destino próprio.
Os que rastejam jamais serão capazes de ver horizontes.
Por: Fernando Brito
Comentário E & P
Os que rastejam constituem a parcela da classe dominante, formada por uma boa parcela de empresários, banqueiros, economistas neoliberais,a grande imprensa,uma parte da classe média e outros formam a subelite brasileira. subelite porque estão subordinados ao projeto de nação dos Estados Unidos, Europa e Japão, de quem são vassalos e juraram fidelidade. Essa parcela da população brasileira não se preocupa com o destino do país e do seu povo, desde que eles possam ser recompensados com algumas migalhas e eles podem viver confortavelmente no Brasil. E ainda falam mal do país e do seu povo, como se eles fossem civilizados. A construção de um país necessita de um projeto de nação tocado por uma elite. Essa elite é constituída por todos aqueles que querem o desenvolvimento social e econômico do país. São trabalhadores, estudantes, empresários nacionalistas, intelectuais entre outros que compreenderam que estamos num grande país e temos todo o potencial do mundo de nos desenvolvermos. Precisamos construir uma imprensa que seja capaz disso e não esteja controlada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos como a Veja, a Globo, a Folha de São Paulo e o Estadão. O braço político dessa subelite é composta principalmente pelo PSDB e DEM. Eles fizeram um governo fantoche no Brasil no período do Fernando Henrique Cardoso em que atuaram a favor de interesses estrangeiros. Nesse período o Menem, Fujimori entre outros também fizeram simulacros de governos. Os Estados Unidos com as subelites implantaram ditaduras militares em toda a América Latina, cometeram crimes contra a humanidade. O nosso jornalismo abana o rabo quando cita os Estados Unidos, são sabujos e adestrados. Muitos economistas brasileiros foram adestrados nos Estados Unidos e as teorias estapafúrdias que defendem são altamente prejudiciais ao povo. As subelites de Honduras e Paraguai, graças ao apoio dos Estados Unidos reverteram o processo de construção das elites locais. Essa é a luta que travamos, em torno de um projeto de nação e de povo. Não é pouca coisa.
segunda-feira, setembro 23, 2013
ECONOMIA FRACA? ARRECADAÇÃO BATE RECORDE EM AGOSTO
Do 247
Daniel Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O governo federal arrecadou R$ 83,956 bilhões em impostos e contribuições em agosto, recorde para o período. O resultado representa crescimento real de 2,68% em relação ao mesmo período de 2012, descontada a inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Os dados foram divulgados hoje (23) pela Receita Federal.
No acumulado do ano, a arrecadação federal somou R$ 722,234 bilhões, alta de 0,79% na comparação com o mesmo período do ano passado, também descontado o IPCA. Em termos nominais, a arrecadação aumentou R$ 48,658 bilhões de janeiro a agosto deste ano, sem a correção, pela inflação, dos valores arrecadados no mesmo período do ano passado.
De acordo com a Receita, entre os principais fatores que influenciaram a arrecadação está o desempenho dos principais indicadores macroeconômicos, incluindo a produção industrial, com crescimento de 1,35% entre dezembro de 2012 e julho de 2013, e a venda de bens e serviços (3,96% na mesma comparação). Houve ainda, no período, aumento da massa salarial, de 11,65% e do valor em dólares das importações, com acréscimo de 4,63%. Todos os percentuais com fato gerador em julho e influência na arrecadação de agosto.
Edição: Talita Cavalcante
Daniel Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O governo federal arrecadou R$ 83,956 bilhões em impostos e contribuições em agosto, recorde para o período. O resultado representa crescimento real de 2,68% em relação ao mesmo período de 2012, descontada a inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Os dados foram divulgados hoje (23) pela Receita Federal.
No acumulado do ano, a arrecadação federal somou R$ 722,234 bilhões, alta de 0,79% na comparação com o mesmo período do ano passado, também descontado o IPCA. Em termos nominais, a arrecadação aumentou R$ 48,658 bilhões de janeiro a agosto deste ano, sem a correção, pela inflação, dos valores arrecadados no mesmo período do ano passado.
De acordo com a Receita, entre os principais fatores que influenciaram a arrecadação está o desempenho dos principais indicadores macroeconômicos, incluindo a produção industrial, com crescimento de 1,35% entre dezembro de 2012 e julho de 2013, e a venda de bens e serviços (3,96% na mesma comparação). Houve ainda, no período, aumento da massa salarial, de 11,65% e do valor em dólares das importações, com acréscimo de 4,63%. Todos os percentuais com fato gerador em julho e influência na arrecadação de agosto.
Edição: Talita Cavalcante
Paul Krugman e o “Bolsa-Família” americano. Livres para passar fome
Do Tijolaço
Pouca gente sabe, mas os EUA também têm o seu “Bolsa Família”.
Lá, é o SNAP - Supplemental Nutrition Assistance Program - que ajuda 40 milhões de americanos de baixa renda a se alimentarem, no mesmo esquema de cartão magnético do nosso aqui, com a diferença que o benefício não pode ser sacado, mas utilizado eletronicamente nas lojas cadastradas, o que é fácil frente ao uso de computadores generalizados em todo o comércio do país. Ele, aliás, substitui os antigos “food stamps”, tíquetes de alimentação que existem há décadas nos EUA.
Lá, como cá, o conservadorismo ataca o SNAP, dizendo que ele “ensina a não trabalhar”, acomodando as pessoas.
Contra isso, e para analisar os benefìcios do “Bolsa Família” gringo, o economista Paul Krugman, Prêmio Nobel de 2008, escreveu o artigo abaixo, publicado no The New York Times de ontem e republicado aqui pelo site da Folha.
É triste ver que a mediocridade é universal e que, não importa a língua, a elite sempre se parece em crueldade.
