Do Tijolaço
Nos jornais de hoje, os colunistas e “economistas do mercado” chegam a se “desculpar” pela previsões completamente erradas que fizeram de estagnação das vendas no varejo, que cresceram 1,9% – e 6% em relação ao ano passado – embora os sinais da indústrias sigam ainda tímidos.
Claro que a redução das taxas de inflação – e sua percepção pela população – influíram, como eles próprios alegam, mas a questão essencial é outra. O crescimento da atividade industrial, quando ela se encontrava com níveis relativamente altos de estoques e quando – porque estoque tem custo financeiro – as taxas de juros sobem, tem um retardo mais pronunciado, justamente pela necessidade de reduzir o capital imobilizado.
Ainda mais quando, a ouvir-se os prognósticos dos comentaristas e economistas “de mercado”, constrói-se a impressão de que “o fim está próximo”, o modelo de consumo popular “esgotou-se”, o que se faz olhar para os estoques com “cara de encalhe”. Além disso, a sobrevalorização do real frente ao dólar – reduzida pela alta do câmbio recente – retirou a pressão sobre os estoques de áreas industriais importantes, como a de veículos automotores, mas não teve (e viu-se também) caracterìsticas de estabilidade que induzissem a aumento de produção.
Só que agouro não é realidade, e a realidade teima em aparecer, mesmo debaixo das folhas de jornal.
Todos vão poder observar nas próximas semanas, um progressivo “ajuste” nas previsões de crescimento do PIB para este ano, novamente para perto de 3%.
E isso não desejo otimista, mas natural consequência de alguns fatores que estão sendo deixados, ainda que alguns de forma moderada, para trás.
O primeiro deles é exatamente este que se reflete no crescimento das vendas no varejo: o consumo das famílias. o outrora “campeão” de impulso ao PIB estava sendo, nos últimos tempos, a maior âncora a mantelo em níveis baixos.
Saímos, neste item, de um crescimento zero no primeiro trimestre, para modestos 0,3% no segundo. Como a participação do consumo das famílias no PIB é de perto de 60%, é possível ter idéia do que sua recém revertida estagnação, agora,pode representar na expansão da taxa total de crescimento.
O segundo fator é o previsto crescimento do setor da indústria extrativa mineral – basicamente composto por ferro e petróleo – que “puxou para baixo” o último trimestre, com retração de 4%. Todos sabem que, agora, o panorama nesta área mudou.
O preço do minério de ferro, que representa 25% de nossas exportações, vinha caindo fortemente ao longo de todo o primeiro semestre mas, desde julho, recuperou-se de forma rápida com os sinais de crescimento da economia chinesa, 50% de nossas vendas.
Já o petróleo, todos sabem embora poucos digam, vai ter um incremento expressivo e sólido nos últimos quatro meses do ano, com a entrada em operação de novos sistemas da Petrobras.
No setor agrícola, o panorama dos principais produtos de exportação também tornou-se favorável, depois de quedas fortes em julho dos preços da soja e do açucar – sobretudo o primeiro, que responde por 39% das exportações brasileiras – entraram em franca recuperação.
Portanto, a ideia de um crescimento expressivo do PIB, na faixa dos 3%, não é um “wishfull thinking”, uma ilusão otimista.
Tem fundamento em fatos econômicos, em tendências objetivas de expansão econômica, que sobrevivem à cantilena diária de que o Brasil empacou e a inflação “explodiu”.
O nosso problema econômico pode ser essencialmente resumido em duas vertentes: a falta de infraestrura capaz de sustentar a expansão da economia e a falta de capitais para fazer a ambas, infraestrutura e expansão.
É por isso, e não por meras razões ideológicas, que a participação e a intervenção intensas do Estado na economia são vitais para o nosso progresso, ao contrário do que nos dizem – já sem a expressão, mas com a mesma desfaçatez – os defensores do “estado mínimo”.
E é também por isso que a política de juros altos – uma verdadeira chantagem nacional feita pelos capitais voláteis de fora e o daqui – é inimiga de nossa expansão econômica, porque retira para o “resgate” financeiro uma montanha de recursos que deveria ser expendida – além da melhoria dos serviços públicos – no financiamento da produção e da logística que a ela se associa.
Fundamentalismo ideológico quem pratica são os “juristas” e “mercadistas”, que precisam da ideia de que o mundo vai desabar amanhã para justificar a orgia financeira a que querem nos ver entregues hoje.
Por: Fernando Brito
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