quinta-feira, julho 26, 2007

JANGO ANTES E DEPOIS DA QUEDA

JANGO ANTES E DEPOIS DA QUEDA



O livro “Jango - As Múltiplas Faces”, dos historiadores Ângela Gomes e Jorge Ferreira, publicado pela editora FGV, procura mostrar toda a carreira do ex-Presidente João Goulart, e não apenas a sua destituição em 1964 – episodio a que, normalmente, se restringe a analise da carreira de Jango.

“Esse foi um dos nossos objetivos do livro. Foi exatamente demarcar a dimensão polêmica, ambígua, múltipla que esse político tem. E nosso objetivo não foi, digamos, resolver esta polêmica, esta ambigüidade, mas foi apresentá-la”, disse Ângela Gomes, em entrevista a Paulo Henrique Amorim (clique aqui para ouvir o áudio).

Segundo a professora Ângela Gomes, Jango é recorrentemente lembrado, ou não lembrado, exatamente pela sua inépcia, pela sua incompetência, pela sua fraqueza, pela queda.

“É como se a face do Jango político tivesse sido concentrada no momento da sua deposição e as próprias possibilidades de entender esse momento também estivessem concentrados numa determinada leitura. Numa leitura que demarca, em relação a Jango, a fraqueza, a incompetência”, disse Ângela Gomes.

A professora Ângela Gomes explicou que “o livro mostra essas múltiplas faces do Jango, abre a sua trajetória, mostra que ele é um político como muitos outros políticos com problemas, sem dúvida, com virtudes, muitas igualmente”.

“Nossa intenção é justamente fixar várias possibilidades de visão do Jango. Então, nós fizemos questão de construir um livro no qual existem posições extremamente contrárias a Jango, que o vêem muito mal, posições que o vêem muito bem, posições que vêem dificuldades na sua figura, mas que também vêem virtudes importantes da sua figura, enfim, dar a este político uma extensão política, na verdade, que é essa”, disse Ângela Gomes.

Clique aqui para ver uma galeria de fotos sobre o livro "Jango - As Múltiplas Faces".

Leia a íntegra da entrevista com a professora Angela Gomes:

Paulo Henrique Amorim – Eu vou conversar agora com a professora Ângela de Castro Gomes, doutora em ciência política pelo Iuperj, procuradora sênior do CPDOC da Fundação Getúlio Vargas e professora titular da história do Brasil da UFF (Universidade Federal Fluminense) e que acaba de lançar, ao lado de Jorge Ferreira, o livro “Jango, as múltiplas faces”. Professora Ângela, a senhora vai bem?

Angela de Castro Gomes – Vou bem.

Paulo Henrique Amorim – É um prazer falar com a senhora.

Angela de Castro Gomes – Igualmente, Paulo Henrique.

Paulo Henrique Amorim – Professora, no press-release que anuncia o lançamento do seu livro diz que o objetivo do livro é tratar de um político que teve uma longa trajetória cujo governo vai além dos momentos em que é destituído para essa abrangência histórica que os autores querem chamar a atenção dos leitores.

Angela de Castro Gomes – Exatamente.

Paulo Henrique Amorim – O que significa, até onde vai essa abrangência histórica na vida do Jango?

Angela de Castro Gomes – Bom, Paulo Henrique, na verdade o Jango é um político que pode ser entendido como exemplar, em termos de trajetória, de políticos que vivenciaram uma fase da nossa história, ou seja, aqueles políticos que ingressam na vida parlamentar, na vida política também executiva a partir do início da República de 1946, quer dizer, do fim do Estado Novo e percorrem esse momento da nossa história política até o golpe de 1964, no caso, de uma forma emblemática, porque Jango inicia essa trajetória muito jovem inicia ligado pessoalmente, imediatamente, politicamente também, a figura mais importante da história política nesse momento, que era Getúlio Vargas, ele vai conhecer Vargas no exílio, no exílio voluntário de Vargas ele vai, volta ao Rio Grande do Sul, à sua fazenda é aí que os contatos de Jango se iniciam com ele, ele era muito jovem, e, a partir daí, ele se torna um político, vincula-se ao PTB, um dos partidos que marca a nossa vida político-partidária nesse período, partido importantíssimo porque é o nosso primeiro grande partido no sentido de fazer propaganda visando um eleitorado de massas, um eleitorado popular. Jango entra no PTB, no PTB permanecerá, fará carreira político-partidária, porque irá ser presidente desse partido político e nos anos cinqüenta já é presidente desse partido político, ao mesmo tempo ele tem uma vida político-parlamentar, se elege para cargos no parlamento primeiro a nível do Rio Grande do Sul porque é o Estado, posteriormente a nível nacional, e a seguir fará carreira em postos do executivo, momento decisivo da sua vida política, ao assumir o Ministério do Trabalho durante o segundo governo Vargas. E, posteriormente, será eleito por suas vezes vice-presidente da República e é preciso...