Livres para passar Fome
Paul Krugman
Múltiplos estudos econômicos cuidadosamente conduzidos demonstraram que a desaceleração econômica explica a porção principal da alta no programa de assistência alimentar. E embora as notícias econômicas venham sendo em geral ruins, uma das poucas boas notícias é a de que o programa ao menos atenuou as dificuldades, impedindo que milhões de norte-americanos caíssem à pobreza.
E esse tampouco é o único benefício do programa. Há provas esmagadoras de que os cortes de gastos aprofundam a crise, em uma economia em desaceleração, mas os gastos do governo vêm caindo. O SNAP, porém, é um programa que foi expandido, e dessa forma ajudou indiretamente a salvar centenas de milhares de empregos.
Mas, dizem os suspeitos habituais, a recessão terminou em 2009. Por que a recuperação não reduziu o número de beneficiários do SNAP? A resposta é que, embora a recessão tenha de fato acabado oficialmente em 2009, o que tivemos desde então é uma recuperação de e para um pequeno número de pessoas, no topo da pirâmide de distribuição nacional de renda, e nenhum dos ganhos se estendeu aos menos afortunados. Considerada a inflação, a renda do 1% mais rico da população norte-americana subiu em 31% de 2009 a 2012, enquanto a renda real dos 40% mais pobres caiu em 6%. Por que o uso da assistência alimentar se reduziria, assim?
Mas será que o SNAP deve ser considerado uma boa ideia, em termos gerais? Ou, como diz o deputado Paul Ryan, presidente do comitê orçamentário da Câmara, ele serve como exemplo de transformação da rede se segurança social em “rede de varanda que convence pessoas capazes de trabalhar a levarem vidas de dependência e complacência”.
Uma resposta é, bem, não é lá uma rede muito confortável: no ano passado, os benefícios médios da assistência alimentar eram de US$ 4,45 ao dia. E, quanto às pessoas “capazes de trabalhar”, quase dois terços dos beneficiários do SNAP são idosos, crianças ou deficientes, e a maioria dos demais são adultos com filhos.
Mas mesmo desconsiderando tudo isso, seria de imaginar que garantir nutrição adequada para as crianças, que é grande parte do que o SNAP faz, torna menos, e não mais, provável que essas crianças sejam pobres e necessitem de assistência pública ao crescer. E é isso que as provas demonstram. As economistas Hilary Hoynes e Diane Whitmore Schanzenbach estudaram o impacto dos programas de assistência alimentar nos anos 60 e 70, quando eles foram gradualmente adotados em todo o país, e constataram que, em média, as crianças que recebiam assistência desde cedo se tornavam adultos mais produtivos e mais saudáveis do que as crianças que não a recebiam – e que também era menos provável que recorressem a ajuda do governo no futuro.
O SNAP, para resumir, é um exemplo de política pública em sua melhor forma. Não só ajuda os necessitados como os ajuda a se ajudarem. E vem fazendo ótimo trabalho durante a crise econômica, mitigando o sofrimento e protegendo empregos em um momento no qual muitas das autoridades parecem determinadas a fazer o oposto. Assim, é revelador que os conservadores tenham escolhido este programa como alvo de ira especial.
Até mesmo alguns dos sabichões conservadores consideram que a guerra contra a assistência alimentar, especialmente combinada ao voto que aumentou o subsídio agrícola, prejudicará o Partido Republicano, porque faz com que os republicanos pareçam mesquinhos e determinados a promover uma guerra de classes. E é isso exatamente que eles são.
Por: Fernando Brito
Pouca gente sabe, mas os EUA também têm o seu “Bolsa Família”.
Lá, é o SNAP - Supplemental Nutrition Assistance Program - que ajuda 40 milhões de americanos de baixa renda a se alimentarem, no mesmo esquema de cartão magnético do nosso aqui, com a diferença que o benefício não pode ser sacado, mas utilizado eletronicamente nas lojas cadastradas, o que é fácil frente ao uso de computadores generalizados em todo o comércio do país. Ele, aliás, substitui os antigos “food stamps”, tíquetes de alimentação que existem há décadas nos EUA.
Lá, como cá, o conservadorismo ataca o SNAP, dizendo que ele “ensina a não trabalhar”, acomodando as pessoas.
Contra isso, e para analisar os benefìcios do “Bolsa Família” gringo, o economista Paul Krugman, Prêmio Nobel de 2008, escreveu o artigo abaixo, publicado no The New York Times de ontem e republicado aqui pelo site da Folha.
É triste ver que a mediocridade é universal e que, não importa a língua, a elite sempre se parece em crueldade.
Livres para passar Fome
Paul Krugman
Múltiplos estudos econômicos cuidadosamente conduzidos demonstraram que a desaceleração econômica explica a porção principal da alta no programa de assistência alimentar. E embora as notícias econômicas venham sendo em geral ruins, uma das poucas boas notícias é a de que o programa ao menos atenuou as dificuldades, impedindo que milhões de norte-americanos caíssem à pobreza.
E esse tampouco é o único benefício do programa. Há provas esmagadoras de que os cortes de gastos aprofundam a crise, em uma economia em desaceleração, mas os gastos do governo vêm caindo. O SNAP, porém, é um programa que foi expandido, e dessa forma ajudou indiretamente a salvar centenas de milhares de empregos.
Mas, dizem os suspeitos habituais, a recessão terminou em 2009. Por que a recuperação não reduziu o número de beneficiários do SNAP? A resposta é que, embora a recessão tenha de fato acabado oficialmente em 2009, o que tivemos desde então é uma recuperação de e para um pequeno número de pessoas, no topo da pirâmide de distribuição nacional de renda, e nenhum dos ganhos se estendeu aos menos afortunados. Considerada a inflação, a renda do 1% mais rico da população norte-americana subiu em 31% de 2009 a 2012, enquanto a renda real dos 40% mais pobres caiu em 6%. Por que o uso da assistência alimentar se reduziria, assim?
