Do Viomundo
Dia de fama para Blum no Washington Post, em 2006
por Heloisa Villela, de Nova York, especial para o Viomundo
Olho no dinheiro. Em síntese, esse é o conselho de quem conhece de perto décadas de truques e artimanhas usados pela CIA e por outras organizações do governo estadunidense para virar o jogo político alheio.
William Blum, mais conhecido como Bill, é norte-americano e anti-imperialista convicto, graças à guerra do Vietnã.
Foi quando ele se tornou funcionário do Departamento de Estado, durante a guerra, que teve um choque de consciência. O que já era uma convicção se tornou conhecimento ainda mais profundo quando acompanhou, no Chile, o golpe de estado orquestrado pela CIA contra o governo de Salvador Allende, em 1973.
Por enquanto, não há qualquer indício de ação externa nas manifestações brasileiras, embora — estranhamente — brasileiros tenham tomado a iniciativa de denunciar o Brasil, em vídeo, no Exterior.
Porém, momentos de instabilidade política — como os enfrentados agora pelos governos da Turquia e do Brasil — prenunciam mudanças e atores externos muitos vezes se aproveitam da conjuntura para enfiar sua colher. Por isso, fomos ouvir Blum.
Escritor, historiador e crítico contumaz da política externa dos Estados Unidos, Bill Blum não usa meias palavras para descrever a atuação da superpotência.
No livro Killing Hope: U.S. Military and CIA Intervention since World War II, ele faz um relato detalhado da intervenção estadunidense em vários países. Blum dedica um capítulo a cada nação, começando com a China. Depois de percorrer todos os continentes, ele termina, no capítulo 55, com o Haiti. Passa, claro, pelo golpe militar no Brasil e pelos similares na vizinhança.
Blum se encaixa na longa lista de “dissidentes” do império, que inclui do ex-agente da CIA Philip Agee ao soldado Bradley Manning e, mais recentemente, o ex-funcionário terceirizado da CIA Edward Snowden, que vazou dados sobre os programas de espionagem em massa do governo de Barack Obama.
Por conta de ter denunciado o poder, Blum vive uma espécie de “exílio branco”: seus livros nunca são resenhados e suas ideias nunca são reproduzidas na mídia local. A não ser em circunstâncias extraordinárias: em 2006, num audio tape, Osama bin Laden citou um dos livros de Blum, Rogue State, e o autor foi parar na capa do Washington Post.
No trecho do livro mencionado por Osama, Blum descreve o que faria para acabar com os ataques terroristas se fosse eleito presidente dos Estados Unidos:
“Primeiro eu pediria desculpas — publica e sinceramente — a todas as viúvas e órfãos, os empobrecidos e torturados e todas as milhões de vítimas do imperialismo norte-americano. Depois eu anunciaria que todas as intervenções globais dos Estados Unidos — inclusive os terríveis bombardeios — teriam fim. E informaria Israel que o país deixaria de ser tratado como um estado da União, mas — estranhamente — como um país estrangeiro. Depois eu reduziria o orçamento militar em pelo menos 90% e usaria o dinheiro para pagar reparações às vítimas e reconstruir os danos das invasões e bombardeios norte-americanos. O dinheiro seria suficiente. Sabe qual é o orçamento militar de um ano dos Estados Unidos? É mais que 20 mil dólares por hora para cada hora desde que Jesus Cristo nasceu. Isso é o que faria em meus primeiros três dias na Casa Branca. No quarto dia, eu seria assassinado”.
Aos 70 anos de idade, Blum continua muito ativo. Agora, toca o site www.williamblum.org.
Na entrevista, ele disse que não sabe se organizações norte-americanas (National Endowment for Democracy, Freedom House e semelhantes) tiveram algum contato com manifestantes no Brasil. Mas acha importante que os brasileiros fiquem atentos. Ao se depararem com um grupo, um site, uma organização nova, tentem descobrir quem está financiando o grupo.
Só assim, seguindo a trilha do dinheiro, é possível descobrir quem está por trás de certas palavras de ordem e campanhas.
No caso das organizações dos Estados Unidos, o objetivo segundo Blum é sempre o mesmo, há décadas. Garantir, no poder, representantes fiéis aos interesses econômicos de Washington. A ideologia pouco importa. Contanto que o mercado, e as mercadorias, continuem circulando na direção certa. “Os Estados Unidos não estão nada preocupados com liberdade e democracia e sim com a dominação do mundo. Esta é a política externa dos Estados Unidos”.
William Blum é autor de vários livros sobre a política externa dos Estados Unidos e suas consequências. Antenado nas movimentações e protestos em diferentes países do mundo, ele nos deu a seguinte entrevista:
Viomundo – Sobre os protestos no Brasil e na Turquia, o senhor vê alguma dessas organizações – National Endowment for Democracy (NED), United States Agency for International Development (USAID) ou Freedom House – tentando participar, direcionar o movimento político?
BB – Não sei quão ativas essas organizações são no Brasil. Mas parto do princípio de que são porque todas elas são a mesma coisa. Todas seguem o exemplo da National Endowment for Democracy, que foi criado claramente para ser uma fachada da CIA. E esse é o papel que vem desempenhando nos últimos 25 anos, mais ou menos. Estão no mundo inteiro. E têm vários braços, como o National Democratic Institute e o International Republic Institute, que são todos parte do NED, criado nos anos 80 para fazer, abertamente, o que a CIA estava fazendo secretamente. O NED é simplesmente uma organização de fachada para a CIA. Mas não sei quão ativos eles são hoje no Brasil. Não estou acompanhando de perto.
Viomundo – Então, me permita reformular a pergunta. Se o senhor fosse brasileiro, sabendo tudo que sabe a respeito da maneira como o império opera, em que sinais estaria de olho, agora, enquanto estão acontecendo todos esses protestos no país?
BB – Eu procuraria saber quem está pagando as contas. Quem está financiando isso ou aquilo. Que Organizações Não Governamentais estão ativas. Pode ser que surjam nomes conhecidos, ou alguns mais obscuros. Mas é preciso pesquisar para descobrir quem está financiando essas organizações mais obscuras. Pode ser que você encontre a ligação com o NED.
Viomundo – Como o senhor com certeza sabe, existe essa nova “coalizão” entre o Departamento de Estado e as grandes empresas da internet, como o Google, para desenvolver ativismo digital no mundo. Todos participando com o mesmo objetivo que, dizem, é promover a democracia.
BB – Eu escrevi sobre o homem do Google, que era do Departamento de Estado. No Google ele se encarrega, entre aspas, de promover a democracia aqui e ali. Mas para essas organizações e o NED, o que eles chamam de democracia é simplesmente capitalismo. Eles trabalham contra qualquer movimento socialista que veem, por definição, como antidemocrático. E promovem o mercado livre, que na definição deles é democracia. Então, você tem que prestar atenção no que eles dizem porque frequentemente usam os mesmos termos quando defendem a democracia.
Viomundo – Que semelhanças o senhor vê entre o que está acontecendo no Brasil e na Turquia? Com toda essa insatisfação dos jovens, que não estão vendo perspectiva? O senhor vê uma insatisfação com a vida que estamos levando hoje? Um esgotamento do modelo neoliberal?
BB – Olha, não sei qual é o grau de sofisticação dos manifestantes, desses jovens. Acho que muitos talvez tenham dificuldades de explicar contra o que são e a favor do que, apesar de terem uma boa reação intuitiva. Eles sabem que a sociedade os frustrou porque não conseguem encontrar um emprego, não lhes deu uma educação adequada pela qual possam pagar, não lhes deu um padrão de vida adequado. Eles sabem disso tudo, mas não necessariamente sabem exatamente qual é a conexão com o neoconservadorismo ou o liberalismo. Mas o instinto está lá e deveria acontecer o mesmo aqui nos Estados Unidos. Mas os jovens aqui, em sua maioria, ainda não acordaram. Com exceção do movimento Occupy que foi bom enquanto durou. Mas não chegou ao ponto de fazer demandas específicas.
Viomundo – E o movimento Occupy não conseguiu mobilizar um número grande de pessoas…
BB – O movimento Occupy foi esmagado pela polícia. Eles esmagaram um local ocupado após o outro. Prenderam mais de mil pessoas. Bateram em centenas de pessoas. Muitas tiveram sérios problemas de saúde por conta disso. Então, não é tão ruim como parece. Os jovens aqui não são tão apolíticos como se pensa. Eles têm que se recuperar do esmagamento do movimento. A polícia tomou até as bibliotecas deles e jogou os livros fora. Isso é um comportamento fascista. O governo americano hoje, na minha opinião, é um estado policial. Então, não é tão ruim como se pensa. Não sei o que vai ser preciso para que o movimento Occupy acorde novamente. Mas estou esperando por isso.
[Gostou do conteúdo? Ajude Heloisa Villela a fazer o documentário sobre a CIA e o golpe de 64]
Viomundo – O senhor acha que é por conta desse estado policial que é ainda mais difícil, aqui, brigar por mudanças?
BB – A polícia no Egito ou na Turquia não foi exatamente boazinha e gentil. A polícia, no mundo todo, é bem ruim. Mas os jovens da Turquia, do Brasil e do Egito têm sido bem mais corajosos, continuam voltando. Foram espancados, seus acampamentos esmagados, e continuam voltando. Aqui, depois que foram esmagados, no fim de 2011, ainda não voltaram. Mas estou esperando que algo aconteça.
Viomundo – E as revoluções coloridas na Georgia, na Ucrânia e na Bielorrússia, quando a participação das organizações norte-americanas foi muito bem documentada? Elas investiram uma boa quantidade de dinheiro para unir a oposição ou garantir a vitória deste ou daquele candidato. Qual foi o resultado?
BB – Se a democracia era o grande objetivo dessas revoluções coloridas, não temos muito do que falar. A Georgia é um dos muito exemplos e não é exatamente uma sociedade muito livre. E o homem que era o líder da revolução, [Mikheil] Saakashvili, não é muito bem quisto agora. Mas eles todos aprenderam, uns com os outros. As organizações norte-americanas que se envolveram, como NED e Open Society [do especulador George Soros], levaram pessoas da Iugoslávia para ensinar os manifestantes da Georgia, por exemplo, para dividir com eles a experiência a respeito de como derrubaram o governo [de Slobodan] Milosevic [na Sérvia, em 2000]. Você pode chamar a isso de conspiração internacional, o uso de um país para derrubar o sistema de outro. E isso tudo foi coordenado pela organização que mencionei, o NED, e pelo Departamento de Estado.
Viomundo – No fim, qual foi o resultado? O que os Estados Unidos ganharam?
BB – O propósito é sempre instalar governos que serão ativos confiáveis para Washington. O objetivo, certamente, não é democracia e liberdade. O objetivo é garantir que os que estão no poder sejam bons clientes de Washington. É nisso que você tem que prestar atenção em todos esses lugares. Não examine quem está mais ou menos feliz. Olhe apenas quão subserviente aos Estados Unidos ou à OTAN é o novo governo.
Mais e mais, esses governos estão entrando na OTAN. Nesse sentido, tem sido um sucesso do ponto de vista de Washington. Os Estados Unidos cercaram a Rússia de membros da OTAN. E eles ainda não terminaram. Ainda querem colocar a Georgia e a Ucrânia na OTAN. É um processo em andamento para cercar a Rússia de amigos da OTAN. E é um dos motivos pelos quais a Rússia não entrega o Edward Snowden a Washington [Snowden é o ex-funcionário terceirizado da CIA que denunciou o programa secreto dos Estados Unidos de coleta de dados telefônicos e da internet, no mundo]. Eles têm muito motivo para estarem com raiva de Washington. Parece até que a Guerra Fria não terminou.
Viomundo – Considerando a sua história, em particular, quando deixou o Departamento de Estado, o senhor revelou os nomes e endereços de 200 funcionários da CIA, em 1969. O que teria acontecido com o senhor em 69, se as coisas estivessem como estão hoje, haja visto o que está acontecendo com Bradley Manning, Julian Assange, Edward Snowden…
BB – Não tinha pensado nisso. Consegui não ser punido. A mesma coisa hoje me deixaria com problemas graves. Não sei nem se faria a mesma coisa hoje. Talvez tivesse medo. Não sei. Mas se fizesse, sofreria sérias acusações na justiça.
Viomundo – Como foi que essa mudança aconteceu no país? Ela foi gradual?
BB – A transformação dos Estados Unidos em um estado policial foi gradual, mas se acelerou com o Obama. Ele se tornou um grande adversário de várias liberdades civis. O governo dele processou mais gente responsável por vazamento de informações do que todas as administrações anteriores somadas. E ainda não parou. Agora, um general [reformado, James Cartwright] está sendo processado porque vazou informações sobre o que os Estados Unidos fizeram com o programa nuclear do Irã. Eles puseram vários vírus no sistema de computador do programa. O general pode ter sido a fonte que revelou o programa há alguns anos e agora está sendo atacado. Obama parece obcecado em barrar todo tipo de vazamento de informação.
Viomundo – O senhor acha que isso é responsabilidade do presidente Obama? Não teria acontecido no governo de outro presidente? Isso não é um processo que ocorre nos Estados Unidos, não importa quem seja o presidente ou o presidente tem condições de barrar esse processo?
BB – Ele pode barrar. Ele tem o poder. Ele tem o poder de soltar todos os presos de Guantánamo. Tem o poder de suspender todos os ataques com drones e todas as guerras. Ele não usou esse poder. Ele vai entrar para a história como o responsável por todas essas coisas. Não pode fugir dessa responsabilidade.
Viomundo – Uma vez que você tem todas essas organizações (NED, Freedom House e outras) operando no mundo, elas ganham vida própria? Ou tudo isso é bem controlado pela Casa Branca?
BB – Você não pode absolver a Casa Branca de responsabilidade porque se essas organizações não estivessem fazendo o que devem fazer, não receberiam mais dinheiro [o NED é financiado pelo Congresso dos Estados Unidos com dinheiro público]. O fato de continuarem recebendo dinheiro mostra que o trabalho delas está sendo aprovado pela administração. Então, não se pode separar o governo dessas organizações. É a trilha do dinheiro. Sempre.
PS do Viomundo: No site de William Blum é possível ler alguns capítulos dos livros dele que foram traduzidos para vários idiomas, inclusive o espanhol. Mas não ainda para o português
O objetivo deste blog é discutir um projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil. Esse projeto não brotará naturalmente das forças de mercado e sim de um engajamento político que direcionará os recursos do país na criação de uma nação soberana, desenvolvida e com justiça social.
domingo, junho 30, 2013
Castells: "Dilma é a primeira líder mundial a ouvir ruas"
O cientista político Manuel Castells é uma unanimidade. Desde seus estudos sobre o fim da ex-URSS até os mais recentes, sobre o fenômeno das redes sociais, tornou-se dos mais influentes cientistas sociais do mundo. Foi o convidado especial de Fernando Henrique Cardoso para o evento que inaugurou o Instituto FHC.
IstoÉ
Manuel Castells
"Dilma é a primeira líder mundial a ouvir as ruas"
Maior especialista contemporâneo em movimentos sociais nascidos na internet, o sociólogo espanhol diz que a condução da crise no Brasil mostra que há esperanças de se reconectar instituições e cidadãos
por Daniela Mendes
PROTESTOS NA AMÉRICA LATINA
“Há um movimento estudantil forte no Chile, embriões
surgindo na Colômbia, no México e no Uruguai”, diz Castells
O sociólogo espanhol Manuel Castells, 68 anos, estava no Brasil participando de uma série de conferências quando os protestos pela redução das tarifas de ônibus começaram, ainda tímidos, em São Paulo. Um dos maiores especialistas da atualidade em movimentos sociais na era da internet, nem ele podia imaginar que o País todo seria tomado por uma onda de passeatas que se transformaria na mais importante manifestação política da sociedade brasileira em 20 anos. “Se querem mudanças, não bastam somente as críticas na internet. É preciso tornar-se visível, desafiar a ordem estabelecida e forçar um diálogo”, afirma o sociólogo. Castells analisou outros movimentos semelhantes, como a Primavera Árabe, o Occupy, nos Estados Unidos, os Indignados, na Espanha, e agora também acompanha a defesa da Praça Taksim, na Turquia. Com extenso e respeitado trabalho sobre o papel das novas tecnologias de informação e comunicação, o sociólogo diz que a grande força desses movimentos é a ausência de líderes e enxerga um esgotamento do modelo atual de representatividade. Autor de 23 livros, ele lança em breve “Redes de Indignação e Esperança – Movimentos Sociais na Era da Internet” (Zahar Editora). Castells foi professor da Universiade de Berkeley, na Califórnia, por 24 anos. Atualmente, vive em Barcelona, na Espanha, de onde falou à ISTOÉ por e-mail, e é professor da Universidade Aberta da Catalunha e da Universidade do Sul da Califórnia, em Los Angeles, nos Estados Unidos.
“As críticas de José Serra (às iniciativas de Dilma) são típicas da
incompreensão dos políticos sobre o direito das pessoas de decidir”
“A grande força desses movimentos é que eles
são espontâneos, livres, uma celebração da liberdade.
O Occupy deixou novos valores para os americanos”
ISTOÉ - O sr. estava no Brasil quando ocorreram os primeiros protestos em São Paulo. Podia imaginar que eles tomariam essa proporção?
MANUEL CASTELLS - Ninguém podia. Mas o que eu imaginava, e pesquisei durante vários anos, é que a crise de legitimidade política e a capacidade de se comunicar através da internet e de dispositivos móveis levam à possibilidade de que surjam movimentos sociais espontâneos a qualquer momento e em qualquer lugar. Porque razões para indignação existem em todos os lugares.
ISTOÉ - O Brasil reduziu muito a desigualdade social nos últimos anos e tem pleno emprego. Como explicar tamanho descontentamento?
MANUEL CASTELLS - A juventude em São Paulo foi explícita: “Não é só sobre centavos, é sobre os nossos direitos.” É um grito de “basta!” contra a corrupção, arrogância, e às vezes a brutalidade dos políticos e sua polícia.
ISTOÉ - Faz sentido continuar nas ruas se os problemas da saúde e da educação não podem ser resolvidos rapidamente, como o das passagens de ônibus?
