Sonegação no Brasil é 20 vezes maior que gasto com Bolsa Família, diz Sinprofaz
11/12/2013 - 15h24
Economia
Daniel Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A sonegação no Brasil é 20 vezes maior do que o valor gasto com o Programa Bolsa Família. O cálculo é do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz), que volta a exibir hoje (11), em Brasília, o Sonegômetro, para mostrar os prejuízos que o país tem com a sonegação.
O placar, online, indica que a sonegação fiscal no Brasil está prestes a ultrapassar a casa dos R$ 400 bilhões. Desenvolvido pelo Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz), o Sonegômetro apresenta, em tempo real, o quanto o país deixa de arrecadar todos os dias.
Para o presidente do Sinprofaz, Heráclio Camargo, a sonegação caminha em conjunto com a corrupção. “A sonegação e a corrupção caminham juntas porque a corrupção precisa do dinheiro da sonegação para financiar as campanhas de políticos inescrupulosos e fomentar o círculo vicioso da lavagem de dinheiro”, disse ele.
“Infelizmente, o Brasil é leniente”, ressaltou Camargo, porque permite a inscrição, com o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), de empresas localizadas em paraísos fiscais. Segundo o presidente do Sinprofaz, basta procurar em todos os jornais, em notícias recentes e em todas as operações da Polícia Federal.
“É só observar que, em todos os mensalões de todos os partidos, usam-se mecanismos sofisticados de lavagem de dinheiro, e o governo federal não muda essa sistemática de permitir que empresas instaladas em paraísos fiscais sejam donas de hotéis, de restaurantes. São negócios que têm uma fachada lícita, mas muitos deles servem para lavar dinheiro”, reclamou.
Nos cálculos feitos por Camargo, R$ 400 bilhões representam aproximadamente 10% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riqueza produzidas no país), 25% do que é arrecadado. É 20 vezes mais do que se gasta com o Bolsa Família. De acordo com Camargo, mesmo com os questionamentos sobre esse programa, ele é benéfico para a economia, pois os recursos dele criam um circulo “virtuoso” da economia local. “Imagine se pegássemos 20 vezes esse valor e investíssemos em saneamento básico, na melhoria dos salário dos professores e na estruturação das carreiras de Estado. Seria um outro país, com R$ 400 bilhões a mais do que temos agora.”
Isso sem contar os valores da dívida ativa, que está em R$ 1,4 trilhão, acrescentou Heráclio. Ele destacou que os procuradores sequer têm um servidor de apoio por procurador, enquanto os juízes têm de 15 a 20 servidores. “Os culpados pelo sucateamento da Procuradoria da Fazenda Nacional são o Ministério da Fazenda e a Advocacia-Geral da União.” Para ele, é importante que a sociedade cobre, pois existem 300 vagas em aberto para a carreira de procurador e não há, também, carreira de apoio para combater o que ele considera "sonegação brutal" [R$ 400 bilhões] e tentar arrecadar melhor essa dívida de R$ 1,4 trilhão.
“São quase R$ 2 trilhões que estão aí para ser cobrados, e o governo pune os mais pobres e a classe média com uma tributação indireta alta e, notadamente, com a contrapartida baixa que é dada pelo Estado brasileiro, afirmou.
Edição: Nádia Franco
O objetivo deste blog é discutir um projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil. Esse projeto não brotará naturalmente das forças de mercado e sim de um engajamento político que direcionará os recursos do país na criação de uma nação soberana, desenvolvida e com justiça social.
sexta-feira, dezembro 13, 2013
As placas tectônicas se mexem!
O Cafezinho
por Miguel do Rosário
O ex e atual presidentes da república talvez quisessem algo mais discreto. A Globo talvez esperasse uma reação envergonhada. O que aconteceu, no entanto, surpreendeu a todos. A militância petista presente à abertura do 5º Congresso do partido, realizada ontem, em Brasília, recebeu as suas maiores lideranças com inflamados gritos de guerra.
A coragem, como se diz, contamina. E nada melhor para unir uma comunidade política do que um inimigo externo, ainda mais se há convicção de que este agiu com má fé, mau caratismo e arbitrariedade, como é o caso da grande mídia.
Tem alguma coisa se mexendo nas placas tectônicas da política nacional. Na postura corajosa da militância petista e do próprio presidente do partido, Rui Falcão, havia um pouco do calor das milhões de pessoas que saíram às ruas, nos meses de junho a julho, gritando um refrão desconcertante:
“A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura!”
Em 2014, teremos o aniversário de 50 anos do golpe de Estado. Iremos “comemorar”? Ou iremos usar a data para esmagar, de uma vez por todas, os resquícios da ditadura?
Este ano, descobrimos que os generais receberam milhões de dólares para apoiar o golpe de Estado e que Juscelino Kubischek foi assassinado.
Este ano, duas escolas, uma no Rio, outra em Salvador, decidiram, via eleições internas diretas, mudar de nome. Em Salvador, a escola Emilio Garrastazu Medice deu 406 votos para Marighella e 128 votos para Milton Santos. Nenhum voto para a ditadura. No Rio, o Colégio Estadual Presidente Costa e Silva decidiu mudar seu nome para Abdias Nascimento, um dos mais importantes representantes do movimento negro nacional, e que ocupou a Secretaria de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras durante o governo Brizola.
O Brasil está perdendo o medo daqueles que apoiaram o regime militar e com ele se tornaram poderosos. E que tentam manter as benesses conquistadas durante o tempo de exceção, através de uma tática ainda mais vil que a truculência dos milicos: manipulando as informações.
Isso não é brincadeira. Os falcões americanos deram um golpe contra a paz mundial com mentiras sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque. A informação foi manipulada e o mundo perdeu mais de um milhão de vidas, além da tunga de dois trilhões de dólares no contribuinte americano.
A irresponsabilidade da nossa mídia, repito, não é brincadeira. Não é mais uma questão de “bater” no PT. Eles agridem a democracia, de um lado, e prejudicam a nossa economia, de outro. E, assim como em 1964, por um punhado de dólares…
Ontem, por exemplo, aconteceu uma coisa muito grave. Houve um ridículo ataque especulativo à Petrobrás e aos interesses nacionais, felizmente abortado pelo Fernando Brito, do Tijolaço. Baseado na informação de um site apócrifo, um coxinha que faz “contribuições” para o site da Forbes, provavelmente de graça, noticiou que a Petrobrás tem 31% de chance de falir. A grande mídia e o PSDB, ambos sem nenhum compromisso com a verdade, com a Petrobrás e com o Brasil, repercutiram a irresponsabilidade.
Brito logo descobriu que o mesmo site, fonte da “previsão”, estima que a Vale, a maior empresa de minério de ferro do planeta, tem 59% de chance de falir. Ou seja, é quase um site de pornochanchada financeira, tocado por algum robozinho mal programado.
Aliás, não se trata mais apenas de irresponsabilidade e incompetência. Há interesses muito mais obscuros por trás dessa campanha sistemática contra o Brasil. A quem interessa comprar tão facilmente uma previsão, baseada em informações falsas, de que a Petrobrás, a jóia da nossa coroa, tem chance de falir? Em informações falsas, repito!
Os americanos, agora sabemos, fugiram de Libra porque planejavam um assalto político mais vantajoso no México, onde um governo conservador lhes garantiu a chance de explorarem petróleo com desenvoltura e truculência imperialistas. Mas ainda continuam por aqui, patrocinando manipulações, para que os fluxos mundiais de investimento fiquem só com eles, não com a gente.
*
Abaixo, reproduzo chamada na capa, fác-símile da página 3, e o texto da matéria, do Globo de hoje, para registro histórico.
NO GLOBO
Com Lula e Dilma, Congresso do PT se transforma em ato de apoio a mensaleiros condenados
Ex-presidente cita caso de helicóptero pego com cocaína e diz que imprensa dá mais atenção ao mensalão
Em discurso, Rui Falcão diz que mensalão foi ‘tsunami de manipulação’
FERNANDA KRAKOVICS E LUIZA DAMÉ
Publicado:
12/12/13 – 18h15
Atualizado:
12/12/13 – 23h01
BRASÍLIA – Com as presenças da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o 5º Congresso do partido, aberto na noite desta quinta-feira, foi transformado em um ato de apoio aos petistas condenados no julgamento do mensalão. Com Lula e Dilma no palco, a plateia gritou em coro: “Dirceu, guerreiro do povo brasileiro”, “Genoino, guerreiro do povo brasileiro”, e “Delúbio guerreiro, do povo brasileiro”. Lula começou seu discurso afirmando que não falaria de mensalão, mas depois de apelos da militância se referiu ao caso como “a maior campanha de difamação”:
- Eles tinham medo do Lula, agora têm que enfrentar a Dilma e o Lula, agora têm que enfrentar um partido que na maior campanha de difamação faz um PED (Processo de Eleição Direta) e coloca mais de 400 mil militante para votar – disse Lula, citando as eleições internas do PT, que elegeu novos dirigentes no mês passado.
O ex-presidente também comparou o caso do helicóptero de um parlamentar pego com cocaína à repercussão do emprego de Dirceu.
- Nosso partido tem sido vítima das suas virtudes e não só de seus defeitos. Somos criticados pelas coisas boas que fazemos, não só pelos erros. Se for comparar o emprego do Zé Dirceu no hotel com a quantidade de cocaína no helicóptero, pelo menos houve uma desproporcionalidade na divulgação do assunto – disse Lula, em referência à cocaína encontrada no helicóptero que pertence à família do senador Zezé Perrella (PDT-MG).
Antes de falar, a plateia havia gritado, em coro:
- Lula, guerreiro, defenda os companheiros.
Dilma: ‘couro duro’
Dilma, em seu discurso, não citou o mensalão, mas relembrou a afirmação de Lula de que há momentos em que se adquire um “couro duro” com os ataques sofridos pelos oponentes.
- Adquirimos um couro duro. Esse couro duro é que nos permite que olhemos sempre para nossas origens, para o fato de que somos um partido que representa uma causa, uma ideia e que não pode nesses momentos difíceis, onde o couro fica duro, esquecer quem somos. É isso que nos mobiliza, e faz com que enfrentemos todas as dificuldades e saibamos que a vida é dura – disse Dilma.
Ela citou os protestos que acontecerem no país neste ano, e disse que o PT é um partido que ouve o que pedem as ruas e que o governo dela tem a mesma postura.
- Jamais nos esqueceremos daquilo que conquistamos, por isso sabemos que são importantes alguns momentos do país. Não somos um partido que deixa de ouvir os movimentos populares, que deixa de ouvir as manifestações. E por isso não podemos ser um governo que não escuta as ruas e as manifestações.
Dilma afirmou que nenhum outro partido fez tanto pela transparência e combate a corrupção. Ela defendeu uma reforma nas instituições políticas e afirmou que é preciso buscar mais ética.
- É algo que o PT sempre defendeu – disse.
Rui Falcão: ‘tsunami de manipulação’
O presidente do PT, Rui Falcão, abordou o julgamento em discurso. Falcão disse que os petistas foram condenados injustamente e sem provas. Ele afirmou que o julgamento foi um “tsunami de manipulação” e que o processo foi político, para manipular a população contra o PT.
- É o típico caso da manipulação realimentando a mentira e da mentira realimentando a manipulação. A história vai provar que nossos companheiros foram condenados sem provas, em um processo nitidamente político, influenciado pela mídia conservadora – disse o presidente da legenda, que reforça que não foi usado dinheiro público no mensalão.
Como foi dito ontem na Câmara pelo deputado João Paulo Cunha (PT-SP), um dos condenados, Falcão afirmou que o julgamento é uma situação de “dois pesos e duas medidas” e que opositores seguem sem punição por outros casos. Ele cita o suposto mensalão mineiro, que teria entre os participantes políticos do PSDB.
- Surpreendentemente, o suposto sentimento de punição e justiça continua sem alcançar determinados setores e partidos, o que caracteriza uma inegável situação de dois pesos e duas medidas. Por que o silêncio de mais de uma década, no martelo dos juízes, no famoso mensalão do PSDB mineiro? – afirmou Falcão.
As denúncias de formação de cartel no metrô se São Paulo, que atingem o governo paulista e políticos do PSDB, também foram citadas pelo petista. Falcão disse, no discurso, que o governo de Lula e de Dilma foram os que mais combateram a corrupção.
- Não faremos uma campanha no estilo mar de lama como nossos adversários estão acostumados, e na qual, aliás, foram treinados por seus ancestrais. Mas se enganam os que pensam que vamos levar injustiça e desaforo para casa.
Participaram do Congresso do PT os ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Aloizio Mercadante (Educação), Alexandre Padilha (Saúde), Tereza Campello (Desenvolvimento Social), Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Miriam Belchior (Planejamento), Eleonora Menicucci (Políticas para as Mulheres) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais).
Versões de Lula para o mensalão
Em 2005, em meio à crise do mensalão, o ex-presidente Lula fez um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV dizendo que se sentia traído pelos acontecimentos divulgados, e pediu desculpas ao povo brasileiro.
Mais tarde, Lula passou a divulgar diversas versões sobre o caso, desde que fora uma mera repetição de atitude comum aos políticos brasileiros, o uso de caixa 2 nas campanhas eleitorais, até que tudo não passara de uma tentativa golpista de tirá-lo do poder. Lula prometeu ainda provar, quando saísse da Presidência da República, que o mensalão simplesmente não existiu.
por Miguel do Rosário
O ex e atual presidentes da república talvez quisessem algo mais discreto. A Globo talvez esperasse uma reação envergonhada. O que aconteceu, no entanto, surpreendeu a todos. A militância petista presente à abertura do 5º Congresso do partido, realizada ontem, em Brasília, recebeu as suas maiores lideranças com inflamados gritos de guerra.
A coragem, como se diz, contamina. E nada melhor para unir uma comunidade política do que um inimigo externo, ainda mais se há convicção de que este agiu com má fé, mau caratismo e arbitrariedade, como é o caso da grande mídia.
Tem alguma coisa se mexendo nas placas tectônicas da política nacional. Na postura corajosa da militância petista e do próprio presidente do partido, Rui Falcão, havia um pouco do calor das milhões de pessoas que saíram às ruas, nos meses de junho a julho, gritando um refrão desconcertante:
“A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura!”
Em 2014, teremos o aniversário de 50 anos do golpe de Estado. Iremos “comemorar”? Ou iremos usar a data para esmagar, de uma vez por todas, os resquícios da ditadura?
Este ano, descobrimos que os generais receberam milhões de dólares para apoiar o golpe de Estado e que Juscelino Kubischek foi assassinado.
Este ano, duas escolas, uma no Rio, outra em Salvador, decidiram, via eleições internas diretas, mudar de nome. Em Salvador, a escola Emilio Garrastazu Medice deu 406 votos para Marighella e 128 votos para Milton Santos. Nenhum voto para a ditadura. No Rio, o Colégio Estadual Presidente Costa e Silva decidiu mudar seu nome para Abdias Nascimento, um dos mais importantes representantes do movimento negro nacional, e que ocupou a Secretaria de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras durante o governo Brizola.
O Brasil está perdendo o medo daqueles que apoiaram o regime militar e com ele se tornaram poderosos. E que tentam manter as benesses conquistadas durante o tempo de exceção, através de uma tática ainda mais vil que a truculência dos milicos: manipulando as informações.
Isso não é brincadeira. Os falcões americanos deram um golpe contra a paz mundial com mentiras sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque. A informação foi manipulada e o mundo perdeu mais de um milhão de vidas, além da tunga de dois trilhões de dólares no contribuinte americano.
A irresponsabilidade da nossa mídia, repito, não é brincadeira. Não é mais uma questão de “bater” no PT. Eles agridem a democracia, de um lado, e prejudicam a nossa economia, de outro. E, assim como em 1964, por um punhado de dólares…
Ontem, por exemplo, aconteceu uma coisa muito grave. Houve um ridículo ataque especulativo à Petrobrás e aos interesses nacionais, felizmente abortado pelo Fernando Brito, do Tijolaço. Baseado na informação de um site apócrifo, um coxinha que faz “contribuições” para o site da Forbes, provavelmente de graça, noticiou que a Petrobrás tem 31% de chance de falir. A grande mídia e o PSDB, ambos sem nenhum compromisso com a verdade, com a Petrobrás e com o Brasil, repercutiram a irresponsabilidade.
Brito logo descobriu que o mesmo site, fonte da “previsão”, estima que a Vale, a maior empresa de minério de ferro do planeta, tem 59% de chance de falir. Ou seja, é quase um site de pornochanchada financeira, tocado por algum robozinho mal programado.
Aliás, não se trata mais apenas de irresponsabilidade e incompetência. Há interesses muito mais obscuros por trás dessa campanha sistemática contra o Brasil. A quem interessa comprar tão facilmente uma previsão, baseada em informações falsas, de que a Petrobrás, a jóia da nossa coroa, tem chance de falir? Em informações falsas, repito!
Os americanos, agora sabemos, fugiram de Libra porque planejavam um assalto político mais vantajoso no México, onde um governo conservador lhes garantiu a chance de explorarem petróleo com desenvoltura e truculência imperialistas. Mas ainda continuam por aqui, patrocinando manipulações, para que os fluxos mundiais de investimento fiquem só com eles, não com a gente.
*
Abaixo, reproduzo chamada na capa, fác-símile da página 3, e o texto da matéria, do Globo de hoje, para registro histórico.
NO GLOBO
Com Lula e Dilma, Congresso do PT se transforma em ato de apoio a mensaleiros condenados
Ex-presidente cita caso de helicóptero pego com cocaína e diz que imprensa dá mais atenção ao mensalão
Em discurso, Rui Falcão diz que mensalão foi ‘tsunami de manipulação’
FERNANDA KRAKOVICS E LUIZA DAMÉ
Publicado:
12/12/13 – 18h15
Atualizado:
12/12/13 – 23h01
BRASÍLIA – Com as presenças da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o 5º Congresso do partido, aberto na noite desta quinta-feira, foi transformado em um ato de apoio aos petistas condenados no julgamento do mensalão. Com Lula e Dilma no palco, a plateia gritou em coro: “Dirceu, guerreiro do povo brasileiro”, “Genoino, guerreiro do povo brasileiro”, e “Delúbio guerreiro, do povo brasileiro”. Lula começou seu discurso afirmando que não falaria de mensalão, mas depois de apelos da militância se referiu ao caso como “a maior campanha de difamação”:
- Eles tinham medo do Lula, agora têm que enfrentar a Dilma e o Lula, agora têm que enfrentar um partido que na maior campanha de difamação faz um PED (Processo de Eleição Direta) e coloca mais de 400 mil militante para votar – disse Lula, citando as eleições internas do PT, que elegeu novos dirigentes no mês passado.
O ex-presidente também comparou o caso do helicóptero de um parlamentar pego com cocaína à repercussão do emprego de Dirceu.
- Nosso partido tem sido vítima das suas virtudes e não só de seus defeitos. Somos criticados pelas coisas boas que fazemos, não só pelos erros. Se for comparar o emprego do Zé Dirceu no hotel com a quantidade de cocaína no helicóptero, pelo menos houve uma desproporcionalidade na divulgação do assunto – disse Lula, em referência à cocaína encontrada no helicóptero que pertence à família do senador Zezé Perrella (PDT-MG).
