Eduardo Guimarães
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Há pouco mais de oito meses, expressiva maioria dos eleitores habilitados a votar no condutor da nação, no líder político de todos os brasileiros para o quadriênio seguinte, decidiram, pela segunda vez em quatro anos, que esse líder e condutor seria o pernambucano, ex-sindicalista, ex-torneiro mecânico Luis Inácio Lula da Silva. Ele recebeu mandato de 63% dos eleitores que escolheram algum candidato a presidente. De acordo com a Constituição brasileira, portanto, esse homem, esse cidadão chamado Lula recebeu os poderes e os deveres de presidente da República Federativa do Brasil. Seus deveres vêm sendo cobrados da forma mais rígida que se possa conceber, o que não se questiona de forma alguma. Contudo, seu direito de receber um tratamento condizente com o mandato popular que recebeu vem sendo violado de forma inaceitável.
A democracia, a Constituição Federal e o próprio senso comum ordenam que qualquer pessoa que se proponha ao serviço público submeta-se a críticas. Estas, no entanto, devem se pautar pelo respeito ao desejo da maioria dos brasileiros que recentemente foi expresso nas urnas e que, segundo sondagens de opinião empreendidas por meio de método reconhecido pela lei eleitoral e por todas as normas internacionais, é solidamente favorável ao atual presidente da República depois de oito meses de sua segunda eleição e de quatro anos e oito meses da primeira. Tais críticas vêm tratando o homem que os brasileiros escolheram legitimamente para liderá-los como se fosse um meliante, um irresponsável, um homem sem moral e sem história.
É fato inquestionável sobre Lula, por menos que queiram reconhecer seus adversários políticos, tanto os declarados quanto os não-assumidos, que ele tem, sim, o respeito de seu povo. Dessa maneira, não será uma multidão de noventa mil ou de novecentas mil pessoas, ainda mais se selecionadas por preferências políticas ou por capacidade financeira, que poderá atropelar os fatos acusando o homem que os brasileiros escolheram e apóiam para governá-los de ser autor de duas catástrofes que, ao menos em relação a uma delas, todas as investigações provaram que decorreu de fator independente do controle das autoridades. Essa catástrofe foi a que ocorreu entre o Boeing da companhia aérea Gol e o jatinho Legacy no fim do ano passado. O exame das caixas-pretas das duas aeronaves mostrou que os pilotos do jatinho, dois norte-americanos, desligaram equipamentos de segurança da aeronave tais como o transponder e o rádio. Essa foi a causa daquele acidente detectada por todas investigações que o desastre sofreu. O resto são suposições e insinuações sem provas.
Sobre o desastre do dia 17 último em São Paulo, líderes políticos de oposição ao governo federal e manchetes e artigos de jornal - que, explícita ou implicitamente, fizeram coro com essa oposição e acusaram o presidente Lula de autor do "assassinato de mais de 250 pessoas" - precipitaram-se irresponsável e até criminosamente, não só pelo linchamento sumário que promoveram da autoridade maior do país sem qualquer base em fatos mas também por disseminarem pânico num momento em que a situação nos aeroportos vem tendendo à exacerbação de ânimos de forma a ocasionar até confrontos físicos, perturbando a ordem pública.
Tal qual ocorreu e continua ocorrendo na Venezuela, um setor político, ideológico, social, econômico e até étnico da sociedade quer fazer prevalecer suas preferências políticas sobre as da maioria por meio do controle que exerce sobre os meios de comunicação. E o pior é que esse controle decorre do simples fato de essa parcela da sociedade estar no topo estreito da pirâmide da renda nacional, como bem mostram os dados técnicos de pesquisas de opinião sobre quais foram os setores que fizeram e que não fizeram a opção eleitoral que redundou na eleição do atual presidente da República.
Com base nos argumentos que apresentei, exorto o conjunto da sociedade a condenar o açodamento, a intolerância, a leviandade, a pressa e, sobretudo, a má-fé de apontar culpas à revelia dos fatos por conta de interesses políticos como vêm fazendo os meios de comunicação, que têm ignorado provas em benefício de especulações. Exorto, pois, a sociedade brasileira a não misturar o desastre aéreo do ano passado e o atual com as operações-tartaruga de controladores de vôo que geraram o que a mídia optou por chamar de "apagão aéreo", numa alusão visivelmente mal-intencionada ao racionamento de energia elétrica ocorrido no final do segundo governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A vontade da maioria jamais terá direito de sufocar a da minoria. Entretanto, é antidemocrático os meios de comunicação sufocarem ou diminuírem o peso de opiniões que os contradigam. Democracia é convivência civilizada entre divergentes, é garantia de espaço para todos apresentarem suas razões e, por força disso, não comporta "mecanismos" que façam preponderar artificialmente alguma dessas razões. Essa anomalia, infelizmente, está ocorrendo em larga escala neste país de uma forma que está envenenando a nossa sociedade exatamente como vem ocorrendo na Venezuela, onde a sociedade vem se dividindo em classe sociais e étnicas de forma dramática. Trazer o debate político para esfera mais civilizada, democrática e serena, pois, é dever de todo brasileiro consciente preocupado com o bem comum.
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