Mas será que o SNAP deve ser considerado uma boa ideia, em termos gerais? Ou, como diz o deputado Paul Ryan, presidente do comitê orçamentário da Câmara, ele serve como exemplo de transformação da rede se segurança social em “rede de varanda que convence pessoas capazes de trabalhar a levarem vidas de dependência e complacência”.
Uma resposta é, bem, não é lá uma rede muito confortável: no ano passado, os benefícios médios da assistência alimentar eram de US$ 4,45 ao dia. E, quanto às pessoas “capazes de trabalhar”, quase dois terços dos beneficiários do SNAP são idosos, crianças ou deficientes, e a maioria dos demais são adultos com filhos.
Mas mesmo desconsiderando tudo isso, seria de imaginar que garantir nutrição adequada para as crianças, que é grande parte do que o SNAP faz, torna menos, e não mais, provável que essas crianças sejam pobres e necessitem de assistência pública ao crescer. E é isso que as provas demonstram. As economistas Hilary Hoynes e Diane Whitmore Schanzenbach estudaram o impacto dos programas de assistência alimentar nos anos 60 e 70, quando eles foram gradualmente adotados em todo o país, e constataram que, em média, as crianças que recebiam assistência desde cedo se tornavam adultos mais produtivos e mais saudáveis do que as crianças que não a recebiam – e que também era menos provável que recorressem a ajuda do governo no futuro.
O SNAP, para resumir, é um exemplo de política pública em sua melhor forma. Não só ajuda os necessitados como os ajuda a se ajudarem. E vem fazendo ótimo trabalho durante a crise econômica, mitigando o sofrimento e protegendo empregos em um momento no qual muitas das autoridades parecem determinadas a fazer o oposto. Assim, é revelador que os conservadores tenham escolhido este programa como alvo de ira especial.
Até mesmo alguns dos sabichões conservadores consideram que a guerra contra a assistência alimentar, especialmente combinada ao voto que aumentou o subsídio agrícola, prejudicará o Partido Republicano, porque faz com que os republicanos pareçam mesquinhos e determinados a promover uma guerra de classes. E é isso exatamente que eles são.
Por: Fernando Brito
A raposa e as uvas verdes do petróleo
Do Tijolaço
A incapacidade de raciocinar a profundidades maiores que cinco centímetros parece ter se tornado uma praga no jornalismo nacional.
No final de semana, multiplicaram-se as matérias sobre as razões de as empresas americanas e inglesas terem fugido do leilão de Libra: modelo de partilha é desconhecido, há muita interferência estatal, a presença da Petrobras como operadora incomoda e por aí vai.
Ah, e ainda tem a brilhante conclusão do Estadão que, através de uma pesquisa nos sites das petroleiras chegou à conclusão de que elas não se interessam pelo pré-sal brasileiro – imagina se iam publicar ali os lugares onde tem olho grande. Publicam onde estão, porque todo mundo sabe que estão, mas não onde querem estar, óbvio.
E como pode ser desconhecido o modelo de partilha se ele é praticado por mais da metade dos maiores produtores mundiais de petróleo?
Muito menos é problema a operação do campo pela Petrobras, porque todas elas já compraram interesses em campos operados pela brasileira.
O chororô que “vazam” para os jornalistas é o gemido triste da raposa dizendo que “bem, aquelas uvas nâo prestavam mesmo, estavam verdes”.
Nem uma palavra para falar das verdadeiras razões. Que são duas, e se interligam.
A primeira e óbvia foi a situação canhestra em que ficou o governo americano – do qual as empresas americanas e inglesas, todos sabem são irmãs siamesas – com a revelação da espionagem sobre a Petrobras. Qualquer investida mais ousada para deter o controle do campo seria vista como resultado de informação privilegiada. E, cá pra nós, seria mesmo.
Segundo, impossibilitadas politicamente de forçar a Petrobras a um acordo, sabem que teriam de subir seus lances, porque a brasileira está articulando uma composição com os chineses.
partilhaE lances altos, num leilão de partilha, quer dizer uma parte maior para o Governo brasileiro.
No leilão de Libra o esquema de participação fica como exposto no quadro ao lado, com pequenas variações em função do volume produzido e do preço internacional do petróleo.
Lembre que como estamos falando em um volume recuperável de óleo em torno de 10 bilhões de barris, a 100 dólares cada um, cada um por cento equivale da 10 bilhões de dólares, ao longo de 35 anos.
E estas percentagens estão longe de serem as mais altas exigidas no mundo: em alguns países, como a Indonésia, elas chegam a passar de 90%, pela exigência de venda a preços mais baixos para o mercado interno.
Nem por isso as grandes fogem de lá.
Nossa imprensa, porém, não mostra isso a seus leitores.
Está mais preocupada com as pobrezinhas das multinacionais do petróleo, tão generosamente dispostas a nos ajudar a tirar o óleo de lá das profundezas; estão perdendo com estas “regras absurdas” que fazem a receita ficar com o país.
Alguns agem por servilismo.
Mas a maioria é por incapacidade de pensar, que os faz repetir como papagaios os que as vedetes da imprensa dizem.
Por sorte, há exceções e vale a pena registrar uma, de Jânio de Freitas, na Folha de ontem:
“Vista pela ótica da história das relações internacionais, as americanas Exxon (ainda Esso, para nós) e Chevron e as britânicas BP e BG fizeram uma gentileza ao Brasil, com sua desistência de participar dos leilões do pré-sal. Preferem investir para a desnacionalização do petróleo mexicano.
As três primeiras são o que se pode definir como empresas geradoras de problemas, onde quer que estejam. A Exxon ou Esso ou Standard Oil tem um histórico de presença no centro de conflitos armados, inclusive entre países, sem equivalente. E seus interesses sempre se tornaram interesses do governo americano, para todo e qualquer efeito.
Passem bem todas quatro, o que não acontecerá ao México.”
Por: Fernando Brito
A incapacidade de raciocinar a profundidades maiores que cinco centímetros parece ter se tornado uma praga no jornalismo nacional.