MANUEL CASTELLS - Em primeiro lugar, o movimento quer transporte gratuito, pois afirma que o direito à mobilidade é um direito universal. Os problemas de transporte que tornam a vida nas cidades uma desgraça são consequência da especulação imobiliária, que constrói o município irracionalmente, e de planejamento local ruim, por causa da subserviência dos prefeitos e suas equipes aos interesses do mercado imobiliário, não dos cidadãos. Além disso, por causa da mobilização, a presidenta Dilma Rousseff também está propondo novos investimentos em saúde e educação. Como leva muito tempo para obter resultados, é hora de começar rapidamente.
ISTOÉ - A presidenta Dilma agiu corretamente ao falar na tevê à nação, convocar reuniões com governadores, prefeitos e manifestantes para propor um pacto?
MANUEL CASTELLS - Com certeza, ela é a primeira líder mundial que presta atenção, que ouve as demandas de pessoas nas ruas. Ela mostrou que é uma verdadeira democrata, mas ela está sendo esfaqueada pelas costas por políticos tradicionais. As declarações de José Serra (o ex-governador tucano criticou as iniciativas anunciadas pela presidenta) são típicas de falta de prestação de contas dos políticos e da incompreensão deles sobre o direito das pessoas de decidir. Os cargos políticos não são de propriedade de políticos. Eles são pagos pelos cidadãos que os elegem. E os cidadãos vão se lembrar de quem disse o quê nesta crise quando a eleição chegar.
ISTOÉ - Como comparar o movimento brasileiro com os que ocorreram no resto do mundo?
MANUEL CASTELLS - Houve milhões de pessoas protestando dessa forma durante semanas e meses em países de todo o mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de mil cidades foram ocupadas entre setembro de 2011 e março de 2012. A diferença no Brasil é que uma presidenta democrática como Dilma Rousseff e um punhado de políticos verdadeiramente democráticos, como Marina Silva, estão aceitando o direito dos cidadãos de se expressar fora dos canais burocráticos controlados. Esse é o verdadeiro significado do movimento brasileiro: ele mostra que ainda há esperança de se reconectar instituições e cidadãos, se houver boa vontade de ambos os lados.
ISTOÉ - O que é determinante para o sucesso desses movimentos convocados pela internet?
MANUEL CASTELLS - Que as demandas ressoem para um grande número de pessoas, que não haja políticos envolvidos e que não haja líderes manipulando. Pessoas que se sentem fortes apoiam umas às outras como redes de indivíduos, não como massas que seguem qualquer bandeira. Cada um é seu próprio movimento. A brutalidade policial também ajuda a espalhar o movimento através de imagens na internet difundidas por telefones celulares.
ISTOÉ - Por que tantos protestos acabam em saques e depredações? Como evitar que marginais se aproveitem do movimento?
MANUEL CASTELLS - Há violência e vandalismo na sociedade. É impossível preveni-los, embora os movimentos em toda parte tentem controlá-los porque eles sabem que a violência é a força mais destrutiva de um movimento social. Às vezes, em alguns países, provocadores apoiados pela polícia criam a violência para deslegitimar o movimento.
ISTOÉ - Como a polícia deve agir?
MANUEL CASTELLS - Intervir de forma seletiva, com cuidado, profissionalmente, apenas contra os provocadores e os grupos violentos. Nunca, nunca disparar armas letais, e se conter para não bater indiscriminadamente em manifestantes pacíficos. A polícia é uma das razões pelas quais as pessoas protestam.
ISTOÉ - A ausência de líderes enfraquece o movimento?
MANUEL CASTELLS - Pelo contrário, este é o vigor do movimento. Todo mundo é o seu próprio líder.
ISTOÉ - Mas isso não inviabiliza a negociação com a elite política?
MANUEL CASTELLS - Não, a prova disso é que a presidenta Dilma Rousseff se reuniu com alguns representantes do movimento.
ISTOÉ - Qual é a grande força e a grande fraqueza desses movimentos?
MANUEL CASTELLS - A grande força é que eles são espontâneos, livres, festivos, é uma celebração da liberdade. A fraqueza não é deles, a fraqueza são a estupidez e a arrogância da classe política que é insensível às demandas autônomas de cidadãos.
ISTOÉ - No Brasil, partidos políticos foram banidos das manifestações e há quem enxergue nisso o perigo de um golpe. Faz sentido essa preocupação?
MANUEL CASTELLS - Não há perigo de um golpe de Estado. Os corruptos e antidemocráticos já estão no poder: eles são a classe política.
ISTOÉ - Como resolver a crise de representatividade da classe política?
MANUEL CASTELLS - Com reforma política, com uma Assembleia Constituinte e um referendo. A presidenta Dilma Rousseff está absolutamente certa, mas, nesse sentido, ela será destruída por sua própria base.
ISTOÉ - Essas manifestações articuladas através das redes sociais demandam uma nova forma de participação dos cidadãos nos processos de decisão do Estado? Qual?
MANUEL CASTELLS - Sim, esta é a nova forma de participação política emergente em toda parte. Analisei este mundo em meu livro mais recente.
ISTOÉ - O que há em comum entre os movimentos sociais contemporâneos?
MANUEL CASTELLS - Redes na internet, presença no espaço urbano, ausência de liderança, autonomia, ausência de temor, além de abrangência de toda a sociedade e não apenas um grupo. Em grande parte os movimentos são liderados pela juventude e estão à procura de uma nova democracia.
ISTOÉ - O movimento Occupy, nos EUA, foi derrotado pela chegada do inverno. Que legado deixou?
MANUEL CASTELLS - Deixou novos valores, uma nova consciência para a maioria dos americanos.
ISTOÉ - Os Indignados espanhóis conseguiram alguma vitória?
MANUEL CASTELLS - Muitas vitórias, especialmente em matéria de direito de hipoteca e despejos de habitação e uma nova compreensão completa da democracia na maioria da população.
ISTOÉ - Que paralelos o sr. vê entre o movimento turco e o brasileiro?
MANUEL CASTELLS - São muito similares. São igualmente poderosos, mas a Turquia tem um primeiro-ministro fundamentalista islâmico semifascista e o Brasil, uma presidenta verdadeiramente democrática. Isso faz toda a diferença.
ISTOÉ - Acredita que essa onda de protestos se espalhará para outros países da América Latina?
MANUEL CASTELLS - Há um movimento estudantil forte no Chile, e embriões surgindo na Colômbia, no México e no Uruguai.
ISTOÉ - Países que controlam a internet, como a China, estão livres dessas manifestações?
MANUEL CASTELLS - Não, isso é um erro da imprensa ocidental. Há muitas manifestações na China, também organizadas na internet, como a da cidade de Guangzhou (no sul do país), em janeiro passado, pela liberdade de imprensa (o editorial de um jornal foi censurado e isso motivou as primeiras manifestações pela liberdade de expressão na China em décadas. Pelo menos 12 pessoas foram detidas, acusadas de subversão).
ISTOÉ - Como o sr. vê o futuro?
MANUEL CASTELLS - Eu não gosto de falar sobre o futuro, mas acredito que ele será mais brilhante agora porque as sociedades estão despertando através desses movimentos sociais em rede.
ALGUNS COMENTÁRIOS POSTADOS POR LEITORES DA MATÉRIA
NILCCEMAR
Mas há um elemento fundamental ausente na análise de Castells: onde está o poder da midia na mobilização de toda essa subjetividade que vimos ? A internet articulou as aproximações, mas e a base consensual sobre os pleitos ? Por que a súbita avaliação da histórica precariedade na Saúde e Educação ? Por que no momento da Copa do Mundo, e a comparação de gastos, concomitante à insuficiência de informações comparativas sobre estes ? Não coincide com os "clamores da midia" enfática ? Ele crê que os manifestantes tenham condições de autonomia de opinião, desinformados como somos diariamente ? Cadê as informações, os debates e os consensos necessários para os pleitos ?
MARIAZINHA
Ele só erra num porém: não é um movimento apartidário, das ruas. É um movimento forjado no inferno da oposição/pig/alienígenas, nas igrejas dos crentes, com marina. Talvez esse seja o desajuste entre meus comentários e muitos, por aqui. Não vejo esse movimento nas ruas como do povo, em geral; este, estava querendo vibrar com a Copa de LULA, comemorar junto. Creio, firmemente, ser um movimento orquestrado por forças do mal. Não é como ele diz mas um movimento da oposição que foi forjado na calada da noite para pegar D. DILMA desprevenida. É um golpe dos mais bem engendrados pois conseguiu enganar gente boa que apoia D. DILMA e passou a apoiar esse golpe, como se fosse do povo e não é. O risinho irônico da castanheira, folha, não me deixa mentir. Ela diz: " A reeleição DILMA foi pro beleléu..."
Plebiscito pode economizar bilhões
Paulo Moreira Leite
Desde janeiro de 2013, é diretor da ISTOÉ em Brasília. Dirigiu a Época e foi redator chefe da VEJA, correspondente em Paris e em Washington. É autor dos livros A Mulher que era o General da Casa e O Outro Lado do Mensalão
Em minha humilde ignorância, confesso que não entendo quem diz que o plebiscito sobre reforma política pode custar caro demais. Meio bilhão, disse alguém.
Até ministros do STF tocaram neste assunto.
Data Venia, eu acho estranho.
Falar em meio bilhão ou até mais é falar de uma pechincha.
Nós sabemos que o Brasil tem um dos sistemas eleitorais mais caros do mundo. Isso porque é um sistema privado, em que empresas particulares disputam o direito de alugar os poderes públicos para defender seus interesses em troca de apoio para seus votos. As estimativas de gastos totais – é disso que estamos falando -- com campanhas eleitorais superam, com facilidade, meio bilhão de reais. São gastos que ocorrem de quatro em quatro anos, aos quais deve-se acrescentar uma soma imponderável, o caixa 2. Sem ser malévolo demais, não custa recordar que cada centavo investido em campanha é recuperado, com juros, ao longo do governo. Quem paga, mais uma vez, é o contribuinte.
O debate não é apenas este, porém.
Um plebiscito pode dar um impulso decisivo para o país construir um sistema de financiamento público, em que os recursos do Estado são empregados para sustentar a democracia – e não negócios privados.
Explico. Nos dias de hoje, o limite dos gastos eleitorais é dado pelo volume dos interesses em jogo. Falando de um país com um PIB na casa do trilhão e uma coleção de interesses que giram em torno do Estado na mesma proporção, você pode imaginar o que está em jogo a cada eleição.
Bancos contribuem com muito. Empreiteiras e grandes corporações, também. Como a economia não é feita por anjos nem a política encenada por querubins, o saldo é uma dança milionária na campanha. Troca-se o dinheiro da campanha pelo favor do governo. Experimente telefonar para o gabinete de um simples deputado e pedir para ser atendido. Não passará do cidadão que atender o telefone e anotar o recado, certo?
Mas dê um milhão de reais para a campanha deste deputado e conte no relógio os segundos que irá esperar para ouvir sua voz ao telefone. Não é humano. É político.
Não venha me falar que isso acontece porque o brasileiro está precisando tomar lições de moral na escola e falta colocar corruptos na cadeia em regime de prisão perpétua.
O sistema eleitoral norte-americano é privado, os poderes públicos são alugados por empresas de lobistas e muito daquilo que hoje se faz por baixo do pano, no Brasil, pode-se fazer às claras nos EUA.
A essência não muda, porém. Empresas privadas conseguiram impedir uma reforma do sistema de saúde que pudesse atender à maioria da população a partir de uma intervenção maior do Estado, como acontece na Europa. Por causa disso, os norte-americanos pagam por uma saúde mais cara e muito menos eficiente em comparação com países de desenvolvimento semelhante.
A força do dinheiro privado nos meios políticos explica até determinadas aventuras militares, estimulando investimentos desnecessários e nocivos ao país e mesmo para a humanidade.
Só para lembrar: na Guerra do Iraque, que fez pelo menos 200.000 mortos, George W. Bush beneficiava, entre outros, interesses dos lobistas privados do petróleo, negocio dos amigos de sua família, e de empresas militares, atividade do vice Dick Cheney.
Essa é a questão. A reforma política poderá consumar a necessária separação entre dinheiro e política, ao criar um sistema de contribuição pública exclusiva para campanhas eleitorais, ponto decisivo para uma política feita a partir de ideias, visões de mundo, valores e propostas – em vez de interesses encobertos e fortunas de bastidor.
Pense na agenda do país para os próximos anos. Os interesses privados, mais do que nunca, estarão cruzados no debate público. Avançando sobre parcelas cada vez maiores da classe média e dos trabalhadores, os planos privados de saúde só podem sobreviver com subsídios cada vez maiores do Estado. O mesmo se pode dizer de escolas privadas.
Não se trata, é obvio, de uma batalha fácil. Não faltam lobistas privados para chamar o financiamento público de gigantismo populista e adjetivos do gênero. Eles não querem, na verdade, perder a chance de votar muitas vezes. No dia em que vão à urna, como eu e você. No resto do mandato dos eleitos, quando pedem a recompensa por seus favores.
Com este dinheiro, eles garantem um privilégio. Impedem a construção de um país onde cada eleitor vale um voto.
Os 513 congressistas que irão debater a reforma política são filhos do esquema atual. Todos têm seus compromissos com o passado e muitos se beneficiam das receitas privadas de campanha para construir um patrimônio pessoal invejável. As célebres “sobras de campanha” estão na origem de muitas fortunas de tantos partidos, não é mesmo?
O plebiscito é um caminho para se mudar isso. Permitirá um debate esclarecedor a esse respeito. Caso o financiamento público seja aprovado, colocará a opinião da população na mão dos deputados que vão esclarecer a reforma.
TV ARGENTINA DESMASCARA TV GLOBO Arnaldo Jabor, enfim, ganha o Oscar: o Oscar da hipocrisia !
Do Conversa Afiada
A Rede Globo é exemplo da desmoralização dos meios de comunicação no Brasil, que o Bernardão defendeu na Veja.
E os argentinos ainda não sabiam que a Rede Globo não paga Imposto de Renda.
E usa a mesma tecnologia da Privataria (que assolou os argentinos, nos tempos do FHC da Argentina, o Menem, hoje ameaçado de ir em cana.
O Menem brasileiro vira imortal… Viva o Brasil !)
Em tempo: a Dilma tem dois ministros da Comunicação e se trumbica …
Paulo Henrique Amorim
http://www.nogueirajr.blogspot.com.br/2013/06/video-argentinos-fazem-piada-com-midia.html
A Rede Globo é exemplo da desmoralização dos meios de comunicação no Brasil, que o Bernardão defendeu na Veja.
E os argentinos ainda não sabiam que a Rede Globo não paga Imposto de Renda.
E usa a mesma tecnologia da Privataria (que assolou os argentinos, nos tempos do FHC da Argentina, o Menem, hoje ameaçado de ir em cana.
O Menem brasileiro vira imortal… Viva o Brasil !)
Em tempo: a Dilma tem dois ministros da Comunicação e se trumbica …
Paulo Henrique Amorim
http://www.nogueirajr.blogspot.com.br/2013/06/video-argentinos-fazem-piada-com-midia.html
Com as medidas anunciadas, governo Dilma reúne todas as condições de retomar apoio
Do Blog do Zé Dirceu
Pesquisa Datafolha publicada pela Folha de S.Paulo como manchetes principais da capa, da política e do caderno Cotidiano (noticiário local/geral) do jornal hoje, prova que a imensa maioria do povo brasileiro - 81% - e dos petistas e simpatizantes do partido - 79% - apoia as manifestações que se realizam no país há três semanas. O levantamento mostra, também, que 65% dos brasileiros se opõem ao passe livre (ou tarifa zero de transporte público) se for preciso parar obras.
A pesquisa, uma das mais amplas já feitas pelo Datafolha - entrevistou 4.717 pessoas em 196 cidades do país entre ontem e anteontem - traz que 43% dos brasileiros julgam como regular a gestão da presidenta Dilma Rousseff (eram 33% antes dos protestos); 25% como ruim e péssima (eram 9% antes); e 30% classificam o governo como ótimo e bom, índice que era de 57% antes das manifestações.
A nota média do governo caiu para 5,8. A maior obtida nesses 2,5 anos de gestão Dilma foi 7,5 em abril de 2012. Mas, há dois ano era menor, também, 6,8%. A avaliação é uma lição e tanto para todos nós petistas e para o governo. Deve ter como consequência uma profunda revisão e reavaliação de nossas políticas e práticas.
Reavaliação deve ser feita sem medo e sem tabus
O que não deve nos desviar do apoio a presidenta da República, a seu governo, e principalmente às medidas propostas ao país que, de acordo com a pesquisa, contam com amplo apoio do povo. Nada menos que 68% apoiam o plebiscito e 73% a Assembleia Nacional Constituinte para a reforma política, um dado revelador de que talvez tenhamos recuado demasiadamente rápido da proposta.
O recado enviado na pesquisa é claro: temos apoio para governar. Temos que assumi-lo, então, com consciência de que há uma queda nas expectativas com relação à economia, à inflação, ao desemprego e à própria avaliação da gestão da presidenta.
Para governar a presidenta tem o apoio dos petistas e com certeza terá da sociedade e do povo. Apoiada nos 30% de brasileiros que consideram sua administração ótima e boa e nos 43% que a classificam como regular, ela reúne condições para reformar seu governo e reavaliar sua gestão. Para retomar, portanto, os índices de aprovação que manteve até agora.
O recado claro da pesquisa: temos apoio para governar
Índices que só tende a ser reforçados com a excelente decisão de destinar 100% dos royalties do petróleo para o social. Foram 75% para a educação e a Câmara dos Deputados em boa hora destinou à saúde os outros 25%, o que representa mais médicos, mais recursos e melhora na gestão desta área.
Com as várias outras medidas que anunciou, tais como o pacto da estabilidade com controle da inflação e o pacto entre o governo federal, Estados e municípios destinando mais recursos para a mobilidade urbana, para melhorar os transportes públicos, estou seguro de que retomaremos o apoio do povo brasileiro. Como o retomou o presidente Lula em 2005/2006.