Antes de falar, a plateia havia gritado, em coro:
- Lula, guerreiro, defenda os companheiros.
Dilma: ‘couro duro’
Dilma, em seu discurso, não citou o mensalão, mas relembrou a afirmação de Lula de que há momentos em que se adquire um “couro duro” com os ataques sofridos pelos oponentes.
- Adquirimos um couro duro. Esse couro duro é que nos permite que olhemos sempre para nossas origens, para o fato de que somos um partido que representa uma causa, uma ideia e que não pode nesses momentos difíceis, onde o couro fica duro, esquecer quem somos. É isso que nos mobiliza, e faz com que enfrentemos todas as dificuldades e saibamos que a vida é dura – disse Dilma.
Ela citou os protestos que acontecerem no país neste ano, e disse que o PT é um partido que ouve o que pedem as ruas e que o governo dela tem a mesma postura.
- Jamais nos esqueceremos daquilo que conquistamos, por isso sabemos que são importantes alguns momentos do país. Não somos um partido que deixa de ouvir os movimentos populares, que deixa de ouvir as manifestações. E por isso não podemos ser um governo que não escuta as ruas e as manifestações.
Dilma afirmou que nenhum outro partido fez tanto pela transparência e combate a corrupção. Ela defendeu uma reforma nas instituições políticas e afirmou que é preciso buscar mais ética.
- É algo que o PT sempre defendeu – disse.
Rui Falcão: ‘tsunami de manipulação’
O presidente do PT, Rui Falcão, abordou o julgamento em discurso. Falcão disse que os petistas foram condenados injustamente e sem provas. Ele afirmou que o julgamento foi um “tsunami de manipulação” e que o processo foi político, para manipular a população contra o PT.
- É o típico caso da manipulação realimentando a mentira e da mentira realimentando a manipulação. A história vai provar que nossos companheiros foram condenados sem provas, em um processo nitidamente político, influenciado pela mídia conservadora – disse o presidente da legenda, que reforça que não foi usado dinheiro público no mensalão.
Como foi dito ontem na Câmara pelo deputado João Paulo Cunha (PT-SP), um dos condenados, Falcão afirmou que o julgamento é uma situação de “dois pesos e duas medidas” e que opositores seguem sem punição por outros casos. Ele cita o suposto mensalão mineiro, que teria entre os participantes políticos do PSDB.
- Surpreendentemente, o suposto sentimento de punição e justiça continua sem alcançar determinados setores e partidos, o que caracteriza uma inegável situação de dois pesos e duas medidas. Por que o silêncio de mais de uma década, no martelo dos juízes, no famoso mensalão do PSDB mineiro? – afirmou Falcão.
As denúncias de formação de cartel no metrô se São Paulo, que atingem o governo paulista e políticos do PSDB, também foram citadas pelo petista. Falcão disse, no discurso, que o governo de Lula e de Dilma foram os que mais combateram a corrupção.
- Não faremos uma campanha no estilo mar de lama como nossos adversários estão acostumados, e na qual, aliás, foram treinados por seus ancestrais. Mas se enganam os que pensam que vamos levar injustiça e desaforo para casa.
Participaram do Congresso do PT os ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Aloizio Mercadante (Educação), Alexandre Padilha (Saúde), Tereza Campello (Desenvolvimento Social), Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Miriam Belchior (Planejamento), Eleonora Menicucci (Políticas para as Mulheres) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais).
Versões de Lula para o mensalão
Em 2005, em meio à crise do mensalão, o ex-presidente Lula fez um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV dizendo que se sentia traído pelos acontecimentos divulgados, e pediu desculpas ao povo brasileiro.
Mais tarde, Lula passou a divulgar diversas versões sobre o caso, desde que fora uma mera repetição de atitude comum aos políticos brasileiros, o uso de caixa 2 nas campanhas eleitorais, até que tudo não passara de uma tentativa golpista de tirá-lo do poder. Lula prometeu ainda provar, quando saísse da Presidência da República, que o mensalão simplesmente não existiu.
Michelle Bachelet entre “os mercados” e o clamor das ruas
Frederico Füllgraf
de Santiago do Chile
A poucos dias do segundo turno das eleições presidenciais no Chile, ninguém mais, dentro e fora do país, duvida que Michelle Bachelet será a mandatária do país andino até 1º. de janeiro de 2018.
A direita, que em menos de um ano escalou três candidatos, dos quais dois renunciaram – o último deles, o pinochetista Pablo Longueira, afetado por grave crise de depressão – disputa o páreo com Evelyn Matthei, filha de um general que durante catorze anos integrou a ditadura Pinochet, e que nada fez para impedir a prisão e a morte de seu colega de farda, Brigadeiro Alberto Bachelet, pai da candidata de centro-esquerda, falecido nas masmorras da ditadura chilena em março de 1974. Indiferente à derrota que sua candidata sofrerá no próximo domingo, 15, Sebastián Piñera, dono de patrimônio avaliado em 2,5 bilhões de dólares, retorna aos seus negócios, distribuídos entre línhas aéreas, o clube de futebol Colo Colo, administradora de cartões de crédito e supermercados.
Para Evelyn Matthei o páreo se encerra em 15 de dezembro, já para a virtual Presidente Bachelet a arrumação do país começa no dia seguinte. Seus desafios são enormes: o Chile não apenas vive sob uma democracia amordaçada pelo legado pinochetista, com uma Constituição e leis ordinárias permeadas pelo estado de exceção, mas é também um país assimético, ultra-centralizado em Santiago, com notável dívida à diversidade e autonomia das províncias, e sobretudo um país imensamente desigual.
As 50 medidas dos primeiros 100 dias de governo
A duas semanas de assumir o poder, Bachelet terá que arrebatar a Sebastián Piñera e sua bancada direitista no Congresso, a garantia de disponiblidade orçamentária para financiar as primeiras 50 medidas que pretende implementar nos primeiros 100 dias de seu governo. A grosso modo, seu programa de governo, dilatado em quatro anos, está focado em três grandes eixos: as reformas tributária, do ensino e da Constituição. Contudo, um amplo leque de medidas emergencias tem por objetivo reduzir imediatamente parte da dívida social acumulada. Entre elas estão a entrega dos primeiros 500, de um total de 4.500 novos berçários em todo o Chile; a criação de duas novas universidades públicas regionais, uma delas na explosiva província de Aysén; convênios para criação das 5 primeiros escolas públicas regionais de Formação Técnica; implementação do Fundo Nacional de Medicamentos, conveniado com todas as municipalidades do país; contratação de 750 novos médicos especialistas para o sistema de saúde pública; projeto de lei que cria, a partir de 2014, o Aporte Familiar Permanente, subsídio de combate à pobreza no valor mensal de 40.000 Pesos (equivalente a R$ 175,00) que beneficiará 2,0 milhões de famílias; programa de Formação e Capacitação Profissional para aumentar a participação feminina no mercado de trabalho, beneficiando 300.000 mulheres, e assim por diante.
São medidas com sabor paliativo, poder-se-ia argumentar, porque a expectativa da maioria do eleitorado de Bachelet, situado à esquerda, é de que a Presidente dê mostra de vontade política para desmontar o arcabouço neoliberal inaugurado pela ditadura Pinochet, que catapultou o Chile ao topo das economias latino-americanas de maior crescimento nos últimos vinte anos, mas instalando-o também no ranking dos países socialmente mais desiguais, onde ocupa a nada invejável 6ª posição, um pouco atrás do Brasil.
“Neoliberalismo configurou corações e mentes”
Alberto Mayol, jovem sociólogo da Universidade do Chile e autor de “El derrumbe del modelo. La crisis de la economía de mercado en el Chile contemporáneo” (Editorial LOM), campeão de vendas em 2012, alerta que “a pobreza, efetivamente, é um assunto premente, mas a desigualdade é uma manifestação que não tem semelhança imediata com a pobreza, e no Chile nunca mereceu atenção do poder constituído”.
Comentando o alto índice de abstenção no primeiro turno da eleição presidencial, Mayol assinala que o país chega à disputa “com um ciclo de impugnação agudo, no qual são objetados os valores culturais dominantes e fundamentais desse modelo de sociedade”. Ter elegido em 2010 o bilionário Sebastián Piñera, foi para o sociólogo “o tirunfo cultural do lucro como suposta forma de sociabilidade e mecanismo político”, mas ao final do quatriênio de seu mandato, a percepção dos chilenos seria de que “o lucro é coisa de Satanás”, tamanha a indignação popular com a súbita riqueza e opulência de poucos e a exclusão social de muitos (leia também deste autor, “A face perversa do ´modelo chileno”). Por isso, segundo Mayol, confirmada a tendência de sua vitória no próximo domingo, Michelle Bachelet deveria governar com protagonistas do movimento social, como a comunista Camila Vallejo, ou o deputado da Esquerda Autônoma, Giorgio Jackson, ambos ex-líderes estudantis recém-eleitos deputados.
A rigor, antes de nada mais, a nova presidente deveria promover uma revolução espiritual e cultural, porque “o neoliberalismo não apenas semeou um modelo econômico e político, mas também configurou corações e mentes”, advertiu com pena áspera e doída, Cristian Zúñiga, na edição de 11 de novembro do jornal Clarin, chileno. Segundo o articulista, o senso comum no Chile contemporâneo está contaminado por uma concepção neo-conservadora da vida, onde o individualismo, a competição desenfreada e a violência são pão de cada dia.
Os mercados e os ministeriáveis de Bachelet
Essa subcultura do “quem pode mais, chora menos”, do “vale tudo” legado pelo pínochetismo, foi a marca da transição e impulsionou a formação desenfreada das novas grandes fortunas no país, por isso é motivo de preocupação de influentes pesquisadores e jornalistas chilenos, que suspeitam “mais do mesmo”: a continuação do “modelo” das desigualdades sociais.
É fato que, desde seu retorno ao Chile, no início de 2013, quando abdicou em Nova York ao cargo de Diretora Executiva do Programa ONU-Mulheres, Michelle Bachelet vem sendo assediada por representantes dos grandes grupos econômicos do país, tais como operadores do Grupo Luksic (com 17,4 bilhões de dólares, segundo o ranking Forbes 2013, a maior fortuna do Chile e uma das maiores das Américas), da ONG Paz Ciudadana, fundada por Agustín Edwards como forum conservador que discute e emite propostas da iniciativa privada no combate à criminalidade, e até mesmo personagens de comprometedora reputação política, como Alberto Kassis, membro do Conselho Protetor da Fundação Pinochet.
O assédio é articulado com jantares, encontros privados e declarações de apoio, e sinaliza duas intenções. Reconhecendo em Bachelet a candidatura potencialmente vitoriosa, o grande empresariado quer descolar sua imagem do pinochetismo, mas também exercer sua influência, recomendando “prudência” e “governabilidade”, vocabulário restritivo que já contamina o próprio discurso da candidata socialista.
Carregando nas tintas com o título “Los personajes del terror del nuevo comando de Bachelet”, em sua edição de 14/07/2013 o jornal esquerdista “El Ciudadano” advertiu para um think tank chamado Espacio Público, criado em 2012 por Eduardo Engel, economista e colunista dominical do jornal “La Tercera”, de propriedade do empresário atacadista de origem árabe, Alvaro Saieh, dono de um patrimônio de 3,0 bilhões de dólares (Forbes 2013) e, junto com o Grupo El Mercurio, controlador de 90% da imprensa escrita no Chile.
Na mesma linha, Ernesto Carmona, prestigiado articulista da velha guarda e autor de “Los duenõs de Chile” (Ed. La Huella, Santiago, 2002), assinalou na edição de 24/07/2013 do jornal “Clarin”, chileno, que o próprio comando programático de Bachelet era frequentado por “uma gama de veteranos habituados a atravessar com desenvoltura a porta giratória entre o ´serviço público´e os negócios privados. Os integrantes mais relevantes e de maior influência no time, têm como denominador comum levar em seu DNA a ideología neoliberal”. “No insigne trato editorial de seus jornais, “La Tercera” e “Pulso”, destinado ao setor empresarial, o apoio de Saieh a Bachelet é notório”, dizia Carmona.
O temível “engenheiro da previdência”
Talvez o personagem mais polêmico do comando programático da futura presidente socialista seja mesmo Alberto Arenas, ex-diretor executivo do Orçamento no primeiro governo de Bachelet, onde se desempenhou como artífice de uma reforma previdenciária que, segundo os analistas, não tocou nos interesses dos grandes grupos privados, depois do que Arenas mudou-se para a Grupo Luksic como diretor do Canal 13 de TV, de propriedade do grupo de origem croata.
Em seu ácido artigo de julho, o “El Ciudadano” recorda que “o militante comunista e dirigente estudantil, Alberto Arenas, depois de formar-se em engenharia comercial na Universidade de Chile, abandonou as camisetas com a estampa do Ché Guevara, afrouxou o punho cerrado e em 1991 assumiu a gerência de estudos do Banco Sud Americano. Dos anos depois, fez doutorado na Universidad de Pittsburgh, onde iniciou suas pesquisas sobre a reforma previdenciária realizada por Pinochet”.
Ligado ao senador Camilo Escalona, do Partido Socialista, agora Arenas está de volta como autor do projeto de reforma tributária de Bachelet, que pretende alocar 3% do PIB (aprox. 8,2 bilhões de dólares), extinguir o Fundo de Utilidades Tributáveis (FUT), aumentar o imposto de renda das empresas, de 20% para 25%, e baixar a alíquota máxima para pessos físicas de 40% para 35%.
Os 3% do PIB deverão financiar a reforma da educação, mas Arenas já advertiu em entrevistas que não se alimente ilusões e que tudo seja feito com “prudência”, “seriedade” e“responsabilidade”.
Desde o primeiro governo Bachelet transcorreram cinco anos, e até mesmo Joaquín Vial, ex-presidente do fundo privado de pensões Provida, admitiu em 2012 que 60% dos pensionistas afiliados aos fundos privados, que dominam 90% do “mercado de pensões”, recebem hoje uma aposentadoria abaixo de 150 mil Pesos (aprox. R$ 650) mensais. Segundo a OCDE (2012), em torno de 20% dos chilenos de terceira idade vivem na pobreza, superando a média dos países signatários, que é de 12,8%.
Resistir e impor-se à pressão dos mercados, manter-se fiel ao diálogo com as ruas - eis o maior desafio de Michelle Bachelet
de Santiago do Chile
A poucos dias do segundo turno das eleições presidenciais no Chile, ninguém mais, dentro e fora do país, duvida que Michelle Bachelet será a mandatária do país andino até 1º. de janeiro de 2018.
A direita, que em menos de um ano escalou três candidatos, dos quais dois renunciaram – o último deles, o pinochetista Pablo Longueira, afetado por grave crise de depressão – disputa o páreo com Evelyn Matthei, filha de um general que durante catorze anos integrou a ditadura Pinochet, e que nada fez para impedir a prisão e a morte de seu colega de farda, Brigadeiro Alberto Bachelet, pai da candidata de centro-esquerda, falecido nas masmorras da ditadura chilena em março de 1974. Indiferente à derrota que sua candidata sofrerá no próximo domingo, 15, Sebastián Piñera, dono de patrimônio avaliado em 2,5 bilhões de dólares, retorna aos seus negócios, distribuídos entre línhas aéreas, o clube de futebol Colo Colo, administradora de cartões de crédito e supermercados.
Para Evelyn Matthei o páreo se encerra em 15 de dezembro, já para a virtual Presidente Bachelet a arrumação do país começa no dia seguinte. Seus desafios são enormes: o Chile não apenas vive sob uma democracia amordaçada pelo legado pinochetista, com uma Constituição e leis ordinárias permeadas pelo estado de exceção, mas é também um país assimético, ultra-centralizado em Santiago, com notável dívida à diversidade e autonomia das províncias, e sobretudo um país imensamente desigual.
As 50 medidas dos primeiros 100 dias de governo
A duas semanas de assumir o poder, Bachelet terá que arrebatar a Sebastián Piñera e sua bancada direitista no Congresso, a garantia de disponiblidade orçamentária para financiar as primeiras 50 medidas que pretende implementar nos primeiros 100 dias de seu governo. A grosso modo, seu programa de governo, dilatado em quatro anos, está focado em três grandes eixos: as reformas tributária, do ensino e da Constituição. Contudo, um amplo leque de medidas emergencias tem por objetivo reduzir imediatamente parte da dívida social acumulada. Entre elas estão a entrega dos primeiros 500, de um total de 4.500 novos berçários em todo o Chile; a criação de duas novas universidades públicas regionais, uma delas na explosiva província de Aysén; convênios para criação das 5 primeiros escolas públicas regionais de Formação Técnica; implementação do Fundo Nacional de Medicamentos, conveniado com todas as municipalidades do país; contratação de 750 novos médicos especialistas para o sistema de saúde pública; projeto de lei que cria, a partir de 2014, o Aporte Familiar Permanente, subsídio de combate à pobreza no valor mensal de 40.000 Pesos (equivalente a R$ 175,00) que beneficiará 2,0 milhões de famílias; programa de Formação e Capacitação Profissional para aumentar a participação feminina no mercado de trabalho, beneficiando 300.000 mulheres, e assim por diante.
São medidas com sabor paliativo, poder-se-ia argumentar, porque a expectativa da maioria do eleitorado de Bachelet, situado à esquerda, é de que a Presidente dê mostra de vontade política para desmontar o arcabouço neoliberal inaugurado pela ditadura Pinochet, que catapultou o Chile ao topo das economias latino-americanas de maior crescimento nos últimos vinte anos, mas instalando-o também no ranking dos países socialmente mais desiguais, onde ocupa a nada invejável 6ª posição, um pouco atrás do Brasil.
“Neoliberalismo configurou corações e mentes”
Alberto Mayol, jovem sociólogo da Universidade do Chile e autor de “El derrumbe del modelo. La crisis de la economía de mercado en el Chile contemporáneo” (Editorial LOM), campeão de vendas em 2012, alerta que “a pobreza, efetivamente, é um assunto premente, mas a desigualdade é uma manifestação que não tem semelhança imediata com a pobreza, e no Chile nunca mereceu atenção do poder constituído”.
Comentando o alto índice de abstenção no primeiro turno da eleição presidencial, Mayol assinala que o país chega à disputa “com um ciclo de impugnação agudo, no qual são objetados os valores culturais dominantes e fundamentais desse modelo de sociedade”. Ter elegido em 2010 o bilionário Sebastián Piñera, foi para o sociólogo “o tirunfo cultural do lucro como suposta forma de sociabilidade e mecanismo político”, mas ao final do quatriênio de seu mandato, a percepção dos chilenos seria de que “o lucro é coisa de Satanás”, tamanha a indignação popular com a súbita riqueza e opulência de poucos e a exclusão social de muitos (leia também deste autor, “A face perversa do ´modelo chileno”). Por isso, segundo Mayol, confirmada a tendência de sua vitória no próximo domingo, Michelle Bachelet deveria governar com protagonistas do movimento social, como a comunista Camila Vallejo, ou o deputado da Esquerda Autônoma, Giorgio Jackson, ambos ex-líderes estudantis recém-eleitos deputados.