No final de semana, multiplicaram-se as matérias sobre as razões de as empresas americanas e inglesas terem fugido do leilão de Libra: modelo de partilha é desconhecido, há muita interferência estatal, a presença da Petrobras como operadora incomoda e por aí vai.
Ah, e ainda tem a brilhante conclusão do Estadão que, através de uma pesquisa nos sites das petroleiras chegou à conclusão de que elas não se interessam pelo pré-sal brasileiro – imagina se iam publicar ali os lugares onde tem olho grande. Publicam onde estão, porque todo mundo sabe que estão, mas não onde querem estar, óbvio.
E como pode ser desconhecido o modelo de partilha se ele é praticado por mais da metade dos maiores produtores mundiais de petróleo?
Muito menos é problema a operação do campo pela Petrobras, porque todas elas já compraram interesses em campos operados pela brasileira.
O chororô que “vazam” para os jornalistas é o gemido triste da raposa dizendo que “bem, aquelas uvas nâo prestavam mesmo, estavam verdes”.
Nem uma palavra para falar das verdadeiras razões. Que são duas, e se interligam.
A primeira e óbvia foi a situação canhestra em que ficou o governo americano – do qual as empresas americanas e inglesas, todos sabem são irmãs siamesas – com a revelação da espionagem sobre a Petrobras. Qualquer investida mais ousada para deter o controle do campo seria vista como resultado de informação privilegiada. E, cá pra nós, seria mesmo.
Segundo, impossibilitadas politicamente de forçar a Petrobras a um acordo, sabem que teriam de subir seus lances, porque a brasileira está articulando uma composição com os chineses.
partilhaE lances altos, num leilão de partilha, quer dizer uma parte maior para o Governo brasileiro.
No leilão de Libra o esquema de participação fica como exposto no quadro ao lado, com pequenas variações em função do volume produzido e do preço internacional do petróleo.
Lembre que como estamos falando em um volume recuperável de óleo em torno de 10 bilhões de barris, a 100 dólares cada um, cada um por cento equivale da 10 bilhões de dólares, ao longo de 35 anos.
E estas percentagens estão longe de serem as mais altas exigidas no mundo: em alguns países, como a Indonésia, elas chegam a passar de 90%, pela exigência de venda a preços mais baixos para o mercado interno.
Nem por isso as grandes fogem de lá.
Nossa imprensa, porém, não mostra isso a seus leitores.
Está mais preocupada com as pobrezinhas das multinacionais do petróleo, tão generosamente dispostas a nos ajudar a tirar o óleo de lá das profundezas; estão perdendo com estas “regras absurdas” que fazem a receita ficar com o país.
Alguns agem por servilismo.
Mas a maioria é por incapacidade de pensar, que os faz repetir como papagaios os que as vedetes da imprensa dizem.
Por sorte, há exceções e vale a pena registrar uma, de Jânio de Freitas, na Folha de ontem:
“Vista pela ótica da história das relações internacionais, as americanas Exxon (ainda Esso, para nós) e Chevron e as britânicas BP e BG fizeram uma gentileza ao Brasil, com sua desistência de participar dos leilões do pré-sal. Preferem investir para a desnacionalização do petróleo mexicano.
As três primeiras são o que se pode definir como empresas geradoras de problemas, onde quer que estejam. A Exxon ou Esso ou Standard Oil tem um histórico de presença no centro de conflitos armados, inclusive entre países, sem equivalente. E seus interesses sempre se tornaram interesses do governo americano, para todo e qualquer efeito.
Passem bem todas quatro, o que não acontecerá ao México.”
Por: Fernando Brito
sexta-feira, setembro 20, 2013
EUA - A NOVA PATIFARIA AMERICANA.
Diário do Centro do Mundo
A nova patifaria dos EUA contra a Venezuela confirma o acerto de Dilma em cancelar a visita a Obama
Paulo Nogueira
Os Estados Unidos abusam da paciência do mundo
E os Estados Unidos deram mais uma de Estados Unidos: proibiram o avião que conduzirá neste sábado o presidente venezuelano Maduro rumo à China de sobrevoar o céu americano.
Vaias. Vaias de pé.
É um gesto prepotente, mesquinho e inútil. Não vai impedir Mesquinho de ir para a China, e mostra que os Estados Unidos continuam a ver a América Latina como seu quintal.
Particularmente em relação à Venezuela, os americanos continuamente demonstram não haver superado o basta que a administração Chávez deu à predação histórica que os Estados Unidos impunham aos venezuelanos. O petróleo da Venezuela era, na prática, desfrutado pelos Estados Unidos – e mais um pequeno grupo de venezuelanos que mantinham os pobres locais num regime na prática de apartheid.
Obama frustrou as esperanças venezuelanas de uma mudança de atitude dos Estados Unidos. Ele acabou se revelando desconcertantemente parecido com Bush, sobretudo na política externa bélica e arrogante.
Os americanos continuam a pensar que podem tudo, incluído aí espionar o mundo inteiro e depois caçar quem revelou o crime de escala planetária, Snowden.
À luz de tudo isso, fica claro que foi acertada a decisão de Dilma de cancelar a visita que faria a Obama. Ele enrolou e não se desculpou pela ofensa cometida contra o Brasil com a espionagem contra alvos como Dilma e Petrobras.
Políticos e colunistas que gostam de ver o Brasil no papel submisso de vassalo americano criticaram Dilma por um suposto “nacionalismo” – como se isso em si fosse um defeito – e por imaginários danos que a decisão poderia trazer para o comércio americano.
Ora, os Estados Unidos jamais deixariam de fazer um negócio por coisas como essa – tão dominados são pela compulsão de acumular dinheiro.
E ainda que deixassem, existe algo que dinheiro nenhum compra – dignidade
A nova patifaria dos EUA contra a Venezuela confirma o acerto de Dilma em cancelar a visita a Obama
Paulo Nogueira
Os Estados Unidos abusam da paciência do mundo
E os Estados Unidos deram mais uma de Estados Unidos: proibiram o avião que conduzirá neste sábado o presidente venezuelano Maduro rumo à China de sobrevoar o céu americano.
