O Blog Cartas Persas faz uma análise do histórico dos investimentos estrangeiros diretos (IED), e contesta artigo do historiador xodó da mídia, o ultratucano Marco Antonio Villa, que fala em triênio perdido. O blog revela que os IED nos três últimos anos (incluindo 2013) foram os maiores da história. E analisa também porque o investidor doméstico, ao contrário do estrangeiro, tem se retraído.
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No blog Cartas Persas.
Em triênio “perdido” de Dilma, investimento estrangeiro direto bate recorde histórico no Brasil
Soma do investimento produtivo estrangeiro entre 2011 e outubro de 2013 chega a US$ 181 bilhões
Depois da “década perdida”, eis que um famoso e midiático historiador subiu as tribunas para decretar o triênio do mandato de Dilma como um período para ser esquecido, um triênio igualmente “perdido”. A revista inglesa Economist afirmou, durante a entrevista com Eduardo Campos, que “o governo está fazendo algo para desencorajar investimento estrangeiro”. Esqueceram de combinar com os russos.
Nunca antes na história deste país houve tanto investimento estrangeiro direto quanto nos últimos três anos. Em 2011, o volume do fluxo de capital produtivo vindo de fora atingiu US$ 66,6 bilhões, recorde histórico no país – e sem ter de recorrer a privatizações –, o que colocou o país na 5ª colocação no ranking mundial daquele ano. No ano seguinte, o valor caiu, mas bem pouco: foi para US$ 65,2 bilhões. A manutenção do patamar elevado do ano anterior fez ainda o país subir uma posição no ranking, terminando 2012 como 4º maior destino de investimento estrangeiro direto do mundo, em pleno ano do “pibinho”.
Em 2013, entre janeiro e outubro, o nível do investimento manteve-se elevado, embora um pouco menor que 2012: foram US$ 49,3 bilhões, contra US$ 55,3 bilhões no mesmo período do ano anterior. Com mais dois meses pela frente, a se manter a tendência, o IED em 2013 deve passar dos US$ 60 bilhões.
Somando o estoque de investimento estrangeiro do período 2011-2013, já temos o melhor triênio da história. E o ano ainda não acabou.
Fica claro que Dilma e o Brasil não estão afugentando investidores estrangeiros. Ao contrário. Eles nunca foram mais atraídos para investir no país. E não apenas o IED está crescendo, como também está aumentando sua participação no total do investimento produtivo no país (barra verde no gráfico acima): subiu de 9% para 16,4% do total. Trata-se de um movimento diferente, porém, do que ocorreu nos anos 1990, quando a participação do IED no total de investimento era elevada por conta das privatizações e, depois, por conta da desvalorização súbita do real. Naquele tempo, o IED chegou a representar, em 1999, quase 30% de todo o investimento no país. Nos últimos quatro anos, porém, investidores vem para o país em busca de oportunidades de lucro no país de 200 milhões de habitantes, com demanda aquecida e taxas baixas de desemprego.
A questão é que fica é: por que o investidor estrangeiro está investindo no Brasil e o investidor nativo, não?
Tenho duas hipóteses: uma é que o investidor doméstico tem uma percepção diferente do estrangeiro quanto as perspectivas de lucro futuro, isto é, tem menos confiança e é mais pessimista; a segunda é que o investidor do Brasil tem de lidar com entraves para investir que o estrangeiro não enfrenta.
Começando pela segunda hipótese, qual seria o principal entrave que um investidor do setor produtivo enfrenta que o estrangeiro não sofre? Meu palpite: juros altos. Os juros no país, desde pelo menos o lançamento do Plano Real, sempre se mantiveram em patamares elevadíssimos, entre os maiores juros reais do mundo. Assim, não só é caro para o empresário pegar empréstimo para investir, como também deixar o dinheiro em uma aplicação é mais lucrativo e menos arriscado que investir em um empreendimento produtivo. Nos países desenvolvidos, os que mais investem no Brasil, o acesso ao crédito é bem diferente.
Pois bem, eis que o Banco Central começa a baixar os juros a partir de setembro de 2011, de 12,5% até chegar em 7,25% em outubro de 2012. Em paralelo, o governo passou a usar os bancos públicos para oferecer crédito a juros menores, forçando os bancos privados também a reduzirem seu “spread” (lucro dos bancos). E o investimento não deslanchou, forçando o BC a recuar, e a aumentar os juros básicos, o que vem sendo feito desde de abril, diante de pressões inflacionárias. Pode ser que o ambiente de juros básicos de um dígito não tenha durado o suficiente, ou que o spread não tenha se reduzido de maneira significativa. Pode ser. Mas o fato é que o investimento doméstico não veio.
Resta, então, analisar a segunda hipótese, a saber, que o comportamento diferente é explicado por percepções diferentes. Percepções são formadas por informações que cada indivíduo recebe. E a principal fonte de informações formadoras das percepções é a grande mídia e relatório de bancos. Assim, como o investidor estrangeiro seria relativamente mais insulado do discurso catastrofista monolítico da mídia nativa, sua ação é orientada por informações obtidas em uma variedade maior de meios (menos engajados politicamente sobre o Brasil, provavelmente) e provavelmente por fontes um pouco mais objetivas. É uma hipótese que poderia ser melhor explorada em um trabalho acadêmico qualitativo. Fica a dica.
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