A rigor, antes de nada mais, a nova presidente deveria promover uma revolução espiritual e cultural, porque “o neoliberalismo não apenas semeou um modelo econômico e político, mas também configurou corações e mentes”, advertiu com pena áspera e doída, Cristian Zúñiga, na edição de 11 de novembro do jornal Clarin, chileno. Segundo o articulista, o senso comum no Chile contemporâneo está contaminado por uma concepção neo-conservadora da vida, onde o individualismo, a competição desenfreada e a violência são pão de cada dia.
Os mercados e os ministeriáveis de Bachelet
Essa subcultura do “quem pode mais, chora menos”, do “vale tudo” legado pelo pínochetismo, foi a marca da transição e impulsionou a formação desenfreada das novas grandes fortunas no país, por isso é motivo de preocupação de influentes pesquisadores e jornalistas chilenos, que suspeitam “mais do mesmo”: a continuação do “modelo” das desigualdades sociais.
É fato que, desde seu retorno ao Chile, no início de 2013, quando abdicou em Nova York ao cargo de Diretora Executiva do Programa ONU-Mulheres, Michelle Bachelet vem sendo assediada por representantes dos grandes grupos econômicos do país, tais como operadores do Grupo Luksic (com 17,4 bilhões de dólares, segundo o ranking Forbes 2013, a maior fortuna do Chile e uma das maiores das Américas), da ONG Paz Ciudadana, fundada por Agustín Edwards como forum conservador que discute e emite propostas da iniciativa privada no combate à criminalidade, e até mesmo personagens de comprometedora reputação política, como Alberto Kassis, membro do Conselho Protetor da Fundação Pinochet.
O assédio é articulado com jantares, encontros privados e declarações de apoio, e sinaliza duas intenções. Reconhecendo em Bachelet a candidatura potencialmente vitoriosa, o grande empresariado quer descolar sua imagem do pinochetismo, mas também exercer sua influência, recomendando “prudência” e “governabilidade”, vocabulário restritivo que já contamina o próprio discurso da candidata socialista.
Carregando nas tintas com o título “Los personajes del terror del nuevo comando de Bachelet”, em sua edição de 14/07/2013 o jornal esquerdista “El Ciudadano” advertiu para um think tank chamado Espacio Público, criado em 2012 por Eduardo Engel, economista e colunista dominical do jornal “La Tercera”, de propriedade do empresário atacadista de origem árabe, Alvaro Saieh, dono de um patrimônio de 3,0 bilhões de dólares (Forbes 2013) e, junto com o Grupo El Mercurio, controlador de 90% da imprensa escrita no Chile.
Na mesma linha, Ernesto Carmona, prestigiado articulista da velha guarda e autor de “Los duenõs de Chile” (Ed. La Huella, Santiago, 2002), assinalou na edição de 24/07/2013 do jornal “Clarin”, chileno, que o próprio comando programático de Bachelet era frequentado por “uma gama de veteranos habituados a atravessar com desenvoltura a porta giratória entre o ´serviço público´e os negócios privados. Os integrantes mais relevantes e de maior influência no time, têm como denominador comum levar em seu DNA a ideología neoliberal”. “No insigne trato editorial de seus jornais, “La Tercera” e “Pulso”, destinado ao setor empresarial, o apoio de Saieh a Bachelet é notório”, dizia Carmona.
O temível “engenheiro da previdência”
Talvez o personagem mais polêmico do comando programático da futura presidente socialista seja mesmo Alberto Arenas, ex-diretor executivo do Orçamento no primeiro governo de Bachelet, onde se desempenhou como artífice de uma reforma previdenciária que, segundo os analistas, não tocou nos interesses dos grandes grupos privados, depois do que Arenas mudou-se para a Grupo Luksic como diretor do Canal 13 de TV, de propriedade do grupo de origem croata.
Em seu ácido artigo de julho, o “El Ciudadano” recorda que “o militante comunista e dirigente estudantil, Alberto Arenas, depois de formar-se em engenharia comercial na Universidade de Chile, abandonou as camisetas com a estampa do Ché Guevara, afrouxou o punho cerrado e em 1991 assumiu a gerência de estudos do Banco Sud Americano. Dos anos depois, fez doutorado na Universidad de Pittsburgh, onde iniciou suas pesquisas sobre a reforma previdenciária realizada por Pinochet”.
Ligado ao senador Camilo Escalona, do Partido Socialista, agora Arenas está de volta como autor do projeto de reforma tributária de Bachelet, que pretende alocar 3% do PIB (aprox. 8,2 bilhões de dólares), extinguir o Fundo de Utilidades Tributáveis (FUT), aumentar o imposto de renda das empresas, de 20% para 25%, e baixar a alíquota máxima para pessos físicas de 40% para 35%.
Os 3% do PIB deverão financiar a reforma da educação, mas Arenas já advertiu em entrevistas que não se alimente ilusões e que tudo seja feito com “prudência”, “seriedade” e“responsabilidade”.
Desde o primeiro governo Bachelet transcorreram cinco anos, e até mesmo Joaquín Vial, ex-presidente do fundo privado de pensões Provida, admitiu em 2012 que 60% dos pensionistas afiliados aos fundos privados, que dominam 90% do “mercado de pensões”, recebem hoje uma aposentadoria abaixo de 150 mil Pesos (aprox. R$ 650) mensais. Segundo a OCDE (2012), em torno de 20% dos chilenos de terceira idade vivem na pobreza, superando a média dos países signatários, que é de 12,8%.
Resistir e impor-se à pressão dos mercados, manter-se fiel ao diálogo com as ruas - eis o maior desafio de Michelle Bachelet
Perspectivas tranquilas para 2014
Luis Nassif
Na entrevista de fim de ano para a imprensa, o presidente do banco Central Alexandre Tombini considerou como positivo o processo de transição na economia global, em relação ao fim dos estímulos monetários do FED (o BC norte-americano). Chamou de “volatilidade do bem”.
Tem razão.
Primeiro, porque o final dos estímulos monetários se dará quando houver convicção da recuperação da economia norte-americana. Com a economia chinesa também se recuperando, significará que as duas principais economias do mundo poderão puxar o crescimento global.
***
O segundo ponto relevante é a desmistificação do cataclisma anunciado, quando o FED tirar os estímulos.
***
No mercado, ninguém morre de véspera. É quase impossível a crônica de mortes anunciadas com muita antecedência, simplesmente porque, antes do evento, o mercado começa a se ajustar por si.
***
Um dos efeitos do final dos estímulos será a volta do fluxo de capitais para os títulos do Tesouro norte-americano. Esses fundos venderão sua posição em moeda estrangeira e comprarão dólares para investir em títulos do Tesouro norte-americano. Quando isso ocorrer, haverá uma valorização do dólar e uma desvalorização das demais moedas.
Suponha o seguinte exemplo:
O fundo A aplicou US$ 100 milhões no país, com o dólar valendo R$ 2,00 reais, ou R$ 200 milhões. Ganhou 20% no período, ficando com R$ 240 milhões.
Se sair enquanto o dólar estiver em R$ 2,30, resgatará US$ 104,3 milhões. Se o dólar for a R$ 2,50, resgatará apenas US$ 96 milhões.
Por conta dessa imprevisibilidade, parte dos fundos começa a sair mais cedo, de tal maneira que, no dia em que houver a retirada dos estímulos, grande parte dos recursos voláteis já estará fora dos emergentes.
***
O mesmo ocorre com a curva de juros dos títulos públicos brasileiros. Com a saída dos dólares e os boatos de rebaixamento nas avaliações do Brasil pelas agências de risco, já houve um descolamento prévio nas taxas dos títulos públicos.
É uma velha regra de mercado, segundo a qual especula-se no boato e realiza-se no fato.
Se não haverá a temida explosão, a economia terá que conviver com uma depreciação maior do real, que terá algum impacto nos índices de preços.
***
O cenário de 2014 está relativamente dado.
A economia continuará em um ritmo baixo de crescimento, mas estimulada pelo destravamento dos leilões de concessão e pela aceleração final das obras da Copa. O dólar permanecerá pressionado, com o BC evitando valorizações mais expressivas.
Mesmo com a revoada de investimentos para os EUA, o Brasil continuará apresentando taxas de juros reais compensatórias.
***
Esses períodos de trégua poderiam ser melhor aproveitados para uma discussão mais aprofundada sobre o Brasil a partir de 2015.
Em muitas áreas, haverá o amadurecimento de experiências. Na área de logística, por exemplo, espera-se que os investimentos já estejam a pleno vapor, com a consolidação da EPL (Empresa de Planejamento em Logística),
Mas está na hora de destravar questões estruturais, como reforma política, a colcha de retalhos fiscal e a barafunda burocrática que ainda emperra o ambiente de negócios.
É o que falta para completar o enorme salto representado pelo amadurecimento das políticas sociais.
Na entrevista de fim de ano para a imprensa, o presidente do banco Central Alexandre Tombini considerou como positivo o processo de transição na economia global, em relação ao fim dos estímulos monetários do FED (o BC norte-americano). Chamou de “volatilidade do bem”.
Tem razão.
Primeiro, porque o final dos estímulos monetários se dará quando houver convicção da recuperação da economia norte-americana. Com a economia chinesa também se recuperando, significará que as duas principais economias do mundo poderão puxar o crescimento global.
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O segundo ponto relevante é a desmistificação do cataclisma anunciado, quando o FED tirar os estímulos.
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No mercado, ninguém morre de véspera. É quase impossível a crônica de mortes anunciadas com muita antecedência, simplesmente porque, antes do evento, o mercado começa a se ajustar por si.
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Um dos efeitos do final dos estímulos será a volta do fluxo de capitais para os títulos do Tesouro norte-americano. Esses fundos venderão sua posição em moeda estrangeira e comprarão dólares para investir em títulos do Tesouro norte-americano. Quando isso ocorrer, haverá uma valorização do dólar e uma desvalorização das demais moedas.
Suponha o seguinte exemplo:
O fundo A aplicou US$ 100 milhões no país, com o dólar valendo R$ 2,00 reais, ou R$ 200 milhões. Ganhou 20% no período, ficando com R$ 240 milhões.
Se sair enquanto o dólar estiver em R$ 2,30, resgatará US$ 104,3 milhões. Se o dólar for a R$ 2,50, resgatará apenas US$ 96 milhões.
Por conta dessa imprevisibilidade, parte dos fundos começa a sair mais cedo, de tal maneira que, no dia em que houver a retirada dos estímulos, grande parte dos recursos voláteis já estará fora dos emergentes.
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O mesmo ocorre com a curva de juros dos títulos públicos brasileiros. Com a saída dos dólares e os boatos de rebaixamento nas avaliações do Brasil pelas agências de risco, já houve um descolamento prévio nas taxas dos títulos públicos.
É uma velha regra de mercado, segundo a qual especula-se no boato e realiza-se no fato.
Se não haverá a temida explosão, a economia terá que conviver com uma depreciação maior do real, que terá algum impacto nos índices de preços.
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O cenário de 2014 está relativamente dado.
A economia continuará em um ritmo baixo de crescimento, mas estimulada pelo destravamento dos leilões de concessão e pela aceleração final das obras da Copa. O dólar permanecerá pressionado, com o BC evitando valorizações mais expressivas.
Mesmo com a revoada de investimentos para os EUA, o Brasil continuará apresentando taxas de juros reais compensatórias.
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Esses períodos de trégua poderiam ser melhor aproveitados para uma discussão mais aprofundada sobre o Brasil a partir de 2015.
Em muitas áreas, haverá o amadurecimento de experiências. Na área de logística, por exemplo, espera-se que os investimentos já estejam a pleno vapor, com a consolidação da EPL (Empresa de Planejamento em Logística),
Mas está na hora de destravar questões estruturais, como reforma política, a colcha de retalhos fiscal e a barafunda burocrática que ainda emperra o ambiente de negócios.
É o que falta para completar o enorme salto representado pelo amadurecimento das políticas sociais.
quinta-feira, dezembro 12, 2013
Do Cafezinho
Saiu hoje na Folha a lista dos corruptores do ISS da prefeitura de São Paulo. É chocante pensar no que isso representou em termos de prejuízo ao erário público:
NA FOLHA
Máfia do ISS dava ‘desconto’ maior a grandes devedores
ROGÉRIO PAGNAN
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
PEDRO IVO TOMÉ
FABRÍCIO LOBEL
BRUNO BENEVIDES
ADRIANA FARIAS
DE SÃO PAULO
A máfia do ISS de São Paulo aplicava uma lógica de mercado na hora de negociar a redução dos impostos de empresas em troca de propina, indica a contabilidade da quadrilha apreendida na casa do delator do esquema.
Análise da planilha feita pela Folha revela que, quanto mais uma empresa devia à prefeitura, maior era o “desconto” obtido por ela no recolhimento dos impostos.
Outro lado: Empresas negam ter pago propina a envolvidos na máfia do ISS
O documento expõe o prejuízo causado pela quadrilha ao caixa da prefeitura. Em dois casos, menos de 1% do que era devido foi pago.
Os dados mostram que os 20 maiores devedores do ISS recolheram em média 2,43% do imposto devido. Entre os 50 maiores, os tributos recolhidos sobem para 2,99%.
Dos 410 empreendimentos sob suspeita, a média de arrecadação chega a 4,61%.
A maior dívida de imposto é referente a um condomínio de alto padrão na rua Frei Caneca (região central).
Segundo a planilha, a ATT Empreendimento, responsável pela obra, devia à prefeitura R$ 974,7 mil, mas só recolheu R$ 17,4 mil –ou 1,78%.
Para ter esse “desconto”, indica a contabilidade, pagou R$ 94 mil para cada um dos quatro fiscais envolvidos. A empresa não se pronunciou.
O menor percentual de ISS foi recolhido por uma empresa de alumínio que pagou só 0,63% do que devia aos cofres, segundo registro na planilha –R$ 1.538 de R$ 243 mil.
A prefeitura diz que analisará os casos e cobrará, com multa e juros, os valores não pagos. Segundo a Promotoria, é possível concluir que os empreendimentos recolheram só R$ 2,5 milhões de R$ 61,3 milhões de ISS –e pagaram R$ 29 milhões de suborno.
O percentual da propina, ao contrário do imposto pago, não mudava em função do ISS devido –era sempre 50%, conforme a contabilidade.
O documento com os valores foi achado em um computador do auditor fiscal Luís Alexandre de Magalhães, que fez acordo de delação premiada com o Ministério Público.
Na lista, a Folha identificou até ontem 64 empresas –responsáveis por cerca de 200 empreendimentos.
Há estabelecimentos de grande porte, como o shopping Iguatemi, além dos hospitais Bandeirante e Igesp. Eles negam ter pago propina.
A planilha traz até um templo religioso. Trata-se da Igreja Assembleia de Deus na rua João Alfredo, em Santo Amaro (zona sul) –que devia R$ 79.675 em 2010, mas que, pela lista, teria recolhido só R$ 1.837. A igreja diz desconhecer pagamento de propina (de R$ 34.200, pela contabilidade).
Saiu hoje na Folha a lista dos corruptores do ISS da prefeitura de São Paulo. É chocante pensar no que isso representou em termos de prejuízo ao erário público:
NA FOLHA
Máfia do ISS dava ‘desconto’ maior a grandes devedores
ROGÉRIO PAGNAN
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
PEDRO IVO TOMÉ
FABRÍCIO LOBEL
BRUNO BENEVIDES
ADRIANA FARIAS
DE SÃO PAULO
A máfia do ISS de São Paulo aplicava uma lógica de mercado na hora de negociar a redução dos impostos de empresas em troca de propina, indica a contabilidade da quadrilha apreendida na casa do delator do esquema.
Análise da planilha feita pela Folha revela que, quanto mais uma empresa devia à prefeitura, maior era o “desconto” obtido por ela no recolhimento dos impostos.
Outro lado: Empresas negam ter pago propina a envolvidos na máfia do ISS
O documento expõe o prejuízo causado pela quadrilha ao caixa da prefeitura. Em dois casos, menos de 1% do que era devido foi pago.
Os dados mostram que os 20 maiores devedores do ISS recolheram em média 2,43% do imposto devido. Entre os 50 maiores, os tributos recolhidos sobem para 2,99%.
Dos 410 empreendimentos sob suspeita, a média de arrecadação chega a 4,61%.
A maior dívida de imposto é referente a um condomínio de alto padrão na rua Frei Caneca (região central).
Segundo a planilha, a ATT Empreendimento, responsável pela obra, devia à prefeitura R$ 974,7 mil, mas só recolheu R$ 17,4 mil –ou 1,78%.
Para ter esse “desconto”, indica a contabilidade, pagou R$ 94 mil para cada um dos quatro fiscais envolvidos. A empresa não se pronunciou.
O menor percentual de ISS foi recolhido por uma empresa de alumínio que pagou só 0,63% do que devia aos cofres, segundo registro na planilha –R$ 1.538 de R$ 243 mil.
A prefeitura diz que analisará os casos e cobrará, com multa e juros, os valores não pagos. Segundo a Promotoria, é possível concluir que os empreendimentos recolheram só R$ 2,5 milhões de R$ 61,3 milhões de ISS –e pagaram R$ 29 milhões de suborno.
O percentual da propina, ao contrário do imposto pago, não mudava em função do ISS devido –era sempre 50%, conforme a contabilidade.
O documento com os valores foi achado em um computador do auditor fiscal Luís Alexandre de Magalhães, que fez acordo de delação premiada com o Ministério Público.
Na lista, a Folha identificou até ontem 64 empresas –responsáveis por cerca de 200 empreendimentos.
Há estabelecimentos de grande porte, como o shopping Iguatemi, além dos hospitais Bandeirante e Igesp. Eles negam ter pago propina.
A planilha traz até um templo religioso. Trata-se da Igreja Assembleia de Deus na rua João Alfredo, em Santo Amaro (zona sul) –que devia R$ 79.675 em 2010, mas que, pela lista, teria recolhido só R$ 1.837. A igreja diz desconhecer pagamento de propina (de R$ 34.200, pela contabilidade).
Cartas Persas contesta Marco Antonio Villa
O Blog Cartas Persas faz uma análise do histórico dos investimentos estrangeiros diretos (IED), e contesta artigo do historiador xodó da mídia, o ultratucano Marco Antonio Villa, que fala em triênio perdido. O blog revela que os IED nos três últimos anos (incluindo 2013) foram os maiores da história. E analisa também porque o investidor doméstico, ao contrário do estrangeiro, tem se retraído.
*
No blog Cartas Persas.
Em triênio “perdido” de Dilma, investimento estrangeiro direto bate recorde histórico no Brasil
Soma do investimento produtivo estrangeiro entre 2011 e outubro de 2013 chega a US$ 181 bilhões
Depois da “década perdida”, eis que um famoso e midiático historiador subiu as tribunas para decretar o triênio do mandato de Dilma como um período para ser esquecido, um triênio igualmente “perdido”. A revista inglesa Economist afirmou, durante a entrevista com Eduardo Campos, que “o governo está fazendo algo para desencorajar investimento estrangeiro”. Esqueceram de combinar com os russos.
