Autor: Bill Van Auken
Raízes do Terror
Tradução René Amaral
Poucos dias após o atentado em Boston, contradições enormes desnudaram a narrativa oficial dada pelo governo Barack Obama, o FBI e outras agências estatais sobre como o ataque terrorista foi perpetrado.
Como em muitos casos anteriores, de novo nos atentados de Boston, o indivíduo dado como principal organizador de um ataque terrorista, era bem conhecido do FBI, pelo menos desde 2011. Em 2011 a agência havia sido alertada pela Inteligência Russa de que Tamerlan Tsarnmaev, que morreu semana retrasada após um (suposto e suspeito) tiroteio com a polícia, era suspeito de ser um radical islâmico tentando se ligar a grupos armados do Cáucaso do Norte.
O FBI agora afirma ter investigado Tsarnaev, um estrangeiro residente nos EUA de naturalidade russa, mas não encontrou evidências incriminadoras, sem saber nada dele até o atentado de 15 de Abril.
A secretária de segurança interna, Janet Napolitano afirmou no Congresso estadunidense que quando Tsarnaev deixou os EUA para uma viagem de 6 meses ao Cáucaso em 2012, sua viagem despertou um alerta no Departamento de Segurança Interna, mas quando ele voltou aos EUA ninguém notou pois a investigação de suas atividades tinha sido pausada.
Há muitas explicações possíveis sobre como alguém sob investigação do FBI, por ser um militante islâmico, conseguiu executar um ataque no coração de uma cidade dos EUA, matando 3 pessoas e supostamente ferindo mais de 170. A menos plausível, e que pode ser rejeitada como uma mentira, ou acobertamento, é de que ele simplesmente não foi detectado.
A mãe deles contradisse diretamente o FBI afirmando que Tamerlan estava em contínuo contato com a agência por um período entre três a cinco anos, e de que eles estavam "controlando cada passo seu."
Fontes da policia russa contradisseram a afirmação do FBI, de que não recebeu nenhuma informação de Moscou, dizendo que foi apresentado à agência estadunidense um dossier sobre Tamerlan.
Em meio aos elogios de auto congratulação pelas agências policiais terem colocado Boston sob estado de Sítio, na sexta 19/04, antes da captura de Dzhokhar, tem havido um aumento das criticas a uma falha de inteligência pelo FBI. O senado dos EUA e comitês de inteligência da Casa tiveram encontros a portas fechadas a respeito da forma como o FBI lidou com o a investigação de 2011 sobre as atividades de Tsarnaev.
Não há razão para esperar nada além de acobertamento dessas audiências. Basta prestar atenção ao fato de que o diretor do FBI é Robert Mueller, que estava no mesmo cargo em 11 de setembro de 2001. Ostensivamente o maior vexame de falha de inteligência da história dos EUA, nem o 9/11 nem as audiências que se seguiram ao evento, tiveram como resultado que Mueller ou qualquer outro agente de inteligência, militar ou de qualquer outro cargo governamental perdesse seu emprego por não saber conectar os pontos.
Vários dos envolvidos nos ataques de 9/11 estavam sob vigilância pelo FBI ou pela CIA. A CIA sabia bem que dois dos sequestradores haviam entrado nos EUA, mas deliberadamente escondeu a informação de outras agências. Agentes do FBI haviam exigido uma investigação sobre as atividades suspeitas de indivíduos de naturalidade saudita de outras nacionalidades árabes treinando escolas de pilotos nos EUA, sem sucesso.
Ninguém que tenha se encarregado de investigações oficiais sobre o 9/11 tinha interesse em se aprofundar nas investigações, por medo do que essas conexões pudessem revelar.
Virtualmente todo caso de terror nos EUA desde 9/11 tinha as digitais do FBI por toda parte, e os atentados em Boston não são exceção. A agência de polícia federal está engajada num sem fim de operações com o fim de enganar terroristas para fazê-los cometer crimes e assim serem presos, usando informantes ricamente recompensados para 'trollar' mesquitas e comunidades imigrantes, 'armando' contra idiotas sem noção, em complôs que nunca teriam existido sem a inspiração de e os fundos do FBI.
No caso de Tamerlan Tsarnaev eles tinham o candidato ideal para tal operação_agora é sabido que ele foi expulso de sua mesquita por fazer declarações de teor militante. Ainda assim eles supostamente abandonaram a investigação por falta de evidências. A essa declaração sim é que falta qualquer credibilidade.
Após o atentado, a liberação, pelo FBI, das fotos dos irmãos Tsarnaev, apelando ao público por dicas e denúncias, eram um acobertamento calculado. O FBI não é a Loucademia de Polícia. Se eles por acaso não tinham conhecimento prévio dos planos dos Tsarnaev, eles sabiam perfeitamente quem eram os indivíduos no momento em que os viram em fotos e filmes.
Agora há um ar de nervosismo palpável em círculos governamentais. Antes que uma investigação de verdade comece, a estória que está sendo contada é de que os irmão agiram sozinhos, e sem ajuda externa. Dentro da administração Obama parece haver um esforço preocupado em conter qualquer dano de novas revelações.
Há inúmeras explicações sobre o que aconteceu após o FBI receber a requisição de Moscou. Uma é de que Tamerlan Tsarnaev recebeu passe livre por ser considerado um "acessório" coletando dados de inteligência sobre os grupos islâmicos ou por ajudar na ocultação de de operações obscuras dos EUA em apoio ao separatismo no sul da Rússia. Algumas fontes sugeriram que ele deve ter se voltado contra seus operadores estadunidenses, como não é incomum acontecer_nesse caso, o assassinato de 5 agentes da CIA por um médico jordaniano enviado para infiltrar a Al Qaeda vem a mente.
Uma coisa é certa; o terrorismo está invariavelmente ligado a politica externa criminosa conduzida por Washington, que toma a forma de uma sucessão infindável de intervenções desastradas, predatórias e violentas por todo o mundo.
Os próprios ataques de 11 de Setembro tiveram suas raízes na administração Carter, no fim dos anos 70, para fomentar uma insurgência Islamista no Afeganistão, com o intuito de derrubar um governo apoiado pelos soviéticos, e o subsequente descarte dos mujahedins por parte de Washington, que antes eram chamados de guerreiros da liberdade.
A História está se repetindo no complicado e duradouro relacionamento entre o Imperialismo dos EUA e a Al Qaeda. Tanto na Síria como na Líbia, Washington usou Al Qaeda como 'fantoches' em guerras por mudança de regime contra governos Árabes seculares.
Na Líbia, assim que Gaddafi foi derrubado e assassinado, os EUA se apressaram para suprimir essas forças, resultando em sangrentos ataques contra o Consulado dos EUA em Benghazi, que tirou a vida do embaixador dos EUA e três outros estadunidenses em 11 de setembro de 2012. Na Síria, está sendo preparado mais do mesmo, tenta-se montar uma coalizão de "moderados" para marginalizar a os islmamistas al Nusra, que até agora tem aguentado o fardo da luta. Tudo isso é só semente para mais terrorismo.
Pedestres inocentes, seja em Damasco, Kabul, Bagdá ou Boston, acabam pagando o preço terrível por essas operações dos EUA, que deixam uma trilha de sangue e desastre por toda parte.
Republished from wsws.org
O objetivo deste blog é discutir um projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil. Esse projeto não brotará naturalmente das forças de mercado e sim de um engajamento político que direcionará os recursos do país na criação de uma nação soberana, desenvolvida e com justiça social.
segunda-feira, abril 29, 2013
Arrocho e fraude: o poder da ideologia
Da Carta Maior
Saul Leblon
Reportagem do 'El País', deste domingo (28), faz o que nenhum veículo do dispositivo conservador brasileiro cogitou: entrevista o estudante de economia Thomas Herndon, de 28 anos; ele ganhou fama mundial ao fulminar a credibilidade de dois centuriões da ortodoxia fiscal, os economistas Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff.
Herndon prepara seu doutorado na Universidade de Massachusetts, nos EUA.
Reinhart e Rogoff são titãs de Harvard, ademais de egressos da alta cúpula do FMI.
Entre 2001 e 2003, Rogoff ocupou nada menos que o cargo de economista-chefe da instituição; Reinhart era sua assistente.
O grande mérito de Herndon foi agir diante dessa catedral ortodoxa com impiedosa independência intelectual.
Ele não aceitou como intocáveis as premissas que sustentavam o edifício teórico da dupla consagrada dentro e fora da academia.
A saber, que o endividamento público é intrinsecamente nefasto ao transitar na faixa dos 90% do PIB.
Há exatamente três anos, os dois publicariam no ‘American Economic Review’ um ensaio ancorado na ‘comprovação’ estatística de que a ultrapassagem dessa marca fatídica inviabilizaria o crescimento econômico.
Apenas um parêntesis ilustrativo do peso material que tem as ideias: nesse momento, os socialistas franceses se imolam em praça pública agarrados a uma política de austeridade que visa exatamente reverter o endividamento público, na marca dos 92% do PIB. (Leia a reportagem de Eduardo Febbro, direto de Paris)
A maldição fiscal não é novidade na carreira do mago Rogoff.
Como economista-chefe do FMI, ele já prescrevia a caldeirada de arrocho & rabo de escorpião mesmo sem tê-la demonstrado ‘cientificamente’ ainda.
A genuflexão a essa receita foi inoculada em cérebros intelectuais, operacionais e midiáticos nos quatro cantos do planeta.
O FMI, seus ‘rogoffs’ e aprendizes cuidaram de injetar cepas daquilo que, no fundo, revestia de legitimidade os interesses rentistas acantonados na dívida pública.
A agenda do desenvolvimento, propriamente dita, foi devastada por essa infecção contagiosa.
Seu efeito revelou-se tão ou mais devastador que a doença supostamente maligna que pretendia curar: o gasto público.
Herndon passou os olhos nas estatísticas que comprovavam o anátema e não ficou satisfeito. Solicitou as planilhas completas aos autores.
Quando as teve em mãos hesitou mais uma vez.
Havia extrapolações de inconsistência óbvia; pior, dados que afrontavam a premissa da austeridade haviam sido eliminados das séries finais.
As evidências eram fortes, mas peso da ideologia é maior ainda.
O doutorando esfregou os olhos mais de uma vez na esperança de clarear a visão embaralhada pelo cansaço. Pediu ajuda à noiva, uma socióloga especialista em estatística.
Ela revisou as séries cuidadosamente. E confirmou: “Não creio que você esteja errado”.
O resto é sabido.
A fraude macroeconômica mais estonteante da ultimas décadas, brinca a reportagem, funcionou para o Estado do Bem Estar Social como as ‘armas de destruição em massa” funcionariam para a invasão do Iraque por Bush.
Herndon acha um pouco exagerada a comparação. Mas concorda com a essência da analogia: ‘Porque estão adotando políticas a partir de premissas falsas’, diz.
O coquetel de arrocho e premissas falsas, bem como seu personagem símbolo, a partir de agora, não são estranhos ao Brasil.
Kenneth Rogoff dirigia o FMI durante a disputa presidencial brasileira de 2002.
Em setembro daquele ano, o Ibope divulgou uma pesquisa em que o então candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, retomava a trajetória ascendente.
Depois de um período com resultados negativos, Lula ganhou mais dois pontos consolidando-se na liderança, com 41% das intenções de voto.
O tucano José Serra, seu principal adversário, cairia para 18%, um ponto a menos.Mas já se revelava um corisco no quesito rejeição: 29%.
A pesquisa encomendada pela 'Globo' foi divulgada numa terça-feira, véspera da reunião anual do FMI, em Washington.
Na quarta e na quinta-feira seguintes choveriam raios, cobras, lagartos e escorpiões sobre o Brasil.
Autoridades do Fundo emitiriam previsões catastróficas e receitas sombrias para o futuro do país e de seus eleitores.
Tudo naturalmente escandido com a conhecida isenção dos veículos do dispositivo midiático conservador.
Na 'Folha', o então correspondente Marcio Aith, que viria a ser chefe de imprensa de Serra na outra derrota tucana, em 2010, exercitava o seu futuro com o dedo preso no gatilho: “Alternativa, agora, é mais arrocho, diz FMI”. Em seguida ajustava o alvo: “Fundo elogia equipe econômica do Brasil (a do PSDB) e rebaixa perspectiva de crescimento do país...” ('Folha de S. Paulo', 26-09-2002)
No ‘Estadão’, o quadro de avisos viria igualmente encharcado de ostensiva agressividade.
Com o título “Ajuste no Brasil será feito com dor, diz FMI”, o texto era temperado de vaticínios agourentos aspergidos por ninguém menos que o rigoroso economista-chefe do organismo, Kenneth Rogoff.
As sentenças de Rogoff seriam impressas e disseminadas, então, com a mesma inquebrantável genuflexão do espírito que hoje acomete nossos jornalistas especializados em lubrificar a terapia do choque de juros.
Tudo devidamente chancelado pelo ‘rogoffismo’ local, vocalizado por sábios tucanos e professor banqueiros, de conhecidos serviços prestados à Nação.
Como diria Millôr Fernandes, se não é uma garantia, já é uma tradição.
Ela explica por que o estudante Thomas Herndon não tem o destaque merecido nos grandes diários nacionais.
Seria o mesmo que Bush admitir que as armas de destruição em massa serviram apenas de álibi para destruir o Iraque. E tomar de assalto os seus poços de petróleo.
Leia, a seguir, trechos do 'Estadão', com as sugestivas advertências de Rogoff, na reta final das eleições de 2002.
“Ajuste no Brasil será feito com ‘dor’, diz FMI”
Estadão 25-09-2002
O principal objetivo da política macroeconômica do Brasil, no médio prazo, deve ser reduzir o endividamento público, disse nesta quarta-feira o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kenneth Rogoff, na coletiva que abriu a reunião anual do FMI e do Banco Mundial.
Para quem conhece a linguagem sutil e diplomática do Fundo, fica claro que um aviso está sendo dado ao próximo governo: se não houver uma reversão significativa do sentimento negativo do mercado em relação à solvência pública, o FMI deve brigar por um superávit maior.
Rogoff foi até mais explícito na entrevista ao dizer que um "programa fiscal forte" requer "um forte grau de consenso social e político". Mais adiante, ele reformulou a expressão para "um alto grau de consenso social e apoio político".
Rogoff afirmou que o ajuste é particularmente difícil porque o grande endividamento faz com que as taxas de juros sejam muito altas. E isto, por sua vez, cria a necessidade de que o superávit primário (que exclui os gastos com juros) seja ainda maior.
Em um importante documento divulgado nesta quarta, o FMI deixa claro que encara o superávit primário de 3,75% do Produto Interno Bruto (PIB), com o qual o Brasil está comprometido, como um nível mínimo (que poderia ter de ser aumentado) nos próximos anos.
O FMI também explicita que considera que o elemento político - a incerteza sobre a continuidade da atual política de forte ajuste fiscal - é uma das principais causas da turbulência no Brasil.
O FMI deixou claro que considera que há um importante fator político na atual turbulência no Brasil. Referindo ao aumento de 750 para 1.500 pontos do risco-Brasil entre março e junho deste ano, a sessão sobre o Brasil da Perspectiva diz que há várias razões, mas que "talvez, mais fundamentalmente, os participantes do mercado começaram a focalizar a sua atenção nas incertezas políticas associadas com a eleição presidencial de outubro e as suas implicações para a atual política econômica".
Mais adiante, referindo-se à piora da situação brasileira a partir de junho, o texto diz que "os mercados ficaram cada vez mais nervosos sobre o resultado das eleições e o que ele poderia significar para a sustentabilidade das finanças públicas no Brasil, especialmente em seguida às
pesquisas de intenção de voto no início de julho". Esta foi a fase em que Luiz Inácio Lula da Silva e Ciro Gomes lideravam a disputa. "Para aliviar estas preocupações", conclui o relatório, "é crítico que se crie a confiança de que uma política econômica apropriada vai permanecer depois das eleições".
sexta-feira, abril 26, 2013
Por que os EUA são o único país a contestar a eleição de Maduro?
Do http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-os-eua-sao-o-unico-pais-a-contestar-a-eleicao-de-maduro/
O artigo abaixo foi publicado no Guardian. O autor, Mark Weisbrot, é um economista americano, co-diretor do Centro para Pesquisas Econômicas e de Políticas Públicas em Washington.
Enquanto a maioria das notícias sobre a Venezuela, desde a eleição presidencial de 14 de abril, foi sobre os esforços do candidato perdedor Henrique Capriles de contestar os resultados, uma outra campanha, com sede em Washington, era bastante reveladora – e as duas eram definitivamente ligadas. Sem um apoio forte de Washington – a primeira vez que os EUA se recusaram a reconhecer o resultado de eleições da Venezuela -, é improvável que Capriles tivesse se juntado aos elementos mais barra pesada de seu time para fingir que a eleição foi roubada.
Os esforços de Washington para deslegitimar a eleição marcam uma escalada significativa dos esforços dos EUA na mudança de regime na Venezuela. Desde seu envolvimento no golpe militar de 2002 que o governo dos EUA não fazia tanta força para promover o conflito aberto na Venezuela. Quando a Casa Branca anunciou pela primeira vez, na segunda-feira, que uma auditoria de 100% dos votos era “um importante passo, prudente e necessário”, não se tratava de um esforço verdadeiro para promover uma recontagem.
Chegou-se ao ponto de dizer ao governo da Venezuela o que era necessário para fazer suas eleições legítimas. Esta foi também a resposta rápida aos esforços de Nicolás Maduro, de acordo com o New York Times de 15 de Abril, quando ele se aproximou da administração Obama para melhorar as relações, através do ex-secretário de energia de Clinton, Bill Richardson.
Mas o esforço da equipe de Obama falhou miseravelmente. Na quarta-feira, o governo da Espanha, o único aliado importante dos EUA a apoiar uma “auditoria de 100%”, reverteu sua posição e reconheceu a eleição de Maduro. Em seguida, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, recuou de seu alinhamento prévio com a administração Obama e reconheceu o resultado.
Não foram apenas os governos de esquerda da Argentina, Brasil, Equador, Bolívia e Uruguai que rapidamente felicitaram Maduro por sua vitória, mas os do México, Colômbia, República Dominicana, Guatemala, Haiti e outros. A administração Obama foi completamente isolada do mundo.