Paulo Henrique Amorim – Eleito pelo voto popular.

Ângela de Castro Gomes – Exatamente, é essa a remarca que eu iria fazer. Eu gosto sempre de chamar a atenção que vices-presidentes no período da República de 46 a 64 não era o vice-presidente que nós temos hoje. Eles eram eleitos pelo voto popular, portanto votava-se no presidente e no vice-presidente, o que significava dizer que não havia uma chapa fechada. Você podia votar num presidente de um partido e num vice-presidente de outro e foi isso o que aconteceu nas Eleições em que Jango foi vice de Jânio Quadros. Ele não fazia parte da chapa de Jânio, portanto o vice-presidente tem uma legitimidade política muito grande, ele, evidentemente, é um ator político, ele não é um mero coadjuvante. E no caso de Jango, tanto como vice de JK quanto como vice de Jânio, ele teve um papel político muito importante. Claro que no caso de Jânio muito breve também, logo, assumindo a Presidência da República. Então, nesse sentido, percorrer a trajetória política de Jango é percorrer de uma forma específica sob um ângulo a trajetória política dessa República, que eu também acho importante da gente colocar no seu devido lugar. No sentido de que muitas vezes só se fala dessa República com suas, vamos dizer assim, carências ou faltas. Ela não foi suficientemente democrática, ela não foi suficientemente efetiva, na verdade reparos justos, mas que não alteram o fato de que esse foi um período onde tivemos uma experiência democrática muito importante e mais: tivemos eleições, aprendemos nesse sentido uma prática política democrática ainda que com limite. Mas é difícil a gente pensar em práticas políticas democráticas perfeitas. Então, essa é uma experiência que eu entendo que precisa ser entendida por um público amplo, uma experiência importante na nossa história política.

Paulo Henrique Amorim – Ou seja, de certa maneira a senhora recupera também, ou reavalia também o papel da República de 46?

Angela de Castro Gomes – Como um momento exatamente, extremamente importante do aprendizado político, de um aprendizado político liberal-democrático. De eleições, de partidos se fortalecendo, de lideranças políticas se fortalecendo. Os nossos políticos, inclusive, fazendo carreira se elegendo vereadores, deputados, senadores, vice-governadores, governadores, ou seja, montando uma trajetória, o eleitorado aprendendo a reconhecer que político é uma carreira, é uma carreira que deve ser entendida como profissional e, nesse sentido, com responsabilidades muito importantes, com transparência em relação ao eleitorado. Esse período a imprensa tem um papel muito importante, durante toda a trajetória, a imprensa escrita e a imprensa falada, o rádio. Então, também essas relações entre mídia e política também são aprendidas, nesse momento, de uma forma mais alargada e mais responsável, igualmente.

Paulo Henrique Amorim – Entendo. Agora, quando a senhora faz uma reavaliação do Jango presidente, do Jango político, do Jango vice-presidente, do Jango ministro, do Jango fundador do PTB ao lado de Vargas, que visão a senhora tem do Jango. Como a senhora diria, quem era o Jango?

Angela de Castro Gomes – Pois é, esse foi um dos nossos objetivos do livro, meu e do Jorge. Foi exatamente a gente desmarcar a dimensão polêmica, ambígua, múltipla que esse político tem. E nosso objetivo não foi, digamos, resolver esta polêmica, esta ambigüidade, mas foi apresentá-la e aí, no seguinte sentido Paulo Henrique, o Jango, na verdade em nossa avaliação, (minha e do Jorge, mas não apenas de outros historiadores e cientistas políticos igualmente) ele tem sido recorrentemente lembrado, ou não lembrado, exatamente pela sua inépcia, pela sua incompetência, pela sua fraqueza...