Nunca antes na história deste país houve tanto investimento estrangeiro direto quanto nos últimos três anos. Em 2011, o volume do fluxo de capital produtivo vindo de fora atingiu US$ 66,6 bilhões, recorde histórico no país – e sem ter de recorrer a privatizações –, o que colocou o país na 5ª colocação no ranking mundial daquele ano. No ano seguinte, o valor caiu, mas bem pouco: foi para US$ 65,2 bilhões. A manutenção do patamar elevado do ano anterior fez ainda o país subir uma posição no ranking, terminando 2012 como 4º maior destino de investimento estrangeiro direto do mundo, em pleno ano do “pibinho”.
Em 2013, entre janeiro e outubro, o nível do investimento manteve-se elevado, embora um pouco menor que 2012: foram US$ 49,3 bilhões, contra US$ 55,3 bilhões no mesmo período do ano anterior. Com mais dois meses pela frente, a se manter a tendência, o IED em 2013 deve passar dos US$ 60 bilhões.
Somando o estoque de investimento estrangeiro do período 2011-2013, já temos o melhor triênio da história. E o ano ainda não acabou.
Fica claro que Dilma e o Brasil não estão afugentando investidores estrangeiros. Ao contrário. Eles nunca foram mais atraídos para investir no país. E não apenas o IED está crescendo, como também está aumentando sua participação no total do investimento produtivo no país (barra verde no gráfico acima): subiu de 9% para 16,4% do total. Trata-se de um movimento diferente, porém, do que ocorreu nos anos 1990, quando a participação do IED no total de investimento era elevada por conta das privatizações e, depois, por conta da desvalorização súbita do real. Naquele tempo, o IED chegou a representar, em 1999, quase 30% de todo o investimento no país. Nos últimos quatro anos, porém, investidores vem para o país em busca de oportunidades de lucro no país de 200 milhões de habitantes, com demanda aquecida e taxas baixas de desemprego.
A questão é que fica é: por que o investidor estrangeiro está investindo no Brasil e o investidor nativo, não?
Tenho duas hipóteses: uma é que o investidor doméstico tem uma percepção diferente do estrangeiro quanto as perspectivas de lucro futuro, isto é, tem menos confiança e é mais pessimista; a segunda é que o investidor do Brasil tem de lidar com entraves para investir que o estrangeiro não enfrenta.
Começando pela segunda hipótese, qual seria o principal entrave que um investidor do setor produtivo enfrenta que o estrangeiro não sofre? Meu palpite: juros altos. Os juros no país, desde pelo menos o lançamento do Plano Real, sempre se mantiveram em patamares elevadíssimos, entre os maiores juros reais do mundo. Assim, não só é caro para o empresário pegar empréstimo para investir, como também deixar o dinheiro em uma aplicação é mais lucrativo e menos arriscado que investir em um empreendimento produtivo. Nos países desenvolvidos, os que mais investem no Brasil, o acesso ao crédito é bem diferente.
Pois bem, eis que o Banco Central começa a baixar os juros a partir de setembro de 2011, de 12,5% até chegar em 7,25% em outubro de 2012. Em paralelo, o governo passou a usar os bancos públicos para oferecer crédito a juros menores, forçando os bancos privados também a reduzirem seu “spread” (lucro dos bancos). E o investimento não deslanchou, forçando o BC a recuar, e a aumentar os juros básicos, o que vem sendo feito desde de abril, diante de pressões inflacionárias. Pode ser que o ambiente de juros básicos de um dígito não tenha durado o suficiente, ou que o spread não tenha se reduzido de maneira significativa. Pode ser. Mas o fato é que o investimento doméstico não veio.
Resta, então, analisar a segunda hipótese, a saber, que o comportamento diferente é explicado por percepções diferentes. Percepções são formadas por informações que cada indivíduo recebe. E a principal fonte de informações formadoras das percepções é a grande mídia e relatório de bancos. Assim, como o investidor estrangeiro seria relativamente mais insulado do discurso catastrofista monolítico da mídia nativa, sua ação é orientada por informações obtidas em uma variedade maior de meios (menos engajados politicamente sobre o Brasil, provavelmente) e provavelmente por fontes um pouco mais objetivas. É uma hipótese que poderia ser melhor explorada em um trabalho acadêmico qualitativo. Fica a dica.
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No blog Cartas Persas.
Em triênio “perdido” de Dilma, investimento estrangeiro direto bate recorde histórico no Brasil
Soma do investimento produtivo estrangeiro entre 2011 e outubro de 2013 chega a US$ 181 bilhões
Depois da “década perdida”, eis que um famoso e midiático historiador subiu as tribunas para decretar o triênio do mandato de Dilma como um período para ser esquecido, um triênio igualmente “perdido”. A revista inglesa Economist afirmou, durante a entrevista com Eduardo Campos, que “o governo está fazendo algo para desencorajar investimento estrangeiro”. Esqueceram de combinar com os russos.
Nunca antes na história deste país houve tanto investimento estrangeiro direto quanto nos últimos três anos. Em 2011, o volume do fluxo de capital produtivo vindo de fora atingiu US$ 66,6 bilhões, recorde histórico no país – e sem ter de recorrer a privatizações –, o que colocou o país na 5ª colocação no ranking mundial daquele ano. No ano seguinte, o valor caiu, mas bem pouco: foi para US$ 65,2 bilhões. A manutenção do patamar elevado do ano anterior fez ainda o país subir uma posição no ranking, terminando 2012 como 4º maior destino de investimento estrangeiro direto do mundo, em pleno ano do “pibinho”.
Em 2013, entre janeiro e outubro, o nível do investimento manteve-se elevado, embora um pouco menor que 2012: foram US$ 49,3 bilhões, contra US$ 55,3 bilhões no mesmo período do ano anterior. Com mais dois meses pela frente, a se manter a tendência, o IED em 2013 deve passar dos US$ 60 bilhões.
Somando o estoque de investimento estrangeiro do período 2011-2013, já temos o melhor triênio da história. E o ano ainda não acabou.
Fica claro que Dilma e o Brasil não estão afugentando investidores estrangeiros. Ao contrário. Eles nunca foram mais atraídos para investir no país. E não apenas o IED está crescendo, como também está aumentando sua participação no total do investimento produtivo no país (barra verde no gráfico acima): subiu de 9% para 16,4% do total. Trata-se de um movimento diferente, porém, do que ocorreu nos anos 1990, quando a participação do IED no total de investimento era elevada por conta das privatizações e, depois, por conta da desvalorização súbita do real. Naquele tempo, o IED chegou a representar, em 1999, quase 30% de todo o investimento no país. Nos últimos quatro anos, porém, investidores vem para o país em busca de oportunidades de lucro no país de 200 milhões de habitantes, com demanda aquecida e taxas baixas de desemprego.
A questão é que fica é: por que o investidor estrangeiro está investindo no Brasil e o investidor nativo, não?
Tenho duas hipóteses: uma é que o investidor doméstico tem uma percepção diferente do estrangeiro quanto as perspectivas de lucro futuro, isto é, tem menos confiança e é mais pessimista; a segunda é que o investidor do Brasil tem de lidar com entraves para investir que o estrangeiro não enfrenta.
Começando pela segunda hipótese, qual seria o principal entrave que um investidor do setor produtivo enfrenta que o estrangeiro não sofre? Meu palpite: juros altos. Os juros no país, desde pelo menos o lançamento do Plano Real, sempre se mantiveram em patamares elevadíssimos, entre os maiores juros reais do mundo. Assim, não só é caro para o empresário pegar empréstimo para investir, como também deixar o dinheiro em uma aplicação é mais lucrativo e menos arriscado que investir em um empreendimento produtivo. Nos países desenvolvidos, os que mais investem no Brasil, o acesso ao crédito é bem diferente.
Pois bem, eis que o Banco Central começa a baixar os juros a partir de setembro de 2011, de 12,5% até chegar em 7,25% em outubro de 2012. Em paralelo, o governo passou a usar os bancos públicos para oferecer crédito a juros menores, forçando os bancos privados também a reduzirem seu “spread” (lucro dos bancos). E o investimento não deslanchou, forçando o BC a recuar, e a aumentar os juros básicos, o que vem sendo feito desde de abril, diante de pressões inflacionárias. Pode ser que o ambiente de juros básicos de um dígito não tenha durado o suficiente, ou que o spread não tenha se reduzido de maneira significativa. Pode ser. Mas o fato é que o investimento doméstico não veio.
Resta, então, analisar a segunda hipótese, a saber, que o comportamento diferente é explicado por percepções diferentes. Percepções são formadas por informações que cada indivíduo recebe. E a principal fonte de informações formadoras das percepções é a grande mídia e relatório de bancos. Assim, como o investidor estrangeiro seria relativamente mais insulado do discurso catastrofista monolítico da mídia nativa, sua ação é orientada por informações obtidas em uma variedade maior de meios (menos engajados politicamente sobre o Brasil, provavelmente) e provavelmente por fontes um pouco mais objetivas. É uma hipótese que poderia ser melhor explorada em um trabalho acadêmico qualitativo. Fica a dica.
O caso do IPTU de SP mostra como é duro fazer coisas pelos pobres no Brasil
É difícil fazer coisas para os pobres no Brasil.
O 1% não gosta. Não deixa.
Getúlio criou as leis trabalhistas. Impediu a exploração de menores pelas empresas. Estabeleceu férias. Tornou secreto o voto, o que acabou com a farra dos patrões que acompanhavam seus funcionários na cabine eleitoral para checar se eles escolhiam quem era para eles escolherem. Fora isso, GV estendeu o voto às mulheres.
Getúlio terminou morto.
Jango, como ministro do Trabalho de GV, no começo dos anos 1950, acabou com a prática segundo a qual greve era coisa de polícia. Obrigou as empresas a negociar com os sindicatos em caso de confronto.
Mais tarde, como presidente, criou o 13.o salário, tratado pelo Globo numa manchete antológica como um grave risco ao país.
Jango terminou deposto.
As coisas não mudaram tanto assim.
Veja, por exemplo, o “IPTU dos Pobres”, que Haddad vem tentando com imensas dificuldades emplacar em São Paulo.
Os moradores dos 25 bairros mais pobres de São Paulo pagariam menos IPTU. No Parque do Carmo, por exemplo, o imposto se reduziria em 12%.
Os moradores dos bairros mais “nobres” pagariam mais pela excelente razão de que podem mais.
Mas quem tem voz não são as pessoas da periferia. São os privilegiados.
E então começou uma monstruosa resistência contra o IPTU dos Pobres. A Justiça de SP, absolutamente alinhada aos privilegiados, acabou vetando o projeto.
Agora a prefeitura deve recorrer ao STF.
Mas um momento: como você espera que vai votar Gilmar Mendes, classificado pela jornalista Eliane Cantanhede, num perfil bajulador escrito tempos atrás para uma revista da Folha, como “muito tucano”?
Ou Joaquim Barbosa? Ou Fux?
Com quem eles estão? Com os desvalidos? Bem, pausa para gargalhadas.
O ponto positivo, aí, é a insistência de Haddad. Você não faz nada pelos desvalidos sem lutar, lutar e ainda lutar contra grupos extraordinariamente acostumados a mamatas do Estado.
Por coisas assim, considero o Mais Médicos a coisa mais importante deste ano. Como sempre, houve uma reação formidável contra o projeto.
Médicos que jamais iriam pensar em trabalhar em cidadezinhas remotas se ergueram contra o programa.
A mídia corporativa fez seu habitual papel abjeto de defensora dos privilégios, e não do interesse público. Lideranças médicas infestaram as páginas de jornais e revistas para tentar matar o Mais Médicos.
Mas o governo – ao contrário de outras ocasiões, em que hesitou diante da resistência conservadora – foi adiante.
Os médicos cubanos hoje são amados pelos desvalidos brasileiros. Não apenas eles têm alguém que os atenda mas também se sentem queridos pelos médicos cubanos, um sentimento jamais despertado pelos doutores brasileiros, subtraídas as exceções de sempre.
Não.
Não é fácil ajudar os pobres no Brasil.
Torço, daqui de meu canto, para que o IPTU dos Pobres afinal triunfe, ainda que todas as probabilidades apontem para a direção oposta.
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
O 1% não gosta. Não deixa.
Getúlio criou as leis trabalhistas. Impediu a exploração de menores pelas empresas. Estabeleceu férias. Tornou secreto o voto, o que acabou com a farra dos patrões que acompanhavam seus funcionários na cabine eleitoral para checar se eles escolhiam quem era para eles escolherem. Fora isso, GV estendeu o voto às mulheres.
Getúlio terminou morto.
Jango, como ministro do Trabalho de GV, no começo dos anos 1950, acabou com a prática segundo a qual greve era coisa de polícia. Obrigou as empresas a negociar com os sindicatos em caso de confronto.
Mais tarde, como presidente, criou o 13.o salário, tratado pelo Globo numa manchete antológica como um grave risco ao país.
Jango terminou deposto.
As coisas não mudaram tanto assim.
Veja, por exemplo, o “IPTU dos Pobres”, que Haddad vem tentando com imensas dificuldades emplacar em São Paulo.
Os moradores dos 25 bairros mais pobres de São Paulo pagariam menos IPTU. No Parque do Carmo, por exemplo, o imposto se reduziria em 12%.
Os moradores dos bairros mais “nobres” pagariam mais pela excelente razão de que podem mais.
Mas quem tem voz não são as pessoas da periferia. São os privilegiados.
E então começou uma monstruosa resistência contra o IPTU dos Pobres. A Justiça de SP, absolutamente alinhada aos privilegiados, acabou vetando o projeto.
Agora a prefeitura deve recorrer ao STF.
Mas um momento: como você espera que vai votar Gilmar Mendes, classificado pela jornalista Eliane Cantanhede, num perfil bajulador escrito tempos atrás para uma revista da Folha, como “muito tucano”?
Ou Joaquim Barbosa? Ou Fux?
Com quem eles estão? Com os desvalidos? Bem, pausa para gargalhadas.
O ponto positivo, aí, é a insistência de Haddad. Você não faz nada pelos desvalidos sem lutar, lutar e ainda lutar contra grupos extraordinariamente acostumados a mamatas do Estado.
Por coisas assim, considero o Mais Médicos a coisa mais importante deste ano. Como sempre, houve uma reação formidável contra o projeto.
Médicos que jamais iriam pensar em trabalhar em cidadezinhas remotas se ergueram contra o programa.
A mídia corporativa fez seu habitual papel abjeto de defensora dos privilégios, e não do interesse público. Lideranças médicas infestaram as páginas de jornais e revistas para tentar matar o Mais Médicos.
Mas o governo – ao contrário de outras ocasiões, em que hesitou diante da resistência conservadora – foi adiante.
Os médicos cubanos hoje são amados pelos desvalidos brasileiros. Não apenas eles têm alguém que os atenda mas também se sentem queridos pelos médicos cubanos, um sentimento jamais despertado pelos doutores brasileiros, subtraídas as exceções de sempre.
Não.
Não é fácil ajudar os pobres no Brasil.
Torço, daqui de meu canto, para que o IPTU dos Pobres afinal triunfe, ainda que todas as probabilidades apontem para a direção oposta.
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
quarta-feira, dezembro 11, 2013
Papa Francisco, nos EUA, comete o “pecado” de criticar ganância capitalista
Fernando Brito
Raul Juste Lores, correspondente da Folha em Washington, publica hoje uma boa matéria com aquilo que a gente já tinha tocado aqui: a fúria da direita com a linha assumida pelo Papa Francisco de condenação ao pensamento conservador da “ditadura de mercado”
Vale a pena a leitura:
Papa vira ‘vilão’ nos EUA
após críticas ao capitalismo
Raul Juste Lores
“O papa Francisco se tornou o mais novo vilão entre os conservadores americanos, depois de ter criticado a ganância e as desigualdades do capitalismo.
Na semana passada, o radialista Rush Limbaugh, ícone do movimento Tea Party, chamou-o de marxista.
“Ele tritura o capitalismo e a América, e o Obama tem orgasmos só de ouvi-lo”, afirmou. O presidente havia citado o papa no dia anterior, dizendo que concordava com sua crítica contra a “distribuição de renda mais desigual”.
Adam Shaw, editor da conservadora rede Fox News, disse que o papa é “o Obama do catolicismo”. “Assim como a América se decepcionou com Obama, esse papa será um desastre para a igreja”.
Sarah Palin, candidata republicana a vice-presidente em 2008, disse que o papa “parece marxista”. Ela acaba de lançar um livro sobre “a guerra contra o Natal” provocada por “uma sociedade cada vez mais antirreligiosa”.
USANDO A BíBLIA
O editor-chefe do blog The Dish, Andrew Sullivan, disse à Folha que “os evangélicos estiveram usando a Bíblia contra gays e contra o aborto. Agora, estão sofrendo do mesmo remédio, afinal a Bíblia do papa é a mesma, e ela prega a justiça social”.
“Só quem não acompanha a igreja se surpreende com a fala do papa. João Paulo 2º já falava de ganância no capitalismo”, diz.
A popularidade do papa ainda é alta no país: 78% dos católicos e 58% da população em geral têm visão positiva de Francisco, segundo pesquisa do instituto Pew. O comparecimento às missas, porém, continua o mesmo desde que ele se tornou papa, em março –39% dos católicos americanos vão semanalmente à missa.
A Igreja Católica americana brigou com o presidente Barack Obama por conta do plano universal de saúde aprovado por ele. Funcionárias de hospitais e colégios católicos terão direito à cobertura de tratamentos anticoncepcionais, como prevê o plano –a igreja pedia isenção dessa obrigação.
Raul Juste Lores, correspondente da Folha em Washington, publica hoje uma boa matéria com aquilo que a gente já tinha tocado aqui: a fúria da direita com a linha assumida pelo Papa Francisco de condenação ao pensamento conservador da “ditadura de mercado”
Vale a pena a leitura:
Papa vira ‘vilão’ nos EUA
após críticas ao capitalismo
Raul Juste Lores
“O papa Francisco se tornou o mais novo vilão entre os conservadores americanos, depois de ter criticado a ganância e as desigualdades do capitalismo.
Na semana passada, o radialista Rush Limbaugh, ícone do movimento Tea Party, chamou-o de marxista.
“Ele tritura o capitalismo e a América, e o Obama tem orgasmos só de ouvi-lo”, afirmou. O presidente havia citado o papa no dia anterior, dizendo que concordava com sua crítica contra a “distribuição de renda mais desigual”.
Adam Shaw, editor da conservadora rede Fox News, disse que o papa é “o Obama do catolicismo”. “Assim como a América se decepcionou com Obama, esse papa será um desastre para a igreja”.
Sarah Palin, candidata republicana a vice-presidente em 2008, disse que o papa “parece marxista”. Ela acaba de lançar um livro sobre “a guerra contra o Natal” provocada por “uma sociedade cada vez mais antirreligiosa”.
USANDO A BíBLIA
O editor-chefe do blog The Dish, Andrew Sullivan, disse à Folha que “os evangélicos estiveram usando a Bíblia contra gays e contra o aborto. Agora, estão sofrendo do mesmo remédio, afinal a Bíblia do papa é a mesma, e ela prega a justiça social”.
“Só quem não acompanha a igreja se surpreende com a fala do papa. João Paulo 2º já falava de ganância no capitalismo”, diz.