Os esforços desajeitados de Washington também ajudaram a destacar a eleição como uma questão de soberania nacional, algo que é profundamente apreciado na região. “Os americanos deveriam cuidar de seu próprio negócio um pouco e deixar a gente decidir o nosso próprio destino”, disse Lula em um comício no Brasil. Claro, havia gritos de ironia: George W Bush, “derrotado” por Al Gore em 2000, perdeu no voto popular e “ganhou” na Florida, oficialmente, por talvez 900 votos, sem nenhuma recontagem.
Mas a exigência de uma recontagem dos votos na Venezuela foi uma farsa desde o início. Os eleitores marcam sua escolha pressionando a tela sensível ao toque em um computador, o que imprime um recibo do voto. O eleitor verifica o recibo e o deposita em uma urna. Quando do fechamento das urnas, 53% das máquinas são selecionadas aleatoriamente e seus resultados comparados com os de papel, na frente de testemunhas de todos os lados. Não houve relatos de incompatibilidades até agora, nem mesmo o campo da oposição.
O representante da oposição no Conselho Nacional Eleitoral, Vicente Díaz, reconheceu “sem dúvida” que a contagem dos votos foi precisa. “Sem dúvida” é um eufemismo. O meu colega David Rosnick calculou a probabilidade de que estender uma auditoria para os restantes 47% das máquinas pudesse mudar o resultado da eleição: cerca de um em 25 trilhões.
Na quinta-feira à noite, o CNE da Venezuela concordou em fazer uma auditoria completa dos votos restantes e Capriles cancelou seus protestos. Mas não está claro o que a auditoria implica. A votação legal na Venezuela é o voto da máquina (como em partes dos Estados Unidos, onde há votação eletrônica), o recibo de papel não é um voto, e não é claro que seria possível auditar os votos remanescentes da maneira que os primeiros 53% foram auditados no local.
Na quarta-feira, o secretário de Estado John Kerry, dizendo perante o Congresso que os EUA se recusavam a reconhecer as eleições na Venezuela, referiu à América Latina como o “quintal” dos Estados Unidos. Opa. Bem, o desprezo era óbvio de qualquer maneira, não?
O artigo abaixo foi publicado no Guardian. O autor, Mark Weisbrot, é um economista americano, co-diretor do Centro para Pesquisas Econômicas e de Políticas Públicas em Washington.
Enquanto a maioria das notícias sobre a Venezuela, desde a eleição presidencial de 14 de abril, foi sobre os esforços do candidato perdedor Henrique Capriles de contestar os resultados, uma outra campanha, com sede em Washington, era bastante reveladora – e as duas eram definitivamente ligadas. Sem um apoio forte de Washington – a primeira vez que os EUA se recusaram a reconhecer o resultado de eleições da Venezuela -, é improvável que Capriles tivesse se juntado aos elementos mais barra pesada de seu time para fingir que a eleição foi roubada.
Os esforços de Washington para deslegitimar a eleição marcam uma escalada significativa dos esforços dos EUA na mudança de regime na Venezuela. Desde seu envolvimento no golpe militar de 2002 que o governo dos EUA não fazia tanta força para promover o conflito aberto na Venezuela. Quando a Casa Branca anunciou pela primeira vez, na segunda-feira, que uma auditoria de 100% dos votos era “um importante passo, prudente e necessário”, não se tratava de um esforço verdadeiro para promover uma recontagem.
Chegou-se ao ponto de dizer ao governo da Venezuela o que era necessário para fazer suas eleições legítimas. Esta foi também a resposta rápida aos esforços de Nicolás Maduro, de acordo com o New York Times de 15 de Abril, quando ele se aproximou da administração Obama para melhorar as relações, através do ex-secretário de energia de Clinton, Bill Richardson.
Mas o esforço da equipe de Obama falhou miseravelmente. Na quarta-feira, o governo da Espanha, o único aliado importante dos EUA a apoiar uma “auditoria de 100%”, reverteu sua posição e reconheceu a eleição de Maduro. Em seguida, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, recuou de seu alinhamento prévio com a administração Obama e reconheceu o resultado.
Não foram apenas os governos de esquerda da Argentina, Brasil, Equador, Bolívia e Uruguai que rapidamente felicitaram Maduro por sua vitória, mas os do México, Colômbia, República Dominicana, Guatemala, Haiti e outros. A administração Obama foi completamente isolada do mundo.
Os esforços desajeitados de Washington também ajudaram a destacar a eleição como uma questão de soberania nacional, algo que é profundamente apreciado na região. “Os americanos deveriam cuidar de seu próprio negócio um pouco e deixar a gente decidir o nosso próprio destino”, disse Lula em um comício no Brasil. Claro, havia gritos de ironia: George W Bush, “derrotado” por Al Gore em 2000, perdeu no voto popular e “ganhou” na Florida, oficialmente, por talvez 900 votos, sem nenhuma recontagem.
Mas a exigência de uma recontagem dos votos na Venezuela foi uma farsa desde o início. Os eleitores marcam sua escolha pressionando a tela sensível ao toque em um computador, o que imprime um recibo do voto. O eleitor verifica o recibo e o deposita em uma urna. Quando do fechamento das urnas, 53% das máquinas são selecionadas aleatoriamente e seus resultados comparados com os de papel, na frente de testemunhas de todos os lados. Não houve relatos de incompatibilidades até agora, nem mesmo o campo da oposição.
O representante da oposição no Conselho Nacional Eleitoral, Vicente Díaz, reconheceu “sem dúvida” que a contagem dos votos foi precisa. “Sem dúvida” é um eufemismo. O meu colega David Rosnick calculou a probabilidade de que estender uma auditoria para os restantes 47% das máquinas pudesse mudar o resultado da eleição: cerca de um em 25 trilhões.
Na quinta-feira à noite, o CNE da Venezuela concordou em fazer uma auditoria completa dos votos restantes e Capriles cancelou seus protestos. Mas não está claro o que a auditoria implica. A votação legal na Venezuela é o voto da máquina (como em partes dos Estados Unidos, onde há votação eletrônica), o recibo de papel não é um voto, e não é claro que seria possível auditar os votos remanescentes da maneira que os primeiros 53% foram auditados no local.
Na quarta-feira, o secretário de Estado John Kerry, dizendo perante o Congresso que os EUA se recusavam a reconhecer as eleições na Venezuela, referiu à América Latina como o “quintal” dos Estados Unidos. Opa. Bem, o desprezo era óbvio de qualquer maneira, não?
quinta-feira, abril 25, 2013
Brasil é o país com maior redução do desemprego desde 2008
O Brasil que Lula construiu e Dilma preserva dá uma surra na imprensa brasileira. Não leia no Estadão, no O Globo, na 'Veja' e não veja no Jornal Nacional
O Brasil é o país que acumula maior redução da taxa de desemprego desde 2008, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) que abrangem os 42 países que já divulgaram os números de 2012 sobre o mercado de trabalho.
No ano em que estourou a crise financeira internacional, 7,9% da população ativa brasileira estava sem emprego; em 2012, essa proporção passou para 5,5%, o que representa uma queda de 30% na taxa.
Os números do FMI se referem à média de cada ano e vão só até 2012. No entanto, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam que a tendência de queda do desemprego se manteve no início de 2013, apontando a menor taxa para meses de março desde 2002.
Ranking
A Alemanha, no ranking do FMI, aparece em segundo lugar, com uma diminuição muito próxima da brasileira, de 7,6% para 5,5%. O terceiro país da lista é a Bolívia, onde o indicador foi de 6,9% para 5,5%.
A taxa só caiu em 15 dos 42 países analisados. Em Portugal, na Bulgária e na Espanha, o indicador de desemprego mais do que dobrou no período. Na Grécia, mais que triplicou (veja tabela abaixo).
Os Estados Unidos e a Índia são os dois únicos países, entre as maiores economias, que não estão na lista do FMI, por não terem o dado fechado do desemprego médio em 2012.
Mas para os EUA, o FMI tem uma projeção, de que a taxa atingiu 8,1% no ano passado, contra 5,8% em 2012. Já a Índia não conta com os dados oficiais nem com previsões.
Desemprego em países selecionados
País Taxa em 2008 (%)* Taxa em 2012 (%)* Variação (%)**
Brasil 7,9 5,5 -30,4
Alemanha 7,6 5,5 -28,2
Argentina 7,9 7,2 -8,6
Rússia 6,4 6,0 -6,3
China 4,2 4,1 -2,4
Japão 4,0 4,4 9,2
México 4,0 4,8 20,8
França 7,8 10,2 31,5
Reino Unido 5,6 8,0 44,3
Itália 6,8 10,6 56,8
Portugal 7,6 15,7 106,2
Espanha 11,3 25,0 121,2
Grécia 7,7 24,2 215,8
* Porcentagem da população economicamente ativa
** Variação porcentual de 2008 a 2012
Fonte: FMI
quarta-feira, abril 24, 2013
O BRASIL É UM CRIME CONTRA O MERCADO
Saul Leblon - Carta Maior
O jornal ‘Financial Times’ acumula 125 anos de inoxidável convicção nas virtudes dos livres mercados.
Foi uma das trincheiras ideológicas na construção da hegemonia neoliberal que condicionou a sorte da economia e os destinos da humanidade nas últimas décadas, com os resultados conhecidos que dispensam reiterações.
Ao lado de outra referência no gênero, a também britânica revista ‘The Economist’, o ‘FT’ formaria uma espécie de unidade-mãe no sistema de difusão planetário da lógica das finanças desreguladas e de seus requisitos sociais e institucionais.
Entre eles, o escalpo dos direitos dos trabalhadores .
E sua contrapartida institucional: a asfixia fiscal do Estado, coibindo-o na tributação da riqueza; aprisionando-o na lógica do endividamento; sonegando-lhe o lastro político e econômico para defender a sociedade do assalto dos mercados.
Margaret Thatcher não teria existido como âncora simbólica dessa cosmologia sem as densas emissões da usina de reflexão que disseminou um pensamento, cuja indivisa abrangência mereceu em certo momento o epíteto de ‘único’.
As usinas do jornalismo britânico continuam fiéis aos seus alicerces.
Recentemente deram mostras disso ao fazer eco do conservadorismo brasileiro criticando Mantega. E ironizando Dilma na ‘guerra do tomate’.
Mas há uma diferença entre esse centro emissor e suas repetidoras locais.
Para pior.
Sem deixar de ser o que é, o ‘FT’, através de alguns editores, vem fazendo um streap-tease dos dogmas que ordenaram a pauta da economia nas últimas décadas.
E redundaram na pior crise sistêmica do capitalismo desde 1929.
Um artigo desta semana de um de seus editores, Wolfgang Münchau , sobre a demonização do gasto público, ilustra a disposição de eviscerar certos princípios que implodiram junto com o mercado das sub-primes, em 2008.
No caso das coligadas nacionais, ao contrário.
O apego à pauta velha transmitiria a um leitor desavisado a sensação de que 2008 não existiu no calendário mundial.
A baixa capacidade reflexiva, compensada por pedestre octanagem ideológica, forma o padrão desse dente vulgarizador de traços híbridos.
O Brasil tem um dos jornalismos de economia mais prolíficos do mundo; ao mesmo tempo, um dos menos dotados de discernimento histórico em relação ao seu objeto específico.
Aqui os desafios de um país em desenvolvimento são tratados como crimes contra o mercado.
Aliás, o Brasil é um crime contra o mercado.
Ampliar o poder de compra da população, gerar empregos, expandir o investimento público, erradicar a fome alinham-se na pauta dominante entre os ‘ingredientes da crise’.
Subir juro é aclamado como solução.
Os exemplos se sobrepõem como as folhas de um manual suicida.
A mais recente campanha da mídia local em defesa do choque de juros veio em linha com o recrudescimento das incertezas internacionais.
A Europa deriva , a China ensaia uma mutação para dentro do seu mercado; a convalescença norte-americana dá um passo à frente e outro atrás.
E o Brasil precisa de um choque de juros.
Porque o tomate rendeu um colar a uma senhora chamada Ana Maria Braga numa semana. E despencou de preço na outra.
Num momento em que o principal problema do capitalismo mundial é falta de demanda, o jornalismo especializado transforma em problema o trunfo do mercado interno.
Os mais afoitos, exortam a demissões em massa.
A ordem unida dos tacapes, em 2012, quando o governo não cumpriu a meta cheia do superávit primário –e agora, que o ‘anátema’ ameaça se repetir– atesta as diferenças de qualidade e discernimento entre a matriz e as repetidoras periféricas do pensamento mercadista.
As distâncias tendem a se aprofundar de forma doentia.
O calendário eleitoral adiciona novos antolhos a uma pauta que se apega cegamente à missão de interditar o debate e vetar as soluções para os desafios de uma nação em desenvolvimento.
A cantilena diuturna contra o investimento público, as obras públicas, os bancos públicos tenta adestrar a opinião da sociedade contra ela mesma.
E por tabela contra um governo que tenta –com as limitações reconhecidas pelo próprio– recolocar o Estado no seu papel.
O de indutor e planejador de grandes obras nacionais de infraestrutura. Cruciais para redimensionar a escala de uma logística desenhada para 1/3 da sociedade.
A recente reportagem do Fantástico sobre os atrasos e falhas na construção da Ferrovia Norte-Sul enquadra-se nesse esforço de desqualificação ideológica e eleitoral.
Calcula-se (há pareceres do TCU sobre isso) que 2/3 da malha ferroviária brasileira de 28 mil km foi dizimada no processo de privatização dos anos 90.
A informação não abona o inaceitável andamento de alguns projetos vitais ao desenvolvimento do país.
Mas recomenda cautela e foco no debate.
Se o objetivo é buscar alternativas eficientes , não se pode omitir o efeito deletério da privatização no setor.
Os trilhos da pauta dominante não comportam todos os fatos.
Os interditos reiteram um acervo de parâmetros e dogmas que a matriz de difusão original já trata, em alguns casos, como renomada gororoba.
Lixo neoliberal sem comprovação empírica ; não raro, ancorado em fraude, como se verificou na recente desmoralização da dupla ortodoxa Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart .
Campeões da ideologia da austeridade fiscal, a dupla guarneceu suas teses com o rudimentar artifício de eliminar dados incompatíveis com as premissas da demonização do gasto público‘.
Enquanto vozes liberais do ‘Financial Times’ se despem desse entulho, nosso jornalismo fantástico não se libera jamais dos velhos preconceitos.
Aprimoram-se na arte fantasiosa de reduzir tudo o que não é mercado a um desastre de proporções ferroviárias.
Wolfgang Münchau , editor do ‘FT’, decididamente está longe de ser um sujeito antimercado.
Mas sobreviveria com suas ideias como repórter em qualquer uma das nossas vigilantes editorias de crimes contra o mercado?
Confira, abaixo.
OS PERIGOS DAS TEORIAS FRÁGEIS
Wolfgang Münchau
‘Financial Times’
John Kenneth Galbraith rebaixou, celebremente, seu colega economista Milton Friedman ao dizer: “O azar de Milton foi que as suas políticas foram experimentadas”.
A mesma observação pode ser feita sobre Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff. Na Europa, em especial, autoridades pró-austeridade colocaram em prática políticas econômicas baseadas em suas análises, com consequências catastróficas, tanto humanas como econômicas. A tragédia dos dois economistas de Harvard não foi o mau uso das planilhas do Microso’FT’ Excel, mas o mau uso do Microso’FT’ PowerPoint. Eles exageraram seus resultados. Ao fazê-lo, seguiram a regra de ouro do jornalismo de tabloide: simplificar e, então, exagerar.
Desde a publicação em 2011 de seu livro “Oito Séculos de Delírios Financeiros – Desta Vez É Diferente”, que foi sucesso de vendas, e desde suas pesquisas subsequentes sobre a relação entre endividamento e crescimento, os professores não deixaram dúvidas: acreditam que os dados mostram haver um limite de endividamento de 90% do Produto Interno Bruto (PIB), a partir do qual o crescimento econômico decai rapidamente. Muitas autoridades interpretaram essa regra como uma convocação para reduzir as dívidas abaixo desse patamar, em nome do crescimento. Os professores Reinhart e Rogoff, portanto, tornaram-se a madrinha e padrinho intelectuais da austeridade.
A tese de que uma dívida acima de 90% do PIB inibe o crescimento embute dois mitos, o do limite e o da causalidade. Pesquisadores de Massachusetts mostraram que dados corrigidos revelam uma relação negativa moderada entre crescimento e dívida
Para vermos a enorme influência deles nos debates europeus, vale a pena citar uma parte do discurso de Olli Rehn, chefe econômico da Comissão Europeia, ao Conselho de Relações Exteriores, em junho de 2011: “Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff cunharam a “regra dos 90%”", disse. “Ou seja, os países com dívida pública superior a 90% de sua produção econômica anual crescem de forma mais lenta. Altos níveis de endividamento podem tirar espaço do dinamismo empresarial e da atividade econômica e, portanto, dificultar o crescimento. Essa conclusão é particularmente relevante em um momento em que os níveis da dívida na Europa estão agora se aproximando do limite de 90%, que os EUA já ultrapassou.”
É de se presumir que Rehn não leu os estudos originais, mais ambivalentes em suas conclusões, como costumam ser os estudos acadêmicos. Autoridades, como Rhen, estão sempre atentas ao surgimento de teorias que sejam plausíveis e estejam em linha com suas principais crenças. Na Europa, a maioria das autoridades não tem muito contato com macroeconomistas com enfoques inovadores. Claramente, a maioria das autoridades acha contrário à lógica um cenário em que governos gastem dinheiro em recessões. É algo que vai contra sua própria experiência, em especial, quando são de países da Europa Setentrional.
Elas podem ter lido a história da Grande Depressão, mas ainda assim acham que a resposta keynesiana é menos plausível do que a austeridade pró-cíclica. Então, para os responsáveis por políticas conservadoras, quando dois dos economistas mais respeitados do mundo aparecem dizendo-lhes que sua intuição sempre esteve certa, isso representa o melhor dos mundos. Surgia, finalmente, a mensagem que eles sempre quiseram ouvir.