Governo precisa mudar a relação política
Mas, está evidente que é preciso mudar e muito a relação política do governo com a sociedade, o Congresso Nacional, os partidos, os governadores e prefeitos, as entidades empresariais, sindicais e populares. Além de mudar sua comunicação e a gestão e execução dos principais programas e obras do governo.
Precisa, inevitavelmente, reavaliar prioridades e manter o rumo da política econômica para crescer sem inflação e distribuindo renda. Precisa ouvir as críticas, demandas e reivindicações da cidadania. Precisa ouvir as ruas e ir para as ruas defender e debater com o povo o plebiscito e a reforma política. E mobilizar nossa base social e política para defender nosso governo e obra nesses quase 11 anos do PT no poder federal.
Pesquisa Datafolha publicada pela Folha de S.Paulo como manchetes principais da capa, da política e do caderno Cotidiano (noticiário local/geral) do jornal hoje, prova que a imensa maioria do povo brasileiro - 81% - e dos petistas e simpatizantes do partido - 79% - apoia as manifestações que se realizam no país há três semanas. O levantamento mostra, também, que 65% dos brasileiros se opõem ao passe livre (ou tarifa zero de transporte público) se for preciso parar obras.
A pesquisa, uma das mais amplas já feitas pelo Datafolha - entrevistou 4.717 pessoas em 196 cidades do país entre ontem e anteontem - traz que 43% dos brasileiros julgam como regular a gestão da presidenta Dilma Rousseff (eram 33% antes dos protestos); 25% como ruim e péssima (eram 9% antes); e 30% classificam o governo como ótimo e bom, índice que era de 57% antes das manifestações.
A nota média do governo caiu para 5,8. A maior obtida nesses 2,5 anos de gestão Dilma foi 7,5 em abril de 2012. Mas, há dois ano era menor, também, 6,8%. A avaliação é uma lição e tanto para todos nós petistas e para o governo. Deve ter como consequência uma profunda revisão e reavaliação de nossas políticas e práticas.
Reavaliação deve ser feita sem medo e sem tabus
O que não deve nos desviar do apoio a presidenta da República, a seu governo, e principalmente às medidas propostas ao país que, de acordo com a pesquisa, contam com amplo apoio do povo. Nada menos que 68% apoiam o plebiscito e 73% a Assembleia Nacional Constituinte para a reforma política, um dado revelador de que talvez tenhamos recuado demasiadamente rápido da proposta.
O recado enviado na pesquisa é claro: temos apoio para governar. Temos que assumi-lo, então, com consciência de que há uma queda nas expectativas com relação à economia, à inflação, ao desemprego e à própria avaliação da gestão da presidenta.
Para governar a presidenta tem o apoio dos petistas e com certeza terá da sociedade e do povo. Apoiada nos 30% de brasileiros que consideram sua administração ótima e boa e nos 43% que a classificam como regular, ela reúne condições para reformar seu governo e reavaliar sua gestão. Para retomar, portanto, os índices de aprovação que manteve até agora.
O recado claro da pesquisa: temos apoio para governar
Índices que só tende a ser reforçados com a excelente decisão de destinar 100% dos royalties do petróleo para o social. Foram 75% para a educação e a Câmara dos Deputados em boa hora destinou à saúde os outros 25%, o que representa mais médicos, mais recursos e melhora na gestão desta área.
Com as várias outras medidas que anunciou, tais como o pacto da estabilidade com controle da inflação e o pacto entre o governo federal, Estados e municípios destinando mais recursos para a mobilidade urbana, para melhorar os transportes públicos, estou seguro de que retomaremos o apoio do povo brasileiro. Como o retomou o presidente Lula em 2005/2006.
Governo precisa mudar a relação política
Mas, está evidente que é preciso mudar e muito a relação política do governo com a sociedade, o Congresso Nacional, os partidos, os governadores e prefeitos, as entidades empresariais, sindicais e populares. Além de mudar sua comunicação e a gestão e execução dos principais programas e obras do governo.
Precisa, inevitavelmente, reavaliar prioridades e manter o rumo da política econômica para crescer sem inflação e distribuindo renda. Precisa ouvir as críticas, demandas e reivindicações da cidadania. Precisa ouvir as ruas e ir para as ruas defender e debater com o povo o plebiscito e a reforma política. E mobilizar nossa base social e política para defender nosso governo e obra nesses quase 11 anos do PT no poder federal.
sábado, junho 29, 2013
Brasil atinge menor nível de desigualdade social desde 1960
Brasil está mais igual e pobreza cai quase 8% só em 2011. Apesar do enfrentamento de crises financeiras mundiais, índice decresce três vezes mais rápido do que a meta do milênio da ONU, informa estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas)
O Brasil atingiu em 2012 o menor nível de desigualdade desde 1960, apesar da crise na Europa. De acordo com a pesquisa “De volta ao País do Futuro” do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS/FGV), o índice de Gini – que varia de 0 a 1, sendo menos desigual mais próximo de zero -, caiu 2,1% de janeiro de 2011 a janeiro de 2012, chegando a 0,5190.
A projeção da FGV é que a desigualdade continue se reduzindo ano País, levando o índice a 0,51407 em 2014. “A má notícia é que ainda somos muito desiguais. Mas a queda é espetacular e deve continuar”, afirmou Marcelo Neri, coordenador da pesquisa.
A FGV mostra que a renda familiar per capita média do brasileiro cresceu 2,7% nos 12 meses encerrados em janeiro. É o mesmo crescimento registrado de 2002 a 2008, período considerado uma era de ouro mundial, e superior ao 0% de 2009, em função da crise financeira daquele ano.
A pobreza no País também caiu entre janeiro do ano passado e janeiro deste ano: -7,9%, ritmo três vezes mais rápido do que da meta do milênio da ONU. Isso depois de uma redução de 11,7% na pobreza de maio de 2010 a maio de 2011, quando o Brasil crescia mais.
Segundo Neri, a redução da desigualdade foi fundamental para este resultado na pobreza. Ele cita que na última década a renda dos 50% mais pobres do Brasil cresceu 68%, enquanto a dos 10% mais ricos cresceu apenas 10%.
Outra conclusão da pesquisa é que a população nas classes AB será 29% maior em dois anos, enquanto a da classe C crescerá 11 9%. “Agora falaremos da nova classe AB, como falamos da nova classe média”, disse Marcelo Neri, coordenador do estudo.
A projeção do CPS/FGV é que 60,1% da população brasileira estará na classe C em 2014, ante 55% em 2011. De 2003 a 2011, mais 40 milhões de pessoas chegaram à nova classe média e a expectativa é que serão mais 12 milhões até 2014, somando cerca de 118 milhões de pessoas. A metodologia da FGV, que leva em conta a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE, classifica como classe C aqueles com renda familiar de R$ 1.734 a R$ 7.475. O dado foi atualizado a preços de julho de 2011.
A classe AB chegará a 29,1 milhões, contra 13,3 milhões de brasileiros em 2003.
Já a população da classe DE – com renda de zero a R$ 1.734 – seguirá se reduzindo, em consequência da queda da desigualdade e ascensão para outros segmentos econômicos. A FGV calcula que ela sairá dos atuais 63,6 milhões de brasileiros para 48,9 milhões em 2014. No ano de 2003, a base da pirâmide social brasileira tinha 96,2 milhões de pessoas.
“A crise não afetou esse movimento que teve Lula como pai e FHC como avô, pela estabilização. E a educação foi o fator mais importante (para essa migração)”, disse Neri. Para o pesquisador o governo Lula teve sorte por ter enfrentado períodos de crise mundial quando a economia estava superaquecida. As crises, avalia, frearam a economia e a inflação antes do Banco Central agir.
Apesar da redução da desigualdade e da pobreza, Neri é taxativo ao afirmar que ela não será erradicada em 2014, como promete o governo federal. “A pobreza não termina, apesar da meta nobre”, disse Neri.
Fonte: Agência Estado
O Brasil atingiu em 2012 o menor nível de desigualdade desde 1960, apesar da crise na Europa. De acordo com a pesquisa “De volta ao País do Futuro” do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS/FGV), o índice de Gini – que varia de 0 a 1, sendo menos desigual mais próximo de zero -, caiu 2,1% de janeiro de 2011 a janeiro de 2012, chegando a 0,5190.
A projeção da FGV é que a desigualdade continue se reduzindo ano País, levando o índice a 0,51407 em 2014. “A má notícia é que ainda somos muito desiguais. Mas a queda é espetacular e deve continuar”, afirmou Marcelo Neri, coordenador da pesquisa.
A FGV mostra que a renda familiar per capita média do brasileiro cresceu 2,7% nos 12 meses encerrados em janeiro. É o mesmo crescimento registrado de 2002 a 2008, período considerado uma era de ouro mundial, e superior ao 0% de 2009, em função da crise financeira daquele ano.
A pobreza no País também caiu entre janeiro do ano passado e janeiro deste ano: -7,9%, ritmo três vezes mais rápido do que da meta do milênio da ONU. Isso depois de uma redução de 11,7% na pobreza de maio de 2010 a maio de 2011, quando o Brasil crescia mais.
Segundo Neri, a redução da desigualdade foi fundamental para este resultado na pobreza. Ele cita que na última década a renda dos 50% mais pobres do Brasil cresceu 68%, enquanto a dos 10% mais ricos cresceu apenas 10%.
Outra conclusão da pesquisa é que a população nas classes AB será 29% maior em dois anos, enquanto a da classe C crescerá 11 9%. “Agora falaremos da nova classe AB, como falamos da nova classe média”, disse Marcelo Neri, coordenador do estudo.
A projeção do CPS/FGV é que 60,1% da população brasileira estará na classe C em 2014, ante 55% em 2011. De 2003 a 2011, mais 40 milhões de pessoas chegaram à nova classe média e a expectativa é que serão mais 12 milhões até 2014, somando cerca de 118 milhões de pessoas. A metodologia da FGV, que leva em conta a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE, classifica como classe C aqueles com renda familiar de R$ 1.734 a R$ 7.475. O dado foi atualizado a preços de julho de 2011.
A classe AB chegará a 29,1 milhões, contra 13,3 milhões de brasileiros em 2003.
Já a população da classe DE – com renda de zero a R$ 1.734 – seguirá se reduzindo, em consequência da queda da desigualdade e ascensão para outros segmentos econômicos. A FGV calcula que ela sairá dos atuais 63,6 milhões de brasileiros para 48,9 milhões em 2014. No ano de 2003, a base da pirâmide social brasileira tinha 96,2 milhões de pessoas.
“A crise não afetou esse movimento que teve Lula como pai e FHC como avô, pela estabilização. E a educação foi o fator mais importante (para essa migração)”, disse Neri. Para o pesquisador o governo Lula teve sorte por ter enfrentado períodos de crise mundial quando a economia estava superaquecida. As crises, avalia, frearam a economia e a inflação antes do Banco Central agir.
Apesar da redução da desigualdade e da pobreza, Neri é taxativo ao afirmar que ela não será erradicada em 2014, como promete o governo federal. “A pobreza não termina, apesar da meta nobre”, disse Neri.
Fonte: Agência Estado
segunda-feira, junho 24, 2013
Matéria de 2009 - Lula propõe ao Congresso que corrupção se torne crime hediondo
Já está no Congresso Nacional proposta de lei enviada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva para pegar corruptos e corruptores. Agora é com a Câmara Federal e o Senado.
Essa matéria foi publicada em 09/12/2009
Laryssa Borges
Direto de Brasília
Em meio às comemorações pelo Dia Internacional contra a Corrupção, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou nesta quarta-feira mensagem que encaminha ao Congresso Nacional projeto de lei que transforma em crime hediondo atos de corrupção praticados por altas autoridades públicas.
O projeto de lei assinado pelo presidente Lula propõe alterações no Código Penal. Essas mudanças aumentariam as penas mínimas de dois para quatro anos de prisão para pessoas envolvidas em corrupção. O período inicial de reclusão no caso de corruptores e corruptos com cargos públicos seria fixado em oito anos.
A proposta de lei, que precisará de aval de deputados e senadores, poderia, se estivesse em vigor, agir diretamente contra o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), e contra deputados da Câmara Legislativa do DF, suspeitos de participar de um esquema de mensalão na capital federal.
Ao transformar a prática de corrupção ativa e passiva e suas correlatas (concussão e peculato) em crime hediondo, o projeto prevê que o ilícito passe a ser inafiançável e passível de prisão temporária.
O projeto de lei encaminhado ao Congresso abrange os seguintes cargos do Executivo, Legislativo e Judiciário: presidente da República, vereadores, deputados, senadores, juízes, promotores, prefeitos, secretários de Estado, governadores, ministros de Estado e secretários especiais, comandantes das Forças Armadas, membros e conselheiros do Tribunal de Contas da União, dirigentes máximos (diretoria) de fundações, autarquias, estatais e sociedades de economia mista, como o Banco do Brasil, além dos vices de cada cargo público.
"O governo brasileiro não se encontra mais na acomodação da tolerância, nem na mera lamentação dos males causados pela corrupção", disse o ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage.
Terra
Essa matéria foi publicada em 09/12/2009
Laryssa Borges
Direto de Brasília
Em meio às comemorações pelo Dia Internacional contra a Corrupção, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou nesta quarta-feira mensagem que encaminha ao Congresso Nacional projeto de lei que transforma em crime hediondo atos de corrupção praticados por altas autoridades públicas.
O projeto de lei assinado pelo presidente Lula propõe alterações no Código Penal. Essas mudanças aumentariam as penas mínimas de dois para quatro anos de prisão para pessoas envolvidas em corrupção. O período inicial de reclusão no caso de corruptores e corruptos com cargos públicos seria fixado em oito anos.
A proposta de lei, que precisará de aval de deputados e senadores, poderia, se estivesse em vigor, agir diretamente contra o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), e contra deputados da Câmara Legislativa do DF, suspeitos de participar de um esquema de mensalão na capital federal.
Ao transformar a prática de corrupção ativa e passiva e suas correlatas (concussão e peculato) em crime hediondo, o projeto prevê que o ilícito passe a ser inafiançável e passível de prisão temporária.
O projeto de lei encaminhado ao Congresso abrange os seguintes cargos do Executivo, Legislativo e Judiciário: presidente da República, vereadores, deputados, senadores, juízes, promotores, prefeitos, secretários de Estado, governadores, ministros de Estado e secretários especiais, comandantes das Forças Armadas, membros e conselheiros do Tribunal de Contas da União, dirigentes máximos (diretoria) de fundações, autarquias, estatais e sociedades de economia mista, como o Banco do Brasil, além dos vices de cada cargo público.
"O governo brasileiro não se encontra mais na acomodação da tolerância, nem na mera lamentação dos males causados pela corrupção", disse o ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage.
Terra
Jandira Feghali: Taxar 997 milionários levantaria R$ 10 bi para a saúde pública
por Luiz Carlos Azenha
A Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados deve apreciar nesta quarta-feira, 7 de dezembro, o parecer da relatora Jandira Feghali (PCdoB-RJ) sobre o Projeto de Lei Complementar 48/11, de autoria do deputado Dr. Aluizio (PV-RJ), que trata da Contribuição Social das Grandes Fortunas.
Um imposto sobre as fortunas está previsto no inciso VII do artigo 153 da Constituição de 1988, nunca regulamentado.
A relatora pretende transformar o imposto em contribuição, permitindo assim que o dinheiro arrecadado seja vinculado a um tipo específico de gasto: o financiamento da saúde pública.
O imposto incidiria sobre 38.095 contribuintes, aqueles que têm patrimônio superior a 4 milhões de reais. As alíquotas teriam variação de 0,40% a 2,1%.
A relatora Jandira Feghali disse que, ao analisar os dados obtidos junto ao Fisco, constatou o tremendo grau de concentração de riqueza no Brasil: pelos cálculos da deputada, a contribuição arrecadaria 10 bilhões de reais taxando apenas os brasileiros com patrimônio superior a 100 milhões de reais, ou seja, 997 pessoas.
Considerando os dados de 2009, a contribuição levantaria 14 bilhões de reais.
“Vamos servir a 200 milhões de brasileiros com uma contribuição de fato em quem concentra patrimônio no Brasil”, diz Jandira.
Ela argumenta que taxar fortunas não é nenhuma novidade. O imposto existe na França para quem tem patrimônio superior a 600 mil euros, segundo ela.
Jandira também lembrou do milionário estadunidense que pediu para ser taxado. Ela se refere ao investidor Warren Buffett. De fato, nos Estados Unidos, existe até mesmo um grupo, chamado Patriotic Millionaires, que lidera uma campanha pela taxação de no mínimo 39,6% para quem tem renda superior a 1 milhão de dólares anuais. Uma pesquisa do Spectrum Group, publicada pelo Wall Street Journal, descobriu que 68% dos milionários entrevistados defendem aumento de imposto para os mais ricos.
A CSGF brasileira não trata de renda, mas de patrimônio acumulado.
Se você tem um Fusca paga 4% do valor em IPVA, mas a posse de um avião particular, de um helicóptero ou iate não é taxada, argumenta a deputada comunista.
Jandira diz que, pelos cálculos do ministro da Saúde Alexandre Padilha, a pasta precisa de um reforço de orçamento de 45 bilhões de reais por ano para dar conta das necessidades do setor. A contribuição dos milionários cobriria uma parte razoável disso.
Fiz duas provocações à deputada: 1) Os milionários brasileiros têm um poder político considerável e, como disse Garrincha sobre a tática infalível do técnico Vicente Feola para derrotar os russos, só falta combinar com o adversário; 2) O argumento clássico dos conservadores é de que, ao taxar os mais ricos, eles perdem o incentivo para produzir as riquezas que, eventualmente, se espalham por toda a sociedade (a famosa economia do trickle-down, do ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan, segundo a qual as migalhas que caem lá de cima acabam nos alimentando).
A Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados deve apreciar nesta quarta-feira, 7 de dezembro, o parecer da relatora Jandira Feghali (PCdoB-RJ) sobre o Projeto de Lei Complementar 48/11, de autoria do deputado Dr. Aluizio (PV-RJ), que trata da Contribuição Social das Grandes Fortunas.