A popularidade do papa ainda é alta no país: 78% dos católicos e 58% da população em geral têm visão positiva de Francisco, segundo pesquisa do instituto Pew. O comparecimento às missas, porém, continua o mesmo desde que ele se tornou papa, em março –39% dos católicos americanos vão semanalmente à missa.
A Igreja Católica americana brigou com o presidente Barack Obama por conta do plano universal de saúde aprovado por ele. Funcionárias de hospitais e colégios católicos terão direito à cobertura de tratamentos anticoncepcionais, como prevê o plano –a igreja pedia isenção dessa obrigação.
Um dos futuros santos da Igreja, João Paulo II colaborou com a CIA
Com a sua canonização prevista para 2014, o papa João Paulo II, hoje na lista dos beatos católicos, foi um dos colaboradores mais leais da CIA.
Dermi Azevedo
Com a sua canonização prevista para 2014, o papa João Paulo II, atualmente na lista dos beatos católicos, foi um dos colaboradores mais leais da Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), antes mesmo de ser eleito para o pontificado católico romano. A sua primeira audiência como Papa foi dada ao diretor geral da agência norte-americana de informações, William Casey, em 1978.
O arcebispo de Cracóvia, Karol Wojtyla, forneceu informações consideradas “valiosas” à CIA sobre a resistência polonesa ao regime comunista da Polônia. Esse apoio favoreceu substancialmente as atividades do sindicato Solidariedade, liderado pelo metalúrgico Lech Walesa e representou a ultima pá de cal no fim do regime polonês.
Memórias
O ex-diretor da CIA e ex-embaixador dos EUA no Brasil, general Vernon Walters, apresenta, em suas memórias, alguns exemplos desse entendimento entre o Vaticano e a Casa Branca.
Walters – que era vice–diretor geral da CIA - afirma que uma das principais preocupações do presidente Ronald Reagan era a de manter o Papa informado sobre as despesas militares dos EUA. Nesse sentido, determinou que esse embaixador se reunisse de dois em dois meses, com João Paulo II, no Vaticano.
Um detalhe: o diplomata deveria levar consigo fotografias via satélite dos países do bloco soviético e das regiões estratégicas para Washington. Afirma que, numa dessas audiências, mostrou ao Papa uma base soviética, supostamente com 13 silos contendo centenas de mísseis. “Santidade, cada míssil possui 10 ogivas. O que o senhor está vendo corresponde à morte de 130 cidades americanas ou européias”. Walters diz que o Papa afirmou: “Compreendo exatamente o que o senhor apresenta”.
O general Walters foi também embaixador dos EUA no Brasil nos anos 70, no auge da repressão da ditadura de 1964.
Colaboração antiga
A colaboração de João Paulo II com a CIA aconteceu também nos anos 80 com dois objetivos: desestabilizar o governo sandinista da Nicarágua e desautorizar a Teologia da Libertação. As duas metas foram atingidas e somente agora, com a eleição do papa Francisco I, essa corrente teológica foi oficialmente reabilitada.
Aliança de interesses
Tanto diplomatas norte-americanos, quanto do Vaticano, descrevem a relação estreita entre os dois interlocutores como uma “aliança de interesses”. A Casa Branca pretendia favorecer a Igreja Católica Romana na sua politica de expansão da sua hegemonia especifica. E o Vaticano, atendia também ao propósito dos EUA de avançar na sua politica também expansionista e hegemonista.
Dermi Azevedo
Com a sua canonização prevista para 2014, o papa João Paulo II, atualmente na lista dos beatos católicos, foi um dos colaboradores mais leais da Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), antes mesmo de ser eleito para o pontificado católico romano. A sua primeira audiência como Papa foi dada ao diretor geral da agência norte-americana de informações, William Casey, em 1978.
O arcebispo de Cracóvia, Karol Wojtyla, forneceu informações consideradas “valiosas” à CIA sobre a resistência polonesa ao regime comunista da Polônia. Esse apoio favoreceu substancialmente as atividades do sindicato Solidariedade, liderado pelo metalúrgico Lech Walesa e representou a ultima pá de cal no fim do regime polonês.
Memórias
O ex-diretor da CIA e ex-embaixador dos EUA no Brasil, general Vernon Walters, apresenta, em suas memórias, alguns exemplos desse entendimento entre o Vaticano e a Casa Branca.
Walters – que era vice–diretor geral da CIA - afirma que uma das principais preocupações do presidente Ronald Reagan era a de manter o Papa informado sobre as despesas militares dos EUA. Nesse sentido, determinou que esse embaixador se reunisse de dois em dois meses, com João Paulo II, no Vaticano.
Um detalhe: o diplomata deveria levar consigo fotografias via satélite dos países do bloco soviético e das regiões estratégicas para Washington. Afirma que, numa dessas audiências, mostrou ao Papa uma base soviética, supostamente com 13 silos contendo centenas de mísseis. “Santidade, cada míssil possui 10 ogivas. O que o senhor está vendo corresponde à morte de 130 cidades americanas ou européias”. Walters diz que o Papa afirmou: “Compreendo exatamente o que o senhor apresenta”.
O general Walters foi também embaixador dos EUA no Brasil nos anos 70, no auge da repressão da ditadura de 1964.
Colaboração antiga
A colaboração de João Paulo II com a CIA aconteceu também nos anos 80 com dois objetivos: desestabilizar o governo sandinista da Nicarágua e desautorizar a Teologia da Libertação. As duas metas foram atingidas e somente agora, com a eleição do papa Francisco I, essa corrente teológica foi oficialmente reabilitada.
Aliança de interesses
Tanto diplomatas norte-americanos, quanto do Vaticano, descrevem a relação estreita entre os dois interlocutores como uma “aliança de interesses”. A Casa Branca pretendia favorecer a Igreja Católica Romana na sua politica de expansão da sua hegemonia especifica. E o Vaticano, atendia também ao propósito dos EUA de avançar na sua politica também expansionista e hegemonista.
Por que no meio da dor os negros dançam, cantam e riem?
Leonardo Boff
Por que no meio da dor os negros dançam, cantam e riem?
Carta Maior
Ficamos admirados que se dedique um dia inteiro de orações por Mandela com missas e ritos. Eles sentem Deus na pele, nós ocidentais na cabeça. Por isso dançam.
Milhares de pessoa em toda a África do Sul misturam choro com dança, festa com lamentos pela morte de Nelson Mandela. É a forma como realizam culturalmente o rito de passagem da vida deste lado para a vida do outro lado, onde estão os anciãos, os sábios e os guardiães do povo, de seus ritos e das normas éticas. Lá está agora Mandela de forma invisível mas plenamente presente acompanhando o povo que ele tant ajudou a se libertar.
Momentos como estes nos fazem recordar de nossa mais alta ancestralidade humana. Todos temos nossas raízes na Africa, embora a grande maioria o desconheça ou não lhe dê importância. Mas é decisivo que nos reapropriemos de nossas origens, pois elas, de um modo ou de outro, na forma de informação, estão inscritas no nosso código genético e espiritual.
Refiro-me aqui tópicos de um texto que há tempos escrevi sob o título:”somos todos africanos” atualizado face à situação atual mudada. De saída importa denunciar a tragédia africana: é o continente mais esquecido e vandalizado das políticas mundiais. Somente suas terras contam. São compradas pelos grandes conglomerados mundiais e pela China para organizar imensas plantações de grãos que devem garantir a alimentação, não da Africa, mas de seus países ou negociadas no mercado especulativo. As famosas “land grabbing” possuem, juntas, a extensão de uma França inteira. Hoje a Africa é uma espécie de espelho retrovisor de como nós humanos pudemos no passado e podemos hoje ainda ser desumanos e terríveis. A atual neocolonização é mais perversa que a dos séculos passados.
Sem olvidar esta tragédia, concentremo-nos na herança africana que se esconde em nós. Hoje é consenso entre os paleontólogos e antropólogos que a aventura da hominização se iniciou na África, cerca de sete milhões de anos atrás. Ela se acelerou passando pelo homo habilis, erectus, neanderthalense até chegar ao homo sapiens cerca de noventa mil anos atrás. Depois de ficar 4,4 milhões de anos em solo africano este se propagou para a Asia, há sessenta mil anos; para a Europa, há quarenta mil anos; e para as Américas há trinta mil anos. Quer dizer, grande parte da vida humana foi vivida na África, hoje esquecida e desprezada.
A África além de ser o lugar geográfico de nossas origens, comparece como o arquétipo primal: o conjunto das marcas, impressas na alma de todo ser humano. Foi na África que este elaborou suas primeiras sensações, onde se articularam as crescentes conexões neurais (cerebralização), brilharam os primeiros pensamentos, irrompeu a criatividade e emergiu a complexidade social que permitiu o surgimento da linguagem e da cultura. O espírito da África, está presente em todos nós.
Identifico três eixos principais do espírito da África que podem nos inspirar na superação da crise sistêmica que nos assola.
O primeiro é o amor à Mãe Terra, a Mama Africa. Espalhando-se pelos vastos espaços africanos, nossos ancestrais entraram em profunda comunhão com a Terra, sentindo a interconexão que todas as coisas guardam entre si, as águas, as montanhas, os animais, as florestas e as energias cósmicas. Sentiam-se parte desse todo. Precisamos nos reapropriar deste espírito da Terra para salvar Gaia, nossa Mãe e única Casa Comum.
O segundo eixo é a matriz relacional (relational matrix no dizer dos antropólogos). Os africanos usam a palavra ubuntu que singifica:”eu sou o que sou porque pertenço à comunidade” ou “eu sou o que sou através de você e você é você através de mim”. Todos precisamos uns dos outros; somos interdependentes. O que a física quântica e a nova cosmologia dizem acerca de interconexão de todos com todos é uma evidência para o espírito africano.
À essa comunidade pertencem os mortos como Mandela. Eles não vão ao céu, pois o céu não é um lugar geográfico, mas um modo de ser deste nosso mundo. Os mortos continuam no meio do povo como conselheiros e guardiães das tradições sagradas.
O terceiro eixo são os rituais e celebrações. Ficamos admirados que se dedique um dia inteiro de orações por Mandela com missas e ritos. Eles sentem Deus na pele, nós ocidentais na cabeça. Por isso dançam e mexem todo o corpo enquanto nós ficamos frios e duros como um cabo de vassoura.
Experiências importantes da vida pessoal, social e sazonal são celebrados com ritos, danças, músicas e apresentações de máscaras. Estas representam as energias que podem ser benéficas ou maléficas. É nos rituais que ambas se equilibram e se festeja a primazia do sentido sobre o absurdo.
Notoriamente é pelas festas e ritos que a sociedade refaz suas relações e reforça a coesão social. Ademais nem tudo é trabalho e luta. Há a celebração da vida, o resgate das memórias coletivas e a recordação das vitórias sobre ameaças vividas.
Apraz-me trazer o testemunho pessoal de um dos nosos mais brilhantes jornalistas, Washington Novaes:”Há alguns anos, na África do Sul, impressionei-me ao ver que bastava se reunirem três ou quatro negros para começarem a cantar ea dançar, com um largo sorriso. Um dia, perguntei a um jovem motorista de taxi:"Seu povo sofreu e ainda sofre muito. Mas basta se juntarem umas poucas pessoas e vocês estão dançando, cantando, rindo. De onde vem tanta força?" E ele: "Com o sofrimento, nós aprendemos que a nossa alegria não pode depender de nada fora de nós. Ela tem de ser só nossa, estar dentro de nós."
Nossa população afrodescendente nos dá a mesma amostra de alegria que nenhum capitalismo e consumismo pode ofecer.
Brasil do “caos à vista” é o sétimo país do mundo em expectativa de emprego para 2014
Não se trata de um blogueiro otimista nem de um veículo de comunicação governista.
o insuspeito O Globo e uma consultoria internacional de emprego, a Manpower, que dizem: o Brasil é o sétimo país do mundo em matéria de contratação de equipes profissionais no primeiro trimestre de 2014.
Curioso, para um país em que o noticiário de economia aponta, diariamente, como a caminho da bancarrota.
Leia só:
“O Brasil foi apontado como sétimo país no mundo com a melhor intenção de contratação, com um índice de 16% para o primeiro trimestre de 2014, segundo os dados da pesquisa “Expectativa de Emprego no Brasil”, do ManpowerGroup, consultoria de soluções de gestão e contratação de pessoas. O levantamento, que avalia a perspectiva de contratação das empresas brasileiras para os meses de janeiro, fevereiro e março de 2014, aponta que os empregadores esperam um ritmo de contratação positivo.
De acordo com o estudo, enquanto 21% das empresas brasileiras esperam aumentar as folhas de pagamento, 11% antecipam uma queda em seus quadros e 68% acreditam que vão manter suas equipes intactas. Com os dados ajustados, permitindo a variação sazonal, o índice da intenção de contratação é de 16%. A taxa é 3% inferior ao último trimestre de 2013 e ainda é o mais baixo desde que a pesquisa começou no Brasil, no quarto trimestre de 2009. A pesquisa detalha a resposta de 850 empregadores brasileiros.”
Por que taxa é menor que a de outras pesquisas feitas pelo grupo?
O diagnóstico para isso é bem diferente das previsões de crise que vemos nos jornais:
“A taxa de desemprego vem caindo com indícios que deve terminar 2013 menor do que em 2012. A oferta de trabalhadores qualificados disponíveis no mercado é baixa, já que a maioria está empregada, estimulando as organizações a investirem mais na formação de quem está na empresa, ao invés de sair no mercado, onde o custo e demora pela busca do profissional serão altos”, diz Ricardo Barberis, presidente da filial brasileira da Manpower.
A mais forte perspectiva de contratação, diz a pesquisa, é no estado do Rio de Janeiro, onde a taxa é de 18%. Em São Paulo e Paraná, o índice é de 17%. O estado com os planos de contratação menos otimistas é Minas Gerais, com 8%.
Ah, como o gráfico aí ao lado era muito comprido, foram cortados os países com expectativa de queda no emprego: Bélgica (-1%),Eslováquia(-2%), Espanha(-4%)Finlândia(-6%),Irlanda(-6%) e, na lanterninha, a Itália (-10%).
Comentário E & P
Enquanto isso vem os economistas neoliberais e neomalthusianos (para Malthus os pobres tinham de morrer e não adiantava nada melhorar a vida deles) Samuel Pessoa e economistas tucanos e dizem que o problema do Brasil é o excesso de empregos. Esses economistas serão humanos ou bestas imbecilizadas que nasceram ricos e não sabem o que é um pai de família não ter trabalho?
o insuspeito O Globo e uma consultoria internacional de emprego, a Manpower, que dizem: o Brasil é o sétimo país do mundo em matéria de contratação de equipes profissionais no primeiro trimestre de 2014.
Curioso, para um país em que o noticiário de economia aponta, diariamente, como a caminho da bancarrota.
Leia só:
“O Brasil foi apontado como sétimo país no mundo com a melhor intenção de contratação, com um índice de 16% para o primeiro trimestre de 2014, segundo os dados da pesquisa “Expectativa de Emprego no Brasil”, do ManpowerGroup, consultoria de soluções de gestão e contratação de pessoas. O levantamento, que avalia a perspectiva de contratação das empresas brasileiras para os meses de janeiro, fevereiro e março de 2014, aponta que os empregadores esperam um ritmo de contratação positivo.
De acordo com o estudo, enquanto 21% das empresas brasileiras esperam aumentar as folhas de pagamento, 11% antecipam uma queda em seus quadros e 68% acreditam que vão manter suas equipes intactas. Com os dados ajustados, permitindo a variação sazonal, o índice da intenção de contratação é de 16%. A taxa é 3% inferior ao último trimestre de 2013 e ainda é o mais baixo desde que a pesquisa começou no Brasil, no quarto trimestre de 2009. A pesquisa detalha a resposta de 850 empregadores brasileiros.”
Por que taxa é menor que a de outras pesquisas feitas pelo grupo?
O diagnóstico para isso é bem diferente das previsões de crise que vemos nos jornais:
“A taxa de desemprego vem caindo com indícios que deve terminar 2013 menor do que em 2012. A oferta de trabalhadores qualificados disponíveis no mercado é baixa, já que a maioria está empregada, estimulando as organizações a investirem mais na formação de quem está na empresa, ao invés de sair no mercado, onde o custo e demora pela busca do profissional serão altos”, diz Ricardo Barberis, presidente da filial brasileira da Manpower.
A mais forte perspectiva de contratação, diz a pesquisa, é no estado do Rio de Janeiro, onde a taxa é de 18%. Em São Paulo e Paraná, o índice é de 17%. O estado com os planos de contratação menos otimistas é Minas Gerais, com 8%.
Ah, como o gráfico aí ao lado era muito comprido, foram cortados os países com expectativa de queda no emprego: Bélgica (-1%),Eslováquia(-2%), Espanha(-4%)Finlândia(-6%),Irlanda(-6%) e, na lanterninha, a Itália (-10%).
Comentário E & P
Enquanto isso vem os economistas neoliberais e neomalthusianos (para Malthus os pobres tinham de morrer e não adiantava nada melhorar a vida deles) Samuel Pessoa e economistas tucanos e dizem que o problema do Brasil é o excesso de empregos. Esses economistas serão humanos ou bestas imbecilizadas que nasceram ricos e não sabem o que é um pai de família não ter trabalho?
O JORNALISMO TEM JEITO NO BRASIL ?
“Os nossos empresários do jornalismo são estranhos. Eles não gostam do jornalismo, não acreditam no jornalismo, trabalham contra o jornalismo”
A partir do Blog do Miro, o Conversa Afiada reproduz texto de Celso Schroder:
O JORNALISMO TEM JEITO NO BRASIL?
Por Celso Schroder, no Observatório da Imprensa:
Os nossos empresários do jornalismo são estranhos. Eles não gostam do jornalismo, não acreditam no jornalismo, trabalham contra o jornalismo e, para não deixar dúvidas, odeiam com todas as forças os jornalistas. É uma forma estranha de ganhar dinheiro, solapar seu próprio negócio. Ou então a prova definitiva de que, afinal das contas, não é com a venda de jornais que eles aumentam suas fortunas pessoais na mesma medida que invariavelmente conduzem seus negócios para a bancarrota.
Ah, tem outra coisa que causa invariavelmente urticária nos empresários de comunicação no Brasil: leis. Eles não suportam se submeter a nenhuma regulação. A “lógica” que guia a Sociedade Interamericana de Prensa (SIP) – principal organização do empresariado de comunicação das Américas – é “lei melhor é lei nenhuma”.
São eles que retroalimentam a tese do fim do jornalismo. São os mesmos que abdicaram do jornalismo em nome do entretenimento e da espetacularização. São os que apelidaram a notícia de hardnews (dura e indesejável) e guindaram o entretenimento à condição de softnews (molinho e bom). São os mesmos que, ao contrário dos EUA, por exemplo, criaram um divórcio obscurantista e medíocre entre o negócio e as universidades e cursos que ensinam e pesquisam sobre jornalismo. Sim, adivinharam, são eles que reduziram o jornalismo contemporâneo a um arremedo do que era praticado no século 18, um festival de opinião conduzido por centenas de “colunistas” que substituíram os repórteres e editores em número e importância.
