No discurso a ser feito sábado, depois do lançamento de sua candidatura a presidente no 4º Congresso Nacional do PT, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, defenderá a necessidade de investimentos maciços em educação e ciência e tecnologia. Para a ministra, esses são fatores essenciais para "aumentar o nível de competitividade da economia brasileira" e colocar o país na rota de uma "sociedade do conhecimento".
Dilma fará uma defesa enfática das conquistas obtidas nos oito anos de governo Lula e apontará o que precisa ser feito para o país prosseguir na rota do desenvolvimento. Além disso, vai reforçar o papel do Estado no planejamento, aliado à capacidade do mesmo em executar políticas públicas. E dirá que é essencial intensificar as obras de infraestrutura. "O salto já foi dado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nós aprendemos o caminho e vamos continuar nele", dirá, segundo um aliado da ministra.
A tendência é que Dilma adote um discurso otimista, mostrando que o modo petista de governar - ao qual ela dará continuidade - conseguiu incluir uma legião de pessoas de baixa renda na sociedade de consumo sem que isso atrapalhasse a economia ou trouxesse de volta a inflação. Que o fortalecimento desse mercado interno de massas foi fundamental para o país entrar em um ciclo de prosperidade econômica que não se via antes.
Mas chegou o momento de avançar para que estas conquistas não se percam. Por isso, destacará Dilma, a necessidade de intensificar os investimentos em educação e ciência e tecnologia para que o Brasil possa ser considerado uma nação desenvolvida.
Chamada pelo presidente Lula de mãe do PAC, Dilma também vai abordar a importância de se remover os entraves ao desenvolvimento provocados pelos gargalos no setor de infraestrutura. Vai defender os avanços do PAC 1 e reforçar que o PAC 2 virá para intensificar a presença do Estado nas periferias dos grandes centros, com o aparelhamento público - postos de saúde, postos policiais, escolas, creches e centros de cultura - para atender a população mais carente.
O discurso deve fazer ainda a defesa de um Estado indutor e parceiro, que facilita as ações da iniciativa privada e abre caminhos para a criação de novos pólos econômicos. Embora não deva ser citada na fala da ministra, um auxiliar da candidata deu como exemplo desta vertente a inauguração de uma fábrica estatal de fabricação de chips no Rio Grande do Sul, há duas semanas.
Para exercer melhor esse papel, no entanto, será preciso recompor a máquina pública. Para Dilma, isso só será possível se o funcionalismo for melhor capacitado do ponto de vista de formação e melhor remunerado, para não sucumbir ao setor privado.
O documento final ainda está sendo elaborado pela ministra, mas as linhas gerais estão definidas. Como destacaram ao Valor dois aliados próximos de Dilma, a comparação entre o governo Lula e a gestão de Fernando Henrique Cardoso - essência da campanha plebiscitária defendida por Lula - terá menos ênfase no discurso de sábado. "A fala do Congresso é para a militância petista, é o público da ministra. Durante a campanha eleitoral essa comparação será exaustivamente trabalhada. Nesse momento, contudo, ela não é necessária", afirmou um ministro do núcleo dirigente do governo e da campanha.
O discurso da pré-candidata está sendo feito em conjunto com o publicitário João Santana e com outros aliados que integram o núcleo de seu comando de campanha. Mas a redação final será decidida por ela. "Não se iludam, ela está cada vez mais confiante e com mais domínio do diálogo político. Ela vai sempre ouvir o presidente Lula, mas vai adotar um tom mais independente", assegurou um petista ligado a Dilma.
Todos os principais pontos que serão explorados por Dilma em seu discurso de sábado estão presentes no programa de governo do PT, coordenado pelo assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia. O texto terá que ser votado pelos delegados do PT na sexta-feira e servirá como documento base para ser apresentado aos demais partidos da coalizão governista.
Nele aparece um Estado mais forte, com participação direta na construção de hidrelétricas e em obras de saneamento. Há também a proposta de democratização da comunicação social e fortalecimento das conferências populares como formas de subsidiar as políticas públicas.
No mesmo dia, serão votadas também outras propostas, que, se aprovadas, poderão integrar o programa de governo do PT para a candidata Uma delas foi elaborada por Markus Sokol, da tendência O Trabalho. A proposta diverge de dois pontos essenciais do discurso de Dilma: a necessidade da aliança com o PMDB e a manutenção da política econômica. Para Sokol, que teve 1% dos votos no último Processo de Eleição Direta (PED) do partido, o PT deve ter candidato próprio em todos os Estados e dizer um "não redondo" à aliança com o PMDB. Além disso, ele defende o fim da Lei de Responsabilidade Fiscal, das metas de superávit primário e a implantação de uma política de controle do câmbio. Já a Juventude petista apresentou documento defendendo o fim do monopólio nos meios de comunicação, a revisão dos critérios de concessão de emissoras de rádio e televisão e a constituição de um sistema público de comunicação com controle social e participação popular.
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