Um imposto sobre as fortunas está previsto no inciso VII do artigo 153 da Constituição de 1988, nunca regulamentado.
A relatora pretende transformar o imposto em contribuição, permitindo assim que o dinheiro arrecadado seja vinculado a um tipo específico de gasto: o financiamento da saúde pública.
O imposto incidiria sobre 38.095 contribuintes, aqueles que têm patrimônio superior a 4 milhões de reais. As alíquotas teriam variação de 0,40% a 2,1%.
A relatora Jandira Feghali disse que, ao analisar os dados obtidos junto ao Fisco, constatou o tremendo grau de concentração de riqueza no Brasil: pelos cálculos da deputada, a contribuição arrecadaria 10 bilhões de reais taxando apenas os brasileiros com patrimônio superior a 100 milhões de reais, ou seja, 997 pessoas.
Considerando os dados de 2009, a contribuição levantaria 14 bilhões de reais.
“Vamos servir a 200 milhões de brasileiros com uma contribuição de fato em quem concentra patrimônio no Brasil”, diz Jandira.
Ela argumenta que taxar fortunas não é nenhuma novidade. O imposto existe na França para quem tem patrimônio superior a 600 mil euros, segundo ela.
Jandira também lembrou do milionário estadunidense que pediu para ser taxado. Ela se refere ao investidor Warren Buffett. De fato, nos Estados Unidos, existe até mesmo um grupo, chamado Patriotic Millionaires, que lidera uma campanha pela taxação de no mínimo 39,6% para quem tem renda superior a 1 milhão de dólares anuais. Uma pesquisa do Spectrum Group, publicada pelo Wall Street Journal, descobriu que 68% dos milionários entrevistados defendem aumento de imposto para os mais ricos.
A CSGF brasileira não trata de renda, mas de patrimônio acumulado.
Se você tem um Fusca paga 4% do valor em IPVA, mas a posse de um avião particular, de um helicóptero ou iate não é taxada, argumenta a deputada comunista.
Jandira diz que, pelos cálculos do ministro da Saúde Alexandre Padilha, a pasta precisa de um reforço de orçamento de 45 bilhões de reais por ano para dar conta das necessidades do setor. A contribuição dos milionários cobriria uma parte razoável disso.
Fiz duas provocações à deputada: 1) Os milionários brasileiros têm um poder político considerável e, como disse Garrincha sobre a tática infalível do técnico Vicente Feola para derrotar os russos, só falta combinar com o adversário; 2) O argumento clássico dos conservadores é de que, ao taxar os mais ricos, eles perdem o incentivo para produzir as riquezas que, eventualmente, se espalham por toda a sociedade (a famosa economia do trickle-down, do ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan, segundo a qual as migalhas que caem lá de cima acabam nos alimentando).
Sonegação de imposto em São Paulo chega a R$ 132 bilhões por ano
SÃO PAULO - O estado de São Paulo deixa de arrecadar R$ 132 bilhões por ano devido à sonegação. O valor equivale a 24,5% do total arrecadado, considerando os impostos das três esferas: federal, estadual e municipal.
Os dados fazem parte de um levantamento divulgado pelo Sinprofaz (Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional) nesta segunda-feira (24).
Sobre os dados de sonegação do estado paulista, o presidente do Sinprofaz e procurador da Fazenda Nacional, Allan Titonelli Nunes, afirma que se não houvesse sonegação fiscal em São Paulo, os contribuintes atuais poderiam ser desonerados em quase 25% da carga atual sem que a arrecadação fosse prejudicada.
Sonegômetro
Para chamar a atenção da população para os altos índices de sonegação fiscal no País, o Sinprofaz desenvolveu o "Sonegômetro", ferramenta que mensura a sonegação fiscal em tempo real, disponível no site (www.sonegometro.com).
Nesta segunda (24) e terça-feira (25), um placar móvel do sonegômetro circulará pelas principais vias da capital paulista mostrando em tempo real o quanto o estado deixa de arrecadar todos os dias.
Os dados fazem parte de um levantamento divulgado pelo Sinprofaz (Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional) nesta segunda-feira (24).
Sobre os dados de sonegação do estado paulista, o presidente do Sinprofaz e procurador da Fazenda Nacional, Allan Titonelli Nunes, afirma que se não houvesse sonegação fiscal em São Paulo, os contribuintes atuais poderiam ser desonerados em quase 25% da carga atual sem que a arrecadação fosse prejudicada.
Sonegômetro
Para chamar a atenção da população para os altos índices de sonegação fiscal no País, o Sinprofaz desenvolveu o "Sonegômetro", ferramenta que mensura a sonegação fiscal em tempo real, disponível no site (www.sonegometro.com).
Nesta segunda (24) e terça-feira (25), um placar móvel do sonegômetro circulará pelas principais vias da capital paulista mostrando em tempo real o quanto o estado deixa de arrecadar todos os dias.
sábado, junho 22, 2013
Dilma consegue decifrar o enigma
Autor: Luis Nassif
O discurso da presidente Dilma Rousseff captou perfeitamente o momento histórico, através dos principais fatores que emergiram das manifestações:
A vontade de participar da moçada e da população e o anacronismo do aparato institucional.
A separação nítida entre os anseios legítimos e os aproveitadores.
O fato de, a partir de agora, o cidadão passar a ser o centro das políticas públicas, e não mais os poderes econômicos.
A necessidade de um pacto entre União, estados e municípios para melhoria da mobilidade urbana e dos serviços públicos.
É um início promissor. Se não tivesse decifrado o enigma, teria sido devorada pela esfinge.
Agora, há que se pensar no pós-manifestações.
Dilma anunciou a intenção de alargar os canais de participação popular. E anunciou o plano de mobilidade.
Há que se conferir status nobre ao Ministério das Cidades e colocar, lá, alguém antenado com os novos tempos.
Mas o caminho da mudança é mais amplo.
Cada vez mais, aumentará a intolerância da opinião pública para com os homens públicos omissos, os que jogam unicamente para a plateia, os que não trazem, dentro de si, a chama das mudanças e da iniciativa pública.
Na hora de analisar seu Ministério, a presidente terá que pensar com seriedade esse ponto. Há uma característica pessoal admirável na cidadã e militante Dilma Rousseff: a solidariedade para com os comandados. Mas, quando o objetivo maior são os resultados nas políticas públicas, essa qualidade vira defeito
Na Coluna Econômica de amanhã (que envio na 6a para os jornais e foi escrita ates do discurso da presidente) tento avançar algumas sugestões.
O ponto mais importante: as redes sociais são, definitivamente, o novo território de discussões políticas, de políticas públicas e do exercício da cidadania. É o ágora grego.
Portanto, a interlocução do governo com os jovens militantes e com a população em geral não pode se restringir a uma audiência presencial. Tem que se colocar o governo inteiro no rumo das redes sociais, definindo modelos de atuação para o novo mundo, organizando as informações públicas, ampliando a Lei da Transparência, definindo uma metodologia mais de acordo com a linguagem das redes para disseminar dados públicos e recolher impressões e opiniões.
O lugar da presidenta
Paulo Moreira Leite
Desde janeiro de 2013, é diretor da ISTOÉ em Brasília. Dirigiu a Época e foi redator chefe da VEJA, correspondente em Paris e em Washington. É autor dos livros A Mulher que era o General da Casa e O Outro Lado do Mensalão.
O lugar da presidenta
Observadores variados descobriram uma melodia única para avaliar o pronunciamento de Dilma Rousseff, ontem, quando a presidente falou sobre os protestos e a baderna.
Eles cobram novidades – sem dizer quais – e reclamam medidas espetaculares – sem dizer o que teriam em mente.
Esse pessoal não entendeu nada. O pronunciamento de Dilma, um pouco demorado demais, talvez, esteve a altura do momento em que o país se encontra depois que milhões de pessoas foram às ruas. Sua virtude é não trazer novidades nem anunciar medidas espetaculares. O país, em 2013, não precisa disso, vamos combinar. O grande espetáculo se encontra nas ruas.
Num ambiente de semi-insurreição, onde reivindicações justas e urgentes se misturam a proclamações autoritárias e atos contínuos de violência arruaceira, cabe a presidente da República mostrar que assume suas responsabilidades, lembrando que o país possui uma Constituição, que ela tem a obrigação de defender pelos meios de que dispõe.
São valores teoricamente velhos, tão antigos como o regime republicano, de 1889.
Na conjuntura atual, são afirmações atuais e indispensáveis. Não precisamos de lances marketing. Precisamos afirmar valores consistentes e fundamentais, como democracia, progresso social, Constituição.
A atitude de Dilma ajuda a recordar que os brasileiros usufruem do mais amplo regime de liberdades publicas de sua história e que essa conquista deve ser preservada. Lembra que seus poderes presidenciais emanam do povo. Foi um pronunciamento presidencial, de quem fala para o país inteiro – e não para os aliados do governo nem, exclusivamente, para os brasileiros que foram às ruas.
São referências importantes após quinze dias de baderna urbana – carros incendiados, vidros quadros, roubos, ataques a edifícios públicos – e baderna ideológica, com perseguição e porrada em militantes de partidos políticos, faixas que pediam golpe militar e atitudes fascistas.
A presidenta não fez ameaças diretas, mas ficou implícito – felizmente – que se sente inteiramente a vontade para usar o monopólio da violência – que é um direito do Estado – quando for necessário. Num momento em que se multiplicam atos de puro banditismo, condenou a arruaça e a irracionalidade. Mostrou disposição muito maior para ouvir e negociar.
Para quem passou os dois últimos anos criticando a falta de diálogo do governo com a sociedade, Dilma anunciou que irá abrir as portas para dialogar com manifestantes, com entidades e sindicatos. Vai ouvir, considerar e ponderar. Se cumprir o que disse, seu governo assumirá um novo perfil político a partir de então.
Para quem imaginava que os protestos iriam paralisar o governo e transformar a presidente numa órfã política, Dilma avisou que está ativa. Mostrou disposição para ouvir a voz das ruas como nenhum antecessor jamais o fez. Mas sabe seu lugar e sabe muito bem para que foi eleita.
Essa é a mensagem real do pronunciamento.
O resto é crítica de cinema.
Desde janeiro de 2013, é diretor da ISTOÉ em Brasília. Dirigiu a Época e foi redator chefe da VEJA, correspondente em Paris e em Washington. É autor dos livros A Mulher que era o General da Casa e O Outro Lado do Mensalão.
O lugar da presidenta
Observadores variados descobriram uma melodia única para avaliar o pronunciamento de Dilma Rousseff, ontem, quando a presidente falou sobre os protestos e a baderna.
Eles cobram novidades – sem dizer quais – e reclamam medidas espetaculares – sem dizer o que teriam em mente.
Esse pessoal não entendeu nada. O pronunciamento de Dilma, um pouco demorado demais, talvez, esteve a altura do momento em que o país se encontra depois que milhões de pessoas foram às ruas. Sua virtude é não trazer novidades nem anunciar medidas espetaculares. O país, em 2013, não precisa disso, vamos combinar. O grande espetáculo se encontra nas ruas.
Num ambiente de semi-insurreição, onde reivindicações justas e urgentes se misturam a proclamações autoritárias e atos contínuos de violência arruaceira, cabe a presidente da República mostrar que assume suas responsabilidades, lembrando que o país possui uma Constituição, que ela tem a obrigação de defender pelos meios de que dispõe.
São valores teoricamente velhos, tão antigos como o regime republicano, de 1889.
Na conjuntura atual, são afirmações atuais e indispensáveis. Não precisamos de lances marketing. Precisamos afirmar valores consistentes e fundamentais, como democracia, progresso social, Constituição.
A atitude de Dilma ajuda a recordar que os brasileiros usufruem do mais amplo regime de liberdades publicas de sua história e que essa conquista deve ser preservada. Lembra que seus poderes presidenciais emanam do povo. Foi um pronunciamento presidencial, de quem fala para o país inteiro – e não para os aliados do governo nem, exclusivamente, para os brasileiros que foram às ruas.
São referências importantes após quinze dias de baderna urbana – carros incendiados, vidros quadros, roubos, ataques a edifícios públicos – e baderna ideológica, com perseguição e porrada em militantes de partidos políticos, faixas que pediam golpe militar e atitudes fascistas.
A presidenta não fez ameaças diretas, mas ficou implícito – felizmente – que se sente inteiramente a vontade para usar o monopólio da violência – que é um direito do Estado – quando for necessário. Num momento em que se multiplicam atos de puro banditismo, condenou a arruaça e a irracionalidade. Mostrou disposição muito maior para ouvir e negociar.
Para quem passou os dois últimos anos criticando a falta de diálogo do governo com a sociedade, Dilma anunciou que irá abrir as portas para dialogar com manifestantes, com entidades e sindicatos. Vai ouvir, considerar e ponderar. Se cumprir o que disse, seu governo assumirá um novo perfil político a partir de então.
Para quem imaginava que os protestos iriam paralisar o governo e transformar a presidente numa órfã política, Dilma avisou que está ativa. Mostrou disposição para ouvir a voz das ruas como nenhum antecessor jamais o fez. Mas sabe seu lugar e sabe muito bem para que foi eleita.
Essa é a mensagem real do pronunciamento.
O resto é crítica de cinema.
Mino Carta: PT gostou do queijo e caiu na armadilha
O PT ficou para trás
Fosse aquele anterior à eleição de Lula, hoje cavalgaria o agito popular
por Mino Carta —
O Brasil vive um momento de desencontros e esperanças, nem todas bem-postas. Primeiríssima entre estas a da mídia nativa, chega a sustentar que as atuais manifestações de rua se assemelham àquelas pelo impeachment de Fernando Collor. Má informação e delírio são alguns dos atributos do jornalismo pátrio.
Quando a Globo mobilizou uma juventude carnavalizada para solicitar a condenação do presidente corrupto, o próprio já havia sido atingido fatalmente pelas provas das ligações entre o Planalto e a Casa da Dinda, levantadas pela IstoÉ.
Seu destino estava selado com ou sem passeatas. No mais, é do conhecimento até do mundo mineral que imaginar a derrubada de Dilma Rousseff naufraga no ridículo.
Impávida, a mídia nativa, depois de recomendar repressão enérgica contra os baderneiros, percebeu a possibilidade de enganar os incautos ao sabor da sua vocação e tradição, e agora afirma com a devida veemência o caráter antigovernista das manifestações. Mira-se logo nas próximas eleições.
Difícil mesmo, se não impossível por enquanto, distinguir o que move os manifestantes. Certa apenas a demanda da periferia no país da casa-grande e da senzala. Aludo à maioria dos brasileiros que usam ônibus e desconhecem um certo Estado do Bem-Estar Social, para sofrer as consequências de sistemas de saúde, educação, transporte coletivo de péssima qualidade. Sem contar o saneamento básico.
No mais, há espaço nas ruas para as motivações mais diversas, desde o prazer da festa até a expectativa de quem aspira a alguma mudança sem saber como se daria e com qual profundidade. Desde quem se aproveita da confusão para quebrar vidraças e invadir lojas até os netos e bisnetos dos burguesotes das marchas da família, com Deus e pela liberdade, que invocavam o golpe em 1964.
Todos juntos, como torcidas uniformizadas, mas ao acaso, sem liderança. Abrem-se situações expostas a qualquer desfecho e mais uma certeza é a de que ninguém consegue controlar as ruas.
Entende-se. Igual ao abismo que separa ricos e pobres há outro entre a nação e as instituições ditas democráticas. Entre Legislativo, Judiciário e Executivo e esta massa empurrada em boa parte por intenções nebulosas.
Avulta, no quadro, a ineficácia do Congresso, entregue aos interesses particulares de deputados e senadores, donde inabilitados a influenciar o destino do protesto popular e, cada qual, o comportamento dos seus eleitores.
Pergunto aos meus inquietos botões o que se daria hoje se o PT tivesse mantido as posições anteriores à eleição de Lula, quando no centro de sua doutrina instalava-se a negativa peremptória à modernização do atraso. Hoje vemos o PT presa dos compromissos da chamada governabilidade, disposto às piores concessões e irremediavelmente esquecido das consignas de outrora.
O PT montou a ratoeira e ali colocou o queijo para atrair os ratos. Ao cabo, ele próprio gostou do queijo e caiu na armadilha. Não fosse isso, respondem soturnos os botões, neste instante cavalgaria o agito das ruas. Seria o partido que lidera antes mesmo de controlar.
O governo não discrepa do PT, a despeito dos índices elevados de aprovação, conquanto em leve diminuição e à espera das consequências das manifestações destes dias. Às vezes porta-se como se o complexo do vira-lata, ao qual Lula costuma aludir, tomasse conta das suas ações, inclusive no confronto com a mídia que o ataca e denigre, e também com uma base pretensamente aliada, predadora voraz. Faltam ao lado da presidenta tanto uma figura capaz de operar politicamente, como se diz, quanto parceiros mais competentes e menos comprometidos em alguns ministérios. Sem esquecer que os problemas do País não se resolvem a partir de uma lógica meramente tecnocrática.
Seria trágico, e não hesito ao recorrer ao adjetivo, desperdiçar 12 anos de governo petista, até hoje de efeitos em geral benéficos. Outra há de ser, porém, a postura nas circunstâncias. Quero dizer, mais afirmativa, mais desabrida, mais corajosa. E mais afinada com as promessas do passado. Ouço uma voz otimista: “Isso tudo terá o efeito de oxigenar a política brasileira”. Tal é mais uma esperança do momento. Bem-posta, creio eu, desde que não deságue em nova desilusão.
André Singer: Para que lado vão os personagens que tomaram as ruas?
Esquerda ou direita?
por André Singer, na Folha de S. Paulo
O levante urbano desencadeado pelo Movimento Passe Livre (MPL) obteve uma vitória extraordinária ao conquistar a redução do preço das passagens do transporte coletivo em São Paulo e em tantas outras cidades. Mas, conquistada a reivindicação, é preciso saber para que lado vão os personagens que tomaram as ruas depois de 20 anos de ausência das massas na cena brasileira.