Pira do capital
Está certo, eles têm aliados e cúmplices, mas foram eles que transformaram suas empresas em partidos políticos. Por isso é difícil acreditar nos seus diagnósticos e vaticínios sobre o futuro desta atividade. Não se pode confiar nem na perícia, na capacidade de gestão ou análise sobre o porvir. É patético ver o segmento empresarial mover-se como moscas tontas em torno de uma luz que os cega, atordoa, e quase sempre os leva ao desastre. Nestes últimos tempos as palavras mais usadas para explicar, justificar ou anunciar medidas quase sempre drásticas são: crise do jornalismo.
Assustados com tecnologias que os coloca na necessidade de decidir se afinal estão no negócio do jornalismo ou no showbizz, eles recorrem, assim como os antigos gregos, à inexorabilidade do destino. Os deuses, afinal, estão tramando contra eles, pedindo sacrifícios. E eles prontamente atendem a estes vingativos seres e rapidamente fazem suas oferendas prediletas: jornalistas. Afinal, é para isto que servem estes tipos descartáveis que insistem em fazer jornalismo.
De tempos em tempos, jornalistas são colocados na pira do capital em nome da crise. O ritual assume variadas e criativas formas. Alguns simplesmente fecham seus negócios e vão embora para Miami. Outros, mais escrupulosos, “digitalizam” suas redações, ou seja, trocam a prosaica verificação e averiguação pelo mais barato “copia e cola”. Existem aqueles que, finalmente, assumem o mundo do circo. Mas o resultado é sempre o mesmo, jornalistas desempregados e população sem informação.
Função social
A vinda do principal jornal espanhol ao Brasil, El País, no entanto, parece demonstrar que existem ainda empresários que compreenderam que o jornalismo é uma necessidade social e que não foram eles, empresários de comunicação, nem mesmo nós, jornalistas, que inventaram esta forma peculiar e singular de relato. Os espanhóis acreditam, vejam só, que ainda existem leitores no Brasil. Mais do que isso, acreditam que existem anunciantes que apostam nestes leitores e, na contramão do pessimismo nacional, querem se instalar aqui. Mas eles podem? A Associação Nacional dos Jornais (ANJ) acha que não. A representante nacional daqueles que odeiam jornalismo não quer deixar o El País vir. E usa um argumento inusitado: a lei. Sim, aquela mesma que eles odeiam, porque “regula”! Para evitar a concorrência internacional, os empresários se valem dos restos da Constituição que eles mesmos remendaram em 2001 para permitir a entrada de 30% de capital estrangeiro.
E a ANJ tem razão, eles precisam de 70% de capital nacional para poder se instalar aqui. É a lei que diz isto. Para isto a lei serve. Garantir aos mais fracos a proteção contra os mais fortes. O estado da lei é a superação do estado natural da barbárie. A mesma lei que a sociedade precisa para se proteger dos desmandos, erros e interesses escusos que podem acometer o “negócio” do jornalismo e da comunicação.
Mas o interesse do jornal espanhol é revelador. Traz alento para quem acredita no jornalismo e pode servir de estímulo para empresas brasileiras que desconfiam que esse pessimismo nacional é mais fruto de um cenário concentrado e vertical que viabilizou empresas sem o cacoete para a concorrência – e para a função social do Jornalismo – do que a decisão inexorável de um deus raivoso antijornalístico.
* Celso Schröder é presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), da Federação dos Jornalistas da América Latina e do Caribe (Fepalc) e vice-presidente da Federação Internacional dos Jornalistas.
A partir do Blog do Miro, o Conversa Afiada reproduz texto de Celso Schroder:
O JORNALISMO TEM JEITO NO BRASIL?
Por Celso Schroder, no Observatório da Imprensa:
Os nossos empresários do jornalismo são estranhos. Eles não gostam do jornalismo, não acreditam no jornalismo, trabalham contra o jornalismo e, para não deixar dúvidas, odeiam com todas as forças os jornalistas. É uma forma estranha de ganhar dinheiro, solapar seu próprio negócio. Ou então a prova definitiva de que, afinal das contas, não é com a venda de jornais que eles aumentam suas fortunas pessoais na mesma medida que invariavelmente conduzem seus negócios para a bancarrota.
Ah, tem outra coisa que causa invariavelmente urticária nos empresários de comunicação no Brasil: leis. Eles não suportam se submeter a nenhuma regulação. A “lógica” que guia a Sociedade Interamericana de Prensa (SIP) – principal organização do empresariado de comunicação das Américas – é “lei melhor é lei nenhuma”.
São eles que retroalimentam a tese do fim do jornalismo. São os mesmos que abdicaram do jornalismo em nome do entretenimento e da espetacularização. São os que apelidaram a notícia de hardnews (dura e indesejável) e guindaram o entretenimento à condição de softnews (molinho e bom). São os mesmos que, ao contrário dos EUA, por exemplo, criaram um divórcio obscurantista e medíocre entre o negócio e as universidades e cursos que ensinam e pesquisam sobre jornalismo. Sim, adivinharam, são eles que reduziram o jornalismo contemporâneo a um arremedo do que era praticado no século 18, um festival de opinião conduzido por centenas de “colunistas” que substituíram os repórteres e editores em número e importância.
Pira do capital
Está certo, eles têm aliados e cúmplices, mas foram eles que transformaram suas empresas em partidos políticos. Por isso é difícil acreditar nos seus diagnósticos e vaticínios sobre o futuro desta atividade. Não se pode confiar nem na perícia, na capacidade de gestão ou análise sobre o porvir. É patético ver o segmento empresarial mover-se como moscas tontas em torno de uma luz que os cega, atordoa, e quase sempre os leva ao desastre. Nestes últimos tempos as palavras mais usadas para explicar, justificar ou anunciar medidas quase sempre drásticas são: crise do jornalismo.
Assustados com tecnologias que os coloca na necessidade de decidir se afinal estão no negócio do jornalismo ou no showbizz, eles recorrem, assim como os antigos gregos, à inexorabilidade do destino. Os deuses, afinal, estão tramando contra eles, pedindo sacrifícios. E eles prontamente atendem a estes vingativos seres e rapidamente fazem suas oferendas prediletas: jornalistas. Afinal, é para isto que servem estes tipos descartáveis que insistem em fazer jornalismo.
De tempos em tempos, jornalistas são colocados na pira do capital em nome da crise. O ritual assume variadas e criativas formas. Alguns simplesmente fecham seus negócios e vão embora para Miami. Outros, mais escrupulosos, “digitalizam” suas redações, ou seja, trocam a prosaica verificação e averiguação pelo mais barato “copia e cola”. Existem aqueles que, finalmente, assumem o mundo do circo. Mas o resultado é sempre o mesmo, jornalistas desempregados e população sem informação.
Função social
A vinda do principal jornal espanhol ao Brasil, El País, no entanto, parece demonstrar que existem ainda empresários que compreenderam que o jornalismo é uma necessidade social e que não foram eles, empresários de comunicação, nem mesmo nós, jornalistas, que inventaram esta forma peculiar e singular de relato. Os espanhóis acreditam, vejam só, que ainda existem leitores no Brasil. Mais do que isso, acreditam que existem anunciantes que apostam nestes leitores e, na contramão do pessimismo nacional, querem se instalar aqui. Mas eles podem? A Associação Nacional dos Jornais (ANJ) acha que não. A representante nacional daqueles que odeiam jornalismo não quer deixar o El País vir. E usa um argumento inusitado: a lei. Sim, aquela mesma que eles odeiam, porque “regula”! Para evitar a concorrência internacional, os empresários se valem dos restos da Constituição que eles mesmos remendaram em 2001 para permitir a entrada de 30% de capital estrangeiro.
E a ANJ tem razão, eles precisam de 70% de capital nacional para poder se instalar aqui. É a lei que diz isto. Para isto a lei serve. Garantir aos mais fracos a proteção contra os mais fortes. O estado da lei é a superação do estado natural da barbárie. A mesma lei que a sociedade precisa para se proteger dos desmandos, erros e interesses escusos que podem acometer o “negócio” do jornalismo e da comunicação.
Mas o interesse do jornal espanhol é revelador. Traz alento para quem acredita no jornalismo e pode servir de estímulo para empresas brasileiras que desconfiam que esse pessimismo nacional é mais fruto de um cenário concentrado e vertical que viabilizou empresas sem o cacoete para a concorrência – e para a função social do Jornalismo – do que a decisão inexorável de um deus raivoso antijornalístico.
* Celso Schröder é presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), da Federação dos Jornalistas da América Latina e do Caribe (Fepalc) e vice-presidente da Federação Internacional dos Jornalistas.
Sonegação no Brasil é de R$ 400 bilhões
Brasil Econômico - As informações são da Agência Brasil
Montante equivale a 20 vezes o gasto do governo com programa Bolsa Família, diz Sinprofaz
Brasília - A sonegação no Brasil é 20 vezes maior do que o valor gasto com o Programa Bolsa Família. O cálculo é do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz), que volta a exibir nesta quarta-feira, em Brasília, o Sonegômetro, para mostrar os prejuízos que o país tem com a sonegação.
O placar online indica que a sonegação fiscal no Brasil está prestes a ultrapassar a casa dos R$ 400 bilhões. Desenvolvido pelo Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz), o Sonegômetro apresenta em tempo real o quanto o país deixa de arrecadar todos os dias.
Corrupção
Para o presidente do Sinprofaz, Heráclio Camargo, a sonegação caminha em conjunto com a corrupção. "A sonegação e a corrupção caminham juntas porque a corrupção precisa do dinheiro da sonegação para financiar as campanhas de políticos inescrupulosos e fomentar o círculo vicioso da lavagem de dinheiro", disse ele.
"Infelizmente, o Brasil é leniente", ressaltou Camargo, porque permite a inscrição, com o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), de empresas localizadas em paraísos fiscais. Segundo o presidente do Sinprofaz, basta procurar em todos os jornais, em notícias recentes e em todas as operações da Polícia Federal.
"É só observar que, em todos os mensalões de todos os partidos, usam-se mecanismos sofisticados de lavagem de dinheiro, e o governo federal não muda essa sistemática de permitir que empresas instaladas em paraísos fiscais sejam donas de hotéis, de restaurantes. São negócios que têm uma fachada lícita, mas muitos deles servem para lavar dinheiro", reclamou.
Nos cálculos feitos por Camargo, R$ 400 bilhões representam aproximadamente 10% do Produto Interno Bruto (PIB), 25% do que é arrecadado. É 20 vezes mais do que se gasta com o Bolsa Família. De acordo com Camargo, mesmo com os questionamentos sobre esse programa, ele é benéfico para a economia, pois os recursos dele criam um círculo "virtuoso" da economia local. "Imagine se pegássemos 20 vezes esse valor e investíssemos em saneamento básico, na melhoria dos salário dos professores e na estruturação das carreiras de Estado. Seria um outro país, com R$ 400 bilhões a mais do que temos agora."
Isso sem contar os valores da dívida ativa, que está em R$ 1,4 trilhão, acrescentou Heráclio. Ele destacou que os procuradores sequer têm um servidor de apoio por procurador, enquanto os juízes têm de 15 a 20 servidores. "Os culpados pelo sucateamento da Procuradoria da Fazenda Nacional são o Ministério da Fazenda e a Advocacia-Geral da União." Para ele, é importante que a sociedade cobre, pois existem 300 vagas em aberto para a carreira de procurador nem existe carreira de apoio para combater o que ele considera "sonegação brutal" [R$ 400 bilhões] e tentar recuperar a dívida de R$ 1,4 trilhão.
"São quase R$ 2 trilhões que estão aí para ser cobrados, e o governo pune os mais pobres e a classe média com uma tributação indireta alta e, notadamente, com a contrapartida baixa que é dada pelo Estado brasileiro", afirmou.
Montante equivale a 20 vezes o gasto do governo com programa Bolsa Família, diz Sinprofaz
Brasília - A sonegação no Brasil é 20 vezes maior do que o valor gasto com o Programa Bolsa Família. O cálculo é do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz), que volta a exibir nesta quarta-feira, em Brasília, o Sonegômetro, para mostrar os prejuízos que o país tem com a sonegação.
O placar online indica que a sonegação fiscal no Brasil está prestes a ultrapassar a casa dos R$ 400 bilhões. Desenvolvido pelo Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz), o Sonegômetro apresenta em tempo real o quanto o país deixa de arrecadar todos os dias.
Corrupção
Para o presidente do Sinprofaz, Heráclio Camargo, a sonegação caminha em conjunto com a corrupção. "A sonegação e a corrupção caminham juntas porque a corrupção precisa do dinheiro da sonegação para financiar as campanhas de políticos inescrupulosos e fomentar o círculo vicioso da lavagem de dinheiro", disse ele.
"Infelizmente, o Brasil é leniente", ressaltou Camargo, porque permite a inscrição, com o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), de empresas localizadas em paraísos fiscais. Segundo o presidente do Sinprofaz, basta procurar em todos os jornais, em notícias recentes e em todas as operações da Polícia Federal.
"É só observar que, em todos os mensalões de todos os partidos, usam-se mecanismos sofisticados de lavagem de dinheiro, e o governo federal não muda essa sistemática de permitir que empresas instaladas em paraísos fiscais sejam donas de hotéis, de restaurantes. São negócios que têm uma fachada lícita, mas muitos deles servem para lavar dinheiro", reclamou.
Nos cálculos feitos por Camargo, R$ 400 bilhões representam aproximadamente 10% do Produto Interno Bruto (PIB), 25% do que é arrecadado. É 20 vezes mais do que se gasta com o Bolsa Família. De acordo com Camargo, mesmo com os questionamentos sobre esse programa, ele é benéfico para a economia, pois os recursos dele criam um círculo "virtuoso" da economia local. "Imagine se pegássemos 20 vezes esse valor e investíssemos em saneamento básico, na melhoria dos salário dos professores e na estruturação das carreiras de Estado. Seria um outro país, com R$ 400 bilhões a mais do que temos agora."
Isso sem contar os valores da dívida ativa, que está em R$ 1,4 trilhão, acrescentou Heráclio. Ele destacou que os procuradores sequer têm um servidor de apoio por procurador, enquanto os juízes têm de 15 a 20 servidores. "Os culpados pelo sucateamento da Procuradoria da Fazenda Nacional são o Ministério da Fazenda e a Advocacia-Geral da União." Para ele, é importante que a sociedade cobre, pois existem 300 vagas em aberto para a carreira de procurador nem existe carreira de apoio para combater o que ele considera "sonegação brutal" [R$ 400 bilhões] e tentar recuperar a dívida de R$ 1,4 trilhão.
"São quase R$ 2 trilhões que estão aí para ser cobrados, e o governo pune os mais pobres e a classe média com uma tributação indireta alta e, notadamente, com a contrapartida baixa que é dada pelo Estado brasileiro", afirmou.
segunda-feira, dezembro 09, 2013
Leblon: Elite escravocrata prega a educação, mas sem abrir mão dos juros
A escola pode muito. Mas é questionável que vá salvar a pátria, dizia Antonio Candido ao PT, em 2002
A escola resolve o nosso apartheid?
por Saul Leblon, em Carta Maior
Quem vai salvar a pátria?
Um traço constitutivo da agenda conservadora consiste em festejar as derrotas da sociedade brasileira abstraindo a dimensão estrutural do problema.
Ou seja, omitindo sua responsabilidade.
Espremido o foco, o resto fica fácil.
Cria-se uma circularidade; ela confina o debate do futuro no campo da moral.
E a moral, como se sabe, é o apanágio da classe dominante.
Entre nós esse reducionismo determina que o faminto é culpado pela fome.
O Estado, carcomido pelo cupim privatista, é o responsável pela indigência pública.
O lado ‘gobineau’ das elites –em que a genética define a história– tem na educação um compêndio ilustrativo de sua versatilidade e dos seus limites.
Manchetes desta semana esponjaram-se no desempenho sofrível dos estudantes brasileiros no Pisa, edição 2012.
O Programa de Avaliação Internacional de Estudantes da OCDE sabatina alunos de 15 e 16 anos em matemática, leitura e ciências.
A mensagem subliminar do jornalismo conservador era: esse, o país dirigido pelo populismo!
Das 65 nações incluídas no teste, o Brasil foi a que apresentou a melhor progressão no aprendizado de matemática nos últimos nove anos.
O fato de persistir no 58º lugar depois disso (em ciências figura no 59º; em leitura, no 55º, num total de 65) é sugestivo do ponto de partida pantanoso sobre o qual a elite ‘esclarecida’ fixou a escola pública brasileira.
O mais irônico é que a narrativa conservadora define a educação como o único canal legítimo de mobilidade das massas no país.
Por trás desse simulacro de meritocracia esconde-se o círculo de ferro de uma das piores estruturas de distribuição de renda do planeta, que se avoca o direito à eternidade.
Endinheirados que se orgulham de patrocinar ONGs pela redenção educativa, garantem: será assim, através da escola, não da reforma agrária, a tributária ou a urbana, tampouco através do salário mínimo ‘inflacionário’, que a miséria material e espiritual perderá seu reinado neste lugar.
A escola pode muito.
Acertou em cheio o governo ao impor uma regulação soberana sobre a riqueza do pré-sal, que permitirá transferir múltiplos de bilhões de reais à politica educacional nos próximos anos.
Mas é questionável que a escola possa tudo o que lhe atribui a emancipação a frio apregoada pela agenda conservadora.
Ser uma ilha de excelência, capaz de abrigar e exorcizar o oceano de iniquidades ao seu redor, parece mais um enredo de aventura nas estrelas do que o horizonte histórico de uma nação.
Os analistas do Pisa parecem corroborar essa avaliação.
Eles afirmam que a metade do ganho brasileiro em matemática, por exemplo, foi uma decorrência de mudanças no entorno social dos alunos.
Uma parte do noticiário conservador interpretou esse dado de forma desairosa, como se fora um atestado de fracasso do MEC. Outra, omitiu-o.
Compreende-se.
Investigá-lo talvez levasse à conclusão de que as políticas demonizadas pela mídia – como o Bolsa Família, a valorização do salário mínimo, crédito barato, subsídio à habitação popular etc– ajudaram o estudante brasileiro a ter maior poder de aprendizado.
Um exemplo: estudantes do ensino médio beneficiados pelo Bolsa Família nas regiões Norte e Nordeste têm rendimento melhor do que a média nacional (82,3% e 82,7%, contra taxa brasileira de 75,2%).
Outro: pesquisa feita na Universidade de Sussex, na Inglaterra, em 2012, revela que quanto maior é o tempo de participação das famílias no Bolsa Família, maior é o aproveitamento escolar das crianças. Segundo a pesquisa, a taxa de aprovação dos alunos do 5º ano aumenta 0,6 ponto percentual para cada R$ 1 de aumento no valor médio do benefício per capita pago às famílias.
A influência da entorno social na escolarização não é privilégio de sociedade pobre.
Tome-se o caso dos EUA.
O país retrocedeu cerca de 20 pontos na classificação global do Pisa- 2012.
Em 2009 ocupava a 17ª posição; caiu agora para a 36ª, abaixo da média geral em ciências e matemática.