Paulo Henrique Amorim – Pela queda?

Angela de Castro Gomes – Exatamente. É como se a face do Jango político tivesse sido concentrada no momento da sua deposição e as próprias possibilidades de entender esse momento também estivessem concentrados numa determinada leitura. Numa leitura que demarca, em relação a Jango, a fraqueza, a incompetência. Muito mais do que as dificuldades, as dúvidas, enfim. Então, nossa proposta foi, justamente, em primeiro lugar abrir essas múltiplas faces do Jango, abrir a sua trajetória, mostrando como ele é um político como muitos outros políticos com problemas, sem dúvida, com virtudes, muitas igualmente. E como é através do livro, nossa intenção é justamente fixar várias possibilidades de visão do Jango. Então, nós fizemos questão de construir um livro no qual existem posições extremamente contrárias a Jango, que o vêem muito mal, posições que o vêem muito bem, posições que vêem dificuldades na sua figura, mas que também vêem virtudes importantes da sua figura, enfim, dar a este político uma extensão política, na verdade, que é essa. E no caso dele, trazê-lo ao cenário, porque também entendemos que ele foi, por essa razão, por ter sido concentrado nesse momento da queda, ele é uma figura política extremamente obscurecida. Nós lembramos de vários presidentes, não lembramos desse presidente e, no entanto a Presidência do Jango ela foi uma Presidência, no caso, com inúmeras realizações e tentativas de realizações e muito importante na nossa história. Que são, vamos dizer, esquecidas. Porque, quando se fala da própria Presidência do Jango, ela se concentra no momento da sua deposição.

Paulo Henrique Amorim – Agora, me permita professora, trazer um pouco para os dias atuais e é inevitável que um trabalho de história seja sempre uma maneira de iluminar os dias em que vivemos. A primeira coisa que eu gostaria de conversar com a senhora seria sobre um fato que hoje me parece similar ao que perseguiu a carreira do Jango, e desde Getúlio, que é a unanimidade da imprensa conservadora contra um presidente trabalhista. Qual foi o papel que a imprensa teve na queda do Jango?

Angela de Castro Gomes – A imprensa teve um papel, não só na queda do Jango você lembrou muito bem, ao longo da sua trajetória e aí talvez um momento significativo de ser lembrado seja exatamente o período de ministro do trabalho e, sobretudo o momento em que ele sai do Ministério do Trabalho.

Paulo Henrique Amorim – Eu posso dizer que ele foi destituído pela mídia?

Angela de Castro Gomes – Não, eu não diria que ele foi destituído pela mídia, havia outras forças políticas extremamente descontentes, entre elas os militares e o próprio empresariado, a questão de um político trabalhista que acenava possibilidades de diálogos com o movimento sindical organizado naquele momento, com lideranças, abrindo espaço para elas, tendo uma proposta, no caso a proposta do aumento do salário mínimo.

Paulo Henrique Amorim – Em 100%.

Angela de Castro Gomes – É. Mas essa proposta significativa de uma perspectiva que é preciso incorporar a classe trabalhadora ao mercado como um... E ao mercado econômico e ao mercado político.

Paulo Henrique Amorim – O que se chama hoje de inclusão.

Angela de Castro Gomes – Isso, exatamente. E uma perspectiva que, é claro que tinha vícios clientelistas e paternalistas, mas nós sabemos muito bem, nós devemos entender que os políticos também sabem disso, que, ainda que com mecanismos de clientelismos e paternalismo, controles absolutos não existem. Então, para abrir espaço para lideranças sindicais, para abrir espaço para o movimento sindical, há sempre níveis e possibilidades de ação não previstas. E isso estava sendo uma proposta política, naquele momento isso era de muito difícil absorção.

Paulo Henrique Amorim – E o papel da mídia na carreira do Jango?

Angela de Castro Gomes – O papel da mídia, eu diria a você que, no geral, foi de combatê-lo muito. Isso tinha a ver com a própria forma como a mídia funcionava, sobretudo, durante os anos 50.

Paulo Henrique Amorim – Mudou?