A tese de Reinhart e Rogoff, da forma como as autoridades a compreendem, incorpora dois mitos separados. O primeiro é o da existência de um limite de 90%. O segundo é o da causalidade. O primeiro foi desacreditado na semana passada por Thomas Herndon, Michael Ash e Robert Pollin, pesquisadores da University of Massachusetts Amherst. Seus dados, corrigidos, mostram uma relação negativa bastante moderada entre crescimento e dívida. Economistas sempre vão brigar sobre abordagens estatísticas, por exemplo, se é mais aconselhável usar a média ou a mediana e outras questões do tipo. Ainda assim, não importa por qual ângulo se olhe, não há uma quebra estrutural na marca dos 90%. Não há quebra estrutural em nenhuma marca.
Isso é imensamente importante para a discussão de políticas econômicas. Desmonta a noção dos 90% como um número mágico – com o qual as autoridades europeias estão agora obcecadas, da mesma forma como costumavam estar com déficits orçamentários anuais que não excedessem os 3% do PIB, algo para o que não havia base teórica.
A redução de todo o quadro a um simples número foi acompanhada por um exagero sobre o impacto. A relação causal podia seguir a direção do alto endividamento rumo ao baixo crescimento, como sugerem os autores; ou o caminho contrário; ou em ambas as direções. Ou a relação pode ser enganosa. Ou algo completamente diferente pode ser a causa de ambos. Se a causalidade seguir o caminho contrário, a história é muito menos entusiasmante para quem propagandeia políticas econômicas. Também seria possível dizer: as pessoas são pobres porque não têm dinheiro. Se o seu crescimento é negativo, sua taxa de endividamento sobe pelo simples motivo que ela é expressa em relação ao PIB nominal.
As estatísticas não podem dizer o que causa o quê. Para isso é preciso uma teoria. Macroeconomistas, no entanto, não têm uma teoria sobre o nível ideal de endividamento. A única resposta conhecida é que isso depende – das taxas de juros reais, do crescimento, do tipo de economia, do regime cambial e de muitos outros fatores.
Diferentemente dos professores Reinhart e Rogoff, Friedman tinha uma teoria quando impulsionou o monetarismo no fim dos anos 1960 e nos anos 1970. Não havia erros de datilografia no equivalente às planilhas de Excel dos anos 1960. Ele tinha evidências empíricas sólidas. A teoria posteriormente falhou, mas é possível entender por quais motivos os presidentes de bancos centrais haviam comprado a ideia na época. A regra dos 90%, em comparação, é inacreditavelmente frágil. E mesmo já tendo sido refutada, vai continuar a direcionar o debate político por algum tempo.
Quanto aos professores Reinhart e Rogoff, suspeito que eles, também, vão ser lembrados principalmente pelo fato de que suas políticas econômicas foram experimentadas.
O jornal ‘Financial Times’ acumula 125 anos de inoxidável convicção nas virtudes dos livres mercados.
Foi uma das trincheiras ideológicas na construção da hegemonia neoliberal que condicionou a sorte da economia e os destinos da humanidade nas últimas décadas, com os resultados conhecidos que dispensam reiterações.
Ao lado de outra referência no gênero, a também britânica revista ‘The Economist’, o ‘FT’ formaria uma espécie de unidade-mãe no sistema de difusão planetário da lógica das finanças desreguladas e de seus requisitos sociais e institucionais.
Entre eles, o escalpo dos direitos dos trabalhadores .
E sua contrapartida institucional: a asfixia fiscal do Estado, coibindo-o na tributação da riqueza; aprisionando-o na lógica do endividamento; sonegando-lhe o lastro político e econômico para defender a sociedade do assalto dos mercados.
Margaret Thatcher não teria existido como âncora simbólica dessa cosmologia sem as densas emissões da usina de reflexão que disseminou um pensamento, cuja indivisa abrangência mereceu em certo momento o epíteto de ‘único’.
As usinas do jornalismo britânico continuam fiéis aos seus alicerces.
Recentemente deram mostras disso ao fazer eco do conservadorismo brasileiro criticando Mantega. E ironizando Dilma na ‘guerra do tomate’.
Mas há uma diferença entre esse centro emissor e suas repetidoras locais.
Para pior.
Sem deixar de ser o que é, o ‘FT’, através de alguns editores, vem fazendo um streap-tease dos dogmas que ordenaram a pauta da economia nas últimas décadas.
E redundaram na pior crise sistêmica do capitalismo desde 1929.
Um artigo desta semana de um de seus editores, Wolfgang Münchau , sobre a demonização do gasto público, ilustra a disposição de eviscerar certos princípios que implodiram junto com o mercado das sub-primes, em 2008.
No caso das coligadas nacionais, ao contrário.
O apego à pauta velha transmitiria a um leitor desavisado a sensação de que 2008 não existiu no calendário mundial.
A baixa capacidade reflexiva, compensada por pedestre octanagem ideológica, forma o padrão desse dente vulgarizador de traços híbridos.
O Brasil tem um dos jornalismos de economia mais prolíficos do mundo; ao mesmo tempo, um dos menos dotados de discernimento histórico em relação ao seu objeto específico.
Aqui os desafios de um país em desenvolvimento são tratados como crimes contra o mercado.
Aliás, o Brasil é um crime contra o mercado.
Ampliar o poder de compra da população, gerar empregos, expandir o investimento público, erradicar a fome alinham-se na pauta dominante entre os ‘ingredientes da crise’.
Subir juro é aclamado como solução.
Os exemplos se sobrepõem como as folhas de um manual suicida.
A mais recente campanha da mídia local em defesa do choque de juros veio em linha com o recrudescimento das incertezas internacionais.
A Europa deriva , a China ensaia uma mutação para dentro do seu mercado; a convalescença norte-americana dá um passo à frente e outro atrás.
E o Brasil precisa de um choque de juros.
Porque o tomate rendeu um colar a uma senhora chamada Ana Maria Braga numa semana. E despencou de preço na outra.
Num momento em que o principal problema do capitalismo mundial é falta de demanda, o jornalismo especializado transforma em problema o trunfo do mercado interno.
Os mais afoitos, exortam a demissões em massa.
A ordem unida dos tacapes, em 2012, quando o governo não cumpriu a meta cheia do superávit primário –e agora, que o ‘anátema’ ameaça se repetir– atesta as diferenças de qualidade e discernimento entre a matriz e as repetidoras periféricas do pensamento mercadista.
As distâncias tendem a se aprofundar de forma doentia.
O calendário eleitoral adiciona novos antolhos a uma pauta que se apega cegamente à missão de interditar o debate e vetar as soluções para os desafios de uma nação em desenvolvimento.
A cantilena diuturna contra o investimento público, as obras públicas, os bancos públicos tenta adestrar a opinião da sociedade contra ela mesma.
E por tabela contra um governo que tenta –com as limitações reconhecidas pelo próprio– recolocar o Estado no seu papel.
O de indutor e planejador de grandes obras nacionais de infraestrutura. Cruciais para redimensionar a escala de uma logística desenhada para 1/3 da sociedade.
A recente reportagem do Fantástico sobre os atrasos e falhas na construção da Ferrovia Norte-Sul enquadra-se nesse esforço de desqualificação ideológica e eleitoral.
Calcula-se (há pareceres do TCU sobre isso) que 2/3 da malha ferroviária brasileira de 28 mil km foi dizimada no processo de privatização dos anos 90.
A informação não abona o inaceitável andamento de alguns projetos vitais ao desenvolvimento do país.
Mas recomenda cautela e foco no debate.
Se o objetivo é buscar alternativas eficientes , não se pode omitir o efeito deletério da privatização no setor.
Os trilhos da pauta dominante não comportam todos os fatos.
Os interditos reiteram um acervo de parâmetros e dogmas que a matriz de difusão original já trata, em alguns casos, como renomada gororoba.
Lixo neoliberal sem comprovação empírica ; não raro, ancorado em fraude, como se verificou na recente desmoralização da dupla ortodoxa Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart .
Campeões da ideologia da austeridade fiscal, a dupla guarneceu suas teses com o rudimentar artifício de eliminar dados incompatíveis com as premissas da demonização do gasto público‘.
Enquanto vozes liberais do ‘Financial Times’ se despem desse entulho, nosso jornalismo fantástico não se libera jamais dos velhos preconceitos.
Aprimoram-se na arte fantasiosa de reduzir tudo o que não é mercado a um desastre de proporções ferroviárias.
Wolfgang Münchau , editor do ‘FT’, decididamente está longe de ser um sujeito antimercado.
Mas sobreviveria com suas ideias como repórter em qualquer uma das nossas vigilantes editorias de crimes contra o mercado?
Confira, abaixo.
OS PERIGOS DAS TEORIAS FRÁGEIS
Wolfgang Münchau
‘Financial Times’
John Kenneth Galbraith rebaixou, celebremente, seu colega economista Milton Friedman ao dizer: “O azar de Milton foi que as suas políticas foram experimentadas”.
A mesma observação pode ser feita sobre Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff. Na Europa, em especial, autoridades pró-austeridade colocaram em prática políticas econômicas baseadas em suas análises, com consequências catastróficas, tanto humanas como econômicas. A tragédia dos dois economistas de Harvard não foi o mau uso das planilhas do Microso’FT’ Excel, mas o mau uso do Microso’FT’ PowerPoint. Eles exageraram seus resultados. Ao fazê-lo, seguiram a regra de ouro do jornalismo de tabloide: simplificar e, então, exagerar.
Desde a publicação em 2011 de seu livro “Oito Séculos de Delírios Financeiros – Desta Vez É Diferente”, que foi sucesso de vendas, e desde suas pesquisas subsequentes sobre a relação entre endividamento e crescimento, os professores não deixaram dúvidas: acreditam que os dados mostram haver um limite de endividamento de 90% do Produto Interno Bruto (PIB), a partir do qual o crescimento econômico decai rapidamente. Muitas autoridades interpretaram essa regra como uma convocação para reduzir as dívidas abaixo desse patamar, em nome do crescimento. Os professores Reinhart e Rogoff, portanto, tornaram-se a madrinha e padrinho intelectuais da austeridade.
A tese de que uma dívida acima de 90% do PIB inibe o crescimento embute dois mitos, o do limite e o da causalidade. Pesquisadores de Massachusetts mostraram que dados corrigidos revelam uma relação negativa moderada entre crescimento e dívida
Para vermos a enorme influência deles nos debates europeus, vale a pena citar uma parte do discurso de Olli Rehn, chefe econômico da Comissão Europeia, ao Conselho de Relações Exteriores, em junho de 2011: “Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff cunharam a “regra dos 90%”", disse. “Ou seja, os países com dívida pública superior a 90% de sua produção econômica anual crescem de forma mais lenta. Altos níveis de endividamento podem tirar espaço do dinamismo empresarial e da atividade econômica e, portanto, dificultar o crescimento. Essa conclusão é particularmente relevante em um momento em que os níveis da dívida na Europa estão agora se aproximando do limite de 90%, que os EUA já ultrapassou.”
É de se presumir que Rehn não leu os estudos originais, mais ambivalentes em suas conclusões, como costumam ser os estudos acadêmicos. Autoridades, como Rhen, estão sempre atentas ao surgimento de teorias que sejam plausíveis e estejam em linha com suas principais crenças. Na Europa, a maioria das autoridades não tem muito contato com macroeconomistas com enfoques inovadores. Claramente, a maioria das autoridades acha contrário à lógica um cenário em que governos gastem dinheiro em recessões. É algo que vai contra sua própria experiência, em especial, quando são de países da Europa Setentrional.
Elas podem ter lido a história da Grande Depressão, mas ainda assim acham que a resposta keynesiana é menos plausível do que a austeridade pró-cíclica. Então, para os responsáveis por políticas conservadoras, quando dois dos economistas mais respeitados do mundo aparecem dizendo-lhes que sua intuição sempre esteve certa, isso representa o melhor dos mundos. Surgia, finalmente, a mensagem que eles sempre quiseram ouvir.
A tese de Reinhart e Rogoff, da forma como as autoridades a compreendem, incorpora dois mitos separados. O primeiro é o da existência de um limite de 90%. O segundo é o da causalidade. O primeiro foi desacreditado na semana passada por Thomas Herndon, Michael Ash e Robert Pollin, pesquisadores da University of Massachusetts Amherst. Seus dados, corrigidos, mostram uma relação negativa bastante moderada entre crescimento e dívida. Economistas sempre vão brigar sobre abordagens estatísticas, por exemplo, se é mais aconselhável usar a média ou a mediana e outras questões do tipo. Ainda assim, não importa por qual ângulo se olhe, não há uma quebra estrutural na marca dos 90%. Não há quebra estrutural em nenhuma marca.
Isso é imensamente importante para a discussão de políticas econômicas. Desmonta a noção dos 90% como um número mágico – com o qual as autoridades europeias estão agora obcecadas, da mesma forma como costumavam estar com déficits orçamentários anuais que não excedessem os 3% do PIB, algo para o que não havia base teórica.
A redução de todo o quadro a um simples número foi acompanhada por um exagero sobre o impacto. A relação causal podia seguir a direção do alto endividamento rumo ao baixo crescimento, como sugerem os autores; ou o caminho contrário; ou em ambas as direções. Ou a relação pode ser enganosa. Ou algo completamente diferente pode ser a causa de ambos. Se a causalidade seguir o caminho contrário, a história é muito menos entusiasmante para quem propagandeia políticas econômicas. Também seria possível dizer: as pessoas são pobres porque não têm dinheiro. Se o seu crescimento é negativo, sua taxa de endividamento sobe pelo simples motivo que ela é expressa em relação ao PIB nominal.
As estatísticas não podem dizer o que causa o quê. Para isso é preciso uma teoria. Macroeconomistas, no entanto, não têm uma teoria sobre o nível ideal de endividamento. A única resposta conhecida é que isso depende – das taxas de juros reais, do crescimento, do tipo de economia, do regime cambial e de muitos outros fatores.
Diferentemente dos professores Reinhart e Rogoff, Friedman tinha uma teoria quando impulsionou o monetarismo no fim dos anos 1960 e nos anos 1970. Não havia erros de datilografia no equivalente às planilhas de Excel dos anos 1960. Ele tinha evidências empíricas sólidas. A teoria posteriormente falhou, mas é possível entender por quais motivos os presidentes de bancos centrais haviam comprado a ideia na época. A regra dos 90%, em comparação, é inacreditavelmente frágil. E mesmo já tendo sido refutada, vai continuar a direcionar o debate político por algum tempo.
Quanto aos professores Reinhart e Rogoff, suspeito que eles, também, vão ser lembrados principalmente pelo fato de que suas políticas econômicas foram experimentadas.
OS JUDEUS, ENTRE VARSÓVIA E ISRAEL
SANTAYANA: OS JUDEUS ENTRE
VARSÓVIA E ISRAEL
Marek Elderman sonhava com uma única humanidade
Willy Brandt no marco do Gueto de Varsóvia
Saiu no JB Online:
Coisas da Política
Mauro Santayana
Embora, pelos cânones hebraicos, não fosse judeu, porque nascido de mãe não judia, Marcos Magalhães Rubinger era orgulhoso de sua circunstância, e se identificava como judeu. Antropólogo conceituado, e homem de esquerda, ele foi compelido ao exílio pelo regime militar brasileiro. Ao encontrá-lo na Suíça, em 1967, logo depois da Guerra dos Seis Dias, que consolidou a posição do Estado de Israel no território palestino, ele estava desolado: os judeus haviam dado mais um passo atrás de sua plena integração à Humanidade.
“Continuamos no gueto” – me disse. “No grande gueto que nós mesmos instalamos e, tal como ocorreu com o Gueto de Varsóvia, iremos murá-lo e selá-lo por dentro”. A grande muralha de Israel ainda não fora levantada.
Talvez não haja tema histórico mais discutido do que o do povo de Israel. Só isso basta para atestar a sua importância na formação da idéia do Ocidente nestes dois últimos milênios. A sua presença na Europa e no mundo conquistado pelos romanos e seus sucessores, mais do que documentada, é cercada de mitos.
Não há dúvida de que foi povo perseguido, obrigado a isolar-se em sua fé, e a defender-se, como lhe era possível, a fim de impedir o genocídio. Essa defesa os levou a buscar o conhecimento e a riqueza, que não lhes bastou para impedir a perseguição, nem foi suficiente para conjurar sua divisão entre judeus ricos e judeus sem dinheiro, para lembrar a obra prima de Michael Gold, pseudônimo do jovem escritor americano Itzok Isaac Granich.
Nestes dias de abril e maio, os judeus – e os humanistas mais atentos – lembram dois episódios fortes na história contemporânea: o Levante do Gueto de Varsóvia, em 1943, e a criação do Estado de Israel, em 1948. Há quem associe os dois fatos, como se tratasse de uma coisa só; há quem assegure que, sem o Levante, não teria havido o segundo êxodo e sua conseqüência política, e há os que separam os dois episódios, dando a cada um deles sua própria razão.
Como é costume ocorrer na História, todas as três versões são corretas, – o que difere é a contribuição de cada uma delas no desenvolvimento posterior da questão judaica.
Recente artigo da historiadora norte-americana Marci Shore, publicado pelo New York Times, ao reconstruir a crônica da resistência dos judeus de Varsóvia, abre o caminho para nova interpretação dos fatos. Ela mostra como os judeus de Varsóvia se encontravam inermes diante do ocupante nazista. E revela que a resistência, naqueles dias de abril e maio de há 70 anos, foi ato de dignidade, assumido por jovens dispostos a morrer lutando, e não conformados a ver a resignação de seus pais e avós, ao embarcar rumo aos campos de extermínio a poucos quilômetros de Varsóvia.
Os nazistas, depois da ocupação da Polônia, empurraram, pouco a pouco, todos os judeus da cidade ao imenso gueto e os obrigaram a erguer espesso muro em volta: as únicas entradas e saídas eram vigiadas por soldados das SS.
De acordo com a sua política perversa, criaram, em 1942, um Conselho Judaico, encarregado de indicar a lista diária dos que deviam ser encaminhados às câmaras de gás e aos trabalhos forçados, presidido por Adam Czerniakov.
No dia 22 de julho daquele ano, os nazistas decidiram iniciar a deportação em massa dos judeus do Gueto rumo a Treblinka e a Auschwitz. Como conhecesse o destino que os esperava, no dia seguinte Czerniakow engoliu uma cápsula de cianureto.
