Luiz Antonio Albieiro
Filhos das honestas classes média e alta, que cultivam valores éticos, que não sonegam impostos e que não se deixam corromper nem molham a mão do guarda, que respeitam fila e não excedem a velocidade no trânsito - enfim, dessa gente que cumpre a lei com rigor - foram às ruas bradar contra "toda a corrupção desse governo".
Esses meninos, que passaram os melhores anos de sua infância e pré-adolescência eliminando monstros alienígenas no videogame e tcl msg (teclando mensagens) nas redes sociais, de repente se deram conta de que "nesse governo" há corrupção. Coisa nova para eles, que decerto creem ser algo nunca antes havido na história deste país, e de país algum. Não identificam a qual governo se referem, se federal, estaduais ou municipais, mas é de se supor que sua artilharia esteja voltada para o da presidenta Dilma, por ser o mais visível de todos.
O que não sabem esses valorosos meninos e meninas, valentes guerreiros dispostos sinceramente a mudar o Brasil (o vandalismo é coisa de um pequeno grupo, sabemos), que dizem ter acordado agora para a dura realidade, é que desde o governo do presidente Lula a Polícia Federal vem combatendo duramente a corrupção. Toda semana, praticamente, há notícias de operações que levam legiões de corruptos e sonegadores de impostos para a cadeia. Ontem mesmo, por exemplo - ontem, 20 de junho de 2013 -, a Polícia Federal desmantelou uma quadrilha de fraudadores do INSS. Cinco pessoas foram presas, quatro delas servidores públicos.
Não devem saber esses garotos, também, até porque não tinham idade para isso, que desde sua criação até a posse de Lula a Polícia Federal vivia numa letargia profunda, desaparelhada e mal remunerada. Mal se ouvia falar da corporação. Basta ver que, no primeiro ano do mandato do ex-presidente (2003), a PF realizou apenas 9 operações, que resultaram em 223 prisões. Não bastava, porém, aparelhar a Polícia Federal e inspirar-lhe a vontade política para passar a agir. Foi necessário primeiro higienizar a corporação. Naquele primeiro ano, foram presos 39 policiais federais, entre 122 servidores públicos mandados para a cadeia.
Em 2004, segundo ano de mandato de Lula, já foram 48 os policiais federais detidos, agora em 58 operações, que resultaram em 926 prisões.
No ano seguinte, a corporação parece ter compreendido a importância de sua missão e o número de policiais federais presos caiu para apenas 9. Ao mesmo tempo, o total de prisões subiu para 1407, em 67 operações que encarceraram 219 servidores públicos.
Desde então, os números só cresceram, como revela o quadro que ilustra esta postagem. Esses dados estatísticos foram extraídos do portal da Polícia Federal e, naturalmente, referem-se a outros crimes, além da corrupção e da sonegação fiscal. Há tráfico internacional de drogas e de pessoas, por exemplo.
O empenho da Polícia Federal continuou durante o governo de Dilma Rousseff. Em 260 operações realizadas em 2011, a PF prendeu 2089 pessoas, sendo 246 funcionários públicos, 4 deles policiais federais. Em 2012, foram 289 operações que resultaram em 1660 prisões (102 servidores públicos; 13 policiais federais).
Em 2013, a Polícia Federal já realizou até agora 94 operações e prendeu 561 acusados de corrupção, sonegação fiscal e outros crimes, sendo que 36 eram servidores públicos. Neste ano, nenhum policial federal foi preso.
É fácil assimilar manchetes de jornais e revistas, como as da rancorosa Veja, ou frases prontas que circulam pela internet, que atribuem casos de corrupção a este ou àquele governo - eles têm especial predileção pelo governo federal, do PT. Difícil é checar, aprofundar a pesquisa e conhecer a verdade.
Corrupção não se combate apenas com gritos de guerra em manifestações de rua. É preciso desenvolver técnicas especiais de investigação, ter vontade política e firmeza para executar as ações necessárias. Via de regra, é briga contra cachorro grande - afinal, os criminosos são políticos, governadores, prefeitos, secretários, empresários, advogados, gente graúda e influente. Feito o serviço de investigação e prisão, o resto será por conta do Judiciário, que é outro poder, que não se submete ao controle do Executivo.
Assim, não acredite quando lhe disserem que "nunca houve tanta corrupção" como "nesse governo". Ao contrário, nunca se combateu tanto a corrupção, ao longo de toda a história dos mais de quinhentos anos do Brasil, como nos governos do PT, de Lula e de Dilma. Isso explica muito do ódio que as classes média e alta, tão honestas e cumpridoras das leis, têm pelo partido e pelos presidentes. E permite enxergar algumas das razões do golpe que intentam contra um governo popular que vem passando a limpo e mudando, concretamente, este país.
O governo federal falha na comunicação, não divulga, não faz propaganda do excelente trabalho da Polícia Federal. Penso eu que haja uma crença ingênua de que basta a notícia veiculada pela mídia para que a informação seja totalmente compreendida. Não é bem assim. O volume de notícias a respeito acaba por despertar nos espíritos das pessoas a falsa ideia de que "a corrupção aumentou", quando o que aumentou, e em grande intensidade, foi justamente o combate à corrupção.
Fonte dos dados estatísticos: portal da Polícia Federal (http://www.dpf.gov.br/agencia/estatisticas)
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