Vaias. Vaias de pé.
É um gesto prepotente, mesquinho e inútil. Não vai impedir Mesquinho de ir para a China, e mostra que os Estados Unidos continuam a ver a América Latina como seu quintal.
Particularmente em relação à Venezuela, os americanos continuamente demonstram não haver superado o basta que a administração Chávez deu à predação histórica que os Estados Unidos impunham aos venezuelanos. O petróleo da Venezuela era, na prática, desfrutado pelos Estados Unidos – e mais um pequeno grupo de venezuelanos que mantinham os pobres locais num regime na prática de apartheid.
Obama frustrou as esperanças venezuelanas de uma mudança de atitude dos Estados Unidos. Ele acabou se revelando desconcertantemente parecido com Bush, sobretudo na política externa bélica e arrogante.
Os americanos continuam a pensar que podem tudo, incluído aí espionar o mundo inteiro e depois caçar quem revelou o crime de escala planetária, Snowden.
À luz de tudo isso, fica claro que foi acertada a decisão de Dilma de cancelar a visita que faria a Obama. Ele enrolou e não se desculpou pela ofensa cometida contra o Brasil com a espionagem contra alvos como Dilma e Petrobras.
Políticos e colunistas que gostam de ver o Brasil no papel submisso de vassalo americano criticaram Dilma por um suposto “nacionalismo” – como se isso em si fosse um defeito – e por imaginários danos que a decisão poderia trazer para o comércio americano.
Ora, os Estados Unidos jamais deixariam de fazer um negócio por coisas como essa – tão dominados são pela compulsão de acumular dinheiro.
E ainda que deixassem, existe algo que dinheiro nenhum compra – dignidade
Batalha de Porongos: covardia, traição, falsidade
Depois de lutarem, durante dez anos, não por dinheiro ou impostos, mas pela liberdade, no dia 14 de novembro de 1844 foram miseravelmente traídos no mais vergonhoso episódio dessa guerra, conhecido como “O Massacre de Porongos”. Desarmados, por seu comandante Canabarro, esses homens foram traiçoeiramente entregues a sanha historicamente genocida de Caxias.
Batalha de Porongos: covardia, traição, falsidade
A Revolução Farroupilha foi a mais longa revolta republicana contra o Império escravocrata e centralizador brasileiro. Os grandes e poderosos proprietários de terras gaúchos, sentindo-se desfavorecidos pelas leis federais, principalmente pelos impostos considerados excessivos, entram em negociações com o governo regencial. Tais negociações, consideradas insatisfatórias, criam um crescente estado de tensão até o rompimento definitivo e a declaração de guerra, em 20 de setembro de 1835.
Depois do combate travado em Bagé, conhecido como “a Batalha do Seival”, em que as forças imperiais foram surpreendente e rotundamente derrotadas, surge um movimento político dissidente e separatista. Com sua radicalização é proclamada a independência e criada a República Rio-Grandense frente ao Império do Brasil, propondo uma República Federativa às demais províncias que viessem a separar-se do Império e assumissem a forma republicana.
Para lutar por “um país independente” foi necessário juntar as tropas dos generais que aderiram à causa e assim foi formado o “exército farroupilha” liderado pelo Gen. Bento Gonçalves. Na verdade, os verdadeiros protagonistas dessa luta foram os negros, os índios, os mestiços e os brancos pobres que lutaram de forma abnegada pela recém criada República e por espaços de liberdade, buscando um futuro melhor para si e para os seus. Entre os generais está um abolicionista convicto, Antônio de Souza Netto, que não só coloca a libertação dos escravos como um dos “ideais farroupilha” como propõe a participação dos negros na luta dos farrapos. Num primeiro momento a idéia é rejeitada.
Porém, em 4 de outubro de 1836”, depois da “Derrota de Fanfa”, em que Bento Gonçalves foi preso e o exército farroupilha teve excessivas baixas, eles não vacilaram em libertar os escravos que, em troca, se engajaram no exército farroupilha. Assim foi criada a unidade militar que ficou conhecida como os Lanceiros Negros.
Nesse corpo de Lanceiros Negros só havia brancos entre os oficiais superiores. Os negros eram os melhores domadores de cavalos da província. Suas lanças eram maiores do que as ordinárias, os rostos pretos como azeviche. Seus corpos robustos e a sua perfeita disciplina os tornavam o terror dos imperiais. A participação decisiva dos Lanceiros Negros foi ressaltada pelo republicano Giuseppe Garibaldi – “herói dos dois mundos” – em sua biografia escrita por Alexandre Dumas: “soldados de uma disciplina espartana, que com seus rostos de azeviche e coragem inquebrantável, punham verdadeiro terror ao inimigo” ou ainda “…mas nunca vi, em nenhuma parte, homens mais valentes, …em cujas fileiras aprendi a desprezar o perigo e combater dignamente pela causa sagrada das nações…” (GARIBALDI,Giuseppe, em FAGUNDES, M. Calvet, História da Revolução Farroupilha. EDUCS.1989.p. 9).
Depois de lutarem, durante dez anos, não por dinheiro ou impostos, mas pela liberdade, no dia 14 de novembro de 1844 foram miseravelmente traídos no mais vergonhoso episódio dessa guerra, conhecido como “O Massacre de Porongos”. Desarmados, por seu comandante Canabarro, esses homens foram traiçoeiramente entregues a sanha historicamente genocida de Caxias.
Duque de Caxias: resolvendo a questão dos negros em armas
A “Traição de Porongos” e o Massacre dos Lanceiros Negros
Como explicar aos brasileiros tamanha covardia e a baixeza moral perpetradas por dois homens, David Canabarro e Duque de Caxias, ambos idolatrados como “heróis” pela historiografia oficial – um deles até considerado “patrono do Exército” – durante a chamada Revolução Farroupilha? Os historiadores oficiais criaram deliberadamente imagens falsas de Porongos procurando não macular “seus” heróis. Entretanto, a hediondez dos acontecimentos só nos permite uma coisa: não a explicação, mas a revelação da verdade, baseada em documentos oficiais que ficaram escondidos por décadas e só agora revelados.