O que mudou nos EUA entre 2009 e 2012?
A sociedade norte-americana mergulhou na sua maior crise desde a Depressão de 1929.
Uma em cada cinco crianças norte-americanas vive atualmente em ambiente de pobreza. A renda média das famílias com filhos recuou cerca de US$ 6.300 (tomando-se 2001 como base de comparação). Com a implosão da bolha imobiliária, um milhão de estudantes de escolas públicas viram suas famílias serem despejadas . As taxas de desemprego aberto e oculto hoje superam a faixa dos 13%. O grau de recuperação do mercado de trabalho na presente crise é o mais lento de todas as recessões anteriores.
A sobrevalorização do papel da escola na agenda conservadora brasileira padece de outros flancos de coerência.
Há uma distância robusta entre o que se fala e o que se pratica quando se mede o hiato em moeda sonante.
O piso salarial do magistério brasileiro hoje, R$ 1560,00, é um dos mais baixos do mundo. A perspectiva de corrigi-lo para modestos R$ 1.860 reais em 2014 dispara as sirenes de alerta do jornalismo que promete mostrar o abismo fiscal na próxima edição.
Segundo o Pisa, o Brasil investe três vezes menos que a média da OCDE para educar uma criança dos 6 aos 15 anos (R$ 64 mil e R$ 200 mil, respectivamente).
Em termos de PIB, fica com uma fatia equivalente a 5%.
O pedaço destinado aos rentistas da dívida pública é maior: 5,7% do PIB.
O mesmo jogral que atribui à educação poderes sobrenaturais, martela a necessidade de submeter a economia a uma ação purgativa contundente feita de juros mais altos e cortes no poder de compra da população (em especial, a depreciação real do salário mínimo).
O conjunto visa, no fundo, preservar a regressividade fiscal brasileira, que privilegia ricos e penaliza pobres e remediados, contra eventuais reformas progressistas.
Nos salões elegantes, os candidatos a candidato do dinheiro grosso em 2014 acenam com a miragem desse país impossível: um Brasil com produtividade chinesa, civilidade suíça, superávit ‘cheio’ e carga fiscal equiparável a de Burkina Faso, onde o índice de alfabetização não ameaça a barreira dos 25%.
Não é apenas o entorno social do aluno pobre que está ameaçado por esse coquetel ; na verdade, ele rasga a própria fantasia da prioridade educacional, reduzindo-a a sua verdadeira essência histórica: uma agenda protelatória.
Ou seja, um deslocamento espacial e temporal do conflito distributivo, confinado em uma escola e em um aluno, aos quais caberá a exclusiva responsabilidade de erguer a sociedade pelos próprios cabelos.
Ou não será assim também com a saúde pública, desafiada a ‘fazer mais com menos’, –com menos ainda depois que a coalizão demotucana subtraiu R$ 40 bilhões por ano do SUS em 2007?
Um comparativo da OMS mostra o quanto há de perversidade na fotografia que imortalizou esse ato cometido na madrugada de 13 de dezembro de 2007. A imagem mostra a nata do retrocesso político comemorando a extinção da CPMF em alegria obscena. A indecência se panfletada nas filas do SUS ainda guarda nitroglicerina para sublevar o país.
Segundo a OMS, o gasto público mundial per capita com a saúde chegou a US$ 571 por ano em 2010. Inclua-se nessa média os US$ 6 mil per capita da Noruega e os US$ 4 per capita do Congo; o valor brasileiro é de US$ 466/ano; em 2000, no governo FHC, somava US$ 107 per capita.
Os mesmos que gargalhavam na madrugada de 13 de dezembro de 2007 fuzilariam o ‘Mais Médicos’ seis anos depois. E não por acaso são as mesmas bocas de onde ecoa a cínica profissão de fé em uma escola capaz de corrigir aquilo que suas madrugadas políticas cuidam de perpetuar.
Os resultados do Pisa deveriam servir de combustível para um aggiornamento do debate brasileiro que de forma preguiçosa adotou o cacoete de terceirizar à educação tarefas que só uma repactuação do desenvolvimento pode honrar.
Na ante-sala do debate eleitoral de 2014 seria oportuno, por vezes, inverter os termos da equação. E arguir o que o projeto mercadista pretende fazer em benefício da pobreza e da desigualdade hoje para que elas possam mudar a escola pública amanhã.
Vale retornar às origens e reler um trecho inspirador de uma entrevista concedida pelo professor, crítico literário e cientista social Antonio Candido de Mello e Souza, à campanha de Lula, em 2002, sobre o assunto.
Como ele, as palavras aqui emitem uma luminosidade clássica:
“Temos uma crise de civilização (…) Talvez seja um mal que deriva de um bem.
O esforço para tornar os níveis de ensino acessíveis a todos força diminuir o nível. Então, você fica num dilema perverso: elitizo ou democratizo e abdico de qualidade? A saída está numa sociedade igualitária, onde todos tenham acesso à cultura e à educação de qualidade. Foi o que eu vi em Cuba. Instrução pública e gratuita em todos os níveis. E de muito boa qualidade. A chave é a transformação da sociedade, na qual as pessoas se apresentam para a educação em pé de igualdade.
Quem acha que um bom sistema educacional salva a pátria está redondamente enganado. A participação nesse sistema será sempre restrita. Por isso você tem que, primeiro, fazer mudanças estruturais; depois, terá um boa educação. Os liberais pensam: eu tendo uma população instruída, terei uma sociedade melhor.
Errado. Tendo a sociedade melhor, terei uma população instruída. Só assim você supera essa contradição aparente entre elitização e democratização. Continuo achando que a forma republicana do ensino público e gratuito é o grande modelo
(…) Numa sociedade em que as diferenças de classes ficam muito reduzidas, haverá um desaparecimento da cultura erudita e da popular. E surgirá uma nova cultura. Isso é possível. A função do Estado é fazer um grande esforço econômico e social para que no plano cultural o hiato diminua. De tal maneira que, no fim de certo tempo, o popular se torna erudito e o erudito se torna popular.
(…) Sempre tivemos uma República de elite. Um presidente da República era eleito com 200 mil votos – e votos descobertos. Em 1930, eu assisti na minha cidade, em Cássia, Minas Gerais, à última eleição a descoberto. O eleitor chegava e o coronel, ao lado, fiscalizando. Depois de Getúlio, com a emergência das massas operárias, das massas urbanas, não foi mais possível manter esse estreitamento. O Getúlio era um caudilho esperto. Para manter as elites sob controle, abriu as porteiras e deixou o povo entrar, mas patrocinado por ele. Todavia, abriu a porteira. E ela está aberta até hoje” (Antonio Candido; site da Campanha Lula Presidente; 2002)
O PISA e o neolacerdismo viralata
Miguel do Rosário
Com sua genialidade golpista, Lacerda resumiu maravilhosamente como pensa a elite brasileira, até hoje: “Vargas não pode ser candidato. Se for, não pode vencer. Se vencer, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar.”
Este ainda parece ser o mote da oposição, dessa eterna oposição ao Brasil que vem agindo com triste coerência desde priscas eras.
Vou dar um exemplo. Uma leitora perplexa me enviou um email hoje, dizendo que O Globo realizou mais uma de suas proezas. Transformou o extraordinário avanço do Brasil no PISA, a mais importante pesquisa mundial em educação, num retumbante fracasso.
É uma verdadeira alquimia. Um rei Midas às avessas. Midas transformava tudo que tocava em ouro. Nossa mídia transforma tudo que toca em lixo.
A fórmula é simples: “melhoramos muito, ok, mas continuamos uma merda.” Ponto final. James, traga minhas pílulas!
Neste sentido, a coluna de Zuenir Ventura, ontem, é uma verdadeira obra de arte do lacerdismo pós-moderno. A fórmula clássica do lacerdismo ficou assim: “O Brasil não pode dar certo. Se der certo, a gente não dá a notícia. Se dermos a notícia, distorcemos.”
O próprio responsável pelo PISA, Andreas Schleicher, não poderia ser mais direto. Em entrevista à imprensa brasileira, foi taxativo: “Honestamente, estou bem impressionado. Há muito tempo não vejo um crescimento no número de alunos aliado a uma melhora na qualidade como no Brasil.”
E mais:
“(…) o especialista explicou que nenhum outro país obteve tanto progresso em educação como o Brasil, entre 2003 e 2012.
Schleicher destacou que a melhora na Educação foi impulsionada, entre outros fatores, pelo aumento dos investimentos no setor e pelo sucesso em atrair melhores professores para as salas de aula.”
Entretanto, Zuenir Ventura aplica o seguinte título ao texto no qual analisa os resultados do PISA: “Nosso ensino inferior”.
Este é um assunto muito importante, então analisemos os três primeiros parágrafos do artigo de Zuenir:
*
Não é para entrar em depressão, mas também não é para comemorar. Nos dois testes internacionais a que foi submetido esta semana — o do ensino médio e o do superior — o nosso sistema educacional não foi totalmente reprovado e até melhorou, mas também não “passou” com louvor. Sob certos aspectos, o desempenho foi medíocre.
No primeiro exame, o Pisa, que avalia alunos de 15 anos de 65 países, o Brasil foi o que mais avançou em matemática entre 2003 e 2012, mas mesmo assim continua lá atrás, ficou em 58º lugar e, em leitura, foi pior, caiu dois pontos para a 55ª colocação. Em Ciências, permaneceu onde estava, na 59ª posição.
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, considerou o resultado “uma grande vitória”, mas o responsável pelo Pisa, Andreas Schleicher, acha que temos que “acelerar muito o ritmo de melhoria”, investindo mais em professores e dando aos alunos pobres melhores escolas, para não continuar fazendo feio.
*
Repare bem. O Brasil foi o país que apresentou o maior avanço no PISA, dentre todos os países do mundo, e Zuenir inicia seu texto falando em depressão. Zuenir é um homem inteligente, sabe que a mensagem subliminar do texto, aquilo que irá se fixar na mente do leitor, após concluir a leitura do primeiro parágrafo, é a palavra “depressão”.
No segundo parágrafo, quando inicia a apresentação de dados, Zuenir realiza a primeira distorção. A informação de que o Brasil foi o país que mais avançou em matemática, entre os anos de 2003 a 2012 é dada como que “en passant”. No entanto, o PISA de 2012 teve como foco justamente o ensino de matemática. O PISA é realizado de três em três anos. Em 2000, o foco foi em Leitura; em 2003, Matemática; e em 2006, Ciências. O Pisa 2009 iniciou um novo ciclo do programa, com o foco novamente recaindo sobre o domínio de Leitura; em 2012, Matemática mais uma vez; e em 2015, será Ciências.
Ou seja, se o foco do programa este ano foi Matemática e o Brasil foi o país que apresentou o maior avanço no mundo neste item, acredita-se que temos aí uma boa notícia, não?
Vamos direto à fonte. O relatório do PISA sobre o Brasil abre assim:
Tradução dos pontos principais: “Enquanto a performance brasileira permanece abaixo da média da OECD, o seu desempenho em matemática tem melhorado desde 2003, de 356 para 391 pontos, fazendo do Brasil o país que obteve os maiores ganhos desde 2003. Melhoras substanciais também ocorreram em Leitura e Ciências. Melhoras foram particularmente fortes entre alunos com baixo desempenho em matemática, leitura e ciências.”
*
É óbvio que ainda temos um longo caminho a percorrer. Mas não há milagres. A “performance” de Zuenir mostra que, mesmo entre jornalistas, ainda se encontra enorme dificuldade para se interpretar um texto…
Com sua genialidade golpista, Lacerda resumiu maravilhosamente como pensa a elite brasileira, até hoje: “Vargas não pode ser candidato. Se for, não pode vencer. Se vencer, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar.”
Este ainda parece ser o mote da oposição, dessa eterna oposição ao Brasil que vem agindo com triste coerência desde priscas eras.
Vou dar um exemplo. Uma leitora perplexa me enviou um email hoje, dizendo que O Globo realizou mais uma de suas proezas. Transformou o extraordinário avanço do Brasil no PISA, a mais importante pesquisa mundial em educação, num retumbante fracasso.
É uma verdadeira alquimia. Um rei Midas às avessas. Midas transformava tudo que tocava em ouro. Nossa mídia transforma tudo que toca em lixo.
A fórmula é simples: “melhoramos muito, ok, mas continuamos uma merda.” Ponto final. James, traga minhas pílulas!
Neste sentido, a coluna de Zuenir Ventura, ontem, é uma verdadeira obra de arte do lacerdismo pós-moderno. A fórmula clássica do lacerdismo ficou assim: “O Brasil não pode dar certo. Se der certo, a gente não dá a notícia. Se dermos a notícia, distorcemos.”
O próprio responsável pelo PISA, Andreas Schleicher, não poderia ser mais direto. Em entrevista à imprensa brasileira, foi taxativo: “Honestamente, estou bem impressionado. Há muito tempo não vejo um crescimento no número de alunos aliado a uma melhora na qualidade como no Brasil.”
E mais:
“(…) o especialista explicou que nenhum outro país obteve tanto progresso em educação como o Brasil, entre 2003 e 2012.
Schleicher destacou que a melhora na Educação foi impulsionada, entre outros fatores, pelo aumento dos investimentos no setor e pelo sucesso em atrair melhores professores para as salas de aula.”
Entretanto, Zuenir Ventura aplica o seguinte título ao texto no qual analisa os resultados do PISA: “Nosso ensino inferior”.
Este é um assunto muito importante, então analisemos os três primeiros parágrafos do artigo de Zuenir:
*
Não é para entrar em depressão, mas também não é para comemorar. Nos dois testes internacionais a que foi submetido esta semana — o do ensino médio e o do superior — o nosso sistema educacional não foi totalmente reprovado e até melhorou, mas também não “passou” com louvor. Sob certos aspectos, o desempenho foi medíocre.
No primeiro exame, o Pisa, que avalia alunos de 15 anos de 65 países, o Brasil foi o que mais avançou em matemática entre 2003 e 2012, mas mesmo assim continua lá atrás, ficou em 58º lugar e, em leitura, foi pior, caiu dois pontos para a 55ª colocação. Em Ciências, permaneceu onde estava, na 59ª posição.
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, considerou o resultado “uma grande vitória”, mas o responsável pelo Pisa, Andreas Schleicher, acha que temos que “acelerar muito o ritmo de melhoria”, investindo mais em professores e dando aos alunos pobres melhores escolas, para não continuar fazendo feio.
*
Repare bem. O Brasil foi o país que apresentou o maior avanço no PISA, dentre todos os países do mundo, e Zuenir inicia seu texto falando em depressão. Zuenir é um homem inteligente, sabe que a mensagem subliminar do texto, aquilo que irá se fixar na mente do leitor, após concluir a leitura do primeiro parágrafo, é a palavra “depressão”.
No segundo parágrafo, quando inicia a apresentação de dados, Zuenir realiza a primeira distorção. A informação de que o Brasil foi o país que mais avançou em matemática, entre os anos de 2003 a 2012 é dada como que “en passant”. No entanto, o PISA de 2012 teve como foco justamente o ensino de matemática. O PISA é realizado de três em três anos. Em 2000, o foco foi em Leitura; em 2003, Matemática; e em 2006, Ciências. O Pisa 2009 iniciou um novo ciclo do programa, com o foco novamente recaindo sobre o domínio de Leitura; em 2012, Matemática mais uma vez; e em 2015, será Ciências.
Ou seja, se o foco do programa este ano foi Matemática e o Brasil foi o país que apresentou o maior avanço no mundo neste item, acredita-se que temos aí uma boa notícia, não?
Vamos direto à fonte. O relatório do PISA sobre o Brasil abre assim:
Tradução dos pontos principais: “Enquanto a performance brasileira permanece abaixo da média da OECD, o seu desempenho em matemática tem melhorado desde 2003, de 356 para 391 pontos, fazendo do Brasil o país que obteve os maiores ganhos desde 2003. Melhoras substanciais também ocorreram em Leitura e Ciências. Melhoras foram particularmente fortes entre alunos com baixo desempenho em matemática, leitura e ciências.”
*
É óbvio que ainda temos um longo caminho a percorrer. Mas não há milagres. A “performance” de Zuenir mostra que, mesmo entre jornalistas, ainda se encontra enorme dificuldade para se interpretar um texto…
sábado, dezembro 07, 2013
Por que é vital que o mensalão seja avaliado por uma corte internacional
Há muitos sinais de que foram cometidos erros graves pelo Supremo.
Vamos refletir sem paixões partidárias.
Não sei se isso é possível num país tão polarizado, mas para o Diário é: nosso partido é a Escandinávia, e os leitores sabem disso.
Pois bem.
Faz sentido aceitar estoicamente o julgamento do Mensalão depois que vieram à luz, depois do veredito do final do ano passado, tantos descalabros entre os juízes do Supremo Tribunal Federal?
Mesmo leigos hoje são capazes de dissertar, com propriedade, sobre pataquadas ocorridas no julgamento.
Nossa mais alta corte – sejamos francos – é de segunda, ou terceira, classe. Seus integrantes são, numa palavra, fracos.
Fux é o maior exemplo, mas não o único.
Há sinais de que nenhum deles sabia o que é o chamado BV, Bônus por Volume – uma propina legal inventada pela Globo para forçar as agências a anunciar nela.
E o BV pode explicar coisas que sequer foram discutidas num julgamento em que o STF, sob as câmaras interesseiras da televisão, mais pareceu o BBB.
E então, com toda a precariedade do STF, e mais a pressão da mídia, você é condenado a dez anos de prisão e chamado de chefe de quadrilha, como aconteceu com Dirceu.
Faça as contas: ele já passou dos 60 faz algum tempo. Poderia viver seus últimos anos na cadeia.
E condenado por quem? Não por Cíceros, não por Catões – mas por Barbosas e Fuxes, e mais a máquina dos Marinhos.
Você não precisa ser a favor de Dirceu. Basta ver quem é contra. A Globo, por exemplo. Quando a Globo apoiou uma boa causa no Brasil?
Roberto Marinho era dono de um jornal medíocre e pequeno quando encontrou, na ditadura militar, um aliado. Ganhou televisão, ganhou facilidades, e todos sabemos o que deu: mais que o apoio cego à ditadura, a alma.
A Globo virou grande não pelo talento de Roberto Marinho, que aliás jamais escreveu que se saiba uma legenda. Mas pelas absurdar vantagens que desfrutou na ditadura em troca de apoio.
Isso está registrado no livro Dossiê Geisel, da editora FGV, um vital retrato da ditadura feito a partir dos documentos pessoais de Geisel.
Leia.
Ali estão citados os encontros que Roberto Marinho fazia com empresários para promover entre eles a causa da ditadura.
Armando Falcão, ministro da Justiça de Geisel, se referia a Roberto Marinho como “o mais fiel e constante aliado” da ditadura entre os donos da mídia. E falava também dos pedidos de Roberto Marinho na contrapartida de tamanha fidelidade e constância.
A Globo grande nasceu desse conluio. Meritocracia zero, ou abaixo de zero.
E então você se chama Dirceu e se vê na iminência de fazer as malas e partir para o xilindró porque a Globo quer que isso aconteça.