Não houve unidade na luta de resistência. Os sionistas de extrema direita formaram seu próprio corpo de combate. Os mais duros guerreiros foram jovens, alguns deles religiosos, mas a maioria de agnósticos e marxistas, ligados aos movimentos socialistas de esquerda, como a Bund (Liga) e com forte presença de comunistas. Quando os nazistas atearam fogo ao Gueto, o núcleo duro da resistência refugiou-se em um bunker, sob o comando do jovem Marek Elderman. Ele e seus companheiros fugiram pelos esgotos fétidos, nos quais a maioria morreu asfixiada pelos gases. Quarenta deles sobreviveram, alguns se aliaram aos guerrilheiros poloneses e russos, e muitos sobreviveram à Guerra.
Elderman, depois da derrota alemã, tornou-se cardiologista – e jamais quis viver em Israel. Ele, e muitos outros, defendiam a cultura ashkenazi, fundada no uso do ídiche como o idioma de seu povo, e um “modus vivendi” com os povos conhecidos, o que seria facilitado pelo resultado do conflito; não a ocupação de um território no meio do deserto, ao lado de grupos étnicos estranhos, nem a ressurreição de uma língua morta, só usada nos ritos religiosos, como idioma oficial.
Em razão disso, o Estado de Israel não o considera herói nacional. Ele era um dos que, como Rubinger, defendiam o convívio dos judeus com os outros povos, e achava um erro estratégico a criação de Israel, que vinha sendo planejada desde o fim do século 19.
Os sionistas se apropriaram da gesta heróica dos combatentes do Gueto de Varsóvia, como se tratasse de uma vitória sua. Na realidade foi uma vitória do melhor do povo judeu, dos filhos de trabalhadores, de intelectuais engajados nos movimentos políticos clandestinos, dos que não aceitavam o triste e resignado cortejo de seus pais e seus irmãos menores rumo às câmaras de gás.
O Levante foi a resposta viril ao Holocausto, e redimiu, na bravura de seus jovens, o grande povo judeu. Se a Humanidade tiver algum futuro, a resistência do Gueto de Varsóvia será vista, nos séculos a vir – como muitos a vêem hoje – como ato muito mais importante do que a criação do Estado de Israel.
Ela se equivale à dura resistência do povo de Stalingrado, com uma virtude a mais. Em Stalingrado os combatentes contavam com a nação. Em Varsóvia, em uma Polônia marcada pelo racismo, os jovens judeus estavam sós.
O general Jurgen Stroop, comandante das tropas de Varsóvia que massacraram os habitantes do Gueto, foi condenado à morte em 1951 e executado pelo governo polonês. Mas cumprira a sua missão, conforme relatório a Berlim: em maio de 1943 já não havia um só bairro judeu em Varsóvia.
Mais de 300.000 judeus haviam sido enviados para as câmaras de gás, e se calcula que mais de 10.000 morreram calcinados pelas chamas em que ardeu o Gueto, naqueles dias de maio.
No dia 7 de dezembro de 1970, como correspondente deste Jornal do Brasil, assisti ao Chanceler Willy Brandt em gesto grandioso, ajoelhar-se diante do marco evocativo do Gueto de Varsóvia. O líder socialista, com a autoridade de quem resistira, ainda adolescente, ao nazismo, ajoelhou-se, em atordoante silêncio, em homenagem aos combatentes de 1943 – ou, seja, de 27 anos antes.
Esses registros históricos e a situação atual de Israel – com tantos e eminentes judeus que se opõem ao genocídio dos palestinos e buscam construir a paz – tornam proféticas as palavras de Marcos Rubinger: trata-se de imenso gueto, erigido em terras estranhas, murado por dentro. Os jovens de Varsóvia lutaram e morreram para que não houvesse muros.
Alguns, como Marek Elderman, sonhavam com uma única Humanidade.
Talvez ainda haja tempo.
VARSÓVIA E ISRAEL
Marek Elderman sonhava com uma única humanidade
Willy Brandt no marco do Gueto de Varsóvia
Saiu no JB Online:
Coisas da Política
Mauro Santayana
Embora, pelos cânones hebraicos, não fosse judeu, porque nascido de mãe não judia, Marcos Magalhães Rubinger era orgulhoso de sua circunstância, e se identificava como judeu. Antropólogo conceituado, e homem de esquerda, ele foi compelido ao exílio pelo regime militar brasileiro. Ao encontrá-lo na Suíça, em 1967, logo depois da Guerra dos Seis Dias, que consolidou a posição do Estado de Israel no território palestino, ele estava desolado: os judeus haviam dado mais um passo atrás de sua plena integração à Humanidade.
“Continuamos no gueto” – me disse. “No grande gueto que nós mesmos instalamos e, tal como ocorreu com o Gueto de Varsóvia, iremos murá-lo e selá-lo por dentro”. A grande muralha de Israel ainda não fora levantada.
Talvez não haja tema histórico mais discutido do que o do povo de Israel. Só isso basta para atestar a sua importância na formação da idéia do Ocidente nestes dois últimos milênios. A sua presença na Europa e no mundo conquistado pelos romanos e seus sucessores, mais do que documentada, é cercada de mitos.
Não há dúvida de que foi povo perseguido, obrigado a isolar-se em sua fé, e a defender-se, como lhe era possível, a fim de impedir o genocídio. Essa defesa os levou a buscar o conhecimento e a riqueza, que não lhes bastou para impedir a perseguição, nem foi suficiente para conjurar sua divisão entre judeus ricos e judeus sem dinheiro, para lembrar a obra prima de Michael Gold, pseudônimo do jovem escritor americano Itzok Isaac Granich.
Nestes dias de abril e maio, os judeus – e os humanistas mais atentos – lembram dois episódios fortes na história contemporânea: o Levante do Gueto de Varsóvia, em 1943, e a criação do Estado de Israel, em 1948. Há quem associe os dois fatos, como se tratasse de uma coisa só; há quem assegure que, sem o Levante, não teria havido o segundo êxodo e sua conseqüência política, e há os que separam os dois episódios, dando a cada um deles sua própria razão.
Como é costume ocorrer na História, todas as três versões são corretas, – o que difere é a contribuição de cada uma delas no desenvolvimento posterior da questão judaica.
Recente artigo da historiadora norte-americana Marci Shore, publicado pelo New York Times, ao reconstruir a crônica da resistência dos judeus de Varsóvia, abre o caminho para nova interpretação dos fatos. Ela mostra como os judeus de Varsóvia se encontravam inermes diante do ocupante nazista. E revela que a resistência, naqueles dias de abril e maio de há 70 anos, foi ato de dignidade, assumido por jovens dispostos a morrer lutando, e não conformados a ver a resignação de seus pais e avós, ao embarcar rumo aos campos de extermínio a poucos quilômetros de Varsóvia.
Os nazistas, depois da ocupação da Polônia, empurraram, pouco a pouco, todos os judeus da cidade ao imenso gueto e os obrigaram a erguer espesso muro em volta: as únicas entradas e saídas eram vigiadas por soldados das SS.
De acordo com a sua política perversa, criaram, em 1942, um Conselho Judaico, encarregado de indicar a lista diária dos que deviam ser encaminhados às câmaras de gás e aos trabalhos forçados, presidido por Adam Czerniakov.
No dia 22 de julho daquele ano, os nazistas decidiram iniciar a deportação em massa dos judeus do Gueto rumo a Treblinka e a Auschwitz. Como conhecesse o destino que os esperava, no dia seguinte Czerniakow engoliu uma cápsula de cianureto.
Não houve unidade na luta de resistência. Os sionistas de extrema direita formaram seu próprio corpo de combate. Os mais duros guerreiros foram jovens, alguns deles religiosos, mas a maioria de agnósticos e marxistas, ligados aos movimentos socialistas de esquerda, como a Bund (Liga) e com forte presença de comunistas. Quando os nazistas atearam fogo ao Gueto, o núcleo duro da resistência refugiou-se em um bunker, sob o comando do jovem Marek Elderman. Ele e seus companheiros fugiram pelos esgotos fétidos, nos quais a maioria morreu asfixiada pelos gases. Quarenta deles sobreviveram, alguns se aliaram aos guerrilheiros poloneses e russos, e muitos sobreviveram à Guerra.
Elderman, depois da derrota alemã, tornou-se cardiologista – e jamais quis viver em Israel. Ele, e muitos outros, defendiam a cultura ashkenazi, fundada no uso do ídiche como o idioma de seu povo, e um “modus vivendi” com os povos conhecidos, o que seria facilitado pelo resultado do conflito; não a ocupação de um território no meio do deserto, ao lado de grupos étnicos estranhos, nem a ressurreição de uma língua morta, só usada nos ritos religiosos, como idioma oficial.
Em razão disso, o Estado de Israel não o considera herói nacional. Ele era um dos que, como Rubinger, defendiam o convívio dos judeus com os outros povos, e achava um erro estratégico a criação de Israel, que vinha sendo planejada desde o fim do século 19.
Os sionistas se apropriaram da gesta heróica dos combatentes do Gueto de Varsóvia, como se tratasse de uma vitória sua. Na realidade foi uma vitória do melhor do povo judeu, dos filhos de trabalhadores, de intelectuais engajados nos movimentos políticos clandestinos, dos que não aceitavam o triste e resignado cortejo de seus pais e seus irmãos menores rumo às câmaras de gás.
O Levante foi a resposta viril ao Holocausto, e redimiu, na bravura de seus jovens, o grande povo judeu. Se a Humanidade tiver algum futuro, a resistência do Gueto de Varsóvia será vista, nos séculos a vir – como muitos a vêem hoje – como ato muito mais importante do que a criação do Estado de Israel.
Ela se equivale à dura resistência do povo de Stalingrado, com uma virtude a mais. Em Stalingrado os combatentes contavam com a nação. Em Varsóvia, em uma Polônia marcada pelo racismo, os jovens judeus estavam sós.
O general Jurgen Stroop, comandante das tropas de Varsóvia que massacraram os habitantes do Gueto, foi condenado à morte em 1951 e executado pelo governo polonês. Mas cumprira a sua missão, conforme relatório a Berlim: em maio de 1943 já não havia um só bairro judeu em Varsóvia.
Mais de 300.000 judeus haviam sido enviados para as câmaras de gás, e se calcula que mais de 10.000 morreram calcinados pelas chamas em que ardeu o Gueto, naqueles dias de maio.
No dia 7 de dezembro de 1970, como correspondente deste Jornal do Brasil, assisti ao Chanceler Willy Brandt em gesto grandioso, ajoelhar-se diante do marco evocativo do Gueto de Varsóvia. O líder socialista, com a autoridade de quem resistira, ainda adolescente, ao nazismo, ajoelhou-se, em atordoante silêncio, em homenagem aos combatentes de 1943 – ou, seja, de 27 anos antes.
Esses registros históricos e a situação atual de Israel – com tantos e eminentes judeus que se opõem ao genocídio dos palestinos e buscam construir a paz – tornam proféticas as palavras de Marcos Rubinger: trata-se de imenso gueto, erigido em terras estranhas, murado por dentro. Os jovens de Varsóvia lutaram e morreram para que não houvesse muros.
Alguns, como Marek Elderman, sonhavam com uma única Humanidade.
Talvez ainda haja tempo.
FOLHA FINANCIAVA A TORTURA !
“Seu” Frias era amigo do Fleury. Deu no que deu !
O Conversa Afiada reproduz importante post do Viomundo:
EX-DELEGADO: FOLHA FINANCIAVA OPERAÇÕES NA DITADURA; FRIAS VISITAVA O DOPS, ERA AMIGO PESSOAL DE FLEURY
do portal Terra
O ex-delegado da Polícia Civil Claudio Guerra afirmou nesta terça-feira, à Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, que foi o autor da explosão de uma bomba no jornal O Estado de S. Paulo, na década de 1980, e afirmou que a ditadura, a partir de 1980, decidiu desencadear em todo o Brasil atentados com o objetivo de desmoralizar a esquerda no País.
“Depois de 1980 ficou decidido que seria desencadeada em todo o País uma série de atentados para jogar a culpa na esquerda e não permitir a abertura política”, disse o ex-delegado em entrevista ao vereador Natalini (PV), que foi ao Espírito Santo conversar com Guerra.
No depoimento, Guerra afirmou que “ficava clandestinamente à disposição do escritório do Sistema Nacional de Informações (SNI)” e realizava execuções a pedido do órgão.
Entre suas atividades na cidade de São Paulo, Guerra afirmou ter feito pelo menos três execuções a pedido do SNI. “Só vim saber o nome de pessoas que morreram quando fomos ver datas e locais que fiz a execução”, afirmou o ex-delegado, dizendo que, mesmo para ele, as ações eram secretas.
Guerra falou também do Coronel Brilhante Ustra e do delegado Sérgio Paranhos Fleury, a quem acusou de tortura e assassinatos. Segundo ele, Fleury “cresceu e não obedecia mais ninguém”. “Fleury pegava dinheiro que era para a irmandade (grupo de apoiadores da ditadura, segundo ele)”, acusou.
O ex-delegado disse também que Fleury torturava pessoalmente os presos políticos e metralhou os líderes comunistas no episódio que ficou conhecido como Chacina da Lapa, em 1976.
“Eu estava na cobertura, fiz os primeiros disparos para intimidar. Entrou o Fleury com sua equipe. Não teve resistência, o Fleury metralhou. As armas que disseram que estavam lá foram ‘plantadas’, afirmo com toda a segurança”, contou.
Guerra disse que recebia da irmandade “por determinadas operações bônus em dinheiro”. O ex-delegado afirmou que os recursos vinham de bancos, como o Banco Mercantil do Estado de São Paulo, e empresas, como a Ultragas e o jornal Folha de S. Paulo. “Frias (Otávio, então dono do jornal) visitava o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), era amigo pessoal de Fleury”, afirmou.
Segundo ele, a irmandade teria garantido que antigos membros até hoje tivessem uma boa situação financeira.
‘Enterrar estava dando problema’
Segundo Guerra, os mortos pelo regime passaram a ser cremados, e não mais enterrados, a partir de 1973, para evitar “problemas”. “Enterrar estava dando problema e a partir de 1973 ou 1974 começaram a cremar. Buscava os corpos da Casa de Morte, em Petrópolis, e levava para a Usina de Campos”, relatou.
O Conversa Afiada reproduz importante post do Viomundo:
EX-DELEGADO: FOLHA FINANCIAVA OPERAÇÕES NA DITADURA; FRIAS VISITAVA O DOPS, ERA AMIGO PESSOAL DE FLEURY
do portal Terra
O ex-delegado da Polícia Civil Claudio Guerra afirmou nesta terça-feira, à Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, que foi o autor da explosão de uma bomba no jornal O Estado de S. Paulo, na década de 1980, e afirmou que a ditadura, a partir de 1980, decidiu desencadear em todo o Brasil atentados com o objetivo de desmoralizar a esquerda no País.
“Depois de 1980 ficou decidido que seria desencadeada em todo o País uma série de atentados para jogar a culpa na esquerda e não permitir a abertura política”, disse o ex-delegado em entrevista ao vereador Natalini (PV), que foi ao Espírito Santo conversar com Guerra.
No depoimento, Guerra afirmou que “ficava clandestinamente à disposição do escritório do Sistema Nacional de Informações (SNI)” e realizava execuções a pedido do órgão.
Entre suas atividades na cidade de São Paulo, Guerra afirmou ter feito pelo menos três execuções a pedido do SNI. “Só vim saber o nome de pessoas que morreram quando fomos ver datas e locais que fiz a execução”, afirmou o ex-delegado, dizendo que, mesmo para ele, as ações eram secretas.
Guerra falou também do Coronel Brilhante Ustra e do delegado Sérgio Paranhos Fleury, a quem acusou de tortura e assassinatos. Segundo ele, Fleury “cresceu e não obedecia mais ninguém”. “Fleury pegava dinheiro que era para a irmandade (grupo de apoiadores da ditadura, segundo ele)”, acusou.
O ex-delegado disse também que Fleury torturava pessoalmente os presos políticos e metralhou os líderes comunistas no episódio que ficou conhecido como Chacina da Lapa, em 1976.
“Eu estava na cobertura, fiz os primeiros disparos para intimidar. Entrou o Fleury com sua equipe. Não teve resistência, o Fleury metralhou. As armas que disseram que estavam lá foram ‘plantadas’, afirmo com toda a segurança”, contou.
Guerra disse que recebia da irmandade “por determinadas operações bônus em dinheiro”. O ex-delegado afirmou que os recursos vinham de bancos, como o Banco Mercantil do Estado de São Paulo, e empresas, como a Ultragas e o jornal Folha de S. Paulo. “Frias (Otávio, então dono do jornal) visitava o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), era amigo pessoal de Fleury”, afirmou.
Segundo ele, a irmandade teria garantido que antigos membros até hoje tivessem uma boa situação financeira.
‘Enterrar estava dando problema’
Segundo Guerra, os mortos pelo regime passaram a ser cremados, e não mais enterrados, a partir de 1973, para evitar “problemas”. “Enterrar estava dando problema e a partir de 1973 ou 1974 começaram a cremar. Buscava os corpos da Casa de Morte, em Petrópolis, e levava para a Usina de Campos”, relatou.
terça-feira, abril 23, 2013
Xô, mau humor
247 – O mau humor, no caso da economia, pode ser a manifestação de quem torce contra o País. Quem diz é o empresário Benjamin Steinbruch, da CSN, num recado direto a meios de comunicação, que, de tempos para cá, têm-se dedicado a uma espécie de terrorismo econômico.
Xô, mau humor - BENJAMIN STEINBRUCH
FOLHA DE SP - 23/04
O mau humor, no caso da economia, pode ser a manifestação de quem torce contra o país
Li há dias uma frase do filósofo austríaco Ludwig Josef Johann Wittgenstein (1889-1951) que diz o seguinte: "O humor não é um estado de espírito, mas uma visão de vida". E pensei imediatamente em comportamentos verificados hoje na economia brasileira.
Dissemina-se indisfarçável mau humor com a economia. A inflação está sendo pintada com cores do velho dragão, um exagero, visto que está em nível próximo da média anual dos últimos 14 anos, de 6,4%.