As crescentes dificuldades enfrentadas pela nova República e as disputas políticas na região do Prata, preocupantes para as autoridades do Império, impuseram às duas partes negociações de paz. Uma vitória militar decisiva dos farrapos sobre o exército imperial, comandado pelo então Barão de Caxias, tornara-se cada vez mais inviável. Por parte do Império era importante terminar logo a luta e buscar uma paz negociada, pois tudo indicava a inevitabilidade da luta com os vizinhos platinos. Mas para as duas partes era importante resolver a questão dos negros em armas. Os revoltosos haviam prometido liberdade aos negros que lutavam no exército farroupilha e com isso a Corte Imperial não concordava. Era um perigo para os escravocratas brasileiros um grande número de negros armados. E se eles, agora bastante coesos, procurassem asilo no Uruguai e a partir daí continuassem a guerra com táticas de guerrilhas, fazendo do território uruguaio seu santuário? Isso levaria à guerra e “poderia provocar graves problemas com a Argentina de Juan Rosas” (LEITMAN Spencer, Negros Farrapos: hipocrisia racial no sul do Brasil no séc. XIX e DACANAL José, A Revolução Farroupilha: história e interpretação. Porto Alegre: Mercado Aberto.1985. p. 72)
Pelo lado dos farrapos, Bento Gonçalves foi afastado da liderança, e os novos líderes, David Canabarro e Antônio Vicente da Fontoura, ambos escravocratas, negociavam a paz com Caxias. A promessa de liberdade para os combatentes negros depois de 10 anos de abnegadas e vitoriosas lutas deles nas batalhas pesava muito nas negociações.
General David Canabarro: acordo
Foi neste contexto que aconteceu, na madrugada de 14 de novembro de 1844, o “Massacre de Porongos” em que os Lanceiros Negros – previamente desarmados por Canabarro e separados do resto das tropas – foram atacados de “surpresa” e dizimados pelas tropas imperiais comandadas pelo Cel. Francisco Pedro de Abreu (o Moringue), através de um conluio entre o barão (mais tarde duque) de Caxias e o gen. Canabarro para se livrarem dos negros em armas e poderem finalmente assinar a Paz de Ponche Verde. “Traição de Porongos, que mais foi a matança de um só lado do que peleja, dispersou a principal força republicana e manifestou morta a rebelião. (…) Em Porongos pois, a revolução expirou. Foi daí que seguiu-se o entabulamento das negociações, que deram tranqüilidade ao Rio Grande do Sul” (ARARIPE, Tristão de Alencar. Guerra civil no Rio Grande Do Sul: memória acompanhada de documentos lida no Instituto Histórico Geográfico do Brasil. Porto Alegre, CORAG, 1986, p.211).
“Caxias confiava no poder do ouro. Com poderes ilimitados e verbas consideráveis para sobrepor-se aos “obstáculos pecuniários” que surgissem ao negociar com os líderes farrapos, ele tentou um acordo com David Canabarro, o principal general farrapo, para terminar a guerra. De comum acordo decidiram destruir parte do exército de Canabarro, exatamente seus contingentes negros, numa batalha pré-arranjada, conhecida como “Surpresa de Porongos” em 14 de Novembro de 1844” (LEITMAN, Spencer. Negros Farrapos …Idem p. 75)
Em suas instruções secretas a Moringue, o comandante da operação, Caxias, orientou-o no sentido de poupar brancos e índios, que poderiam ser úteis para futuras lutas.
Cópia integral dessas “instruções secretas” encontra-se no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul e nela está afirmado: Reservado: “Senhor Cel. Francisco Pedro de Abreu (…) Regule V.S. suas marchas de maneira que no dia 14, às duas horas da madrugada possa atacar as forças ao mando de Canabarro que estará neste dia no cerro dos Porongos (…) Suas marchas devem ser o mais ocultas que possível seja, inclinando-se sempre sobre a sua direita, pois posso afiançar-lhe que Canabarro e Lucas ajustaram ter as suas observações sobre o lado oposto. No conflito, poupe o sangue brasileiro o quanto puder, particularmente da gente branca da Província ou índios, pois bem sabe que essa pobre gente ainda nos pode ser útil no futuro. A relação justa é das pessoas a quem deve dar escapula, se por casualidade caírem prisioneiros. Não receie a infantaria inimiga, pois ela há de receber ordem de um ministro de seu general em chefe para entregar o cartuchame sob o pretexto de desconfiarem dele. Se Canabarro ou Lucas forem prisioneiros, deve dar-lhes escapula de maneira que ninguém possa nem levemente desconfiar, nem mesmo os outros que eles pedem que não sejam presos (…) 9 de novembro de 1844.Barão de Caxias” [AHRS. Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul-Volume 7. Porto Alegre, 1963. P.30/31].
Canabarro cumpriu sua parte no combinado, deu ordem ao quartel-mestre para recolher o cartuchame de infantaria e carregá-lo em cargueiros para serem distribuídos quando aparecesse o inimigo e separou os negros farrapos do resto da tropa. Isolados e desconhecendo a traição de seu comandante, os Lanceiros Negros resistiram bravamente antes de serem liquidados. O “Combate de Porongos” – no qual oitenta, de cada cem mortos, eram negros – abriu caminho para a Paz de Ponche Verde alguns meses depois.