Dirceu tem que ser duramente criticado, sim. Como uma das lideranças mais importantes do PT, fez menos do que deveria para reformar o Brasil nestes dez anos.
O Brasil avançou socialmente, mas menos do que poderia e deveria.
Um trabalho sério teria promovido mudanças, por exemplo, no Supremo. Você não pode colocar um Barbosa – por ser negro – ou um Fux – por matar no peito – e imaginar que vai transformar o STF num tribunal de sábios.
A conta pode chegar e chegou.
Mas isso é uma digressão.
De volta: você se chama Dirceu e foi condenado por eles.
A quem apelar?
Sim, à Corte Internacional da Organização dos Estados Americanos.
Seja o que for que a OEA delibere, lá a voz da mídia não perturbará tanto, não influenciará tanto, não terá efeito tão nocivo ao que se entende que seja justiça. A mesquinharia de Barbosa vai contar pouco.
Dirceu e os demais réus demoraram para fazer a coisa certa.
O QUE MANDELA DEVIA A FIDEL: A VITÓRIA !
Fidel derrotou a CIA e os racistas em Angola e abriu espaço político para Mandela.
Antes que façam do Mandela um tucano
Atilio A. Boron, do jornal Pagina12, da Argentina (o Brasil não teve competência, sequer, para por de pé um Pagina12 …), lembra a dívida de Mandela a Fidel.
E que Mandela, como Dirceu e Genoino, aderiu à luta armada e, por isso, foi condenado à prisão perpétua.
Portanto, antes que o PiG (*) faça do Mandela o que tentou fazer do Déda – um bonitão, conciliador, que adorava ler poesia para as mulheres, e omitir sua historia trabalhista, ortodoxa …- vale a pena ir … à Argentina !
MANDELA Y FIDEL
Por Atilio A. Boron *
La muerte de Nelson Mandela precipitó una catarata de interpretaciones sobre su vida y su obra, todas las cuales lo presentan como un apóstol del pacifismo y una especie de Madre Teresa de Sudáfrica.
Se trata de una imagen esencial y premeditadamente equivocada, que soslaya que luego de la matanza de Sharpeville, en 1960, el Congreso Nacional Africano (CNA) y su líder, precisamente Mandela, adoptan la vía armada y el sabotaje a empresas y proyectos de importancia económica, pero sin atentar contra vidas humanas.
Mandela recorrió diversos países de Africa en busca de ayuda económica y militar para sostener esta nueva táctica de lucha. Cayó preso en 1962 y poco después se lo condenó a cadena perpetua, que lo mantendría relegado en una cárcel de máxima seguridad, en una celda de dos por dos metros, durante 25 años, salvo los dos últimos años en los cuales la formidable presión internacional para lograr su liberación mejoraron las condiciones de su detención.
Mandela, por lo tanto, no fue un “adorador de la legalidad burguesa”, sino un extraordinario líder político cuya estrategia y tácticas de lucha fueron variando según cambiaban las condiciones bajo las cuales libraba sus batallas.
Se dice que fue el hombre que acabó con el odioso “apartheid” sudafricano, lo cual es una verdad a medias. La otra mitad del mérito les corresponde a Fidel y la Revolución Cubana, que con su intervención en la guerra civil de Angola selló la suerte de los racistas al derrotar a las tropas de Zaire (hoy, República Democrática del Congo), del ejército sudafricano y de dos ejércitos mercenarios angoleños organizados, armados y financiados por EE.UU. a través de la CIA.
Gracias a su heroica colaboración, en la cual una vez más se demostró el noble internacionalismo de la Revolución Cubana, se logró mantener la independencia de Angola, sentar las bases para la posterior emancipación de Namibia y disparar el tiro de gracia en contra del “apartheid” sudafricano. Por eso, enterado del resultado de la crucial batalla de Cuito Cuanavale, el 23 de marzo de 1988, Mandela escribió desde la cárcel que el desenlace de lo que se dio en llamar “la Stalingrado africana” fue “el punto de inflexión para la liberación de nuestro continente, y de mi pueblo, del flagelo del apartheid”.
La derrota de los racistas y sus mentores estadounidenses asestó un golpe mortal a la ocupación sudafricana de Namibia y precipitó el inicio de las negociaciones con el CNA que, a poco andar, terminarían por demoler al régimen racista sudafricano, obra mancomunada de aquellos dos gigantescos estadistas y revolucionarios. Años más tarde, en la Conferencia de Solidaridad Cubana-Sudafricana de 1995 Mandela diría que “los cubanos vinieron a nuestra región como doctores, maestros, soldados, expertos agrícolas, pero nunca como colonizadores. Compartieron las mismas trincheras en la lucha contra el colonialismo, subdesarrollo y el “apartheid”… Jamás olvidaremos este incomparable ejemplo de desinteresado internacionalismo”. Es un buen recordatorio para quienes hablan de la “invasión” cubana a Angola.
Cuba pagó un precio enorme por este noble acto de solidaridad internacional que, como lo recuerda Mandela, fue el punto de inflexión de la lucha contra el racismo en Africa. Entre 1975 y 1991, cerca de 450.000 hombres y mujeres de la isla pararon por Angola jugándose en ello su vida. Poco más de 2600 la perdieron luchando para derrotar el régimen racista de Pretoria y sus aliados. La muerte de ese extraordinario líder que fue Nelson Mandela es una excelente ocasión para rendir homenaje a su lucha y, también, al heroísmo internacionalista de Fidel y la Revolución Cubana.
* Director del PLED, Centro Cultural de la Cooperación Floreal Gorini.
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
Antes que façam do Mandela um tucano
Atilio A. Boron, do jornal Pagina12, da Argentina (o Brasil não teve competência, sequer, para por de pé um Pagina12 …), lembra a dívida de Mandela a Fidel.
E que Mandela, como Dirceu e Genoino, aderiu à luta armada e, por isso, foi condenado à prisão perpétua.
Portanto, antes que o PiG (*) faça do Mandela o que tentou fazer do Déda – um bonitão, conciliador, que adorava ler poesia para as mulheres, e omitir sua historia trabalhista, ortodoxa …- vale a pena ir … à Argentina !
MANDELA Y FIDEL
Por Atilio A. Boron *
La muerte de Nelson Mandela precipitó una catarata de interpretaciones sobre su vida y su obra, todas las cuales lo presentan como un apóstol del pacifismo y una especie de Madre Teresa de Sudáfrica.
Se trata de una imagen esencial y premeditadamente equivocada, que soslaya que luego de la matanza de Sharpeville, en 1960, el Congreso Nacional Africano (CNA) y su líder, precisamente Mandela, adoptan la vía armada y el sabotaje a empresas y proyectos de importancia económica, pero sin atentar contra vidas humanas.
Mandela recorrió diversos países de Africa en busca de ayuda económica y militar para sostener esta nueva táctica de lucha. Cayó preso en 1962 y poco después se lo condenó a cadena perpetua, que lo mantendría relegado en una cárcel de máxima seguridad, en una celda de dos por dos metros, durante 25 años, salvo los dos últimos años en los cuales la formidable presión internacional para lograr su liberación mejoraron las condiciones de su detención.
Mandela, por lo tanto, no fue un “adorador de la legalidad burguesa”, sino un extraordinario líder político cuya estrategia y tácticas de lucha fueron variando según cambiaban las condiciones bajo las cuales libraba sus batallas.
Se dice que fue el hombre que acabó con el odioso “apartheid” sudafricano, lo cual es una verdad a medias. La otra mitad del mérito les corresponde a Fidel y la Revolución Cubana, que con su intervención en la guerra civil de Angola selló la suerte de los racistas al derrotar a las tropas de Zaire (hoy, República Democrática del Congo), del ejército sudafricano y de dos ejércitos mercenarios angoleños organizados, armados y financiados por EE.UU. a través de la CIA.
Gracias a su heroica colaboración, en la cual una vez más se demostró el noble internacionalismo de la Revolución Cubana, se logró mantener la independencia de Angola, sentar las bases para la posterior emancipación de Namibia y disparar el tiro de gracia en contra del “apartheid” sudafricano. Por eso, enterado del resultado de la crucial batalla de Cuito Cuanavale, el 23 de marzo de 1988, Mandela escribió desde la cárcel que el desenlace de lo que se dio en llamar “la Stalingrado africana” fue “el punto de inflexión para la liberación de nuestro continente, y de mi pueblo, del flagelo del apartheid”.
La derrota de los racistas y sus mentores estadounidenses asestó un golpe mortal a la ocupación sudafricana de Namibia y precipitó el inicio de las negociaciones con el CNA que, a poco andar, terminarían por demoler al régimen racista sudafricano, obra mancomunada de aquellos dos gigantescos estadistas y revolucionarios. Años más tarde, en la Conferencia de Solidaridad Cubana-Sudafricana de 1995 Mandela diría que “los cubanos vinieron a nuestra región como doctores, maestros, soldados, expertos agrícolas, pero nunca como colonizadores. Compartieron las mismas trincheras en la lucha contra el colonialismo, subdesarrollo y el “apartheid”… Jamás olvidaremos este incomparable ejemplo de desinteresado internacionalismo”. Es un buen recordatorio para quienes hablan de la “invasión” cubana a Angola.
Cuba pagó un precio enorme por este noble acto de solidaridad internacional que, como lo recuerda Mandela, fue el punto de inflexión de la lucha contra el racismo en Africa. Entre 1975 y 1991, cerca de 450.000 hombres y mujeres de la isla pararon por Angola jugándose en ello su vida. Poco más de 2600 la perdieron luchando para derrotar el régimen racista de Pretoria y sus aliados. La muerte de ese extraordinario líder que fue Nelson Mandela es una excelente ocasión para rendir homenaje a su lucha y, también, al heroísmo internacionalista de Fidel y la Revolución Cubana.
* Director del PLED, Centro Cultural de la Cooperación Floreal Gorini.
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
O significado de Mandela para o futuro ameaçado da humanidade
Leonardo Boff
Nelson Mandela, com sua morte, mergulhou no inconsciente coletivo da humanidade para nunca mais sair de lá porque se transformou num arquétipo universal, do injustiçado que não guardou rancor, que soube perdoar, reconciliar pólos antagônicos e nos transmitir uma inarredável esperança de que o ser humano ainda pode ter jeito. Depois de passar 27 anos de reclusão e eleito presidente da Africa do Sul em 1994, se propos e realizou o grande desafio de transformar uma sociedade estruturada na suprema injustiça do apartheid que desumanizava as grandes maiorias negras do pais condenando-as a não-pessoas, numa sociedade única, unida, sem discriminações, democrática e livre.
E o conseguiu ao escolher o caminho da virtude, do perdão e da reconciliação. Perdoar não é esquecer. As chagas estão ai, muitas delas ainda abertas. Perdoar é não permitir que a amargura e o espírito de vingança tenham a última palavra e determinem o rumo da vida. Perdoar é libertar as pessoas das amarras do passado, é virar a página e começar a escrever outra a quatro mãos, de negros e de brancos. A reconciliação só é possível e real quando há a admissão completa dos crimes por parte de seus autores e o pleno conhecimento dos atos por parte das vítimas. A pena dos criminosos é a condenação moral diante de toda a sociedade.
Uma solução dessas, seguramente originalíssima, pressupõe um conceio alheio à nossa cultura individualista: o ubuntu que quer dizer: “eu só posso ser eu através de você e com você”. Portanto, sem um laço permanente que liga todos com todos, a sociedade estará, como na nossa, sob risco de dilaceração e de conflitos sem fim.
Deverá figurar nos manuais escolares de todo mundo esta afirmação humaníssima de Mandela:”Eu lutei contra a dominação dos brancos e lutei contra a dominação dos negros. Eu cultivei a esperança do ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem juntas e em harmonia e têm oportunidadades iguais. É um ideal pelo qual eu espero viver e alcançar. Mas, se preciso for, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer”.
Por que a vida e a saga de Mandela funda uma esperança no futuro da humanidade e de nossa civilização? Porque chegamos ao núcleo central de uma conjunção de crises que pode ameaçar o nosso futuro como espécie humana. Estamos em plena sexta grande extinção em massa. Cosmólogos (Brian Swimm) e biólogos (Edward Wilson) nos advertem que, a correrem as coisas como estão, chegaremos por volta do ano 2030 à culminância desse processo devastador. Isso quer dizer que a crença persistente no mundo inteiro, também no Brasil, de que o crescimento econômico material nos deveria trazer desenvolvimento social, cultural e espiritual é uma ilusão. Estamos vivendo tempos de barbárie e sem esperança.
Cito o o insuspeito Samuel P. Huntington, antigo assessor do Pentágono e um analista perspicaz do processo de globalização no término de seu O choque de civilizações: “A lei e a ordem são o primeiro pré-requisito da civilização; em grande parte no mundo elas parecem estar evaporando; numa base mundial, a civilização parece, em muitos aspectos, estar cedendo diante da barbárie, gerando a imagem de um fenômeno sem precedentes, uma Idade das Trevas mundial, que se abate sobre a Humanidade”(1997:409-410).
Acrescento a opinião do conhecido filósofo e cientista político Norberto Bobbio que como Mandela acreditava nos direitos humanos e na democracia como valores para equacionar o problema da violência entre os Estados e para uma convivência pacífica. Em sua última entrevista declarou:”não saberia dizer como será o Terceiro Milênio. Minhas certezas caem e somente um enorme ponto de interrogação agita a minha cabeça: será o milênio da guerra de extermínio ou o da concórdia entre os seres humanos? Não tenho condições de responder a esta indagação”.
Face a estes cenários sombrios Mandela responderia seguramente, fundado em sua experiência política: sim, é possível que o ser humano se reconcilie consigo mesmo, que sobreponha sua dimesão de sapiens à aquela de demens e inaugure uma nova forma de estar juntos na mesma Casa.
Talvez valham as palavras de seu grande amigo, o arcebispo Desmond Tutu que coordenou o processo de Verdade e Reconciliação:“Tendo encarado a besta do passado olho no olho, tendo pedido e recebido perdão e tendo feito correções, viremos agora a página — não para esquecer esse passado, mas para não deixar que nos aprisione para sempre. Avancemos em direção a um futuro glorioso de uma nova sociedade em que as pessoas valham não em razão de irrelevâncias biológicas ou de outros estranhos atributos, mas porque são pessoas de valor infinito, criadas à imagem de Deus”.
Essa lição de esperança nos deixa Mandela: nós ainda viveremos se sem discriminações pusermos em prática de fato o Ubuntu.
Leonardo Boff escreveu Cuidar da Terra, proteger a vida: como evitar o fim do mundo, Record, Rio 2010.
Nelson Mandela, com sua morte, mergulhou no inconsciente coletivo da humanidade para nunca mais sair de lá porque se transformou num arquétipo universal, do injustiçado que não guardou rancor, que soube perdoar, reconciliar pólos antagônicos e nos transmitir uma inarredável esperança de que o ser humano ainda pode ter jeito. Depois de passar 27 anos de reclusão e eleito presidente da Africa do Sul em 1994, se propos e realizou o grande desafio de transformar uma sociedade estruturada na suprema injustiça do apartheid que desumanizava as grandes maiorias negras do pais condenando-as a não-pessoas, numa sociedade única, unida, sem discriminações, democrática e livre.
E o conseguiu ao escolher o caminho da virtude, do perdão e da reconciliação. Perdoar não é esquecer. As chagas estão ai, muitas delas ainda abertas. Perdoar é não permitir que a amargura e o espírito de vingança tenham a última palavra e determinem o rumo da vida. Perdoar é libertar as pessoas das amarras do passado, é virar a página e começar a escrever outra a quatro mãos, de negros e de brancos. A reconciliação só é possível e real quando há a admissão completa dos crimes por parte de seus autores e o pleno conhecimento dos atos por parte das vítimas. A pena dos criminosos é a condenação moral diante de toda a sociedade.
Uma solução dessas, seguramente originalíssima, pressupõe um conceio alheio à nossa cultura individualista: o ubuntu que quer dizer: “eu só posso ser eu através de você e com você”. Portanto, sem um laço permanente que liga todos com todos, a sociedade estará, como na nossa, sob risco de dilaceração e de conflitos sem fim.
Deverá figurar nos manuais escolares de todo mundo esta afirmação humaníssima de Mandela:”Eu lutei contra a dominação dos brancos e lutei contra a dominação dos negros. Eu cultivei a esperança do ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem juntas e em harmonia e têm oportunidadades iguais. É um ideal pelo qual eu espero viver e alcançar. Mas, se preciso for, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer”.
Por que a vida e a saga de Mandela funda uma esperança no futuro da humanidade e de nossa civilização? Porque chegamos ao núcleo central de uma conjunção de crises que pode ameaçar o nosso futuro como espécie humana. Estamos em plena sexta grande extinção em massa. Cosmólogos (Brian Swimm) e biólogos (Edward Wilson) nos advertem que, a correrem as coisas como estão, chegaremos por volta do ano 2030 à culminância desse processo devastador. Isso quer dizer que a crença persistente no mundo inteiro, também no Brasil, de que o crescimento econômico material nos deveria trazer desenvolvimento social, cultural e espiritual é uma ilusão. Estamos vivendo tempos de barbárie e sem esperança.
Cito o o insuspeito Samuel P. Huntington, antigo assessor do Pentágono e um analista perspicaz do processo de globalização no término de seu O choque de civilizações: “A lei e a ordem são o primeiro pré-requisito da civilização; em grande parte no mundo elas parecem estar evaporando; numa base mundial, a civilização parece, em muitos aspectos, estar cedendo diante da barbárie, gerando a imagem de um fenômeno sem precedentes, uma Idade das Trevas mundial, que se abate sobre a Humanidade”(1997:409-410).
Acrescento a opinião do conhecido filósofo e cientista político Norberto Bobbio que como Mandela acreditava nos direitos humanos e na democracia como valores para equacionar o problema da violência entre os Estados e para uma convivência pacífica. Em sua última entrevista declarou:”não saberia dizer como será o Terceiro Milênio. Minhas certezas caem e somente um enorme ponto de interrogação agita a minha cabeça: será o milênio da guerra de extermínio ou o da concórdia entre os seres humanos? Não tenho condições de responder a esta indagação”.
Face a estes cenários sombrios Mandela responderia seguramente, fundado em sua experiência política: sim, é possível que o ser humano se reconcilie consigo mesmo, que sobreponha sua dimesão de sapiens à aquela de demens e inaugure uma nova forma de estar juntos na mesma Casa.
Talvez valham as palavras de seu grande amigo, o arcebispo Desmond Tutu que coordenou o processo de Verdade e Reconciliação:“Tendo encarado a besta do passado olho no olho, tendo pedido e recebido perdão e tendo feito correções, viremos agora a página — não para esquecer esse passado, mas para não deixar que nos aprisione para sempre. Avancemos em direção a um futuro glorioso de uma nova sociedade em que as pessoas valham não em razão de irrelevâncias biológicas ou de outros estranhos atributos, mas porque são pessoas de valor infinito, criadas à imagem de Deus”.
Essa lição de esperança nos deixa Mandela: nós ainda viveremos se sem discriminações pusermos em prática de fato o Ubuntu.
Leonardo Boff escreveu Cuidar da Terra, proteger a vida: como evitar o fim do mundo, Record, Rio 2010.
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