A rabugice do mercado leva a uma avaliação a meu ver exageradamente pessimista do valor dos ativos de algumas empresas brasileiras de capital aberto. Não pretendo citar exemplos, mas o leitor sabe que algumas companhias perderam de 50% a 80% de seu valor de mercado. Será que elas valiam tanto antes? Será que valem tão pouco agora? Como sempre, provavelmente a virtude está no meio.
Claro que a inflação é um inimigo a ser combatido com vigor e persistência --já aprendemos essa lição nos anos hiperinflacionários da década de 1980. Mas não é disso que se trata. Trata-se, hoje, de um problema de humor que leva até economistas de renome a proclamar os riscos de uma inflação de tomate, que não passa de um desarranjo momentâneo na produção dessa fruta.
Cá entre nós, é óbvio que o mercado financeiro vive uma crise de abstinência de juros. Os agentes desse mercado estavam acostumados com altas doses de juro real (acima da inflação), agora reduzidas. Como nos casos das drogas, a abstinência provoca modificações "orgânicas" que levam o dependente a buscar argumentos que justifiquem a volta à situação anterior.
Na semana passada, o Banco Central deu certo alívio a essa crise de abstinência ao elevar os juros em 0,25 ponto percentual, para 7,5% ao ano. Essa pequena mudança não terá impacto na economia, mas, quem sabe, poderá ter efeito psicológico para atenuar a tensão do mercado.
Não há como negar que os dois últimos anos foram difíceis, principalmente para empresas que produzem. Os preços internacionais de exportação caíram, o crescimento econômico tem sido baixo aqui e lá fora, o custo da mão de obra disparou e pioraram as margens e os resultados das empresas. A indústria se contraiu e há, sem dúvida, um processo de desindustrialização no país.
Neste ano, a balança comercial flerta com o deficit e as importações continuam a inviabilizar a produção interna em vários setores industriais. Além disso, o país ainda não enfrentou o problema da racionalização da estrutura tributária, especialmente do PIS/Cofins e do ICMS.
Tudo isso é verdade, mas é prerrogativa de mal-humorados olhar apenas para o lado negativo das coisas --uma visão de vida, na expressão de Wittgenstein. Não é o meu caso. Prefiro lembrar o que disse Fernando Sabino (1923-2004): "Antes de mais nada, fica estabelecido que ninguém vai tirar meu bom humor".
E isso porque há várias razões para ter atitude positiva em relação ao país. No último ano, além da redução da taxa básica de juros para um nível mais civilizado, houve ajuste cambial que melhorou a competitividade das exportações, redução dos custos da energia, desonerações de folhas de pagamento de dezenas de setores, taxação de algumas importações para estimular a indústria nacional e concessões nas variadas áreas de infraestrutura.
Antes de franzir a testa em atitude rabugenta, é preciso observar que a crise global já dura cinco anos e que o Brasil, a despeito de todos os problemas, jamais foi ameaçado nesse período. O nível de emprego é recorde --o que provoca escassez de mão de obra--, a renda dos brasileiros está em alta e mais bem distribuída e a pobreza extrema vem sendo combatida com sucesso.
Na área externa, o país está muito longe de enfrentar crises cambiais porque tem reservas de US$ 370 bilhões e, além disso, ainda conta com o ingresso de elevados investimentos diretos estrangeiros.
Os psiquiatras chamam de "distímicos" os indivíduos que só enxergam o lado negativo do mundo. O mau humor, portanto, pode ser doença, mas, no caso da economia, também pode ser a manifestação de quem torce contra o país por razões variadas. Minha recomendação é que se fique longe desses mal-humorados, seja na economia, seja em qualquer outra área, pois essa doença é contagiosa. Xô, mau humor!
Xô, mau humor - BENJAMIN STEINBRUCH
FOLHA DE SP - 23/04
O mau humor, no caso da economia, pode ser a manifestação de quem torce contra o país
Li há dias uma frase do filósofo austríaco Ludwig Josef Johann Wittgenstein (1889-1951) que diz o seguinte: "O humor não é um estado de espírito, mas uma visão de vida". E pensei imediatamente em comportamentos verificados hoje na economia brasileira.
Dissemina-se indisfarçável mau humor com a economia. A inflação está sendo pintada com cores do velho dragão, um exagero, visto que está em nível próximo da média anual dos últimos 14 anos, de 6,4%.
A rabugice do mercado leva a uma avaliação a meu ver exageradamente pessimista do valor dos ativos de algumas empresas brasileiras de capital aberto. Não pretendo citar exemplos, mas o leitor sabe que algumas companhias perderam de 50% a 80% de seu valor de mercado. Será que elas valiam tanto antes? Será que valem tão pouco agora? Como sempre, provavelmente a virtude está no meio.
Claro que a inflação é um inimigo a ser combatido com vigor e persistência --já aprendemos essa lição nos anos hiperinflacionários da década de 1980. Mas não é disso que se trata. Trata-se, hoje, de um problema de humor que leva até economistas de renome a proclamar os riscos de uma inflação de tomate, que não passa de um desarranjo momentâneo na produção dessa fruta.
Cá entre nós, é óbvio que o mercado financeiro vive uma crise de abstinência de juros. Os agentes desse mercado estavam acostumados com altas doses de juro real (acima da inflação), agora reduzidas. Como nos casos das drogas, a abstinência provoca modificações "orgânicas" que levam o dependente a buscar argumentos que justifiquem a volta à situação anterior.
Na semana passada, o Banco Central deu certo alívio a essa crise de abstinência ao elevar os juros em 0,25 ponto percentual, para 7,5% ao ano. Essa pequena mudança não terá impacto na economia, mas, quem sabe, poderá ter efeito psicológico para atenuar a tensão do mercado.
Não há como negar que os dois últimos anos foram difíceis, principalmente para empresas que produzem. Os preços internacionais de exportação caíram, o crescimento econômico tem sido baixo aqui e lá fora, o custo da mão de obra disparou e pioraram as margens e os resultados das empresas. A indústria se contraiu e há, sem dúvida, um processo de desindustrialização no país.
Neste ano, a balança comercial flerta com o deficit e as importações continuam a inviabilizar a produção interna em vários setores industriais. Além disso, o país ainda não enfrentou o problema da racionalização da estrutura tributária, especialmente do PIS/Cofins e do ICMS.
Tudo isso é verdade, mas é prerrogativa de mal-humorados olhar apenas para o lado negativo das coisas --uma visão de vida, na expressão de Wittgenstein. Não é o meu caso. Prefiro lembrar o que disse Fernando Sabino (1923-2004): "Antes de mais nada, fica estabelecido que ninguém vai tirar meu bom humor".
E isso porque há várias razões para ter atitude positiva em relação ao país. No último ano, além da redução da taxa básica de juros para um nível mais civilizado, houve ajuste cambial que melhorou a competitividade das exportações, redução dos custos da energia, desonerações de folhas de pagamento de dezenas de setores, taxação de algumas importações para estimular a indústria nacional e concessões nas variadas áreas de infraestrutura.
Antes de franzir a testa em atitude rabugenta, é preciso observar que a crise global já dura cinco anos e que o Brasil, a despeito de todos os problemas, jamais foi ameaçado nesse período. O nível de emprego é recorde --o que provoca escassez de mão de obra--, a renda dos brasileiros está em alta e mais bem distribuída e a pobreza extrema vem sendo combatida com sucesso.
Na área externa, o país está muito longe de enfrentar crises cambiais porque tem reservas de US$ 370 bilhões e, além disso, ainda conta com o ingresso de elevados investimentos diretos estrangeiros.
Os psiquiatras chamam de "distímicos" os indivíduos que só enxergam o lado negativo do mundo. O mau humor, portanto, pode ser doença, mas, no caso da economia, também pode ser a manifestação de quem torce contra o país por razões variadas. Minha recomendação é que se fique longe desses mal-humorados, seja na economia, seja em qualquer outra área, pois essa doença é contagiosa. Xô, mau humor!
segunda-feira, abril 22, 2013
QUEM MATOU JANGO ?
“O acervo da CPI do Ibade de 1963 mostra que 85% da imprensa e dos meios de comunicação brasileiros foram comprados para mascarar esta infâmia com o poder da propaganda”.
O Conversa Afiada oferece à Comissão da ½ Verdade subsídios para apurar quem matou Jango e, quem sabe ?, JK e Lacerda, membros da Frente Ampla contra os militares (devidamente anistiados pelo Supremo Tribunal Federal):
Discurso do João Vicente Goulart na Comissão de Anistia, dia 18 de março, em Porto Alegre
Membros ilustres da Comissão Nacional da Verdade,
Senhores e Senhoras presentes,
Eu quero ler um requerimento que estamos entregando nesta data à comissão,
mas antes quero consignar algumas palavras.
A VERDADE tem o poder de nos convencer mesmo sem provas.
Eu, minha família e outras pessoas que estiveram no exílio,
Quando escutamos a confissão do agente uruguaio Mario Neira Barreiro
acreditamos no esquema que nos foi relatado,
apesar da história incluir diversos ingredientes desconhecidos e surpreendentes.
Várias aspectos das revelações deste criminoso foram confirmadas depois da entrevista à TV Senado
e por esta razão tomamos uma iniciativa contundente.
Pedimos em novembro do ano de 2007, que o Procurador Geral da República determinasse a abertura de um inquérito para investigar as circunstâncias da morte de Jango diante da desclassificação de documentos secretos pelo governo brasileiro e pelo Departamento de Estado norte americano que davam foros de credibilidade ao relato do agente uruguaio Mario Neira Barreiro.
Estamos em 2013, e o Ministério Público Federal parece tão surdo quanto à carreata de inocentes uteis que até hoje ignora que apoiou a violação da jovem Soberania e traiu a República.
Conseguimos desarquivar o inquérito do túmulo do descaso, e irá acontecer uma perícia com a análise dos restos mortais de Jango, mas o resultado pode ser inconclusivo.
Segundo o relato do agente uruguaio, a retenção do corpo na fronteira por quase 48 horas objetivava dissipar as evidências do envenenamento em caso de autópsia no Brasil.
Não sabemos se a tecnologia de hoje pode detectar o envenenamento, o remédio descrito pelo uruguaio composto de 3 componentes difere da lista básica de venenos utilizados pelos marionetes da CIA.
Mas esta perícia não é único meio de esclarecer a VERDADE.
Hoje estou aqui seguindo exemplo do pai.
Jango durante todos os anos de exílio,
12 anos no exterior,
Nunca deixou de sentir necessidade de voltar e ajudar a resgatar seu país do destino macabro
ditado pelo golpe de 01 de abril de 1964.
Meu pai nunca deixou ter esperança.
Uma Esperança tão louca como aquela senhora de Mario Quintana
que se joga do edifício e que o povo encontra incólume na calçada :
outra vez uma menina,
Dotada dos olhos verdes da esperança…
A Esperança nunca morre, mas Jango morreu.
Começou a morrer em 01 de abril de 1964,
Quando viu aquela outra menina,
A Soberania,
Virgem vestal e filha da república,
Ser violada em praça pública por traidores, vendilhões e estrangeiros.
Hoje sabemos que o crime feito premeditado.
O acervo da CPI do Ibade de 1963 mostra que 85% da imprensa e dos meios de comunicação brasileiros foram comprados para mascarar esta infâmia com o poder da propaganda.
Violaram a jovem Soberania em nome de Deus, da Pátria e Da Família;
Absurdos dos absurdos, este crime foi confessado em entrevista à TV Globo dada pelo embaixador norte americano que veio ao Brasil vender sua biografia.
E não ouvi uma palavra nem do presidente que estava saindo do cargo e nenhuma do que estava assumindo a liderança do nosso país… violaram a jovem Soberania em praça pública e quase 40 anos depois ninguém mexeu um dedo para protestar contra um dos criminosos se gabar da façanha!
Hoje, existe uma farta documentação comprovando o premeditado desmonte da ordem jurídica interna brasileira!
O crime cometido contra nossa soberania é continuado e engloba o assassinato de Jango.
As circunstâncias da morte de Jango sempre foram suspeitas.
Não houve autópsia.
Houve resistência em trasladar o corpo da Argentina para o Brasil.
Mas 30 anos depois um homem resolveu denunciar o crime.
Um homem me disse pessoalmente que monitorava as escutas ambientais e telefônicas de Jango.
Um homem que estava lá.
Um homem que sabia que eu bati o carro do meu pai e levei para consertar em segredo.
Este homem confessou o assassinato premeditado de Jango.
Ora, todo crime tem uma motivação.
Jango foi uma das vítimas de um amplo programa de expurgo politico por meio de assassinatos seletivos.
Porque?
A explicação mais razoável é a que ouvi do meu advogado Trajano Ribeiro – Ter os militares no poder não interessava mais a quem patrocinou os golpes militares na América latina. Os militares por ofício são nacionalistas. No Brasil estavam colocando uma estatal em cada setor estratégico e arranjaram uma usina nuclear. A solução? O retorno dos civis corruptíveis ao poder. O problema? A ampla gama de líderes nacionalistas que retornariam defendendo a Soberania.
Jango foi assassinado porque era capaz de fazer um acordo até com o Lacerda para salvar a jovem Soberania!
Atentem! A menina Esperança tem o poder da fênix e é capaz de renascer das cinzas,
Mas o resgate da jovem Soberania violada exige um longo esforço para encontrar a cura.
O fato é que nossa jovem Soberania permanece na UTI, coberta de feridas que não se curam.
A cura começa com o resgate da VERDADE.
Verdade que acredito ser o objetivo dessa Comissão!
A Verdade permite o diagnóstico e o tratamento da doença.
Verdade que nos mostra que a jovem Soberania carrega chagas abertas, fétidas e infeccionadas, causadas pela violência, pelo envenenamento, pela tortura e pelo assassinato de seus filhos.
A verdade é que nossa República perdeu uma guerra e ainda não enterramos os nossos mortos.
Jango foi enterrado pelo povo de São Borja, mas não teve luto oficial!
Como anunciei antes,
quero ler o requerimento que preparamos e vamos a entregar a esta comissão,
porque guardo em a Esperança, aquela senhora louca que se joga do ultimo andar e sempre renasce criança.
Venho a esta comissão, em nome de todos aqueles que foram sacrificados na ara da tortura e da tirania,
exigir que cubram a nudez da violação da nossa soberania com o manto de respeito.
Este manto de respeito tem que ser tecido com o exercício pleno da cidadania que acredita nas fundações de uma República Soberana e no Estado Democrático de Direito sujeito à LEGALIDADE .
Venho pedir a vocês que persigam e encontrem a VERDADE.
Divulguem a verdade e além de ver renascer a esperança,
Possamos prestar as homenagens e o respeitos às vítimas da tirania e aos nossos mortos e
Assim, resgatar alguma dignidade a nossa jovem Soberania…
João Vicente Fontella Goulart
Em tempo: aguarde o documentário “Dossiê Jango” – PHA
Clique aqui para ler sobre Paulo Sawaya e o PIB da Tortura, outra modesta contribuição à Comissão de ½ Verdade.
Em tempo2: quem são os membros da Comissão da ½ Verdade que faltam ao serviço ? Não era bom saber ? – PHA
O Conversa Afiada oferece à Comissão da ½ Verdade subsídios para apurar quem matou Jango e, quem sabe ?, JK e Lacerda, membros da Frente Ampla contra os militares (devidamente anistiados pelo Supremo Tribunal Federal):
Discurso do João Vicente Goulart na Comissão de Anistia, dia 18 de março, em Porto Alegre
Membros ilustres da Comissão Nacional da Verdade,
Senhores e Senhoras presentes,
Eu quero ler um requerimento que estamos entregando nesta data à comissão,
mas antes quero consignar algumas palavras.
A VERDADE tem o poder de nos convencer mesmo sem provas.
Eu, minha família e outras pessoas que estiveram no exílio,
Quando escutamos a confissão do agente uruguaio Mario Neira Barreiro
acreditamos no esquema que nos foi relatado,
apesar da história incluir diversos ingredientes desconhecidos e surpreendentes.
Várias aspectos das revelações deste criminoso foram confirmadas depois da entrevista à TV Senado
e por esta razão tomamos uma iniciativa contundente.
Pedimos em novembro do ano de 2007, que o Procurador Geral da República determinasse a abertura de um inquérito para investigar as circunstâncias da morte de Jango diante da desclassificação de documentos secretos pelo governo brasileiro e pelo Departamento de Estado norte americano que davam foros de credibilidade ao relato do agente uruguaio Mario Neira Barreiro.
Estamos em 2013, e o Ministério Público Federal parece tão surdo quanto à carreata de inocentes uteis que até hoje ignora que apoiou a violação da jovem Soberania e traiu a República.
Conseguimos desarquivar o inquérito do túmulo do descaso, e irá acontecer uma perícia com a análise dos restos mortais de Jango, mas o resultado pode ser inconclusivo.
Segundo o relato do agente uruguaio, a retenção do corpo na fronteira por quase 48 horas objetivava dissipar as evidências do envenenamento em caso de autópsia no Brasil.
Não sabemos se a tecnologia de hoje pode detectar o envenenamento, o remédio descrito pelo uruguaio composto de 3 componentes difere da lista básica de venenos utilizados pelos marionetes da CIA.
Mas esta perícia não é único meio de esclarecer a VERDADE.
Hoje estou aqui seguindo exemplo do pai.
Jango durante todos os anos de exílio,
12 anos no exterior,
Nunca deixou de sentir necessidade de voltar e ajudar a resgatar seu país do destino macabro
ditado pelo golpe de 01 de abril de 1964.
Meu pai nunca deixou ter esperança.
Uma Esperança tão louca como aquela senhora de Mario Quintana
que se joga do edifício e que o povo encontra incólume na calçada :
outra vez uma menina,
Dotada dos olhos verdes da esperança…
A Esperança nunca morre, mas Jango morreu.
Começou a morrer em 01 de abril de 1964,
Quando viu aquela outra menina,
A Soberania,
Virgem vestal e filha da república,
Ser violada em praça pública por traidores, vendilhões e estrangeiros.
Hoje sabemos que o crime feito premeditado.
O acervo da CPI do Ibade de 1963 mostra que 85% da imprensa e dos meios de comunicação brasileiros foram comprados para mascarar esta infâmia com o poder da propaganda.
Violaram a jovem Soberania em nome de Deus, da Pátria e Da Família;
Absurdos dos absurdos, este crime foi confessado em entrevista à TV Globo dada pelo embaixador norte americano que veio ao Brasil vender sua biografia.
