Por Marcelo Carneiro da Cunha, colunista do SigaMpost e membro do Conselho Editorial
Estimados leitores do SigaMPost. Como todo mundo, e o senhor aqui ao lado, sabem, o PT realiza nesse momento o seu 4º Congresso Nacional e deve aclamar Dilma como sua candidata à Presidência da República na eleição deste ano.
Acho que todo brasileiro, independentemente da sua orientação ou preferência política, deve refletir sobre o significado desse momento.
Em primeiro lugar, porque não estamos assim tãaaao acostumados a eleger presidentes. Nas nossas vidas adultas, elegemos um Collor e dois presidentes. Não é muito, concordam? Portanto, uma nova eleição tem que ser algo incomum e relevante o suficiente para pararmos o bonde de nossos dias comuns, para nos darmos um tempo para mirar e ver, como diria Riobaldo no Grande Sertão: Veredas. Do outro lado, ainda precisamos ver quem o PSDB vai mandar para o embate. Mas não é isso o que realmente mais importa, nesse instante: o que importa, é que a Dilma vem aí.
Como um gaúcho recentemente transportado para São Paulo, eu vi o surgimento da Dilma, como Secretária das Minas e Energia, durante o governo Olívio Dutra. Dizem que a Dilma impressionou, muito, pela eficiência com que enfrentou o desafio de não deixar que o Rio Grande ficasse sem energia, enquanto o Sudeste apagava durante o governo FHC. Eu morava lá, e posso garantir a todos que, o que quer que a Secretária Dilma tenha feito, deu certo.
E isso a catapultou para o governo Lula, começando com Energia e passando para a Casa Civil e virando a mãe do PAC. Ali, acho que muitos e muitos brasileiros, especialmente os eleitores do PT se perguntaram algo como, “Dilma?”.
Todos enfatizam a capacidade técnica da ministra. Também falam uns de seu temperamento dificil, outros de sua provável orientação mais para a esquerda do que Lula, em uma evidente tentativa de começar o emparedamento antes mesmo de tudo começar.
Pois eu comecei a levar realmente a sério a Dilma para presidente naquela memorável sessão no Congresso, na qual Dilma incinerou o senador Agripino Maia, enquanto ele olhava e pagava o maior mico dos últimos anos, ao menos ao vivo e em transmissão nacional. O pessoal que adorava a Arena não compreende esse tipo de coração e mente, que aceita o enfrentamento como necessário, que entende que os momentos são o que são, e que os melhores vão, enquanto os outros ficam.
De resto, eu não queria ser a Dilma e ter que ocupar o lugar do Lula, especialmente porque ninguém é o Lula, mas quem vier depois vai ser, necessariamente, comparado a ele. Lula é um caso de genialidade e temos outros, mas nenhum na presidência, que eu tenha percebido, ao menos. Mas, se ela aceita a prova, deve ter seus motivos para confiar na sua capacidade de dar conta do recado. E, dar conta do recado é, acima de tudo, garantir a continuidade do que vem sendo feito no país.
O recente exemplo de São Paulo, que não manteve o que ia bem e escolheu o prefeito Kassab e paga o custo dessa escolha é apenas uma demonstração da importância de preservarmos o que está sendo feito no país. São Paulo desistiu do seu movimento de mudança e crescimento e hoje, mal governada por uma direita sem projeto real, sofre. Todos sofrem, mas os que mais precisam sofrem muito mais. Não devemos deixar que o mesmo aconteça com o Brasil, e a Dilma é a nossa maior garantia de manter o que temos e ir adiante; de melhorar o que é bom, fazer o que falta ser feito, sem passos para o lado ou retrocessos.
Temos muito pela frente. O Brasil é um caso de copo meio cheio e meio vazio. Do lado cheio, temos méritos e realizações pra ninguém botar defeito. Do lado do copo vazio, temos desafios e coisas por fazer que assustam o mais otimista dos homens – eu.
Melhor seguirmos enchendo o copo, é o que eu digo a todos. Melhor deixar a torneira na mão de quem tem feito as coisas certas e enchido o copo direitinho, sem maiores derrames.
2010 é um momento histórico, e nele o Brasil define o seu século 21. Qual sociedade vamos ser, o que vamos ter. Prefiro o projeto que temos hoje, com autonomia, democracia, afirmação diante do mundo. Portanto, hora e vez da Dilma Rousseff.
E, curiosamente, alguém aí percebeu que o fato de ela ser mulher, pouco, quase nada, nada, tem sido mencionado? Se superamos esse passado de preconceitos e conceitos sem sentido, será que estamos mesmo, finalmente, prontos para nós mesmos?
Acho que sim, parece que sim, e por isso vamos em frente. Sorte a nossa.
Marcelo Carneiro da Cunha é escritor e jornalista. Escreveu o argumento do curta-metragem "O Branco", premiado em Berlim e outros importantes festivais. Entre outros, publicou o livro de contos "Simples" e o romance "O Nosso Juiz", pela editora Record. Acaba de escrever o romance "Depois do Sexo", que foi publicado em junho pela Record. Dois longas-metragens estão sendo produzidos a partir de seus romances "Insônia" e "Antes que o Mundo Acabe", publicados pela editora Projeto.
Postado por Mpost em 19 fevereiro 2010 às 10:00
Nenhum comentário:
Postar um comentário