A indignação de Bento Gonçalves com Canabarro é revelada logo após o “combate” de Porongos quando diz que os “caminhos indispensáveis por onde Canabarro tinha de avançar eram tão visíveis que só poderiam ser ignorados por quem não quisesse ver nem ouvir ou por quem quisesse ouvir a traidores, talvez comprados pelo inimigo! (…) Perder batalhas é dos capitães e ninguém pode estar livre disto; mas dirigir uma massa e prepará-la para sofrer uma surpresa semelhante (…) é (…) covardia do homem que assim se conduz”. [Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. Coletânea de Documentos de Bento Gonçalves da Silva. 1835/1845]
Poucos dias depois, Teixeira Nunes e os Lanceiros Negros remanescentes são enviados por Canabarro para uma ação altamente temerária na retaguarda inimiga (sobre a qual pairam também suspeitas). Atacados por Chico Preto, são aniquilados e seu comandante é ferido e depois assassinado.
Tal como nos dias de hoje em que as autoridades do país escondem seus crimes hediondos, alguns contra a humanidade, amparadas por leis fraudulentamente arrancadas de um congresso corrupto até a alma, como é o caso dos crimes praticados pelas autoridades civil e militar durante o período 64/85, a “Traição de Porongos” permaneceu como um segredo guardado a sete chaves por muitos anos.
Texto não assinado, publicado originalmente pelo CEBRASPO – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos
MINO, DILMA E OBAMA: BRASIL NÃO É MAIS QUINTAL
“Não quero entrar no mérito da qualidade dos dois caças, mas é bom que os Estados Unidos não mandem por aqui”.
O Conversa Afiada reproduz irretocável artigo do Mestre Mino:
REVIDE SOBERANO
Dilma reage à espionagem americana como cabe à presidenta de um país que não é mais quintal dos EUA
por Mino Carta
A prepotência é própria dos impérios, desfaçatez e hipocrisia também. Se me ocorrem os Estados Unidos, me vêm à mente os pais fundadores e sua Constituição pioneira, Lincoln, Roosevelt, Martin Luther King. E logo sobrevêm invasões e guerras, destruição e morte em nome dos interesses imperiais. A Doutrina Monroe e a inquisição macarthista. Hiroshima e Nagasaki. O ataque à Baía dos Porcos, Granada, Panamá, os golpes latino-americanos, em primeiro lugar o nosso, de 1964. A CIA, a DEA. Abu Ghraib e Guantánamo. O diabo a quatro, sem contar os barões ladrões e os inventores do neoliberalismo. Etc. etc.
É um nunca acabar de desmandos e violência, de opressão e crimes contra a humanidade, perpetrados à sombra da pretensa bandeira da liberdade e da democracia, como se os EUA fossem avalistas da boa conduta do mundo. Não há novidade neste comportamento, os impérios anteriores ao americano agiram da mesma maneira, e alguns duraram séculos e séculos. Não parece ser este o destino de Tio Sam, de sorte que não falta quem lhe puxe a barbicha.
O Brasil figurou, com o destaque devido à sua potencialidade e ao seu tamanho, no quintal dos Estados Unidos, ou seja, a América Latina em bloco. Assim foi desde que os ingleses deixaram de dar as cartas a cavaleiro dos séculos XIX e XX. Dispenso maiores comentários sobre a participação americana no golpe que derrubou Jango Goulart democraticamente eleito e o papel que no episódio desempenharam a CIA e o embaixador Lincoln Gordon.
Os governos pós-ditadura foram súcubos das imposições do “grande irmão do Norte”, política e economicamente, e neste campo o FMI deitou e rolou. Houve o estertor da moratória de 1987, mal administrada ao sabor das veleidades sarneysistas, e, ao cabo, a subserviência do governo de Fernando Henrique, que tanto apreciava cair nos braços de Bill Clinton e chegou a sonhar com a privatização da Petrobras. Até agora FHC, com imbatível candura, diz desconhecer qualquer gênero de espionagem americana no Brasil.
Tudo muda com o governo Lula, por meio de uma política exterior independente, conduzida pelo chanceler Celso Amorim, capaz de se evadir da rede ardilosa do chamado “Consenso de Washington” e de tomar rumos próprios. A linha é clara, altiva na medida certa e sempre elegante. Uma aula de diplomacia sutil e eficaz. Em quadrantes diversos, Lula não se alinha às conveniências americanas, quando não simplesmente as transpõe, para os habituais desconforto e repulsa da mídia nativa.
Com a chegada de Dilma Rousseff à Presidência, a política exterior passa por uma fase menos nítida, diria mesmo morna. Alcançamos os dias de hoje. Prepara-se uma viagem da presidenta a Washington, em visita oficial e solene. E então, revelada a espionagem americana nas entranhas governistas ao ponto de monitorar os movimentos da própria Dilma, o encontro com Obama é sumariamente cancelado.
Tão ofensiva à soberania brasileira foi a operação, que a mídia nativa se viu forçada a considerar devida a reação do governo. Mesmo assim, cuidou de minimizar a atitude presidencial, enquanto destacava a observação de Aécio Neves, de que aquela não passa de marketing político. Aécio faz sua lição de casa. É óbvio, no entanto, que ações de forte repercussão popular aproveitam politicamente a quem as realiza.
Resta a verdade factual, como de hábito omitida, ou desprezada, pelos editorialistas midiáticos. Quanto ao leitor atento, não se deixe enganar pela ideia de que a decisão de Dilma teve, de alguma forma, o beneplácito de Washington, a ponto de provocar a publicação de comunicados conjuntos. De fato, ambos coincidem no anúncio do cancelamento da visita, diferem, porém, na essência.
Até o mundo mineral percebe que para Tio Sam a questão precipita um revés político diante do país mais importante do quintal de um antanho superado. E tem mais, muito mais, o malogro de transação comercial pouco inferior a 10 bilhões de dólares, pela qual o Brasil adquiriria os caças da Boeing que o balconista Obama esperava vender à visitante brasileira em lugar dos Dassault negociados há tempo.
Uma personalidade brasileira voltada aos interesses do País recentemente me dizia: “Não quero entrar no mérito da qualidade dos dois caças, mas é bom que os Estados Unidos não mandem por aqui”.