Duas características peculiares aos protestos recentes criaram uma indeterminação. A primeira é o seu estilo horizontal de organização, cujas raízes profundas estão na tremenda crise que assola a democracia contemporânea. Indignadas com o descolamento entre o mundo da política e o inferno da vida cotidiana, as pessoas recusam as organizações tradicionais –sejam partidos, sejam sindicatos–, ou o que se pareça com elas.
Convém esclarecer, antes que haja qualquer mal-entendido, que a democracia não pode funcionar sem partidos e que os sindicatos, apesar de todos os problemas, continuam a ser o melhor instrumento que o trabalhador tem para defender seus interesses.
Para completar, em minha opinião, a democracia –em que pese os inúmeros e graves percalços pelos quais passa– é a maior conquista da humanidade no campo da política. Isto posto, é preciso canalizar a revolta contra as instituições para uma participação que as revitalize, e não que as destrua.
O saudável ímpeto antivertical tem como contrapartida a falta de direção unificada. Ao não se delimitar com clareza o que cabia e o que não cabia nas manifestações, elas começaram a agregar um pouco de tudo, até mesmo ideologias opostas, como ficou claro na briga entre direita e esquerda que marcou a comemoração da vitória na av. Paulista anteontem.
O segundo elemento singular é que nunca na história recente do país –e, talvez, nem na antiga– camadas populares tenham se levantado em tal proporção. Se o estopim foi aceso pela classe média, o novo proletariado, forjado na década do lulismo, entrou nas avenidas, dando um colorido inédito às marchas reivindicatórias. Uma placa tectônica do país se mexeu, surpreendendo a todos os atores tradicionais.
Iniciado pela esquerda, o processo ficou indeterminado quando se verificou que tal fração de classe pode ser fisgada pela direita, a partir de apelos contra a corrupção. A direita quer vender a ideia de que sanear o Estado (o que é necessário) e cortar funcionários resolveria as demandas por saúde, educação e segurança.
Caberá à esquerda, que teve o mérito de começar a luta, ter a coragem de mostrar a cara e propor um programa que, sem deixar de ser republicano, aposte na ampliação do gasto público, de modo a construir o bem-estar que as massas exigem.
André Singer é cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.
Do Tijolaço
Reproduzo, abaixo, o magnífico artigo de Paulo Moreira Leite, na Istoé, leitura indispensável para entendermos e reagirmos ao que se passa e, talvez, seja a mais difícil batalha dos últimos dez anos para as forças populares.
Entre democracia e fascismo
Começou como uma luta justíssima pela redução de tarifas de ônibus.
Auxiliada pela postura irredutível das autoridades e pela brutalidade policial, esta mobilização transformou-se numa luta nacional pela democracia.
Se a redução da tarifa foi vitoriosa, a defesa dos direitos democráticos também deu resultado na medida em que o Estado deixou de empregar a violência como método preferencial para impor suas políticas.
Mas hoje a mobilização assumiu outra fisionomia.
Seu traços anti-democráticos acentuados. Até o MPL, entidade que havia organizado o movimento em sua primeira fase, decidiu retirar-se das mobilizações.
Os manifestantes combatem os partidos políticos, que são a forma mais democrática de participação no Estado.
Seu argumento é típico do fascismo: “povo unido não precisa de partido.”
Claro que precisa. Não há saída na sociedade moderna. Às vezes, uma pessoa escolhe entrar num partido. Outras vezes, é massa de manobra e nem sabe.
A criação de partidos políticos é a forma democrática de uma sociedade debater e negociar interesses diferentes, que não nascem na política, como se tenta acreditar, mas da própria vida social, das classes sociais.
Em São Paulo, em Brasília, os protestos exibiram faixa com caráter golpista.
“Chega de políticos incompetentes!!! Intervenção Militar Já!!!”
No mesmo movimento, militantes de esquerda, com bandeiras de esquerda, foram forçados a deixar uma passeata na porrada. Uma bandeira do movimento negro foi rasgada.
A baderna cumpre um papel essencial na conjuntura atual. Reforça a sensação de desordem, cria o ambiente favorável a medidas de força – tão convenientes para quem tem precisa desgastar de qualquer maneira um bloco político que ocupa o Planalto após três eleições consecutivas.
A baderna é uma provocação que procura emparedar o governo Dilma criando uma situação sem saída.
Se reprime, é autoritária. Se cruza os braços, é omissa.
Outro efeito é embaralhar a situação política do país, confundir quem fala pela maioria e quem apenas pretende representá-la.
É bom recordar que a maioria escolhe seu governo pelo voto, o critério mais democrático que existe.
Nenhum brasileiro chegou perto do paraíso e todos nós temos reivindicações legítimas que precisam de uma resposta.
Também sabemos das mazelas de um sistema político criado para defender a ordem vigente – e que, com muita dificuldade, através de brechas sempre estreitas, criou benefícios para a maioria.
Olhando para a maioria dos brasileiros, aqueles que foram excluídos da história ao longo de séculos, cabe perguntar, porém: os políticos atuais são incompetentes para quem, mascarados?
Para a empregada doméstica, que emancipou-se das últimas heranças da escravidão?
Para 40 milhões que recebem o bolsa-família?
Para os milhões de jovens pobres que nunca puderam entrar numa faculdade? Para os negros? Quem vive do mínimo?
Ou para quem vai ao mercado de trabalho e encontra um índice de desemprego invejado no resto do mundo?
Mascarados que arrebentam vidraças, incendeiam ônibus e invadem edifícios trabalham contra a ordem democrática, onde os partidos são legítimos, as pessoas têm direitos iguais – e o poder, que emana do povo, não se resolve na arruaça, pelo sangue, mas pelo voto.
É óbvio que a baderna, em sua fase atual, não quer objetivos claros nem reivindicações específicas. Não quer negociações, não quer o funcionamento da democracia. Quer travá-la.
Enquanto não avançar pela violência direta, fará o possível para criar pedidos difusos, que não sejam possíveis de avaliar nem responder.
O objetivo é manter a raiva, a febre, a multidão eletrizada.
É delírio enxergar o que está acontecendo no país como um conflito entre direita e esquerda. É uma luta muito maior, como aprenderam todas as pessoas que vivenciaram e estudaram as trevas de uma ditadura.
A questão colocada é a defesa da democracia, este regime insubstituível para a criação do bem-estar social e do progresso econômico.
O conflito é este: democracia ou fascismo. Não há alternativa no horizonte.
Quem não perceber isso está condenado a travar a luta errada, com métodos errados e chegar a um desfecho errado.
Por: Fernando Brito
Reproduzo, abaixo, o magnífico artigo de Paulo Moreira Leite, na Istoé, leitura indispensável para entendermos e reagirmos ao que se passa e, talvez, seja a mais difícil batalha dos últimos dez anos para as forças populares.
Entre democracia e fascismo
Começou como uma luta justíssima pela redução de tarifas de ônibus.
Auxiliada pela postura irredutível das autoridades e pela brutalidade policial, esta mobilização transformou-se numa luta nacional pela democracia.
Se a redução da tarifa foi vitoriosa, a defesa dos direitos democráticos também deu resultado na medida em que o Estado deixou de empregar a violência como método preferencial para impor suas políticas.
Mas hoje a mobilização assumiu outra fisionomia.
Seu traços anti-democráticos acentuados. Até o MPL, entidade que havia organizado o movimento em sua primeira fase, decidiu retirar-se das mobilizações.
Os manifestantes combatem os partidos políticos, que são a forma mais democrática de participação no Estado.
Seu argumento é típico do fascismo: “povo unido não precisa de partido.”
Claro que precisa. Não há saída na sociedade moderna. Às vezes, uma pessoa escolhe entrar num partido. Outras vezes, é massa de manobra e nem sabe.
A criação de partidos políticos é a forma democrática de uma sociedade debater e negociar interesses diferentes, que não nascem na política, como se tenta acreditar, mas da própria vida social, das classes sociais.
Em São Paulo, em Brasília, os protestos exibiram faixa com caráter golpista.
“Chega de políticos incompetentes!!! Intervenção Militar Já!!!”
No mesmo movimento, militantes de esquerda, com bandeiras de esquerda, foram forçados a deixar uma passeata na porrada. Uma bandeira do movimento negro foi rasgada.
A baderna cumpre um papel essencial na conjuntura atual. Reforça a sensação de desordem, cria o ambiente favorável a medidas de força – tão convenientes para quem tem precisa desgastar de qualquer maneira um bloco político que ocupa o Planalto após três eleições consecutivas.
A baderna é uma provocação que procura emparedar o governo Dilma criando uma situação sem saída.
Se reprime, é autoritária. Se cruza os braços, é omissa.
Outro efeito é embaralhar a situação política do país, confundir quem fala pela maioria e quem apenas pretende representá-la.
É bom recordar que a maioria escolhe seu governo pelo voto, o critério mais democrático que existe.
Nenhum brasileiro chegou perto do paraíso e todos nós temos reivindicações legítimas que precisam de uma resposta.
Também sabemos das mazelas de um sistema político criado para defender a ordem vigente – e que, com muita dificuldade, através de brechas sempre estreitas, criou benefícios para a maioria.
Olhando para a maioria dos brasileiros, aqueles que foram excluídos da história ao longo de séculos, cabe perguntar, porém: os políticos atuais são incompetentes para quem, mascarados?
Para a empregada doméstica, que emancipou-se das últimas heranças da escravidão?
Para 40 milhões que recebem o bolsa-família?
Para os milhões de jovens pobres que nunca puderam entrar numa faculdade? Para os negros? Quem vive do mínimo?
Ou para quem vai ao mercado de trabalho e encontra um índice de desemprego invejado no resto do mundo?
Mascarados que arrebentam vidraças, incendeiam ônibus e invadem edifícios trabalham contra a ordem democrática, onde os partidos são legítimos, as pessoas têm direitos iguais – e o poder, que emana do povo, não se resolve na arruaça, pelo sangue, mas pelo voto.
É óbvio que a baderna, em sua fase atual, não quer objetivos claros nem reivindicações específicas. Não quer negociações, não quer o funcionamento da democracia. Quer travá-la.
Enquanto não avançar pela violência direta, fará o possível para criar pedidos difusos, que não sejam possíveis de avaliar nem responder.
O objetivo é manter a raiva, a febre, a multidão eletrizada.
É delírio enxergar o que está acontecendo no país como um conflito entre direita e esquerda. É uma luta muito maior, como aprenderam todas as pessoas que vivenciaram e estudaram as trevas de uma ditadura.
A questão colocada é a defesa da democracia, este regime insubstituível para a criação do bem-estar social e do progresso econômico.
O conflito é este: democracia ou fascismo. Não há alternativa no horizonte.
Quem não perceber isso está condenado a travar a luta errada, com métodos errados e chegar a um desfecho errado.
Por: Fernando Brito
A VERDADE SOBRE "TODA A CORRUPÇÃO DESSE GOVERNO"
Luiz Antonio Albieiro
Filhos das honestas classes média e alta, que cultivam valores éticos, que não sonegam impostos e que não se deixam corromper nem molham a mão do guarda, que respeitam fila e não excedem a velocidade no trânsito - enfim, dessa gente que cumpre a lei com rigor - foram às ruas bradar contra "toda a corrupção desse governo".
Esses meninos, que passaram os melhores anos de sua infância e pré-adolescência eliminando monstros alienígenas no videogame e tcl msg (teclando mensagens) nas redes sociais, de repente se deram conta de que "nesse governo" há corrupção. Coisa nova para eles, que decerto creem ser algo nunca antes havido na história deste país, e de país algum. Não identificam a qual governo se referem, se federal, estaduais ou municipais, mas é de se supor que sua artilharia esteja voltada para o da presidenta Dilma, por ser o mais visível de todos.
O que não sabem esses valorosos meninos e meninas, valentes guerreiros dispostos sinceramente a mudar o Brasil (o vandalismo é coisa de um pequeno grupo, sabemos), que dizem ter acordado agora para a dura realidade, é que desde o governo do presidente Lula a Polícia Federal vem combatendo duramente a corrupção. Toda semana, praticamente, há notícias de operações que levam legiões de corruptos e sonegadores de impostos para a cadeia. Ontem mesmo, por exemplo - ontem, 20 de junho de 2013 -, a Polícia Federal desmantelou uma quadrilha de fraudadores do INSS. Cinco pessoas foram presas, quatro delas servidores públicos.
Não devem saber esses garotos, também, até porque não tinham idade para isso, que desde sua criação até a posse de Lula a Polícia Federal vivia numa letargia profunda, desaparelhada e mal remunerada. Mal se ouvia falar da corporação. Basta ver que, no primeiro ano do mandato do ex-presidente (2003), a PF realizou apenas 9 operações, que resultaram em 223 prisões. Não bastava, porém, aparelhar a Polícia Federal e inspirar-lhe a vontade política para passar a agir. Foi necessário primeiro higienizar a corporação. Naquele primeiro ano, foram presos 39 policiais federais, entre 122 servidores públicos mandados para a cadeia.
Em 2004, segundo ano de mandato de Lula, já foram 48 os policiais federais detidos, agora em 58 operações, que resultaram em 926 prisões.
No ano seguinte, a corporação parece ter compreendido a importância de sua missão e o número de policiais federais presos caiu para apenas 9. Ao mesmo tempo, o total de prisões subiu para 1407, em 67 operações que encarceraram 219 servidores públicos.
Desde então, os números só cresceram, como revela o quadro que ilustra esta postagem. Esses dados estatísticos foram extraídos do portal da Polícia Federal e, naturalmente, referem-se a outros crimes, além da corrupção e da sonegação fiscal. Há tráfico internacional de drogas e de pessoas, por exemplo.
O empenho da Polícia Federal continuou durante o governo de Dilma Rousseff. Em 260 operações realizadas em 2011, a PF prendeu 2089 pessoas, sendo 246 funcionários públicos, 4 deles policiais federais. Em 2012, foram 289 operações que resultaram em 1660 prisões (102 servidores públicos; 13 policiais federais).
Em 2013, a Polícia Federal já realizou até agora 94 operações e prendeu 561 acusados de corrupção, sonegação fiscal e outros crimes, sendo que 36 eram servidores públicos. Neste ano, nenhum policial federal foi preso.
É fácil assimilar manchetes de jornais e revistas, como as da rancorosa Veja, ou frases prontas que circulam pela internet, que atribuem casos de corrupção a este ou àquele governo - eles têm especial predileção pelo governo federal, do PT. Difícil é checar, aprofundar a pesquisa e conhecer a verdade.
Corrupção não se combate apenas com gritos de guerra em manifestações de rua. É preciso desenvolver técnicas especiais de investigação, ter vontade política e firmeza para executar as ações necessárias. Via de regra, é briga contra cachorro grande - afinal, os criminosos são políticos, governadores, prefeitos, secretários, empresários, advogados, gente graúda e influente. Feito o serviço de investigação e prisão, o resto será por conta do Judiciário, que é outro poder, que não se submete ao controle do Executivo.
Assim, não acredite quando lhe disserem que "nunca houve tanta corrupção" como "nesse governo". Ao contrário, nunca se combateu tanto a corrupção, ao longo de toda a história dos mais de quinhentos anos do Brasil, como nos governos do PT, de Lula e de Dilma. Isso explica muito do ódio que as classes média e alta, tão honestas e cumpridoras das leis, têm pelo partido e pelos presidentes. E permite enxergar algumas das razões do golpe que intentam contra um governo popular que vem passando a limpo e mudando, concretamente, este país.
O governo federal falha na comunicação, não divulga, não faz propaganda do excelente trabalho da Polícia Federal. Penso eu que haja uma crença ingênua de que basta a notícia veiculada pela mídia para que a informação seja totalmente compreendida. Não é bem assim. O volume de notícias a respeito acaba por despertar nos espíritos das pessoas a falsa ideia de que "a corrupção aumentou", quando o que aumentou, e em grande intensidade, foi justamente o combate à corrupção.
Fonte dos dados estatísticos: portal da Polícia Federal (http://www.dpf.gov.br/agencia/estatisticas)
Filhos das honestas classes média e alta, que cultivam valores éticos, que não sonegam impostos e que não se deixam corromper nem molham a mão do guarda, que respeitam fila e não excedem a velocidade no trânsito - enfim, dessa gente que cumpre a lei com rigor - foram às ruas bradar contra "toda a corrupção desse governo".
Esses meninos, que passaram os melhores anos de sua infância e pré-adolescência eliminando monstros alienígenas no videogame e tcl msg (teclando mensagens) nas redes sociais, de repente se deram conta de que "nesse governo" há corrupção. Coisa nova para eles, que decerto creem ser algo nunca antes havido na história deste país, e de país algum. Não identificam a qual governo se referem, se federal, estaduais ou municipais, mas é de se supor que sua artilharia esteja voltada para o da presidenta Dilma, por ser o mais visível de todos.
O que não sabem esses valorosos meninos e meninas, valentes guerreiros dispostos sinceramente a mudar o Brasil (o vandalismo é coisa de um pequeno grupo, sabemos), que dizem ter acordado agora para a dura realidade, é que desde o governo do presidente Lula a Polícia Federal vem combatendo duramente a corrupção. Toda semana, praticamente, há notícias de operações que levam legiões de corruptos e sonegadores de impostos para a cadeia. Ontem mesmo, por exemplo - ontem, 20 de junho de 2013 -, a Polícia Federal desmantelou uma quadrilha de fraudadores do INSS. Cinco pessoas foram presas, quatro delas servidores públicos.
Não devem saber esses garotos, também, até porque não tinham idade para isso, que desde sua criação até a posse de Lula a Polícia Federal vivia numa letargia profunda, desaparelhada e mal remunerada. Mal se ouvia falar da corporação. Basta ver que, no primeiro ano do mandato do ex-presidente (2003), a PF realizou apenas 9 operações, que resultaram em 223 prisões. Não bastava, porém, aparelhar a Polícia Federal e inspirar-lhe a vontade política para passar a agir. Foi necessário primeiro higienizar a corporação. Naquele primeiro ano, foram presos 39 policiais federais, entre 122 servidores públicos mandados para a cadeia.
Em 2004, segundo ano de mandato de Lula, já foram 48 os policiais federais detidos, agora em 58 operações, que resultaram em 926 prisões.