Angela de Castro Gomes – Muda em alguns aspectos. Você tinha uma mídia muito mais, claramente e abertamente, sem nenhum problema, com comprometimentos partidários. Quer dizer, esse combate era muito claro. A gente tinha um jornal, como era o caso da Tribuna da Imprensa, que era um jornal de um líder da UDN que fazia um combate violentíssimo e absolutamente aberto. Esse tipo de combate, desta forma, a imprensa não faz mais porque a imprensa hoje é um outro modelo, não é mais esse, né. O que não significa que a imprensa tenha menos poder e menos poder de fogo, muito pelo contrário. Mas esse tipo de combate aberto, partidário, inclusive, com vínculos absolutamente explícitos, isso realmente mudou nesse sentido. Mas voltando à questão da mídia, a mídia irá, sobretudo essa mídia com vínculos com a UDN e com vínculos com os militares, e eu não quero dizer com isso que a UDN fosse o único partido desse período, vamos dizer, que tivesse as suas aproximações com grupos militares, não era não, mas, nesse sentido, essa mídia foi extremamente combativa com o Jango durante todo o período: enquanto ele foi ministro do Trabalho, depois que ele saiu do Ministério do Trabalho, enquanto vice-presidente e enquanto presidente também.

Paulo Henrique Amorim – Agora, outra questão. Um dos motivos pelos quais o Jango caiu é que os militares acreditavam que o Jango ia dar um golpe. O Jango ia dar um golpe?

Angela de Castro Gomes – Impossível um historiador responder uma pergunta como essa, seria imaginar que a gente poderia saber o que atores políticos fariam. A gente não sabe isso na verdade. O que a gente sabe é que aquele momento político, aquele contexto político era de extrema radicalização. E, na verdade, quer pela direita, quer pela esquerda, de um desamor efetivamente pelos procedimentos políticos liberais-democráticos. Agora, o quadro político é complexo nesse momento. Havia entre os partidários de Jango, inclusive dentro do PTB, grupos que trabalhavam e trabalhavam de uma forma extremamente sofisticada eu diria exatamente para manter Jango no poder, mantendo-se o quadro democrático, ou seja, que apostavam que as reformas políticas e sociais eram imprescindíveis, que a democracia no Brasil e o desenvolvimento só viriam com essas reformas, mas que elas só se fariam mantendo-se um quadro da legalidade, ou seja, mantendo-se os procedimentos liberais-democráticos.

Paulo Henrique Amorim – Aí que a senhora incluiria o San Tiago Dantas?

Angela de Castro Gomes – Perfeitamente. San Tiago seria a liderança maior, a liderança intelectualmente e politicamente mais importante desse grupo e acho que também a trajetória de San Tiago nesse sentido é exemplar. O golpe se dá em 64, março. San Tiago morre doente, e ele já estava doente em 63 e ele já sabia disso e todos sabiam disso igualmente, morre no segundo semestre. Ou seja, San Tiago, eu gosto de fazer a imagem, é como a nossa democracia: ele tenta resistir, mas sucumbe. E sucumbe completamente mesmo. Acho que no caso dele...

Paulo Henrique Amorim – Agora, uma outra questão que eu gostaria de já me reportando aos dias que correm. Não existe com o Jango e maneira pela qual o Jango entrou na história como sendo o presidente fraco e ambíguo que se deixou derrubar, uma tentativa ou nesse caso de Jango, bem-sucedida, e no caso do presidente Lula é uma tentativa de qualificar um presidente trabalhista como inepto?

Angela de Castro Gomes – Acho um pouco arriscado essa analogia tão rápida.

Paulo Henrique Amorim – É da característica dos jornalistas, professora. (Risos)

Angela de Castro Gomes – Pois é... (Risos) Entendo que é um ponto importantíssimo que você menciona, é esse da consolidação da memória de um presidente inepto, do presidente ambíguo. E no sentido de a gente lembrar que as memórias consolidadas são fatos históricos, ou seja, há quem os produza. Memórias consolidadas não existem desde sempre nem naturalmente. Então, é importante a gente entender inclusive como mesmo após o golpe de 64 existem forças interessadas na consolidação dessa imagem e um dos indicadores pra isso é inclusive, vamos dizer assim, a violência com que os militares tratam o ex-presidente e a sua família, impedido de uma forma extremamente radical qualquer tipo de, vamos dizer, de vinda ao Brasil. Lembro por exemplo um fato, um episódio que a esposa do ex-presidente, a dona Maria Thereza Goulart, nos contou que foi por ocasião do falecimento não sei se do seu pai ou sua mãe, me fala agora, mas um dos seus mais próximos parentes, em que ela sofre extremamente pra poder vir ao enterro, quer dizer, e viria apenas ela. Eu estou tomando esse ato não como uma curiosidade, mas exatamente como um elemento sensível, que aponta uma dinâmica política, uma dinâmica que quer efetivamente afastar esse presidente e que...

