A inflação oficial de março, divulgada nesta 4ª feira, pode sinalizar a tão ansiada alta dos juros, reclamada há meses pelo rentismo, como se fora um 'regulador Xavier' dos males do país.
Não é.
A eventual oscilação da Selic, na reunião do Copom, na próxima semana, em mais 0,25% (a taxa básica de juro é de 7,25%) está longe de ser a panaceia cantada pela ortodoxia. Nem é a catástrofe, nem vai salvar a lavoura.
Na verdade, ela não altera as grandes determinações do quadro econômico e político atual.
O aumento do juro, num cenário em que a inflação incomoda, apenas confirma o quanto ainda se ressente o país de uma carpintaria de forças e planejamento democrático que imprimam, de fato, maior coerência ao processo de desenvolvimento.
A alta dos juros, por um lado, ‘reafirma ao mercado' a disposição do governo de coibir a espiral dos preços. Ao mesmo tempo, calcifica desafios com os quais o país se debate para destravar o investimento nacional ( hoje abaixo de 20% do PIB).
O caso da indústria é ilustrativo.
O uso da capacidade instalada no setor recuou para 82,6% em fevereiro.Estava em 84,5%, em janeiro.
Portanto, sobra fôlego produtivo, mesmo com o juro em baixa.
Como, então, a reversão dessa tendência ajudaria na desejável retomada do investimento fabril?
Como impedir que ela reacenda a revoada de capitais especulativos que valorizam o câmbio, aceleram importações e definham a competitividade da manufatura brasileira no comércio mundial?
Falta um amálgama nessa equação.
As transformações requeridas no processo de desenvolvimento de qualquer sociedade ensejam conflitos e fricções que a mediação exclusiva do mercado só faz exacerbar.
Nenhuma nação conseguiu estabelecer um ciclo longo de crescimento sem a contrapartida de uma hegemonia política que o sustente.
Um passo importante é ter um sistema de comunicação pluralista, que eleve o discernimento da sociedade sobre os seus desafios e as suas escolhas.
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