E não ouvi uma palavra nem do presidente que estava saindo do cargo e nenhuma do que estava assumindo a liderança do nosso país… violaram a jovem Soberania em praça pública e quase 40 anos depois ninguém mexeu um dedo para protestar contra um dos criminosos se gabar da façanha!
Hoje, existe uma farta documentação comprovando o premeditado desmonte da ordem jurídica interna brasileira!
O crime cometido contra nossa soberania é continuado e engloba o assassinato de Jango.
As circunstâncias da morte de Jango sempre foram suspeitas.
Não houve autópsia.
Houve resistência em trasladar o corpo da Argentina para o Brasil.
Mas 30 anos depois um homem resolveu denunciar o crime.
Um homem me disse pessoalmente que monitorava as escutas ambientais e telefônicas de Jango.
Um homem que estava lá.
Um homem que sabia que eu bati o carro do meu pai e levei para consertar em segredo.
Este homem confessou o assassinato premeditado de Jango.
Ora, todo crime tem uma motivação.
Jango foi uma das vítimas de um amplo programa de expurgo politico por meio de assassinatos seletivos.
Porque?
A explicação mais razoável é a que ouvi do meu advogado Trajano Ribeiro – Ter os militares no poder não interessava mais a quem patrocinou os golpes militares na América latina. Os militares por ofício são nacionalistas. No Brasil estavam colocando uma estatal em cada setor estratégico e arranjaram uma usina nuclear. A solução? O retorno dos civis corruptíveis ao poder. O problema? A ampla gama de líderes nacionalistas que retornariam defendendo a Soberania.
Jango foi assassinado porque era capaz de fazer um acordo até com o Lacerda para salvar a jovem Soberania!
Atentem! A menina Esperança tem o poder da fênix e é capaz de renascer das cinzas,
Mas o resgate da jovem Soberania violada exige um longo esforço para encontrar a cura.
O fato é que nossa jovem Soberania permanece na UTI, coberta de feridas que não se curam.
A cura começa com o resgate da VERDADE.
Verdade que acredito ser o objetivo dessa Comissão!
A Verdade permite o diagnóstico e o tratamento da doença.
Verdade que nos mostra que a jovem Soberania carrega chagas abertas, fétidas e infeccionadas, causadas pela violência, pelo envenenamento, pela tortura e pelo assassinato de seus filhos.
A verdade é que nossa República perdeu uma guerra e ainda não enterramos os nossos mortos.
Jango foi enterrado pelo povo de São Borja, mas não teve luto oficial!
Como anunciei antes,
quero ler o requerimento que preparamos e vamos a entregar a esta comissão,
porque guardo em a Esperança, aquela senhora louca que se joga do ultimo andar e sempre renasce criança.
Venho a esta comissão, em nome de todos aqueles que foram sacrificados na ara da tortura e da tirania,
exigir que cubram a nudez da violação da nossa soberania com o manto de respeito.
Este manto de respeito tem que ser tecido com o exercício pleno da cidadania que acredita nas fundações de uma República Soberana e no Estado Democrático de Direito sujeito à LEGALIDADE .
Venho pedir a vocês que persigam e encontrem a VERDADE.
Divulguem a verdade e além de ver renascer a esperança,
Possamos prestar as homenagens e o respeitos às vítimas da tirania e aos nossos mortos e
Assim, resgatar alguma dignidade a nossa jovem Soberania…
João Vicente Fontella Goulart
Em tempo: aguarde o documentário “Dossiê Jango” – PHA
Clique aqui para ler sobre Paulo Sawaya e o PIB da Tortura, outra modesta contribuição à Comissão de ½ Verdade.
Em tempo2: quem são os membros da Comissão da ½ Verdade que faltam ao serviço ? Não era bom saber ? – PHA
HONDURAS, PARAGUAI, VENEZUELA. FALTA UM GOLPE !
O julgamento do mensalão e a prisão do Lula mantêm sua “funcionalidade eleitoral”, diz Saul Leblon.
Saiu na Carta Maior excelente artigo de Saul Leblon:
A ‘ESCALADA DEMOCRÁTICA’
Episódios recentes na vida política da América Latina indicam que estamos diante de uma ‘escalada democrática’ .
Em junho de 2012, numa sexta-feira, deu-se o golpe democrático’ contra Fernando Lugo, presidente eleito do Paraguai.
Processado e derrubado pelo Congresso em 33 horas, seu afastamento consolidou-se na eleição deste domingo, que devolveu o poder à direita paraguaia.
Três anos antes, a modalidade já havia sido testada em Honduras.
O Presidente Manuel Zelaya foi ‘impedido legalmente’ em 29 de junho de 2009.
Seis meses depois, uma nova eleição dava sua vaga ao conservador Porfírio Lobo, derrotado por Zelaya em 2005.
Enfim, se você perde nas urnas o jeito é afastar quem ganha para liberar o caminho.
Isso lembra alguma coisa chamado ‘mensalão’?
Deflagrado em 2005 com o objetivo de levar Lula ao impeachment e impedir sua reeleição no ano seguinte, a AP 470 mantém sua ‘funcionalidade eleitoral’ e é assim que entra em fase decisiva de recursos esta semana (leia o editorial de Carta Maior: “Mais 250 dias ou Fux vai matar no peito?”)
A contrapelo do cerco conservador, Lula foi reeleito em 2006 e repeliu o golpe contra Zelaya, em 2009. A embaixada brasileira em Honduras concedeu asilo ao presidente deposto.
O conjunto foi duramente criticado pelo dispositivo midiático
No caso de Lugo, as emissões conservadoras se alvoroçaram de maneira ainda mais ostensiva.
A frente pró-golpe manifestar-se-ia, primeiro, no Congresso brasileiro.
Expoentes tucanos e emissários do agronegócio brasileiro, que anexou extensões escandalosas de terras do país vizinho, em prejuízo dos camponeses locais, desfraldariam o lobby.
Queriam o ‘reconhecimento imediato do novo governo amigável’ por parte da Presidenta Dilma.
Rechaçados, entrou em campo a cavalaria midiática.
A Folha disparou um editorial sugestivamente intitulado ‘Paraguai soberano’(26-06). Curioso que não tenha produzido título equivalente no caso recente da Venezuela.
O texto esbravejava antecipadamente contra a reunião do Mercosul que ocorreria em Mendoza, três dias depois, para examinar a crise.
O jornal da família Frias recomendava , quer dizer, ordenava: ‘o melhor que o Itamaraty tem a fazer é calar-se e respeitar a soberania do vizinho’.
Como os presidentes do Brasil, Argentina e Uruguai não se pautaram pelos editoriais e, ademais de suspender o Paraguai golpista, incorporaram a Venezuela ao bloco, as cepas e esporões direitistas passaram a reproduzir-se com furor lacerdista no noticiário.
A política externa brasileira foi reduzida à posição de linha auxiliar do chavismo e do kichnerismo.
No caso recente da eleição venezuelana, o diapasão conservador arremeteu direto contra as urnas
A margem estreita que marcou a vitória de Nicolas Maduro contra o direitista Enrique Capriles foi a senha para a contestação do processo democrático.
A ordem unida veio dos EUA: não legitimar Maduro enquanto uma recontagem não ‘esclarecesse melhor o quadro’.
A mesma cautela não se verificou quando dos golpes em Honduras e no Paraguai, imediatamente reconhecidos como legítimos por Washington.
Enquanto o governo Obama dava corda à reação interna venezuelana, o jogral brasileiro disparava obuses na tentativa de acuar o Itamaraty e a Presidenta Dilma.
Não funcionou.
O governo brasileiro foi um dos primeiros a parabenizar Maduro pela vitória e a felicitar a democracia venezuelana.
Não só. Sob a liderança conjunta do Brasil e da Argentina, a Unasul foi convocada e respaldou o processo democrático venezuelano.
Colocou-se mais uma vez como uma pedra no sapato da ingerência norte-americana na região.
A transparência eleitoral na Venezuela é reconhecida por observadores internacionais insuspeitos.
O eleitor venezuelano registra seu voto na urna eletrônica, que lhe fornece um recibo da escolha feita. Depois de conferido, ele o deposita em caixas lacradas.
“Ao final da jornada, 54% dessas caixas são sorteadas e submetidas à auditoria. Prática que, em tamanha porcentagem, não é feita por nenhum outro país do mundo”, informa o enviado de Carta Maior à Venezuela, Vinicius Mansur (leia nesta pág).
O Departamento de Estado norte-americano e o conservadorismo brasileiro sabem desses procedimentos.
De fato, não é a lisura do pleito que os mobilizava. E sim a possibilidade de ampliar ‘a ofensiva democrática’ na região, desautorizando Maduro para conduzir Capriles ao poder.
Nos três episódios, a pronta intervenção da Unasul e do Mercosul atrapalhou a vida do golpismo, seccionando o oxigênio externo fornecido pelos EUA.
Essa capacidade de defender a soberania democrática é uma novidade histórica que incomoda os interesses conservadores na região.
A liderança brasileira é o combustível que injeta coesão a essa nova institucionalidade.
Não incorre em erro quem suspeitar que esse papel incômodo pesará nos arranjos, no financiamento e na intensidade do cerco para afastar o PT do caminho, em 2014.
domingo, abril 21, 2013
Breno Altman: “PPS é capítulo vergonhoso da política nacional.”
“Lula seja louvado”: O ex-comunista Bob Freire, agora, está de mãos dadas com a direita.
Breno Altman, via Brasil 247
Com a criação de uma nova sigla, Mobilização Democrática (MD), encerra-se a história do Partido Popular Socialista, capitaneado pelo deputado Roberto Freire. A fusão com o Partido da Mobilização Nacional, que deu cabo à agremiação, foi engendrada para viabilizar atração de parlamentares sem quebrar formalmente regras de fidelidade partidária, arrastando tempo de televisão e nacos do fundo público para financiamento dos partidos.
A legenda recém-batizada tem objetivo encomendado, segundo declarações do próprio Freire: servir de trampolim para a candidatura presidencial de Eduardo Campos, governador de Pernambuco, entre correntes tradicionalmente vinculadas à coalizão PSDB/DEM. O plano é conquistar deputados e senadores deste setor, além de pescar nas turvas águas do PSD de Kassab. De quebra, o grande sonho de seus dirigentes é filiar o tucano José Serra, a mão que balança o berço do projeto.
Esta manobra eleitoral, tão ao gosto atual da mídia tradicional, diz muito a respeito de seus inventores. O PPS, nascido de um naco do Partido Comunista Brasileiro (PCB), na pia batismal já abandonou qualquer compromisso com o socialismo, apesar de carregar essa intenção no nome. Apoiou Lula em 2002, mas rapidamente se converteu em sócio do bloco de direita. Quando começou a namorar o PMN, houve quem sugerisse que a criatura parida chamasse Esquerda Democrática, ideia logo abandonada para não soar ridícula.
A turma de Roberto Freire, afinal, com poucas e honrosas exceções, fez história de capitulação em capitulação. Os mais antigos, em sua maioria, eram comunistas meio róseos durante a ditadura, entocados depois da derrota de 1964. Quando os trabalhadores voltaram a ser protagonistas da vida política, a partir dos anos de 1970, não vacilavam em afirmar que aquilo era aventura.
Essa mesma patota ficou contra a greve geral do dia 21 de julho de 1983, a primeira depois do golpe militar. Um de seus comandantes, o falecido Hércules Correa, ex-líder sindical, chegou a declarar que trabalharia “full time” para impedir a empreitada, no que fracassou de forma retumbante, pois São Paulo parou.
Também ficaram contra a campanha das Diretas já. Quando milhões começaram a se concentrar em gigantescos comícios, aderiram andando de lado. Na primeira oportunidade, se juntaram à transição conservadora, carimbada pela eleição da chapa Tancredo-Sarney no colégio eleitoral forjado pelos militares.
Deram seu voto para Lula, no 2º turno de 1989. Mas aí veio o colapso do socialismo europeu e a desintegração da União Soviética, e foi o deus-nos-acuda. Açodados por sobreviver, mudaram de lado a galope. Abandonaram o socialismo, a esquerda e a compostura. Passaram os últimos dez anos de braços dados com os brucutus do neoliberalismo, em selvagem oposição aos governos de Lula e Dilma.
Sequiosos por serem considerados membros dignos do clube conservador, entregaram os dedos até em política internacional. O PPS não pestanejou, por exemplo, em dar seu apoio, nas duas últimas eleições presidenciais venezuelanas, ao fascistóide Henrique Capriles, além de apoiar golpes em Honduras e no Paraguai.
Reencarnado como MD, o partido de Roberto Freire presta-se a ser, mais uma vez, linha auxiliar da oligarquia. A autópsia do cadáver revela, assim, um dos capítulos mais vergonhosos da recente história brasileira.
Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel
O significado de Lula ser chamado no lançamento do 'Fome Zero' mexicano
O presidente do México, Enrique Peña Nieto, lançou o programa México Sem Fome (Mexico Sin Hambre). Chamou o presidente Lula para participar do lançamento.
Os programas brasileiros de inclusão social, combate à fome e à miséria, deram tão certo durante o governo Lula, que passaram a ser imitados ao redor do mundo.
A tecnologia social desenvolvida no Brasil já deu as fórmulas para outros países copiarem à vontade, e o presidente do México não precisaria necessariamente da presença de Lula para lançar e fazer seu programa.
Porém a presença de Lula, mais do que todo o simbolismo que representa, é um extraordinário ato político para o mundo.
Para Peña Nieto, esse aval do maior líder mundial no combate à pobreza da atualidade, é garantia de calar os opositores "rola-bostas" de lá, além de lhe dar projeção internacional.
Para Lula e para todo o campo político humanista que ele representa, é mais um aliado, de um país de grande economia e população, com grande desigualdade, que arregaça as mangas para colocar em prática a erradicação da pobreza, e alinha-se para o desenvolvimento humano dos outros países mais pobres da Amércia Latina e da África.
Torna-se também, nem que seja pelo exemplo, mais um país que se alinha nos fóruns multilaterais na luta por mudanças na ordem mundial, que leve à erradicação da fome e da miséria no mundo.
Do Instituto Lula:
Lula no México: “Eu vim aqui dar um testemunho. É possível acabar com a fome do mundo”
A iniciativa, uma das prioridades de Peña Nieto no seu início de mandato, é inspirada nos programas e no compromisso do governo brasileiro no combate à pobreza. ”O programa Fome Zero no Brasil inspirou em boa medida a Cruzada Nacional contra a fome”, declarou a ministra Robles. Peña Nieto destacou como o exemplo do Brasil inspira a iniciativa “você teve êxito e tirou 33 milhões de brasileiros da pobreza. Aqui estamos empenhados para 7 milhões e meio de mexicanos abandonem essa condição e tenham dignidade. “
Lula, com uma vestimenta tradicional da região falou de como a experiência brasileira prova que é possível erradicar a miséria no mundo. “Eu vim aqui dar o meu testemunho. É possível terminar a fome no mundo. O que necessitamos são de governos comprometidos com os pobres. Os ricos não precisam dos governos. Quem precisa do governo são as pessoas pobres do mundo. “
O ex-presidente brasileiro disse que as críticas que as iniciativas de combate à pobreza estão recebendo no México são iguais as que ele recebia no começo do seu governo. E incitou Peña Nieto a ter no seu governo um compromisso permanente com os mais pobres “Este país tem tudo que seu povo necessita, e agora, presidente, eles tem você. Não falte com eles.”
Uma semana cheia
O regozijo explícito dos ingleses pela morte de Margaret Thatcher, as eleições venezuelanas e as bombas de Boston marcaram os últimos dias. São fatos aparentemente desconectados, mas que encontram suas raízes comuns no processo, ainda em marcha, de esboroamento das instituições políticas. Esse processo, que – nunca é demais lembrar – começou exatamente com a ascensão de Margaret Thatcher ao poder, em 1979, não se esgotou. Continua a desenvolver-se, embora com manifestações de resistência, aqui e ali, como ocorreu na Venezuela, com Chávez.
O desaparecimento do líder pode ter significado o indesejável fim de uma experiência que, com seus acertos e seus erros, significou uma esperança para os povos da América Latina e também da África. A vitória efetiva de Nicolas Maduro - não só por ter sido apertada, mas pelo fato de que escasseiam, no eleito, as grandes virtudes de liderança de Chávez - não assegura o desenvolvimento do grande projeto nacional, e, de certa forma, continental, assumido pelo povo venezuelano, ao entregar seu destino ao reabilitado sonho de Bolívar.
De qualquer forma, tampouco será fácil a plena retomada do poder, em Caracas, pelos interesses empresariais associados às multinacionais norte-americanas. Os venezuelanos pobres, que passaram a viver melhor no governo Chávez, não aceitarão, pacificamente, retornar à situação anterior.
A recontagem dos votos, segundo os observadores, não alterará o resultado, mas trará mais dificuldades ao governo e mais estímulo ao esforço desagregador da oposição chefiada por Capriles.
Como advertiram as vozes mais sensatas da Grã Bretanha, o tchatcherismo é ainda a ideologia que comanda o país e continua a fazer suas vítimas, lá e alhures. Na base das contra-reformas houve uma secreta reação do capitalismo liberal aos resultados da 2ª Guerra Mundial. As preocupações filosóficas de Hayek e Von Mises, expostas no livro de Hayek, “ The Road to Serfdom”, encontraram, no Clube de Bilderberg, seu comitê de ação. Há o encadeamento lógico entre os fatos. Na realidade, as duas guerras mundiais do século 20 podem ser vistas como episódios de uma Guerra Civil Mundial, Weltbürgerkrieg, como a definiu Carl Weizsäcker.
A vitória da razão humanística sobre o nazismo foi revertida, solertemente, pela reação dos homens mais ricos e mais influentes do mundo, que passaram a reunir-se a partir de 1954, sob a iniciativa de um príncipe corrupto, Bernard, da Holanda. A aliança entre Thatcher, Reagan e o papa João Paulo II, seguida da submissão abjeta de Gobartchev – tem provocado sofrimento a fome, a morte e desespero a centenas de milhões de seres humanos. É o novo liberalismo que assola a Europa e inúmeros paises dos outros continentes.