No ano seguinte, a corporação parece ter compreendido a importância de sua missão e o número de policiais federais presos caiu para apenas 9. Ao mesmo tempo, o total de prisões subiu para 1407, em 67 operações que encarceraram 219 servidores públicos.
Desde então, os números só cresceram, como revela o quadro que ilustra esta postagem. Esses dados estatísticos foram extraídos do portal da Polícia Federal e, naturalmente, referem-se a outros crimes, além da corrupção e da sonegação fiscal. Há tráfico internacional de drogas e de pessoas, por exemplo.
O empenho da Polícia Federal continuou durante o governo de Dilma Rousseff. Em 260 operações realizadas em 2011, a PF prendeu 2089 pessoas, sendo 246 funcionários públicos, 4 deles policiais federais. Em 2012, foram 289 operações que resultaram em 1660 prisões (102 servidores públicos; 13 policiais federais).
Em 2013, a Polícia Federal já realizou até agora 94 operações e prendeu 561 acusados de corrupção, sonegação fiscal e outros crimes, sendo que 36 eram servidores públicos. Neste ano, nenhum policial federal foi preso.
É fácil assimilar manchetes de jornais e revistas, como as da rancorosa Veja, ou frases prontas que circulam pela internet, que atribuem casos de corrupção a este ou àquele governo - eles têm especial predileção pelo governo federal, do PT. Difícil é checar, aprofundar a pesquisa e conhecer a verdade.
Corrupção não se combate apenas com gritos de guerra em manifestações de rua. É preciso desenvolver técnicas especiais de investigação, ter vontade política e firmeza para executar as ações necessárias. Via de regra, é briga contra cachorro grande - afinal, os criminosos são políticos, governadores, prefeitos, secretários, empresários, advogados, gente graúda e influente. Feito o serviço de investigação e prisão, o resto será por conta do Judiciário, que é outro poder, que não se submete ao controle do Executivo.
Assim, não acredite quando lhe disserem que "nunca houve tanta corrupção" como "nesse governo". Ao contrário, nunca se combateu tanto a corrupção, ao longo de toda a história dos mais de quinhentos anos do Brasil, como nos governos do PT, de Lula e de Dilma. Isso explica muito do ódio que as classes média e alta, tão honestas e cumpridoras das leis, têm pelo partido e pelos presidentes. E permite enxergar algumas das razões do golpe que intentam contra um governo popular que vem passando a limpo e mudando, concretamente, este país.
O governo federal falha na comunicação, não divulga, não faz propaganda do excelente trabalho da Polícia Federal. Penso eu que haja uma crença ingênua de que basta a notícia veiculada pela mídia para que a informação seja totalmente compreendida. Não é bem assim. O volume de notícias a respeito acaba por despertar nos espíritos das pessoas a falsa ideia de que "a corrupção aumentou", quando o que aumentou, e em grande intensidade, foi justamente o combate à corrupção.
Fonte dos dados estatísticos: portal da Polícia Federal (http://www.dpf.gov.br/agencia/estatisticas)
sexta-feira, junho 21, 2013
O ASSUNTO É AMERICA LATINA - As mãos dos EUA sobre a região
Texto publicado na Folha de São Paulo no dia 21/04/2013
MARK WEISBROT
As mãos dos EUA sobre a região
A administração Obama não aceita que a região mudou e objetiva afastar governos de esquerda; também o Brasil precisa se manter vigilante
Acontecimentos recentes indicam que a administração Obama intensificou sua estratégia de "mudança de regime" contra os governos latino-americanos à esquerda do centro, promovendo conflito de maneiras que não eram vistas desde o golpe militar apoiado pelos EUA na Venezuela em 2002.
O exemplo mais destacado é o da própria Venezuela na última semana. No momento em que este artigo está sendo impresso, Washington está mais e mais isolada em seus esforços para desestabilizar o governo recém-eleito de Nicolás Maduro.
Mas a Venezuela não é o único país vitimado pelos esforços de Washington para reverter os resultados eleitorais dos últimos 15 anos na América Latina.
Está claro agora que o afastamento do presidente paraguaio Fernando Lugo, no ano passado, também teve a aprovação e o apoio do governo dos Estados Unidos.
Num trabalho investigativo brilhante para a agência Pública, a jornalista Natalia Viana mostrou que a administração Obama financiou os principais atores do chamado "golpe parlamentar" contra Lugo. Em seguida, Washington ajudou a organizar apoio internacional ao golpe.
O papel exercido pelos EUA no Paraguai é semelhante a seu papel na derrubada militar, em 2009, do presidente democraticamente eleito de Honduras, Manuel Zelaya, caso no qual Washington dominou a Organização de Estados Americanos e a utilizou para combater os esforços de governos sul-americanos que visavam restaurar a democracia.
Na Venezuela, na semana passada, Washington não pôde dominar a OEA, mas apenas seu secretário-geral, José Miguel Insulza, que reiterou a reivindicação da Casa Branca (e da oposição venezuelana) de uma recontagem de 100% dos votos.
Mas Insulza teve de recuar, como teve de fazer a Espanha, única aliada importante dos EUA nessa empreitada nefanda, por falta de apoio.
A exigência de uma recontagem na Venezuela é absurda, já que foi feita uma recontagem das cédulas de papel de uma amostra aleatória de 54% do sistema eletrônico. O total obtido nas máquinas foi comparado à contagem manual das cédulas de papel na presença de testemunhas de todos os lados. Estatisticamente falando, não existe diferença prática entre essa auditoria enorme já realizada e a recontagem.
Jimmy Carter descreveu o sistema eleitoral da Venezuela como "o melhor do mundo", e não há dúvida quanto à exatidão da contagem.
É bom ver Lula denunciando os EUA por sua ingerência, e Dilma juntando sua voz ao resto da América do Sul para defender o direito da Venezuela a eleições livres.
Mas não apenas a Venezuela e as democracias mais fracas que estão ameaçadas pelos EUA.
Conforme relatado nas páginas deste jornal, em 2005 os EUA financiaram e organizaram esforços para mudar a legislação brasileira com vistas a enfraquecer o PT. Essa informação foi descoberta em documentos do governo americano obtidos graças à lei americana de liberdade de informação. É provável que Washington tenha feito no Brasil muito mais e siga em segredo.
Está claro que os EUA não viram o levemente reformista Fernando Lugo como um elemento ameaçador ou radical. O problema era apenas sua proximidade excessiva com os outros governos de esquerda.
Como a administração Bush, a administração Obama não aceita que a região mudou. Seu objetivo é afastar os governos de esquerda, em parte porque tendem a ser mais independentes de Washington. Também o Brasil precisa se manter vigilante diante dessa ameaça à região.
MARK WEISBROT, 58, é codiretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, em Washington, e presidente da Just Foreign Policy.
Tradução de CLARA ALLAIN
Considerações sobre a manifestação de ontem (20/06)na Avenida Paulista
Edson Aparecido da Silva
A manifestação de ontem na Paulista foi marcada pela atuação de grupos organizados, claramente de direita e porque não dizer fascista que intimidaram de forma violenta os movimentos populares organizados e os integrantes de partidos de esquerda que empunhavam suas bandeiras. A palavra de ordem sem fascismo foi suplantada pela palavra de ordem sem partido. Esse grupo de direita tem apoio de parcela da sociedade e de jovens que expressam o senso comum de que a política e os partidos não prestam, não servem pra nada e levam o País a bancarrota. Não consideram os avanços que o País obteve, sobretudo durante o Governo Lula e que se mantém no Governo Dilma. Foi deprimente e triste assistirmos os Jovens do Levante Popular da Juventude, do MAB e do MST, fazendo a segurança dos grupos que seguiam a frente. A cada bandeira tomada, rasgada e queimada pelos brutamontes era uma comemoração por parte dos manifestantes.
O PT e a CUT convocaram, acertadamente, seus militantes para o ato de ontem, só nos faltou organização.
Não podemos dormir sobre os louros das conquistas dos nossos Governos até agora, o povo quer e precisa de mais, é preciso ousar, aproveitar o apoio que o Governo e o PT ainda têm e colocar nosso bloco na rua, independente de manifestação chamada por outros grupos. Vamos levar para as ruas nossa pauta: além da melhoria do transporte público, financiamento público de campanha eleitoral, como forma de acabar com a força do poder econômico nas eleições, democratização da comunicação, reforma do judiciário e desmilitarização da policia.
É preciso convocar uma grande Plenária do PT e da CUT para definirmos a pauta e nossa organização.
Resgatar a tradição de ocuparmos ruas e praças é nosso desafio.
Edson Aparecido da Silva
São Paulo
Sociólogo
21/06/2014
A manifestação de ontem na Paulista foi marcada pela atuação de grupos organizados, claramente de direita e porque não dizer fascista que intimidaram de forma violenta os movimentos populares organizados e os integrantes de partidos de esquerda que empunhavam suas bandeiras. A palavra de ordem sem fascismo foi suplantada pela palavra de ordem sem partido. Esse grupo de direita tem apoio de parcela da sociedade e de jovens que expressam o senso comum de que a política e os partidos não prestam, não servem pra nada e levam o País a bancarrota. Não consideram os avanços que o País obteve, sobretudo durante o Governo Lula e que se mantém no Governo Dilma. Foi deprimente e triste assistirmos os Jovens do Levante Popular da Juventude, do MAB e do MST, fazendo a segurança dos grupos que seguiam a frente. A cada bandeira tomada, rasgada e queimada pelos brutamontes era uma comemoração por parte dos manifestantes.
O PT e a CUT convocaram, acertadamente, seus militantes para o ato de ontem, só nos faltou organização.
Não podemos dormir sobre os louros das conquistas dos nossos Governos até agora, o povo quer e precisa de mais, é preciso ousar, aproveitar o apoio que o Governo e o PT ainda têm e colocar nosso bloco na rua, independente de manifestação chamada por outros grupos. Vamos levar para as ruas nossa pauta: além da melhoria do transporte público, financiamento público de campanha eleitoral, como forma de acabar com a força do poder econômico nas eleições, democratização da comunicação, reforma do judiciário e desmilitarização da policia.
É preciso convocar uma grande Plenária do PT e da CUT para definirmos a pauta e nossa organização.
Resgatar a tradição de ocuparmos ruas e praças é nosso desafio.
Edson Aparecido da Silva
São Paulo
Sociólogo
21/06/2014
SENSACIONAL ! A GLOBO NÃO ESTÁ DO NOSSO LADO !
Do Conversa Afiada
A Globo apoiou a ditadura: a causa da Globo é sempre de direita
Esses caras são muito famosos na internet, principalmente com a galera mais nova.
As opiniões deles sempre foram bem bacanas, mas essa sobre a Globo e os protestos me surpreenderam.
Muita coisa aí não é novidade, mas por eles dialogar em com um povo mais novo e despolitizado, pode ser que tenha alguma relevância:
A Globo apoiou a ditadura: a causa da Globo é sempre de direita
Esses caras são muito famosos na internet, principalmente com a galera mais nova.
As opiniões deles sempre foram bem bacanas, mas essa sobre a Globo e os protestos me surpreenderam.
Muita coisa aí não é novidade, mas por eles dialogar em com um povo mais novo e despolitizado, pode ser que tenha alguma relevância:
Quem não gosta de partido é ditadura
Creio que tudo pode nas manifestações que estamos assistindo. Só não pode intolerância a nenhuma forma de organização da sociedade. Até porque o povo organizado e nas ruas pode conquistar muitas coisas. Já o povo desorganizado não é povo, é "massa de manobra" e não terá nenhuma conquista efetiva.
Não nos esqueçamos que são os partidos hoje vigentes, com seus inúmeros problemas (e são muitos), que estão garantindo o direito a todos os manifestantes de irem às ruas.
A saída que não está sendo discutida profundamente é a radicalização da democracia no aparelho estatal, utilizando os novos instrumentos de comunicação da juventude em rede.
Quem não gosta de partido é ditadura. Hora de escolher: ou dar as mãos aos skinheads neonazistas ou abraçar a tolerância e a democracia
Mário Magalhães
Como observado segunda-feira na passeata dos mais de 100 mil, os protestos populares em curso constituem terreno de ferrenha disputa política entre os próprios manifestantes (leia reportagem aqui). O confronto degringolou ontem, na despedida do outono. No país inteiro, militantes portando bandeiras, estandartes e símbolos de partidos políticos, centrais sindicais, entidades estudantis e movimentos sociais foram escorraçados por uma turba intolerante.
Em São Paulo, os principais executores dessa modalidade de repressão política foram os skinheads, os “carecas” neonazistas. Botaram para correr quem vestia camisa vermelha, rasgaram bandeiras de agremiações e arrancaram faixa do movimento negro. São racistas e homofóbicos. No Rio, essa turma agride, fere e mata gays.
Na Noite dos Cristais, em 9 de novembro de 1938, a escória nazista atacou os judeus por toda a Alemanha, insuflada por Adolf Hitler. No dia 20 de junho de 2013, foi a vez de ativistas de esquerda serem o alvo, no Brasil.
Não está em debate o mérito do partido X ou Y, no governo ou na oposição, menos ou mais comportado. Nem se um sindicato representa dignamente ou não seus filiados. Ou mesmo se os imensos protestos resultam de força ou fraqueza de uma ou outra sigla _as opiniões são legítimas sobre todas essas questões. O que se discute é o direito democrático de seus integrantes participarem das manifestações.
Desde os primeiros atos do Movimento Passe Livre, duas semanas atrás, os partidos tiveram direito de estar presente. No Rio, foi assim há quatro dias. Se outros chegaram ontem, é também seu direito, porque inexiste veto dos organizadores dos protestos, onde se sabe quem são eles.
Como se disseminou um robusto sentimento antipartidos, sobretudo na classe média, os neonazistas capitalizam frustrações e comandam os ataques. É legítimo rejeitar siglas, tomar distância delas e derrotá-las nas urnas. Impedir sua expressão é mania de ditaduras. Além de ser irônico que determinadas agremiações, cuja militância foi decisiva na construção do movimento contra o reajuste das tarifas, sejam agora reprimidas.
Não deixa de ser curioso: quem protesta contra algumas covardias policiais agride covardemente quem não concorda com suas ideias. A faixa “Meu partido é meu país” é tão legítima como a do partidinho mais mequetrefe. Todos têm direito de se manifestar.
Em 1935, o presidente Getulio Vargas colocou na ilegalidade uma frente de esquerda, a Aliança Nacional Libertadora. Com o golpe de 37, instaurando a ditadura do Estado Novo, baniu o centro, a direita e a extrema direita. Em 47, a Justiça cassou o registro do PCB, e no ano seguinte seus parlamentares, eleitos pelo voto popular, tiveram os mandatos cassados.
A ditadura implantada em 1964 aboliu os partidos do regime democrático restabelecido em 1945-46, inclusive aqueles, como UDN e PSD, que colaboraram para a deposição do presidente constitucional João Goulart, cuja base tinha entre outros o PTB e o PSB.
Durante aquele tempo de trevas, a ditadura descaracterizou o Congresso, impondo cerca de uma centena de cassações de deputados e senadores do MDB. Triturou a Frente Ampla de Jango, Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek.
As ditaduras, do Estado Novo à de 1964-85, mataram militantes que batalhavam pelo direito de existência e expressão de partidos. Eles são mártires da democracia e do país.
A União Nacional dos Estudantes, outro alvo da malta, teve um presidente, Honestino Guimarães, assassinado pela ditadura. A ditadura que matou e sumiu com o corpo do líder estudantil, em 1973, impedia a livre organização partidária. Trucidava quem queria se organizar.
Essa mesma ditadura sofreu uma derrota dura com a formação da CUT, em 1983. As outras centrais sindicais são igualmente legais e legítimas, simpatizemos ou não com elas. Em 1979, o operário Santo Dias foi assassinado com um tiro da polícia. É a memória de gente como ele que é insultada quando fascistoides proíbem os sindicalistas de se manifestar. Como no Rio, rasgando seus panfletos.
É impressionante que certos analistas políticos vibrem com a pancadaria contra bandeiras partidárias, mas não apresentem uma só restrição às ações neonazistas. Impressiona, mas não surpreende: eles apoiaram a ditadura, a intolerância está em seu DNA.
Condenável é partido aparelhar movimentos e protestos, impondo sua agenda particular às reivindicações coletivas. Isso é partidarismo. Mas a presença de agremiações políticas é uma tradição democrática, e muito o Brasil deve a elas. Esqueceram que na Campanha das Diretas (1984) e no Fora, Collor (92) as bandeiras tremulavam nos comícios? Nos palanques, uniam-se dirigentes de partidos para todos os gostos e muita gente que não ia com a cara deles, mas estava unida para melhorar o Brasil.
Os que aplaudem a massa reprimindo militantes, tendo na “vanguarda” neonazistas, têm partido, sim: o Partido da Intolerância, o Partido do Ódio. Já vimos esse filme.
Os provocadores que espalham a baderna, fração ultraminoritária das manifestações, não são os militantes partidários, mas os skinheads, alguns ditos punks e outros ditos anarquistas, que de anarquistas nada têm. Os militantes partidários não promoveram vandalismo, mas foram alvo deles _tomar, rasgar e queimar bandeira é ato de vândalo.
Os protestos em curso, que arrancaram bravamente a redução das tarifas dos transportes públicos, exibem algumas características novas. Uma delas é que reúnem no mesmo evento quem, em 1964, participaria da Marcha da Família, de direita, e em 1968, da passeata dos 100 Mil, dirigida pela esquerda, contra a ditadura. Daí que o ódio dos neonazistas encontre ressonância.
Quem não tem legitimidade para participar dos atos são essas facções que ontem agrediram os militantes políticos, sindicais, estudantis e sociais. São os herdeiros da Ação Integralista Brasileira, a tradução tupiniquim para o nazismo de Hitler e o fascismo de Mussolini, na década de 1930.
É legítimo amar e odiar os agredidos de ontem. Nada mais natural do que achar que um e outro são oportunistas _o que não falta no mundo é oportunista. Mas quem não gosta de partido é ditadura.
Não nos esqueçamos que são os partidos hoje vigentes, com seus inúmeros problemas (e são muitos), que estão garantindo o direito a todos os manifestantes de irem às ruas.