Comentário E & P
A compra dos caças estabeleceria relações mais íntimas entre os militares brasileiros e os estadunidenses. Eles já se aproveitaram dessas relações para dar o golpe de estado de 1964. Vários militares que estiveram na segunda guerra mundial foram os que deram o golpe, junto com os Estados Unidos. O avião da Boeing, já é superado, apesar de ser um excelente aparelho. O melhor hoje seria comprar o SU 35 russo e entrar no desenvolvimento do PAK 50, o caça de quinta geração. Dessa forma teríamos uma força aérea de fato com capacidade para combater qualquer outro avião do mundo e sem a subordinação a Washington.
O Conversa Afiada reproduz irretocável artigo do Mestre Mino:
REVIDE SOBERANO
Dilma reage à espionagem americana como cabe à presidenta de um país que não é mais quintal dos EUA
por Mino Carta
A prepotência é própria dos impérios, desfaçatez e hipocrisia também. Se me ocorrem os Estados Unidos, me vêm à mente os pais fundadores e sua Constituição pioneira, Lincoln, Roosevelt, Martin Luther King. E logo sobrevêm invasões e guerras, destruição e morte em nome dos interesses imperiais. A Doutrina Monroe e a inquisição macarthista. Hiroshima e Nagasaki. O ataque à Baía dos Porcos, Granada, Panamá, os golpes latino-americanos, em primeiro lugar o nosso, de 1964. A CIA, a DEA. Abu Ghraib e Guantánamo. O diabo a quatro, sem contar os barões ladrões e os inventores do neoliberalismo. Etc. etc.
É um nunca acabar de desmandos e violência, de opressão e crimes contra a humanidade, perpetrados à sombra da pretensa bandeira da liberdade e da democracia, como se os EUA fossem avalistas da boa conduta do mundo. Não há novidade neste comportamento, os impérios anteriores ao americano agiram da mesma maneira, e alguns duraram séculos e séculos. Não parece ser este o destino de Tio Sam, de sorte que não falta quem lhe puxe a barbicha.
O Brasil figurou, com o destaque devido à sua potencialidade e ao seu tamanho, no quintal dos Estados Unidos, ou seja, a América Latina em bloco. Assim foi desde que os ingleses deixaram de dar as cartas a cavaleiro dos séculos XIX e XX. Dispenso maiores comentários sobre a participação americana no golpe que derrubou Jango Goulart democraticamente eleito e o papel que no episódio desempenharam a CIA e o embaixador Lincoln Gordon.
Os governos pós-ditadura foram súcubos das imposições do “grande irmão do Norte”, política e economicamente, e neste campo o FMI deitou e rolou. Houve o estertor da moratória de 1987, mal administrada ao sabor das veleidades sarneysistas, e, ao cabo, a subserviência do governo de Fernando Henrique, que tanto apreciava cair nos braços de Bill Clinton e chegou a sonhar com a privatização da Petrobras. Até agora FHC, com imbatível candura, diz desconhecer qualquer gênero de espionagem americana no Brasil.
Tudo muda com o governo Lula, por meio de uma política exterior independente, conduzida pelo chanceler Celso Amorim, capaz de se evadir da rede ardilosa do chamado “Consenso de Washington” e de tomar rumos próprios. A linha é clara, altiva na medida certa e sempre elegante. Uma aula de diplomacia sutil e eficaz. Em quadrantes diversos, Lula não se alinha às conveniências americanas, quando não simplesmente as transpõe, para os habituais desconforto e repulsa da mídia nativa.
Com a chegada de Dilma Rousseff à Presidência, a política exterior passa por uma fase menos nítida, diria mesmo morna. Alcançamos os dias de hoje. Prepara-se uma viagem da presidenta a Washington, em visita oficial e solene. E então, revelada a espionagem americana nas entranhas governistas ao ponto de monitorar os movimentos da própria Dilma, o encontro com Obama é sumariamente cancelado.
Tão ofensiva à soberania brasileira foi a operação, que a mídia nativa se viu forçada a considerar devida a reação do governo. Mesmo assim, cuidou de minimizar a atitude presidencial, enquanto destacava a observação de Aécio Neves, de que aquela não passa de marketing político. Aécio faz sua lição de casa. É óbvio, no entanto, que ações de forte repercussão popular aproveitam politicamente a quem as realiza.
Resta a verdade factual, como de hábito omitida, ou desprezada, pelos editorialistas midiáticos. Quanto ao leitor atento, não se deixe enganar pela ideia de que a decisão de Dilma teve, de alguma forma, o beneplácito de Washington, a ponto de provocar a publicação de comunicados conjuntos. De fato, ambos coincidem no anúncio do cancelamento da visita, diferem, porém, na essência.
Até o mundo mineral percebe que para Tio Sam a questão precipita um revés político diante do país mais importante do quintal de um antanho superado. E tem mais, muito mais, o malogro de transação comercial pouco inferior a 10 bilhões de dólares, pela qual o Brasil adquiriria os caças da Boeing que o balconista Obama esperava vender à visitante brasileira em lugar dos Dassault negociados há tempo.
Uma personalidade brasileira voltada aos interesses do País recentemente me dizia: “Não quero entrar no mérito da qualidade dos dois caças, mas é bom que os Estados Unidos não mandem por aqui”.
Comentário E & P
A compra dos caças estabeleceria relações mais íntimas entre os militares brasileiros e os estadunidenses. Eles já se aproveitaram dessas relações para dar o golpe de estado de 1964. Vários militares que estiveram na segunda guerra mundial foram os que deram o golpe, junto com os Estados Unidos. O avião da Boeing, já é superado, apesar de ser um excelente aparelho. O melhor hoje seria comprar o SU 35 russo e entrar no desenvolvimento do PAK 50, o caça de quinta geração. Dessa forma teríamos uma força aérea de fato com capacidade para combater qualquer outro avião do mundo e sem a subordinação a Washington.
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