Um cartaz expressivo em seus termos fortes e chulos – The bitch is dead – revelou o ódio dos que perderam seus empregos, suas casas, seus benefícios sociais, dos parentes dos que morreram sem assistência médica, nos últimos trinta anos.
Os dirigentes políticos europeus, no entanto, permanecem fiéis à filosofia opressora de Thatcher que, teve a coragem de decretar que a sociedade não existe: só existem “indivíduos” e cabe a esses indivíduos resolver por si mesmos os seus problemas – seja de que forma for. Não é de se estranhar que a criminalidade tenha aumentado tanto: é a regra de nosso tempo. Os banqueiros individualistas roubam, os políticos individualistas se arranjam na extorsão, os comerciantes elevam seus preços, os policiais achacam – como nunca antes na história.
O regozijo dos ingleses pela morte de Margaret Thatcher, as eleições venezuelanas e as bombas de Boston marcaram os últimos dias. São fatos aparentemente desconectados, mas que encontram suas raízes comuns no processo em marcha de esboroamento das instituições políticas.
Mauro Santayana
Do Carta Maior
É o ultra-capitalismo triunfante. E como os donos do mundo não descansam, com a morte de Thatcher, eles colocam todo o seu cacife em Frau Merkel, que já assume a presunção de conduzir a Europa. Ângela Merkel acredita que o que Hitler não obteve com as divisões blindadas, ela conseguirá com o marco e os grandes bancos que, com Mario Draghi, comandam o BCE: a hegemonia continental.
No caso das bombas de Boston começam a surgir dúvidas sobre a rapidez da identificação e da localização dos suspeitos, não obstante um deles ter passado as horas seguintes sem mudar seus hábitos. De um deles nada mais a apurar, posto que o mataram.
Do outro, o jovem Dzhokhar Tsaernev, que não foi advertido de seu direito de ficar em silêncio, não se espera muito, ainda que venha a recuperar-se de seus ferimentos. Acaba de sair da adolescência, e é difícil que estivesse, há anos, sob vigilância do FBI, como se noticia.
Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte
O desaparecimento do líder pode ter significado o indesejável fim de uma experiência que, com seus acertos e seus erros, significou uma esperança para os povos da América Latina e também da África. A vitória efetiva de Nicolas Maduro - não só por ter sido apertada, mas pelo fato de que escasseiam, no eleito, as grandes virtudes de liderança de Chávez - não assegura o desenvolvimento do grande projeto nacional, e, de certa forma, continental, assumido pelo povo venezuelano, ao entregar seu destino ao reabilitado sonho de Bolívar.
De qualquer forma, tampouco será fácil a plena retomada do poder, em Caracas, pelos interesses empresariais associados às multinacionais norte-americanas. Os venezuelanos pobres, que passaram a viver melhor no governo Chávez, não aceitarão, pacificamente, retornar à situação anterior.
A recontagem dos votos, segundo os observadores, não alterará o resultado, mas trará mais dificuldades ao governo e mais estímulo ao esforço desagregador da oposição chefiada por Capriles.
Como advertiram as vozes mais sensatas da Grã Bretanha, o tchatcherismo é ainda a ideologia que comanda o país e continua a fazer suas vítimas, lá e alhures. Na base das contra-reformas houve uma secreta reação do capitalismo liberal aos resultados da 2ª Guerra Mundial. As preocupações filosóficas de Hayek e Von Mises, expostas no livro de Hayek, “ The Road to Serfdom”, encontraram, no Clube de Bilderberg, seu comitê de ação. Há o encadeamento lógico entre os fatos. Na realidade, as duas guerras mundiais do século 20 podem ser vistas como episódios de uma Guerra Civil Mundial, Weltbürgerkrieg, como a definiu Carl Weizsäcker.
A vitória da razão humanística sobre o nazismo foi revertida, solertemente, pela reação dos homens mais ricos e mais influentes do mundo, que passaram a reunir-se a partir de 1954, sob a iniciativa de um príncipe corrupto, Bernard, da Holanda. A aliança entre Thatcher, Reagan e o papa João Paulo II, seguida da submissão abjeta de Gobartchev – tem provocado sofrimento a fome, a morte e desespero a centenas de milhões de seres humanos. É o novo liberalismo que assola a Europa e inúmeros paises dos outros continentes.
Um cartaz expressivo em seus termos fortes e chulos – The bitch is dead – revelou o ódio dos que perderam seus empregos, suas casas, seus benefícios sociais, dos parentes dos que morreram sem assistência médica, nos últimos trinta anos.
Os dirigentes políticos europeus, no entanto, permanecem fiéis à filosofia opressora de Thatcher que, teve a coragem de decretar que a sociedade não existe: só existem “indivíduos” e cabe a esses indivíduos resolver por si mesmos os seus problemas – seja de que forma for. Não é de se estranhar que a criminalidade tenha aumentado tanto: é a regra de nosso tempo. Os banqueiros individualistas roubam, os políticos individualistas se arranjam na extorsão, os comerciantes elevam seus preços, os policiais achacam – como nunca antes na história.
O regozijo dos ingleses pela morte de Margaret Thatcher, as eleições venezuelanas e as bombas de Boston marcaram os últimos dias. São fatos aparentemente desconectados, mas que encontram suas raízes comuns no processo em marcha de esboroamento das instituições políticas.
Mauro Santayana
Do Carta Maior
É o ultra-capitalismo triunfante. E como os donos do mundo não descansam, com a morte de Thatcher, eles colocam todo o seu cacife em Frau Merkel, que já assume a presunção de conduzir a Europa. Ângela Merkel acredita que o que Hitler não obteve com as divisões blindadas, ela conseguirá com o marco e os grandes bancos que, com Mario Draghi, comandam o BCE: a hegemonia continental.
No caso das bombas de Boston começam a surgir dúvidas sobre a rapidez da identificação e da localização dos suspeitos, não obstante um deles ter passado as horas seguintes sem mudar seus hábitos. De um deles nada mais a apurar, posto que o mataram.
Do outro, o jovem Dzhokhar Tsaernev, que não foi advertido de seu direito de ficar em silêncio, não se espera muito, ainda que venha a recuperar-se de seus ferimentos. Acaba de sair da adolescência, e é difícil que estivesse, há anos, sob vigilância do FBI, como se noticia.
Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte
sábado, abril 20, 2013
O QUE A “THE ECONOMIST” NÃO DIZ SOBRE A INFLAÇÃO
“Crítico do Banco Central do Brasil e do que chama de “interferência” do governo de Dilma Rousseff, o semanário [direitista, braço na mídia do mercado financeiro internacional] britânico esquece de mencionar que o totem anti-inflacionário que hegemonizou o pensamento econômico desde o monetarismo de Ronald Reagan e da recentemente falecida Margaret Thatcher, está em crise. Esse totem fez toda a política econômica girar em torno de um objetivo único: a inflação. Mas hoje os próprios países centrais estão fracassando na obtenção desse objetivo ou o estão abandonando de forma deliberada.
A análise é de Marcelo Justo.
“Londres - “Um banco central sabe que perdeu as rédeas das expectativas inflacionárias quando se converte em objeto de piadas”. Assim começa a nota publicada na sexta-feira pelo semanário britânico “The Economist” sobre a política inflacionária brasileira. O centro das brincadeiras é o preço do tomate. “As redes sociais têm caricaturas de ladrões de banco fugindo com bolsas carregadas de tomates e ganhadores da loteria banhando-se em molho de tomate”. Segundo a revista, o serviço aduaneiro brasileiro indicou que os contrabandistas paraguaios acrescentaram tomates argentinos ao seu estoque de drogas, cigarros e produtos eletrônicos.
O semanário é muito crítico do Banco Central do Brasil e da “interferência” do governo de Dilma Rousseff. “Os preços subiram cerca de 6,6%, muito acima do objetivo oficial de 4,5%. Finalmente as zombarias obrigaram o banco a mudar de política. No dia 17 de abril, o Banco Central subiu a taxa de juro em 0,25%”. Segundo disseram ao semanário “analistas de mercado”, o atual índice de 7,5% seguirá subindo até chegar a 8,5% no final do ano.
“Uma razão pela qual o Banco Central não mudou durante muito tempo as taxas de juros foi porque pensava que a pressão sobre os preços se devia a questões passageiras. Os economistas ortodoxos se sentem hoje reivindicados por suas previsões de que os ajustes automáticos feitos nos salários, alugueis, honorários profissionais e muitas outras coisas (um legado da hiperinflação do passado) iriam ter impacto generalizado nos preços”.
A análise enviesada do semanário esquece de mencionar que o totem anti-inflacionário que hegemonizou o pensamento econômicos desde o monetarismo de Ronald Reagan e da recentemente falecida Margaret Thatcher, está hoje em crise. Esse totem fez toda a política econômica girar em torno de um objetivo único: a inflação. Mas hoje os próprios países centrais estão fracassando na obtenção desse objetivo ou estão o abandonando de forma deliberada porque o consideram contraproducente.
Vejamos:
No Reino Unido, desde dezembro de 2009, não se alcança a meta inflacionária do Banco da Inglaterra de 2% anuais. Segundo indicou dia 16 de abril o Escritório Nacional de Estatísticas, a inflação em março foi de 2,8% e o Banco da Inglaterra reconheceu que terá que esperar até 2016 para poder alcançar novamente o objetivo de 2%. Dado que essa é uma promessa para o futuro que o Banco vem fazendo desde 2009 (promessa que vai esticando anualmente os prazos), suas projeções perderam credibilidade.
Nos Estados Unidos, a Reserva Federal deixou claro que seu objetivo primordial, no momento, é baixar o desemprego (7,6% em sua última medição na sexta-feira) e não a inflação (2,4%).
No Japão, a política do novo governo de Shinzo Abe é, deliberadamente, inflacionária. O Banco Central variou seu objetivo de uma inflação de 1% por outro mais importante: evitar a deflação (queda de preços que engole lucros e leva a desinvestimento e bancarrotas), corda no pescoço que a economia japonesa carrega. Segundo o economista Hamish Mc Era, editor associado do “The Independent”, todos os países centrais abandonaram a política de metas inflacionárias que a “The Economist” segue idolatrando.
“As metas inflacionárias são hoje uma ferramenta que perdeu toda credibilidade. Ninguém quer dizer, mas os fatos mostram que ela foi abandonada no Reino Unido, nos Estados Unidos e Japão. A única exceção é o Banco Central Europeu (BCE)”, escreveu na sexta Mc Rae no “The Independent”.
Nada melhor que a exceção para confirmar os efeitos nefastos da regra. A política ultraortodoxa do Banco Central Europeu (dominado pela Alemanha que vive sob a sombra traumática da hiperinflação dos anos 20 que abriu a porta ao nazismo) fez com que se mantivessem taxas de juros altas na época prévia ao estouro de 2008 e que, mesmo nos dois anos seguintes, insistisse em fazer da inflação o objeto central de sua política. Se nos anos prévios à queda do Lehman Brothers essa política bloqueou o crescimento de muitos dos 17 países que formam a zona do euro, nos anos seguintes representou o salva-vidas de chumbo que seguiu afundando as economias.
As taxas, finalmente, baixaram e hoje estão em mínimo histórico, ainda que acima das registradas nos EUA e no Reino Unido. Não aconteceu nada com a inflação, mas o crescimento europeu, estagnado pela débâcle financeira e pelas dívidas fiscais que deixou, não responde. Como disse certa vez o falecido comandante Hugo Chávez, “esse não levanta nem com Viagra”.
FONTE: análise de Marcelo Justo, de Londres, publicada no site “Carta Maior” com tradução de Katarina Peixoto (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21932). [Trecho entre colchetes adicionado por este blog 'democracia&política'].
Comentário E & P
Porque será que a The Economist defende tanto aumento dos juros no Brasil? Antigamente os ingleses e colonizadores pegavam o produto físico. Assim foi com o ouro, açúcar, café, entre outros. Agora a forma de saque se sofisticou muito, é via juros. Os juros altos pagos no Brasil alimentou parasitas do mundo inteiro, inclusive a subelite brasileira que faz parte desse esquema. O Estado brasileiro cobra impostos principalmente dos mais pobres e via taxa de juros passa esses recursos que deveria ir para a educação, saúde, segurança e transportes para os mais ricos do Brasil e do mundo. É um Bolsa-Família ao contrário. Virou Bolsa-Banqueiro. É a maior sangria de recursos do povo brasileiro. Esse esquema é muito pior do que a corrupção entre poder público e empresários. Como o juro real no Brasil está um pouco acima de 1%, estão se manifestando via The Economist, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Veja e Globo querendo a volta dos juros altos, sob pretexto de combate a inflação. O esquema é alimentado por economistas adestrados em Yale, Harvard e Chicago, fundamentalistas do mercado que de forma opaca criaram teorias econômicas que não se aplicam em lugar nenhum do mundo. O resultado dessas políticas é o desemprego e a desesperança. Todos os que defendem essas teorias nasceram ricos e não ficariam desempregados. Nomes como Eduardo Campos e Aécio Neves estarão sendo bancados em 2014 pelos defensores dos juros altos. O Partido dos Juros Altos - PJA, junto com o Partido da Imprensa Golpista - PIG estão militando dia e noite para tentar manter o povo brasileiro pagando juros altos e acabar com qualquer possibilidade de desenvolvimento econômico e social do Brasil
sexta-feira, abril 19, 2013
A estratégia do BC com a Selic
Autor: Luis Nassif
Coluna Econômica
Não é possível identificar nenhum ciclo de aperto monetário – como pretendem alguns analistas – na decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) de elevar a taxa Selic em 0,25 ponto.
Vamos aos pontos relevantes.
O primeiro, os sinais de possível arrefecimento do rimo inflacionário nos próximos meses.
O segundo, o fato de que o próprio mercado se deu conta dessa indefinição, sobre os rumos da inflação, e apostava na manutenção da taxa Selic na última reunião do Copom, adiando as expectativas de alta para a próxima reunião.
Ora, se o próprio mercado convalidava a manutenção da Selic, qual a razão para o Banco Central ter se antecipado e dado 0,25 ponto?
***
O único papel da Selic é na articulação das expectativas. Desde agosto de 2011 o BC vem trazendo batalhas sucessivas para se impor como o condutor das expectativas – em vez de ir a reboque, como ocorreu desde a implantação do sistema em 2001.
***
Nas últimas semanas, criou-se um conjunto de eventos único para a chamada “confraria da Selic” retomar a liderança da formação de expectativas.
Há dois elementos que se somam para criar terrorismo com inflação: o interesse financeiro, dos que ganham com oscilações de taxa; e o interesse político, dos que apostam na desestabilização como preparativo para 2014.
Esses dois vetores foram potencializados por um conjunto de fatores: o fato da inflação ter excedido o limite superior da meta; e o carnaval em torno da alta dos tomates, evento sem nenhum significado inflacionário maior, dado o pequeno peso do tomate nos índices de custo de vida.
Graças a isso criou-se uma atoarda infernal, colocando em dúvida a independência do BC, a suposta falta de prioridade do governo no combate à inflação, o suposto descontrole de preços etc., um terrorismo para ninguém botar defeito.
***
Há uma grande probabilidade dessa soma de fatores não se repetir nos próximos meses. Basta que seja confirmada a tendência de reversão da inflação, para o coro terrorista se desfazer.
Foi em cima desses dados que o BC provavelmente definiu sua estratégia.
Agora, concede 0,25, uma elevação inexpressiva mas, em todo caso, maior do que as expectativas de mercado, que apostava na manutenção da Selic.
Há um conjunto de fatores em andamento, permitindo apostar na queda da inflação: fim da pressão de preços, quadro internacional favorecendo a queda das commodities, a própria economia, andando em marcha lenta.
***
Na próxima reunião do Copom, há dois cenários possíveis.
No caso de cenário de queda de inflação, ou se mantém a taxa em 7,5% ao ano – o que é mais provável -, ou se reinicia a queda gradual de 0,25 ponto.
Caso se mantenham as pressões inflacionárias, ou se conserva a taxa em 7,5% ou se aumenta em mais 0,25 ponto.
***
De qualquer modo, essa elevação mínima dá tempo ao BC para analisar a dinâmica futura da inflação, não desmonta a estrutura de taxas de juros do sistema, nem desarma a competição por crédito.
Repito aqui: a inflação não impõe nenhum risco imediato à economia. O risco maior, de médio prazo, é o desequilíbrio nas contas externas brasileiras, com o atual nível de câmbio e de déficit comercial.
Sobre as relações comerciais da Venezuela
Do Blog do Nassif
Por Diogo Costa
Comentário ao post "O período de transição política na Venezuela"
Não há crise alguma na Venezuela. Há, isto sim, um país que cresceu 5,5% no ano passado, que está com um patamar de quase pleno emprego, com uma taxa de inflação de 20% (em 1998, antes de Chávez assumir, a inflação era de 30%), um país que tem mais de 50 BILHÕES de dólares em investimentos produtivos nas áreas de siderurgia, infras-estruturas diversas, habitação popular, ciência e tecnologia, etc, oriundos de Brasil e China. Se for para somar os investimentos de outros países, a cifra de investimentos é ainda mais espetacular.
A Venezuela, que em 1998 mantinha 70% de seu comércio exterior com os EUA, hoje tem relações comerciais com uma ampla gama de países. Os EUA foram o principal parceiro comercial da Venezuela durante mais de 100 anos. E continuam sendo o maior parceiro comercial. A diferença é que antes de Chávez a Venezuela era o "México" da América do Sul, mantendo 70% de suas trocas comerciais com os EUA, e hoje este índice caiu para 25%. Melhor do que isso é a posição brasileira, no que tange ao comércio, com a Venezuela. Nos últimos 10 anos, o Brasil e a Venezuela aumentaram em incríveis 585% o valor de suas trocas comerciais.
O Brasil saiu de uma posição insignificante para assumir em 10 anos a terceira posição de maior parceiro comercial da Venezuela. Hoje temos, respectivamente, EUA, China e Brasil como os maiores parceiros comerciais daquele país. Mantido o ritmo dos últimos 10 anos, teremos ao final do mandato do Presidente Maduro uma situação inimaginável até bem pouco tempo atrás. Qual seja, veremos os EUA perderem o posto de maior parceiro comercial da Venezuela, posto que mantiveram por mais de um século! A China tornar-se-á o maior parceiro comercial da Venezuela e o Brasil assumirá a segunda posição, logo a frente dos EUA.