A saída que não está sendo discutida profundamente é a radicalização da democracia no aparelho estatal, utilizando os novos instrumentos de comunicação da juventude em rede.
Quem não gosta de partido é ditadura. Hora de escolher: ou dar as mãos aos skinheads neonazistas ou abraçar a tolerância e a democracia
Mário Magalhães
Como observado segunda-feira na passeata dos mais de 100 mil, os protestos populares em curso constituem terreno de ferrenha disputa política entre os próprios manifestantes (leia reportagem aqui). O confronto degringolou ontem, na despedida do outono. No país inteiro, militantes portando bandeiras, estandartes e símbolos de partidos políticos, centrais sindicais, entidades estudantis e movimentos sociais foram escorraçados por uma turba intolerante.
Em São Paulo, os principais executores dessa modalidade de repressão política foram os skinheads, os “carecas” neonazistas. Botaram para correr quem vestia camisa vermelha, rasgaram bandeiras de agremiações e arrancaram faixa do movimento negro. São racistas e homofóbicos. No Rio, essa turma agride, fere e mata gays.
Na Noite dos Cristais, em 9 de novembro de 1938, a escória nazista atacou os judeus por toda a Alemanha, insuflada por Adolf Hitler. No dia 20 de junho de 2013, foi a vez de ativistas de esquerda serem o alvo, no Brasil.
Não está em debate o mérito do partido X ou Y, no governo ou na oposição, menos ou mais comportado. Nem se um sindicato representa dignamente ou não seus filiados. Ou mesmo se os imensos protestos resultam de força ou fraqueza de uma ou outra sigla _as opiniões são legítimas sobre todas essas questões. O que se discute é o direito democrático de seus integrantes participarem das manifestações.
Desde os primeiros atos do Movimento Passe Livre, duas semanas atrás, os partidos tiveram direito de estar presente. No Rio, foi assim há quatro dias. Se outros chegaram ontem, é também seu direito, porque inexiste veto dos organizadores dos protestos, onde se sabe quem são eles.
Como se disseminou um robusto sentimento antipartidos, sobretudo na classe média, os neonazistas capitalizam frustrações e comandam os ataques. É legítimo rejeitar siglas, tomar distância delas e derrotá-las nas urnas. Impedir sua expressão é mania de ditaduras. Além de ser irônico que determinadas agremiações, cuja militância foi decisiva na construção do movimento contra o reajuste das tarifas, sejam agora reprimidas.
Não deixa de ser curioso: quem protesta contra algumas covardias policiais agride covardemente quem não concorda com suas ideias. A faixa “Meu partido é meu país” é tão legítima como a do partidinho mais mequetrefe. Todos têm direito de se manifestar.
Em 1935, o presidente Getulio Vargas colocou na ilegalidade uma frente de esquerda, a Aliança Nacional Libertadora. Com o golpe de 37, instaurando a ditadura do Estado Novo, baniu o centro, a direita e a extrema direita. Em 47, a Justiça cassou o registro do PCB, e no ano seguinte seus parlamentares, eleitos pelo voto popular, tiveram os mandatos cassados.
A ditadura implantada em 1964 aboliu os partidos do regime democrático restabelecido em 1945-46, inclusive aqueles, como UDN e PSD, que colaboraram para a deposição do presidente constitucional João Goulart, cuja base tinha entre outros o PTB e o PSB.
Durante aquele tempo de trevas, a ditadura descaracterizou o Congresso, impondo cerca de uma centena de cassações de deputados e senadores do MDB. Triturou a Frente Ampla de Jango, Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek.
As ditaduras, do Estado Novo à de 1964-85, mataram militantes que batalhavam pelo direito de existência e expressão de partidos. Eles são mártires da democracia e do país.
A União Nacional dos Estudantes, outro alvo da malta, teve um presidente, Honestino Guimarães, assassinado pela ditadura. A ditadura que matou e sumiu com o corpo do líder estudantil, em 1973, impedia a livre organização partidária. Trucidava quem queria se organizar.
Essa mesma ditadura sofreu uma derrota dura com a formação da CUT, em 1983. As outras centrais sindicais são igualmente legais e legítimas, simpatizemos ou não com elas. Em 1979, o operário Santo Dias foi assassinado com um tiro da polícia. É a memória de gente como ele que é insultada quando fascistoides proíbem os sindicalistas de se manifestar. Como no Rio, rasgando seus panfletos.
É impressionante que certos analistas políticos vibrem com a pancadaria contra bandeiras partidárias, mas não apresentem uma só restrição às ações neonazistas. Impressiona, mas não surpreende: eles apoiaram a ditadura, a intolerância está em seu DNA.
Condenável é partido aparelhar movimentos e protestos, impondo sua agenda particular às reivindicações coletivas. Isso é partidarismo. Mas a presença de agremiações políticas é uma tradição democrática, e muito o Brasil deve a elas. Esqueceram que na Campanha das Diretas (1984) e no Fora, Collor (92) as bandeiras tremulavam nos comícios? Nos palanques, uniam-se dirigentes de partidos para todos os gostos e muita gente que não ia com a cara deles, mas estava unida para melhorar o Brasil.
Os que aplaudem a massa reprimindo militantes, tendo na “vanguarda” neonazistas, têm partido, sim: o Partido da Intolerância, o Partido do Ódio. Já vimos esse filme.
Os provocadores que espalham a baderna, fração ultraminoritária das manifestações, não são os militantes partidários, mas os skinheads, alguns ditos punks e outros ditos anarquistas, que de anarquistas nada têm. Os militantes partidários não promoveram vandalismo, mas foram alvo deles _tomar, rasgar e queimar bandeira é ato de vândalo.
Os protestos em curso, que arrancaram bravamente a redução das tarifas dos transportes públicos, exibem algumas características novas. Uma delas é que reúnem no mesmo evento quem, em 1964, participaria da Marcha da Família, de direita, e em 1968, da passeata dos 100 Mil, dirigida pela esquerda, contra a ditadura. Daí que o ódio dos neonazistas encontre ressonância.
Quem não tem legitimidade para participar dos atos são essas facções que ontem agrediram os militantes políticos, sindicais, estudantis e sociais. São os herdeiros da Ação Integralista Brasileira, a tradução tupiniquim para o nazismo de Hitler e o fascismo de Mussolini, na década de 1930.
É legítimo amar e odiar os agredidos de ontem. Nada mais natural do que achar que um e outro são oportunistas _o que não falta no mundo é oportunista. Mas quem não gosta de partido é ditadura.
Ontem estive na Paulista, uma reflexão
Evaristo Almeida
Ontem caminhei na Avenida Paulista acompanhando as manifestações contra o aumento da tarifa de ônibus, como ocorreu em várias outras cidades do país.
A primeira constatação que tive é que há uma pauta vazia, sem densidade política e muitos manifestantes nem tinham a clareza de que um movimento dessa dimensão é sim um movimento político.
Apesar da multidão nas ruas do país, não dá para considerar esse movimento como o das Diretas Já, ou do impeachment do Collor.
No primeiro caso havia a necessidade da luta contra a ditadura civil-militar no Brasil. Essa ditadura impediu o desenvolvimento do país por ter impedido pautas importantes que o governo João Goulart tinha colocado em 1964, como investimento em educação e a reforma agrária. Foi justamente o que a Coreia do Sul fez naquele período e graças a isso e o processo induzido de desenvolvimento, atualmente é um país rico, com benefícios para toda a sua população.
O Brasil atualmente vive o mais longo processo democrático da nossa história junto com o melhor momento econômico, reduzindo as desigualdades sociais. Hoje há mais gente na universidade do que em qualquer outro período histórico. Nunca se investiu tanto em educação, em saúde, segurança e transportes.
É preciso preservar tudo isso e fiquei preocupado quando vi grupos fascistas dentro da manifestação pregando a volta da ditadura civil-militar, que por 21 anos atrasou o nosso país. Esses mesmos grupos são contra o Bolsa Família, o Prouni, a cotas sociais e raciais nas universidades federais e pior ainda, defendem sistemas políticos totalitários.
No caso do impeachment do Collor havia um país destruído moralmente e em profunda crise econômica e este não é o caso do Brasil atualmente. Em momento algum da nossa história houve tanta transparência nos gastos dos governos, da liberdade de ação dos órgãos de fiscalização.
E a economia brasileira resiste a um tsunami econômico que arrasta a Europa e os Estados Unidos.
Enquanto na Europa o desemprego é acima de 20% da população, chegando a 60% dos jovens na Europa, aqui no Brasil a taxa é de 5,8%.
Os jovens da Primavera Árabe estão brigando pela democracia, visto que são países com governos totalitários e os da Europa, por direito ao trabalho. A taxa de suicídios na Espanha por pessoas que perderam as moradias é extremamente alta.
Aqui no Brasil vivemos uma situação totalmente diferente, por isso dizer que o país acordou, não é correto. Acordou de quê? Se há melhoria de vida nos últimos dez anos para todas as classes sociais. E a melhoria do salário mínimo, do poder de compra dos trabalhadores, do acesso à universidade, da redução da pobreza entre outras conquistas?
Está bom? Ainda não, pois temos um passivo de 500 nos de exploração do nosso povo, mas estamos sinalizando que cada dia será melhor.
Temos as descobertas do petróleo do pré-sal que poderá alavancar o desenvolvimento do país e resolver por vez os problemas estruturais em educação, saúde, segurança e mobilidade urbana.
Vivemos hoje bombardeados pelo terrorismo midiático que passa a idéia aos jovens de que o Brasil é o país mais corrupto do mundo, de que estamos numa profunda crise econômica, como a Europa e que trabalham para a baixa estima do povo brasileiro.
Há corrupção no Brasil, como em qualquer outro país do mundo, como os Estados Unidos, a França, a Inglaterra, o Japão, a China, a Índia, etc.
Quem assistiu o documentário Inside Job pode ver como a corrupção do sistema financeiro estadunidense com os órgãos de controle provocou uma perda de US$ 780 bilhões ao povo estadunidense. Em anos anteriores houve uma denúncia do órgão fiscalizador o GAO, de falcatruas envolvendo aquisição de material militar. Uma das causas da renúncia do Papa Bento XVI foi a corrupção na Igreja.
A corrupção é um mal que precisamos lutar contra ela todos os dias e cada vez mais criar mecanismos de controle e transparência.
Outra pauta muito presente nas ruas foi contrabandeada pelo Ministério Público, que é a PEC 37. Será que os garotos que postavam cartazes sabem que o Ministério Público constitucionalmente não deveria investigar e que cabe à polícia? E que isso é no mundo inteiro assim?
Cabe ao Ministério Público a denúncia, a polícia a investigação e ao judiciário o julgamento. Porque o Ministério Público nunca investigou os incêndios nas favelas de São Paulo na gestão anterior? E as chacinas que acontecem nas periferias das cidades brasileiras, porque não são de interesse do Ministério Público? Ou os males que afligem os pobres raramente são do interesse do MP?
Quanto a negação da política pelos manifestantes, lembro que a política rege tudo que diz respeito à vida dos seres humanos. Na Grécia antiga só os cidadãos livres, a quem eram chamados de cidadãos, participavam da política e os escravos e pobres não podiam. Isso é muito simbólico, pois participar da política é ser cidadão e livre. Não podemos abdicar dela.
E os partidos políticos? Não existe democracia sem partidos políticos que representam todas as forças ideológicas sociais. São os partidos que apresentam as demandas da sociedade.
Eu acho que precisamos radicalizar a democracia para que todos se sintam representados e participantes da política na sociedade.
Como militante do Partido dos Trabalhadores desde 1982, acho o PT um instrumento muito importante de transformação social do país. Tenho orgulho do quanto o PT ajudou o Brasil a melhorar. E até acho que o PT deve incorporar a luta contra a corrupção, afinal essa é uma pauta presente desde a nossa fundação.
O que não se pode é simplesmente pegar o chamado processo do mensalão, a AP 470, ainda em curso no STF e as pessoas que ali estão e colocar na cadeia sem que todo direito de defesa seja efetivado. Principalmente quando se está provado que o procedimento do STF está cheio de irregularidades.
O Paulo Moreira Leite escreveu o livro “A Outra História do Mensalão” que mostra como alguns ministros do STF junto com a PGR trataram de forma diferente o mensalão do PT e o mensalão do PSDB, que é mais antigo e se deixar assim nunca será julgado.
Esse livro mostra ainda como o processo foi direcionado para julgar e acusar o PT independentemente de qualquer culpa. O STF e a PGR agiu pautado pela oposição e a mídia. Quem não lembra que o julgamento durou até próximo a eleição municipal de 2012?
Dentro da bandeira contra a corrupção devemos exigir que o STF faça o julgamento do mensalão do PSDB de forma isonômica além de exigir leis mais duras para corruptos e mais transparência em todos os níveis de governo, municipal, estadual e federal. Por mais incrível que pareça o governo federal é quem mais tem mostrado transparência nas suas contas enquanto outras esferas de governo ainda não o fizeram.
Também devemos exigir reforma política e financiamento público de campanha para acabar com a corrupção.
Acredito que as manifestações devem ser encaradas como um processo democrático, mas tirando o joio do trigo. Na democracia temos o direito de brigar pelos nossos direitos, isso foi uma conquista do nosso povo. Muita gente foi presa, torturada e morta para que tirássemos os ditadores do poder.
Se fosse uma ditadura as manifestações seriam todas repelidas da forma como foi feita em São Paulo, durante o primeiro protesto. Não haveria recuo dos prefeitos e governos no tocante a tarifa.
A democracia é um sistema político imperfeito, mas o ser humano ainda não inventou nada melhor.
Meu repúdio a forma como parte da mídia tenta se aproveitar do movimento para derrubar o governo federal, como ocorreu em 1964 em que a grande imprensa brasileira apoiou o golpe de estado planejado pelos Estados Unidos, juntos com os empresários e militares brasileiros. Por isso se faz necessário a discussão dos meios de comunicação em que seis famílias decidem o que deve ou não ser publicado. E lembrar que elas incentivaram a repressão aos jovens pela polícia de São Paulo. Houve editoriais de jornais pedindo mais força.
A democracia é um bem conquistado a duras penas. Não ao fascismo que alguns grupos infiltrados na manifestação defendem.
E que podemos ser um país normal em que as pessoas possam se manifestar livremente a suas opções políticas, sexuais, religiosas ou que defendam outras pautas de interesse coletivo.
Está na hora de se construir meios para o avanço da participação popular mais ativa, inclusive os mais jovens, nos destinos do Brasil.
O Brasil hoje é um país que cresce em todos os sentidos melhorando a vida de todos.
Esse texto é de um “velho” militante de esquerda, petista e que se orgulha muito de participar da política e do que ela melhorou a vida do nosso povo e que espero contribua para o debate que deve ser feito após todos esses eventos no nosso país.
Ontem caminhei na Avenida Paulista acompanhando as manifestações contra o aumento da tarifa de ônibus, como ocorreu em várias outras cidades do país.
A primeira constatação que tive é que há uma pauta vazia, sem densidade política e muitos manifestantes nem tinham a clareza de que um movimento dessa dimensão é sim um movimento político.
Apesar da multidão nas ruas do país, não dá para considerar esse movimento como o das Diretas Já, ou do impeachment do Collor.
No primeiro caso havia a necessidade da luta contra a ditadura civil-militar no Brasil. Essa ditadura impediu o desenvolvimento do país por ter impedido pautas importantes que o governo João Goulart tinha colocado em 1964, como investimento em educação e a reforma agrária. Foi justamente o que a Coreia do Sul fez naquele período e graças a isso e o processo induzido de desenvolvimento, atualmente é um país rico, com benefícios para toda a sua população.
O Brasil atualmente vive o mais longo processo democrático da nossa história junto com o melhor momento econômico, reduzindo as desigualdades sociais. Hoje há mais gente na universidade do que em qualquer outro período histórico. Nunca se investiu tanto em educação, em saúde, segurança e transportes.
É preciso preservar tudo isso e fiquei preocupado quando vi grupos fascistas dentro da manifestação pregando a volta da ditadura civil-militar, que por 21 anos atrasou o nosso país. Esses mesmos grupos são contra o Bolsa Família, o Prouni, a cotas sociais e raciais nas universidades federais e pior ainda, defendem sistemas políticos totalitários.
No caso do impeachment do Collor havia um país destruído moralmente e em profunda crise econômica e este não é o caso do Brasil atualmente. Em momento algum da nossa história houve tanta transparência nos gastos dos governos, da liberdade de ação dos órgãos de fiscalização.
E a economia brasileira resiste a um tsunami econômico que arrasta a Europa e os Estados Unidos.
Enquanto na Europa o desemprego é acima de 20% da população, chegando a 60% dos jovens na Europa, aqui no Brasil a taxa é de 5,8%.
Os jovens da Primavera Árabe estão brigando pela democracia, visto que são países com governos totalitários e os da Europa, por direito ao trabalho. A taxa de suicídios na Espanha por pessoas que perderam as moradias é extremamente alta.
Aqui no Brasil vivemos uma situação totalmente diferente, por isso dizer que o país acordou, não é correto. Acordou de quê? Se há melhoria de vida nos últimos dez anos para todas as classes sociais. E a melhoria do salário mínimo, do poder de compra dos trabalhadores, do acesso à universidade, da redução da pobreza entre outras conquistas?
Está bom? Ainda não, pois temos um passivo de 500 nos de exploração do nosso povo, mas estamos sinalizando que cada dia será melhor.
Temos as descobertas do petróleo do pré-sal que poderá alavancar o desenvolvimento do país e resolver por vez os problemas estruturais em educação, saúde, segurança e mobilidade urbana.
Vivemos hoje bombardeados pelo terrorismo midiático que passa a idéia aos jovens de que o Brasil é o país mais corrupto do mundo, de que estamos numa profunda crise econômica, como a Europa e que trabalham para a baixa estima do povo brasileiro.
Há corrupção no Brasil, como em qualquer outro país do mundo, como os Estados Unidos, a França, a Inglaterra, o Japão, a China, a Índia, etc.