Paulo Henrique Amorim – Isso parece uma história de tragédia grega.

Angela de Castro Gomes – Ah, mas de certa forma...

Paulo Henrique Amorim – Não deixar enterrar os mortos.

Angela de Castro Gomes – É, pois é. E no caso algo extremamente duro, porque é a esposa do ex-presidente e a esposa do ex-presidente não é uma política. Evidentemente é outra dimensão, mas, de qualquer forma, esse período do Jango no exílio é um período extremamente duro. Eu entendo que essa é uma das contribuições do nosso livro, especialmente pela forma como ele foi construído, porque ele foi construído sobretudo a partir de depoimentos colhidos muitos ao longo do tempo, porque eu e o Jorge fizemos uma imensa pesquisa no sentido de selecionar depoimentos cedidos a várias instituições ao longo das últimas décadas e também de produção de novos depoimentos, entre os quais três foram muito importantes: o da irmã do presidente, dona Yolanda Goulart, que gentilmente conversou conosco, e de sua esposa, dona Maria Thereza e de sua filha, Denise. Eu aproveito a oportunidade pra publicamente agradecê-las pelo tempo que nos dedicaram, pela sensibilidade que tiveram em relação ao nosso livro porque inclusive pros familiares e até hoje difícil porque essa imagem ficou muito colada e naturalmente eles têm toda uma prudência em relação a trabalhos que envolvam a figura de João Goulart.

Paulo Henrique Amorim – Professora, uma última pergunta: a senhora trata da participação dos americanos na queda do presidente João Goulart?

Angela de Castro Gomes – Olha, na verdade apenas um pouco. Eu sei que você deve estar fazendo essa pergunta em função inclusive da documentação que meu colega de universidade professor Carlos Fico encontrou nos Estados Unidos. Esse livro já estava praticamente concluído quando Fico encontrou essa documentação e foi no ano passado e nós não incorporamos e também não poderíamos fazê-lo porque quem vai naturalmente fazer isso é ele mesmo, o próprio professor.

Paulo Henrique Amorim – Nós o entrevistamos aqui no nosso site.

Angela de Castro Gomes – Pois é. Então, no nosso livro nós não temos o material que ele teve acesso e que ele mesmo disponibilizará. Nós temos indicações nesse sentido porque é claro que essa questão da presença americana, dos navios, de uma articulação efetivamente, da importância do embaixador, tudo isso a gente, digamos, sabia e isso é comentado inclusive pelos contemporâneos desse acontecimento, do golpe. Agora, a dimensão que isso teve, a articulação que isso teve, isso evidentemente, acho que se, dúvida nenhuma a pesquisa do meu colega Carlos Fico trará de uma forma maior.

Paulo Henrique Amorim – A senhora falou no San Tiago Dantas, o professor Fico nos contou que o Afonso Arinos contou ao San Tiago Dantas, os dois mineiros, que os americanos, se fosse necessário, iriam desembarcar. E que o San Tiago teria contado isso pro Jango e que isso teria sido o motivo pelo qual o Jango não resistiu.

Angela de Castro Gomes – Eu apostaria, pelos depoimentos, que Jango tinha conhecimento dessa possibilidade de uma ação armada dos norte-americanos. Não tive documentos comprobatórios como o Fico, mas esse é um dado que não está ausente dos cálculos que foram feitos na ocasião, de resistir ou não resistir.

Paulo Henrique Amorim – Muito bem, professora, já comprei o seu livro.

Angela de Castro Gomes – Oh, beleza.

Paulo Henrique Amorim – Professora Angela de Castro Gomes que com Jorge Ferreira lançou o livro “Jango, as múltiplas faces”. Muito obrigado, professora.

Angela de Castro Gomes – Obrigado a você, Paulo Henrique, por poder falar do nosso trabalho e desse período da história e desse personagem.

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