Esta questão comercial, da diversificação e fim da histórica simbiose comercial EUA/Venezuela, é o pano de fundo da profunda ira dos EUA contra Hugo Chávez. A perda de espaço comercial dos EUA com a Venezuela é algo que Washington não perdoa e nunca perdoará e é por isso que tentam frenéticamente desestabilizar o país caribenho. Piorando ainda um pouco mais o cenário para os EUA, a entrada oficial da Venezuela no Mercosul (12 de agosto de 2012) representa uma derrota muito grande para os interesses estratégicos do país norte-americano na Venezuela e na região. A tendência é de aumento ainda maior e de consolidação das relações comerciais entre Brasil e Venezuela. Isto é uma ótima notícia para o Brasil, não poderia ser melhor.
O que soa incompreensível é a tacanhez analítica de uns e outros que odeiam o processo político atual da Venezuela... Será que não compreendem que ao fim e ao cabo a chegada de Chávez ao poder foi uma verdadeira benção para o Brasil? O que pretendem os críticos da Venezuela, pretendem que as relações comerciais deste país voltem ao patamar de 1998 (antes de Chávez)? Se é isso que pretendem, me desculpem, mas isso é uma visão triste e deplorável. Uma visão que defende única e exclusivamente o interesse comercial dos EUA, em detrimento do mais alto interesse comercial da República Federativa do Brasil.
Por fim, a única "crise" existente na Venezuela hoje parte de setores fascistas inconformados com a derrota. O país vai muito bem obrigado, ao contrário do que insiste em defender o senso comum teleguiado por informações viciadas oriundas de veículos afiliados à SIP (Sociedade Interamericana de PiGs)
Por Diogo Costa
Comentário ao post "O período de transição política na Venezuela"
Não há crise alguma na Venezuela. Há, isto sim, um país que cresceu 5,5% no ano passado, que está com um patamar de quase pleno emprego, com uma taxa de inflação de 20% (em 1998, antes de Chávez assumir, a inflação era de 30%), um país que tem mais de 50 BILHÕES de dólares em investimentos produtivos nas áreas de siderurgia, infras-estruturas diversas, habitação popular, ciência e tecnologia, etc, oriundos de Brasil e China. Se for para somar os investimentos de outros países, a cifra de investimentos é ainda mais espetacular.
A Venezuela, que em 1998 mantinha 70% de seu comércio exterior com os EUA, hoje tem relações comerciais com uma ampla gama de países. Os EUA foram o principal parceiro comercial da Venezuela durante mais de 100 anos. E continuam sendo o maior parceiro comercial. A diferença é que antes de Chávez a Venezuela era o "México" da América do Sul, mantendo 70% de suas trocas comerciais com os EUA, e hoje este índice caiu para 25%. Melhor do que isso é a posição brasileira, no que tange ao comércio, com a Venezuela. Nos últimos 10 anos, o Brasil e a Venezuela aumentaram em incríveis 585% o valor de suas trocas comerciais.
O Brasil saiu de uma posição insignificante para assumir em 10 anos a terceira posição de maior parceiro comercial da Venezuela. Hoje temos, respectivamente, EUA, China e Brasil como os maiores parceiros comerciais daquele país. Mantido o ritmo dos últimos 10 anos, teremos ao final do mandato do Presidente Maduro uma situação inimaginável até bem pouco tempo atrás. Qual seja, veremos os EUA perderem o posto de maior parceiro comercial da Venezuela, posto que mantiveram por mais de um século! A China tornar-se-á o maior parceiro comercial da Venezuela e o Brasil assumirá a segunda posição, logo a frente dos EUA.
Esta questão comercial, da diversificação e fim da histórica simbiose comercial EUA/Venezuela, é o pano de fundo da profunda ira dos EUA contra Hugo Chávez. A perda de espaço comercial dos EUA com a Venezuela é algo que Washington não perdoa e nunca perdoará e é por isso que tentam frenéticamente desestabilizar o país caribenho. Piorando ainda um pouco mais o cenário para os EUA, a entrada oficial da Venezuela no Mercosul (12 de agosto de 2012) representa uma derrota muito grande para os interesses estratégicos do país norte-americano na Venezuela e na região. A tendência é de aumento ainda maior e de consolidação das relações comerciais entre Brasil e Venezuela. Isto é uma ótima notícia para o Brasil, não poderia ser melhor.
O que soa incompreensível é a tacanhez analítica de uns e outros que odeiam o processo político atual da Venezuela... Será que não compreendem que ao fim e ao cabo a chegada de Chávez ao poder foi uma verdadeira benção para o Brasil? O que pretendem os críticos da Venezuela, pretendem que as relações comerciais deste país voltem ao patamar de 1998 (antes de Chávez)? Se é isso que pretendem, me desculpem, mas isso é uma visão triste e deplorável. Uma visão que defende única e exclusivamente o interesse comercial dos EUA, em detrimento do mais alto interesse comercial da República Federativa do Brasil.
Por fim, a única "crise" existente na Venezuela hoje parte de setores fascistas inconformados com a derrota. O país vai muito bem obrigado, ao contrário do que insiste em defender o senso comum teleguiado por informações viciadas oriundas de veículos afiliados à SIP (Sociedade Interamericana de PiGs)
quarta-feira, abril 17, 2013
descanse na vergonha
Do http://blogs.estadao.com.br/marcelo-rubens-paiva/descanse-na-vergonha/
Rest in peace? Não. Rest in shame.
Descanse envergonhada. Na vergonha!
É o que diz a faixa de um manifestante no funeral da controversa Margaret Thatcher.
Raramente se viu uma liderança de tamanha expressão receber protestos no seu velório.
Quantos ditadores ou líderes polêmicos tiveram protestos semelhantes? Os ingleses dão uma lição de democracia. Estão juntos quem a apoiava e quem a detestava. O povo está nas ruas.
A União sindical se recusou a participar. Sul-africanos se lembram de que ela chamou uma vez Mandela de terrorista. Os argentinos a odeiam e não mandaram representantes.
Muitos viraram as costas para o cortejo fúnebre da ex-premiê, que rola em Londres. Correspondentes do Estadão relatam que que alguns vaiaram a passagem do caixão pelo centro no caminho de Westminster até a Catedral de St Paul.
Um homem levantou um cartaz pedindo as vaias, e manifestantes gritaram “escória”.
Britânicos ficaram furiosos com o gasto estimado de 10 milhões de libras (15 milhões de dólares) para o funeral, que está sendo pago pelo contribuinte: caixão carregado nos ombros de oito militares, subiu na quarta-feira a escadaria da principal catedral de Londres para uma cerimônia fúnebre com a presença da rainha Elizabeth 2ª e estrangeiros.
Thatcher governou a Grã-Bretanha entre 1979 e 1990, morreu em 8 de abril, vítima de um derrame, aos 87 anos. Seu maior legado: a consolidação do neoliberalismo, o enfraquecimento dos movimentos sociais, do IRA, a vitória da Guerra das Malvinas, o desmantelamento da Cortina de Ferro e o fomento ao movimento pós-punk.
Metade das músicas que dancei em danceterias dos anos 1980 fora composta em protesto contra ela.
O caixão acaba de fazer o trajeto numa carruagem militar, coberto pela bandeira britânica. Um canhão fez disparos a cada minuto na Torre de Londres, e o sino do Big Ben se calou. Uma banda militar tocou Beethoven, Mendelssohn e Chopin. Evitou The Clash, The Cure, Joy Division, U2.
Thatcher ganhou 3 eleições. Foi controversa e popular. Fez medidas que muitos não ousariam. Tratou seus inimigos a ferro e fogo. Tirou direitos trabalhistas consolidados.
Foi a pá de cal de uma esquerda utópica, que buscava uma terceira via antileninista.
Foi o prego no peito de MAIO DE 68.
Não descansará.
+++
O THE GUARDIAN fez a comparação:
http://www.guardian.co.uk/news/datablog/2013/apr/16/margaret-thatcher-funeral-10-million
Com 10 milhões de Libras, o custo do funeral, pagariam:
Salário de um ano de 322 enfermeiras
Salário de um ano de 272 professores de escola secundária
Salário de um ano de 320 bombeiros
Salário de um ano de 269 paramédicos
Contas de gás de e eletricidade de 7 mil casas
Contas de água de um ano de 25 mil residências
Dava para construir 44 bibliotecas
Comprar 16 milhões de garrafas de leite; duas garrafas para cada londrino
Rest in peace? Não. Rest in shame.
Descanse envergonhada. Na vergonha!
É o que diz a faixa de um manifestante no funeral da controversa Margaret Thatcher.
Raramente se viu uma liderança de tamanha expressão receber protestos no seu velório.
Quantos ditadores ou líderes polêmicos tiveram protestos semelhantes? Os ingleses dão uma lição de democracia. Estão juntos quem a apoiava e quem a detestava. O povo está nas ruas.
A União sindical se recusou a participar. Sul-africanos se lembram de que ela chamou uma vez Mandela de terrorista. Os argentinos a odeiam e não mandaram representantes.
Muitos viraram as costas para o cortejo fúnebre da ex-premiê, que rola em Londres. Correspondentes do Estadão relatam que que alguns vaiaram a passagem do caixão pelo centro no caminho de Westminster até a Catedral de St Paul.
Um homem levantou um cartaz pedindo as vaias, e manifestantes gritaram “escória”.
Britânicos ficaram furiosos com o gasto estimado de 10 milhões de libras (15 milhões de dólares) para o funeral, que está sendo pago pelo contribuinte: caixão carregado nos ombros de oito militares, subiu na quarta-feira a escadaria da principal catedral de Londres para uma cerimônia fúnebre com a presença da rainha Elizabeth 2ª e estrangeiros.
Thatcher governou a Grã-Bretanha entre 1979 e 1990, morreu em 8 de abril, vítima de um derrame, aos 87 anos. Seu maior legado: a consolidação do neoliberalismo, o enfraquecimento dos movimentos sociais, do IRA, a vitória da Guerra das Malvinas, o desmantelamento da Cortina de Ferro e o fomento ao movimento pós-punk.
Metade das músicas que dancei em danceterias dos anos 1980 fora composta em protesto contra ela.
O caixão acaba de fazer o trajeto numa carruagem militar, coberto pela bandeira britânica. Um canhão fez disparos a cada minuto na Torre de Londres, e o sino do Big Ben se calou. Uma banda militar tocou Beethoven, Mendelssohn e Chopin. Evitou The Clash, The Cure, Joy Division, U2.
Thatcher ganhou 3 eleições. Foi controversa e popular. Fez medidas que muitos não ousariam. Tratou seus inimigos a ferro e fogo. Tirou direitos trabalhistas consolidados.
Foi a pá de cal de uma esquerda utópica, que buscava uma terceira via antileninista.
Foi o prego no peito de MAIO DE 68.
Não descansará.
+++
O THE GUARDIAN fez a comparação:
http://www.guardian.co.uk/news/datablog/2013/apr/16/margaret-thatcher-funeral-10-million
Com 10 milhões de Libras, o custo do funeral, pagariam:
Salário de um ano de 322 enfermeiras
Salário de um ano de 272 professores de escola secundária
Salário de um ano de 320 bombeiros
Salário de um ano de 269 paramédicos
Contas de gás de e eletricidade de 7 mil casas
Contas de água de um ano de 25 mil residências
Dava para construir 44 bibliotecas
Comprar 16 milhões de garrafas de leite; duas garrafas para cada londrino
Delfim Netto: Abstrações
Da Folha - Em cada mercado particular, no de tomate, por exemplo, os preços variam em função das características da demanda e da oferta.
Do lado da demanda, ela é condicionada por hábitos culturalmente determina- dos (as donas de casa têm dificuldade de substituí-los nas receitas que aprenderam com suas avós).
Dizemos, então, que ela é inelástica em relação aos preços. Em outras palavras: é preciso um exorbitante aumento dos preços para demovê-las de usar tomate.
Do lado da oferta, ela é fixa no curto prazo (depende da área plantada há 90 dias em resposta aos estímulos recebidos dos preços no momento do plantio).
Se há um problema climático ou uma doença na lavoura que reduzam dramaticamente a quantidade ofertada (que só pode ser aumentada em 90 dias), o equilíbrio entre a oferta e a procura no curto prazo exige um dramático aumento do preço. Isso não é inflação. É um ajuste de preço relativo, que cortará a demanda de tomate para ajustá-la ao nível da oferta.
Já o processo inflacioná- rio, por sua vez, revela um desequilíbrio simultâneo e persistente em todos os mercados, que é corrigido por um contínuo e generaliza- do aumento de todos os preços nominais.
Para medi-lo, constrói- se uma média de todos os preços ponderados de acor- do com a quantidade con- sumida de cada bem ou ser- viço num momento toma- do como base.
O resultado é um “preço” abstrato, o Índice Nacio- nal de Preços ao Consumi- dor Amplo, o IPCA. A taxa de inflação é medida pela magnitude da variação do Índice Nacional de Preços ao Con- sumidor Amplo entre dois momentos convenientemen- te escolhidos.
A existência de um preço “abstrato” –o IPCA– sugere que ele próprio possa ser considerado como o de “equilíbrio” entre abstratas “oferta” e “demanda” globais, mas que não serão independentes entre si como no caso do mercado de tomates.
Já ensinava o grande eco-nomista inglês Alfred Marshall, no século 19, que é tão impossível separar os efeitos da oferta e da procu- ra na formação do preço quanto é saber “qual das duas lâminas da tesoura corta a folha de papel”.
Talvez seja por isso que tanto podemos ter uma inflação de “demanda” quando o Produto Interno Bruto está acima do seu “potencial”, quanto uma inflação de “custo” quando o Produto Inter- no Bruto está abaixo dele, devido a importantes choques de oferta ou de aumentos do salário nominal acima da produtividade do trabalho.
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna
terça-feira, abril 16, 2013
“A democracia não é um pacto de silêncio”, afirma Lula em Belo Horizonte
Do Instituto Lula
No segundo seminário que comemora os 10 anos de governo democrático e popular, Lula destacou que o silêncio é a marca de ditaduras e não de democracias. Ele ressaltou a importância da sociedade manifestar seus interesses e anseios. “A democracia não é um pacto de silêncio”, afirmou.
O ex-presidente relembrou conquistas do governo, sobretudo na área de educação, que foi o tema do encontro e disse que “apenas começamos uma caminhada”, em referência aos novos desafios que agora se colocam. Seu discurso foi seguido pelo da presidenta Dilma que também argumentou que os avanços obtidos na última década geram novas demandas do povo. “Quem se beneficiou pelo Luz para Todos agora quer inclusão digital”, ressaltou, explicando que essa é a alavanca que move a sociedade.
O primeiro discurso da noite foi do ministro da educação, Aloizio Mercadante, que apresentou os resultados da política de educação nos últimos anos e apresentou os próximos desafios. Ele ressaltou que “a única forma de continuarmos aumentando emprego e salário é qualificando nossos trabalhadores”. Ele abordou os avanços nas mais diversas áreas da educação entre elas a qualificação de professores, o ensino técnico, a inclusão das pessoas com deficiência e o Prouni. Ele também falou da importância do Enem como porta de entrada democrática para o ensino superior: “Os pobres vão entrar na universidade e a porta é o Enem”.
O encontro aconteceu em Belo Horizonte e teve a participação do presidente do PT, Rui Falcão, do presidente da Fundação Perseu Abramo, Márcio Pochmann e de diversos partidos aliados, ministros e parlamentares.
Ouça abaixo o discurso completo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no seminário comemorativo dos 10 anos de governo democrático e popular em Belo Horizonte, na noite desta segunda-feira (15).
PT VAI COLHER ASSINATURAS POR REFORMA POLÍTICA
Campanha com a população irá priorizar três pontos: financiamento público de campanhas, voto em lista preordenada pelos partidos e aumento da participação feminina nas candidaturas; líder do partido na Câmara, deputado José Guimarães (CE) critica falta de votação da proposta em análise na Casa; "As pessoas falam aqui dentro, mas na hora do 'vamos ver' os votos não aparecem"
Silvia Mugnatto, Agência Câmara - Com a falta de acordo na Câmara para a votação da reforma política, o PT lançou uma campanha para coletar assinaturas a favor de um projeto de iniciativa popular que altere pelo menos três pontos do sistema atual: financiamento público de campanhas, voto em lista preordenada pelos partidos e aumento da participação feminina nas candidaturas.
"A reforma política é necessária, o financiamento público é o caminho para moralizarmos e diminuirmos a influência do poder econômico nas eleições", argumenta líder do PT na Câmara, deputado José Guimarães (CE).
Também será defendida a convocação de uma assembleia constituinte exclusiva para tratar da reforma. "O cara se elege no sistema atual, por que ele vai mudar se ele se deu bem neste sistema? Então talvez esse seja o caminho: fazer constituinte exclusiva", explica Guimarães.
A reforma política entrou em pauta na terça-feira 9, mas a falta de acordo impediu sua votação. "As pessoas falam aqui dentro, mas na hora do 'vamos ver' os votos não aparecem", critica o parlamentar. A coleta de assinaturas será feita nas ruas e ocorrerá até fevereiro de 2014.
Silvia Mugnatto, Agência Câmara - Com a falta de acordo na Câmara para a votação da reforma política, o PT lançou uma campanha para coletar assinaturas a favor de um projeto de iniciativa popular que altere pelo menos três pontos do sistema atual: financiamento público de campanhas, voto em lista preordenada pelos partidos e aumento da participação feminina nas candidaturas.
"A reforma política é necessária, o financiamento público é o caminho para moralizarmos e diminuirmos a influência do poder econômico nas eleições", argumenta líder do PT na Câmara, deputado José Guimarães (CE).
Também será defendida a convocação de uma assembleia constituinte exclusiva para tratar da reforma. "O cara se elege no sistema atual, por que ele vai mudar se ele se deu bem neste sistema? Então talvez esse seja o caminho: fazer constituinte exclusiva", explica Guimarães.
A reforma política entrou em pauta na terça-feira 9, mas a falta de acordo impediu sua votação. "As pessoas falam aqui dentro, mas na hora do 'vamos ver' os votos não aparecem", critica o parlamentar. A coleta de assinaturas será feita nas ruas e ocorrerá até fevereiro de 2014.
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