Quem assistiu o documentário Inside Job pode ver como a corrupção do sistema financeiro estadunidense com os órgãos de controle provocou uma perda de US$ 780 bilhões ao povo estadunidense. Em anos anteriores houve uma denúncia do órgão fiscalizador o GAO, de falcatruas envolvendo aquisição de material militar. Uma das causas da renúncia do Papa Bento XVI foi a corrupção na Igreja.
A corrupção é um mal que precisamos lutar contra ela todos os dias e cada vez mais criar mecanismos de controle e transparência.
Outra pauta muito presente nas ruas foi contrabandeada pelo Ministério Público, que é a PEC 37. Será que os garotos que postavam cartazes sabem que o Ministério Público constitucionalmente não deveria investigar e que cabe à polícia? E que isso é no mundo inteiro assim?
Cabe ao Ministério Público a denúncia, a polícia a investigação e ao judiciário o julgamento. Porque o Ministério Público nunca investigou os incêndios nas favelas de São Paulo na gestão anterior? E as chacinas que acontecem nas periferias das cidades brasileiras, porque não são de interesse do Ministério Público? Ou os males que afligem os pobres raramente são do interesse do MP?
Quanto a negação da política pelos manifestantes, lembro que a política rege tudo que diz respeito à vida dos seres humanos. Na Grécia antiga só os cidadãos livres, a quem eram chamados de cidadãos, participavam da política e os escravos e pobres não podiam. Isso é muito simbólico, pois participar da política é ser cidadão e livre. Não podemos abdicar dela.
E os partidos políticos? Não existe democracia sem partidos políticos que representam todas as forças ideológicas sociais. São os partidos que apresentam as demandas da sociedade.
Eu acho que precisamos radicalizar a democracia para que todos se sintam representados e participantes da política na sociedade.
Como militante do Partido dos Trabalhadores desde 1982, acho o PT um instrumento muito importante de transformação social do país. Tenho orgulho do quanto o PT ajudou o Brasil a melhorar. E até acho que o PT deve incorporar a luta contra a corrupção, afinal essa é uma pauta presente desde a nossa fundação.
O que não se pode é simplesmente pegar o chamado processo do mensalão, a AP 470, ainda em curso no STF e as pessoas que ali estão e colocar na cadeia sem que todo direito de defesa seja efetivado. Principalmente quando se está provado que o procedimento do STF está cheio de irregularidades.
O Paulo Moreira Leite escreveu o livro “A Outra História do Mensalão” que mostra como alguns ministros do STF junto com a PGR trataram de forma diferente o mensalão do PT e o mensalão do PSDB, que é mais antigo e se deixar assim nunca será julgado.
Esse livro mostra ainda como o processo foi direcionado para julgar e acusar o PT independentemente de qualquer culpa. O STF e a PGR agiu pautado pela oposição e a mídia. Quem não lembra que o julgamento durou até próximo a eleição municipal de 2012?
Dentro da bandeira contra a corrupção devemos exigir que o STF faça o julgamento do mensalão do PSDB de forma isonômica além de exigir leis mais duras para corruptos e mais transparência em todos os níveis de governo, municipal, estadual e federal. Por mais incrível que pareça o governo federal é quem mais tem mostrado transparência nas suas contas enquanto outras esferas de governo ainda não o fizeram.
Também devemos exigir reforma política e financiamento público de campanha para acabar com a corrupção.
Acredito que as manifestações devem ser encaradas como um processo democrático, mas tirando o joio do trigo. Na democracia temos o direito de brigar pelos nossos direitos, isso foi uma conquista do nosso povo. Muita gente foi presa, torturada e morta para que tirássemos os ditadores do poder.
Se fosse uma ditadura as manifestações seriam todas repelidas da forma como foi feita em São Paulo, durante o primeiro protesto. Não haveria recuo dos prefeitos e governos no tocante a tarifa.
A democracia é um sistema político imperfeito, mas o ser humano ainda não inventou nada melhor.
Meu repúdio a forma como parte da mídia tenta se aproveitar do movimento para derrubar o governo federal, como ocorreu em 1964 em que a grande imprensa brasileira apoiou o golpe de estado planejado pelos Estados Unidos, juntos com os empresários e militares brasileiros. Por isso se faz necessário a discussão dos meios de comunicação em que seis famílias decidem o que deve ou não ser publicado. E lembrar que elas incentivaram a repressão aos jovens pela polícia de São Paulo. Houve editoriais de jornais pedindo mais força.
A democracia é um bem conquistado a duras penas. Não ao fascismo que alguns grupos infiltrados na manifestação defendem.
E que podemos ser um país normal em que as pessoas possam se manifestar livremente a suas opções políticas, sexuais, religiosas ou que defendam outras pautas de interesse coletivo.
Está na hora de se construir meios para o avanço da participação popular mais ativa, inclusive os mais jovens, nos destinos do Brasil.
O Brasil hoje é um país que cresce em todos os sentidos melhorando a vida de todos.
Esse texto é de um “velho” militante de esquerda, petista e que se orgulha muito de participar da política e do que ela melhorou a vida do nosso povo e que espero contribua para o debate que deve ser feito após todos esses eventos no nosso país.
segunda-feira, junho 17, 2013
SOBRE O QUE DIZEM AS RUAS
“Não outorgar às elites brasileiras uma capacidade de mobilização que ela não possui e jamais possuirá”
O Conversa Afiada reproduz artigo de Vinicius Wu, Secretário-geral do governo do Estado do Rio Grande do Sul, na Carta Maior:
SOBRE O QUE DIZEM AS RUAS
Seria recomendável aos dirigentes políticos do campo progressista afastar o risco de reproduzir aqui os erros da esquerda espanhola que, inicialmente, criminalizou o 15-M e terminou falando sozinha nas últimas eleições. Também seria recomendável não outorgar, de forma alguma, às elites brasileiras uma capacidade de mobilização que ela não possui. Refutar a ideia de que os jovens estão nas ruas em função da mídia ou de qualquer tipo de conspiração das “elites” é o primeiro passo para não cair em um erro elementar. Por Vinicius Wu.
Vinicius Wu (*)
A forma menos adequada de buscarmos a compreensão de um fenômeno social complexo é a simplificação. Não encontraremos uma única motivação para os recentes protestos que se espalharam pelas principais cidades do país, se o procurarmos. Temos questões mais gerais e universais ao lado de outros muitos temas locais e setoriais. Há aspectos que aproximam os manifestantes de São Paulo aos do Rio e de Porto alegre e, outros tantos, que os distanciam.
O papel da internet e das redes sociais é central e, em geral, os políticos e formadores de opinião não o tem compreendido minimamente. Buscar algum grau de compreensão do atual fenômeno, a partir do ponto de vista de uma esquerda que se coloca diante do dificílimo desafio de governar transformando, é o objetivo desse breve artigo.
O que se pode dizer preliminarmente é que estamos diante de uma expressão política do novo Brasil. A revolução democrática, levada a termo pelos governos Lula, redefiniu a estrutura de classes da sociedade brasileira, incluiu milhões de brasileiros à sociedade de consumo e possibilitou a emergência de novas expressões culturais e políticas. Mas o inédito processo de inclusão social e econômica ainda é imperfeito, inconcluso e contraditório. As dinâmicas políticas decorrentes do processo massivo de inclusão social em curso ainda são imprevisíveis, mas algumas pistas são visíveis e exigem da esquerda brasileira uma reflexão mais adensada.
As conquistas sociais dos últimos anos vieram acompanhadas da despolitização da política, de uma onda conservadora que constrange o Congresso Nacional e paralisa os partidos de esquerda, distanciando, ainda mais, a juventude da política tradicional. Lembremos que, recentemente, tivemos manifestações espontâneas, em todo o país, contra a indicação de Marcos Feliciano à Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional. Na oportunidade, nenhum manifestante propunha o fechamento do Congresso ou a criminalização dos políticos. E o que fez nosso Parlamento enquanto Instituição? Nada. Esperou solenemente o movimento se dispersar. Frente à onda conservadora que estimula a homofobia, o racismo e a violência sexista, o que têm feito os partidos políticos? Os ruralistas de sempre se organizam no Congresso Nacional para anular os direitos dos indígenas e o que dizem nossos parlamentares progressistas?
Os dez anos de governo de esquerda no país nos deixam um legado de grandes conquistas, entretanto, há incerteza e imprecisão quanto aos próximos passos. Demandas históricas não atendidas carecem de respostas mais amplas. Além disso, novas questões sempre se impõem num cenário de conquistas sociais e políticas. Pois, se é verdade que os governos do PT incluíram milhões e possibilitaram acesso a inúmeros serviços antes inacessíveis, também é verdade que temos, em diversas áreas, serviços de baixa qualidade e, fundamentalmente, caros.
O transporte nas grandes cidades é um drama cotidiano para milhões de brasileiros. Temos pleno emprego em diversas regiões metropolitanas do país e, no entanto, ainda temos um oceano de precariedade e informalidade. E aqueles que ingressaram na sociedade de consumo nos últimos anos, legitimamente, querem mais: anseiam por cultura, lazer, mais e melhores serviços, educação de qualidade, saúde, segurança e transportes. São os efeitos colaterais de toda experiência exitosa de redução das desigualdades sociais e econômicas.
Evidentemente, há ainda o afastamento e o desencantamento com a política e os políticos. A denominada “crise da representação” não é um conceito acadêmico abstrato. O déficit de democracia e de legitimidade das Instituições políticas colocam em xeque a capacidade dos atuais representantes em absorver e compreender as novas dinâmicas sociais e políticas que se expressam nas ruas do país. Nossa jovem democracia corre o risco de caducar precocemente, caso não tenhamos êxito em ressignificá-la e reaproximá-la dos setores sociais mais dinâmicos.
Essas seriam algumas das questões mais gerais que aproximam os movimentos do Sul, sudeste e nordeste. Mas há ainda temas locais que incidem sobre dinâmicas especificas e mobilizam pessoas a partir de questões mais sensíveis a partir de sua vivência concreta nos territórios.
O Rio de Janeiro, por exemplo, se tornou uma das cidades mais caras do mundo. Há uma reorganização em grande escala do espaço urbano e há setores sociais que se sentem completamente alheios (e marginalizados) ao processo de “modernização” da cidade. Em São Paulo, temos uma polícia orientada para o uso desmedido e desproporcional da força e da violência – e isso não diz respeito somente aos dias de protestos. Também há ali um tipo de violência estrutural contra homossexuais e mulheres sem que o Poder Público organize qualquer resposta mais contundente. Poderíamos estender a lista.
Por fim, cumpre registrar que seria recomendável aos dirigentes políticos do campo progressista afastar o risco de reproduzir aqui os erros da esquerda espanhola que, inicialmente, criminalizou o 15-M e terminou falando sozinha nas últimas eleições. Também seria recomendável não outorgar, de forma alguma, às elites brasileiras uma capacidade de mobilização que ela não possui e jamais possuirá. Refutar a ideia de que os jovens estão nas ruas em função da mídia ou de qualquer tipo de conspiração das “elites” é o primeiro passo para não cair em um erro elementar que seria bloquear qualquer possibilidade de dialogo com esses novos movimentos.
Melhor acreditar que é possível extrair do atual momento elementos para a renovação da agenda da esquerda brasileira e reforçar os laços que unem os governos progressistas da América Latina a todas as lutas contra as diversas formas de privatização da vida. É hora de reforçarmos nossa capacidade de dialogo, de escuta, e ouvir a voz nada rouca das ruas – a mesma que nossos adversários sempre buscaram silenciar. Estamos diante de uma oportunidade singular para renovarmos nossos discursos e nossas práticas, projetando o próximo passo da Revolução Democrática no Brasil com base na força sempre renovadora das mobilizações da juventude.
(*) Secretário-geral do governo do Estado do Rio Grande do Sul
O Conversa Afiada reproduz artigo de Vinicius Wu, Secretário-geral do governo do Estado do Rio Grande do Sul, na Carta Maior:
SOBRE O QUE DIZEM AS RUAS
Seria recomendável aos dirigentes políticos do campo progressista afastar o risco de reproduzir aqui os erros da esquerda espanhola que, inicialmente, criminalizou o 15-M e terminou falando sozinha nas últimas eleições. Também seria recomendável não outorgar, de forma alguma, às elites brasileiras uma capacidade de mobilização que ela não possui. Refutar a ideia de que os jovens estão nas ruas em função da mídia ou de qualquer tipo de conspiração das “elites” é o primeiro passo para não cair em um erro elementar. Por Vinicius Wu.
Vinicius Wu (*)
A forma menos adequada de buscarmos a compreensão de um fenômeno social complexo é a simplificação. Não encontraremos uma única motivação para os recentes protestos que se espalharam pelas principais cidades do país, se o procurarmos. Temos questões mais gerais e universais ao lado de outros muitos temas locais e setoriais. Há aspectos que aproximam os manifestantes de São Paulo aos do Rio e de Porto alegre e, outros tantos, que os distanciam.
O papel da internet e das redes sociais é central e, em geral, os políticos e formadores de opinião não o tem compreendido minimamente. Buscar algum grau de compreensão do atual fenômeno, a partir do ponto de vista de uma esquerda que se coloca diante do dificílimo desafio de governar transformando, é o objetivo desse breve artigo.
O que se pode dizer preliminarmente é que estamos diante de uma expressão política do novo Brasil. A revolução democrática, levada a termo pelos governos Lula, redefiniu a estrutura de classes da sociedade brasileira, incluiu milhões de brasileiros à sociedade de consumo e possibilitou a emergência de novas expressões culturais e políticas. Mas o inédito processo de inclusão social e econômica ainda é imperfeito, inconcluso e contraditório. As dinâmicas políticas decorrentes do processo massivo de inclusão social em curso ainda são imprevisíveis, mas algumas pistas são visíveis e exigem da esquerda brasileira uma reflexão mais adensada.
As conquistas sociais dos últimos anos vieram acompanhadas da despolitização da política, de uma onda conservadora que constrange o Congresso Nacional e paralisa os partidos de esquerda, distanciando, ainda mais, a juventude da política tradicional. Lembremos que, recentemente, tivemos manifestações espontâneas, em todo o país, contra a indicação de Marcos Feliciano à Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional. Na oportunidade, nenhum manifestante propunha o fechamento do Congresso ou a criminalização dos políticos. E o que fez nosso Parlamento enquanto Instituição? Nada. Esperou solenemente o movimento se dispersar. Frente à onda conservadora que estimula a homofobia, o racismo e a violência sexista, o que têm feito os partidos políticos? Os ruralistas de sempre se organizam no Congresso Nacional para anular os direitos dos indígenas e o que dizem nossos parlamentares progressistas?
Os dez anos de governo de esquerda no país nos deixam um legado de grandes conquistas, entretanto, há incerteza e imprecisão quanto aos próximos passos. Demandas históricas não atendidas carecem de respostas mais amplas. Além disso, novas questões sempre se impõem num cenário de conquistas sociais e políticas. Pois, se é verdade que os governos do PT incluíram milhões e possibilitaram acesso a inúmeros serviços antes inacessíveis, também é verdade que temos, em diversas áreas, serviços de baixa qualidade e, fundamentalmente, caros.
O transporte nas grandes cidades é um drama cotidiano para milhões de brasileiros. Temos pleno emprego em diversas regiões metropolitanas do país e, no entanto, ainda temos um oceano de precariedade e informalidade. E aqueles que ingressaram na sociedade de consumo nos últimos anos, legitimamente, querem mais: anseiam por cultura, lazer, mais e melhores serviços, educação de qualidade, saúde, segurança e transportes. São os efeitos colaterais de toda experiência exitosa de redução das desigualdades sociais e econômicas.
Evidentemente, há ainda o afastamento e o desencantamento com a política e os políticos. A denominada “crise da representação” não é um conceito acadêmico abstrato. O déficit de democracia e de legitimidade das Instituições políticas colocam em xeque a capacidade dos atuais representantes em absorver e compreender as novas dinâmicas sociais e políticas que se expressam nas ruas do país. Nossa jovem democracia corre o risco de caducar precocemente, caso não tenhamos êxito em ressignificá-la e reaproximá-la dos setores sociais mais dinâmicos.
Essas seriam algumas das questões mais gerais que aproximam os movimentos do Sul, sudeste e nordeste. Mas há ainda temas locais que incidem sobre dinâmicas especificas e mobilizam pessoas a partir de questões mais sensíveis a partir de sua vivência concreta nos territórios.
O Rio de Janeiro, por exemplo, se tornou uma das cidades mais caras do mundo. Há uma reorganização em grande escala do espaço urbano e há setores sociais que se sentem completamente alheios (e marginalizados) ao processo de “modernização” da cidade. Em São Paulo, temos uma polícia orientada para o uso desmedido e desproporcional da força e da violência – e isso não diz respeito somente aos dias de protestos. Também há ali um tipo de violência estrutural contra homossexuais e mulheres sem que o Poder Público organize qualquer resposta mais contundente. Poderíamos estender a lista.
Por fim, cumpre registrar que seria recomendável aos dirigentes políticos do campo progressista afastar o risco de reproduzir aqui os erros da esquerda espanhola que, inicialmente, criminalizou o 15-M e terminou falando sozinha nas últimas eleições. Também seria recomendável não outorgar, de forma alguma, às elites brasileiras uma capacidade de mobilização que ela não possui e jamais possuirá. Refutar a ideia de que os jovens estão nas ruas em função da mídia ou de qualquer tipo de conspiração das “elites” é o primeiro passo para não cair em um erro elementar que seria bloquear qualquer possibilidade de dialogo com esses novos movimentos.
Melhor acreditar que é possível extrair do atual momento elementos para a renovação da agenda da esquerda brasileira e reforçar os laços que unem os governos progressistas da América Latina a todas as lutas contra as diversas formas de privatização da vida. É hora de reforçarmos nossa capacidade de dialogo, de escuta, e ouvir a voz nada rouca das ruas – a mesma que nossos adversários sempre buscaram silenciar. Estamos diante de uma oportunidade singular para renovarmos nossos discursos e nossas práticas, projetando o próximo passo da Revolução Democrática no Brasil com base na força sempre renovadora das mobilizações da juventude.
(*) Secretário-geral do governo do Estado do Rio Grande do Sul
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