O regozijo explícito dos ingleses pela morte de Margaret Thatcher, as eleições venezuelanas e as bombas de Boston marcaram os últimos dias. São fatos aparentemente desconectados, mas que encontram suas raízes comuns no processo, ainda em marcha, de esboroamento das instituições políticas. Esse processo, que – nunca é demais lembrar – começou exatamente com a ascensão de Margaret Thatcher ao poder, em 1979, não se esgotou. Continua a desenvolver-se, embora com manifestações de resistência, aqui e ali, como ocorreu na Venezuela, com Chávez.
O desaparecimento do líder pode ter significado o indesejável fim de uma experiência que, com seus acertos e seus erros, significou uma esperança para os povos da América Latina e também da África. A vitória efetiva de Nicolas Maduro - não só por ter sido apertada, mas pelo fato de que escasseiam, no eleito, as grandes virtudes de liderança de Chávez - não assegura o desenvolvimento do grande projeto nacional, e, de certa forma, continental, assumido pelo povo venezuelano, ao entregar seu destino ao reabilitado sonho de Bolívar.
De qualquer forma, tampouco será fácil a plena retomada do poder, em Caracas, pelos interesses empresariais associados às multinacionais norte-americanas. Os venezuelanos pobres, que passaram a viver melhor no governo Chávez, não aceitarão, pacificamente, retornar à situação anterior.
A recontagem dos votos, segundo os observadores, não alterará o resultado, mas trará mais dificuldades ao governo e mais estímulo ao esforço desagregador da oposição chefiada por Capriles.
Como advertiram as vozes mais sensatas da Grã Bretanha, o tchatcherismo é ainda a ideologia que comanda o país e continua a fazer suas vítimas, lá e alhures. Na base das contra-reformas houve uma secreta reação do capitalismo liberal aos resultados da 2ª Guerra Mundial. As preocupações filosóficas de Hayek e Von Mises, expostas no livro de Hayek, “ The Road to Serfdom”, encontraram, no Clube de Bilderberg, seu comitê de ação. Há o encadeamento lógico entre os fatos. Na realidade, as duas guerras mundiais do século 20 podem ser vistas como episódios de uma Guerra Civil Mundial, Weltbürgerkrieg, como a definiu Carl Weizsäcker.
A vitória da razão humanística sobre o nazismo foi revertida, solertemente, pela reação dos homens mais ricos e mais influentes do mundo, que passaram a reunir-se a partir de 1954, sob a iniciativa de um príncipe corrupto, Bernard, da Holanda. A aliança entre Thatcher, Reagan e o papa João Paulo II, seguida da submissão abjeta de Gobartchev – tem provocado sofrimento a fome, a morte e desespero a centenas de milhões de seres humanos. É o novo liberalismo que assola a Europa e inúmeros paises dos outros continentes.
Um cartaz expressivo em seus termos fortes e chulos – The bitch is dead – revelou o ódio dos que perderam seus empregos, suas casas, seus benefícios sociais, dos parentes dos que morreram sem assistência médica, nos últimos trinta anos.
Os dirigentes políticos europeus, no entanto, permanecem fiéis à filosofia opressora de Thatcher que, teve a coragem de decretar que a sociedade não existe: só existem “indivíduos” e cabe a esses indivíduos resolver por si mesmos os seus problemas – seja de que forma for. Não é de se estranhar que a criminalidade tenha aumentado tanto: é a regra de nosso tempo. Os banqueiros individualistas roubam, os políticos individualistas se arranjam na extorsão, os comerciantes elevam seus preços, os policiais achacam – como nunca antes na história.
O regozijo dos ingleses pela morte de Margaret Thatcher, as eleições venezuelanas e as bombas de Boston marcaram os últimos dias. São fatos aparentemente desconectados, mas que encontram suas raízes comuns no processo em marcha de esboroamento das instituições políticas.
Mauro Santayana
Do Carta Maior
É o ultra-capitalismo triunfante. E como os donos do mundo não descansam, com a morte de Thatcher, eles colocam todo o seu cacife em Frau Merkel, que já assume a presunção de conduzir a Europa. Ângela Merkel acredita que o que Hitler não obteve com as divisões blindadas, ela conseguirá com o marco e os grandes bancos que, com Mario Draghi, comandam o BCE: a hegemonia continental.
No caso das bombas de Boston começam a surgir dúvidas sobre a rapidez da identificação e da localização dos suspeitos, não obstante um deles ter passado as horas seguintes sem mudar seus hábitos. De um deles nada mais a apurar, posto que o mataram.
Do outro, o jovem Dzhokhar Tsaernev, que não foi advertido de seu direito de ficar em silêncio, não se espera muito, ainda que venha a recuperar-se de seus ferimentos. Acaba de sair da adolescência, e é difícil que estivesse, há anos, sob vigilância do FBI, como se noticia.
Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte
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