terça-feira, junho 04, 2013

O que o BC põe em risco

Do Tijolaço

A atitude do Banco Central em se politizar e querer, com a alta dos juros, atender a mídia catastrofista, infelizmente, é algo muito comum, aqui e lá fora.

Tanto que o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman escreveu, outro dia: as taxas de juros mais altas são sempre uma solução; o que muda é apenas o problema que elas devem solucionar”.

Os números divulgados hoje pelo IBGE – mais do que os de baixo crescimento do PIB, revelados semana passada – mostram que a decisão do Banco Central traz o perigo de matar, no nascedouro, a recuperação do ritmo de crescimento econômico.
Para além do dado geral, que aponta uma expansão no mês de 1,8% na produção industrial – e dos 8,4% anuais registrados -, algo que deve ser relativizado pela baixa base de comparação em que se baseia, o desdobramento do índice tem informações muito auspiciosas.

O setor de bens de capital, que em grande medida responde às expectativas de expansão ou contração da economia, cresceu 3,2%, o que representa uma elevação em 24% do registrado há um ano. Dentro dele, o mais significativo, o setor de máquinas e equipamentos, expandiu-se 7,9%, o que faz acumular uma alta de 19,3% desde janeiro.

É o que registra a matéria publicada hoje no Valor: “O crédito farto e barato ofertado pelo governo para a compra de máquinas e equipamentos fez crescer a demanda por linhas de financiamento no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). De acordo com o diretor financeiro do banco, Maurício Borges, as liberações para a linha Finame/BNDES, de capital de giro para compra de máquinas e equipamentos, cresceram “aproximadamente 50%, ou até mais”, de janeiro a maio deste ano, em comparação com igual período do ano passado.”

Os únicos resultados negativos estão no consumo. “O segmento de bens de consumo semi e não duráveis, com redução de 1,6%, assinalou o único resultado negativo no índice acumulado no ano”, diz a análise do IBGE.
Então, isto posto, a alta da taxa de juros, que desestimula investimento e consumo, vai contra ou a favor dessa incipiente recuperação?

Mesmo antes desta elevação da Taxa Selic, já se registrava a migração de capital da economia real.
Numa matéria em que O Globo proclama “O fim de uma era” de consumo, um estudo da Austin Ratings diz que o dinheiro, ao invés de se ” direcionar(…) ao crédito de pessoas e empresas, (…) está sendo girado em aplicações de curto prazo entre os próprios bancos e o Banco Central.”

- Diferentemente do que desejava o governo, o dinheiro adicional que tem entrado no sistema bancário não tem ido para a economia real, na forma de mais investimentos para empresas ou renda ao consumo, mas está girando no mercado aberto, diz Luis Miguel Santacreu, analista de bancos da Austin.

Então, onde estão os fundamentos de ciência econômica da decisão do BC?

Quem quiser descobrir, leia o artigo publicado pelo competente Luís Nassif, em seu blog, do qual tiro as duas conclusões:

1 -a mídia torce para que, com parte da rentabilidade recuperada, as verbas publicitárias voltem aos níveis pré-queda de juros, objetivo final de sua campanha para a “volta da racionalidade do BC;
2 - No mercado financeiro, mais informado e mais cético, atribuía-se a mudança de postura do BC – aumentando a Selic em 0,5 ponto – ao fato do governo ter “piscado” (termo que se usa para quando o governo vacila) depois que o candidato Aécio Neves inaugurou o horário gratuito com o tema da volta da inflação.

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