Miguel do Rosário
Com sua genialidade golpista, Lacerda resumiu maravilhosamente como pensa a elite brasileira, até hoje: “Vargas não pode ser candidato. Se for, não pode vencer. Se vencer, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar.”
Este ainda parece ser o mote da oposição, dessa eterna oposição ao Brasil que vem agindo com triste coerência desde priscas eras.
Vou dar um exemplo. Uma leitora perplexa me enviou um email hoje, dizendo que O Globo realizou mais uma de suas proezas. Transformou o extraordinário avanço do Brasil no PISA, a mais importante pesquisa mundial em educação, num retumbante fracasso.
É uma verdadeira alquimia. Um rei Midas às avessas. Midas transformava tudo que tocava em ouro. Nossa mídia transforma tudo que toca em lixo.
A fórmula é simples: “melhoramos muito, ok, mas continuamos uma merda.” Ponto final. James, traga minhas pílulas!
Neste sentido, a coluna de Zuenir Ventura, ontem, é uma verdadeira obra de arte do lacerdismo pós-moderno. A fórmula clássica do lacerdismo ficou assim: “O Brasil não pode dar certo. Se der certo, a gente não dá a notícia. Se dermos a notícia, distorcemos.”
O próprio responsável pelo PISA, Andreas Schleicher, não poderia ser mais direto. Em entrevista à imprensa brasileira, foi taxativo: “Honestamente, estou bem impressionado. Há muito tempo não vejo um crescimento no número de alunos aliado a uma melhora na qualidade como no Brasil.”
E mais:
“(…) o especialista explicou que nenhum outro país obteve tanto progresso em educação como o Brasil, entre 2003 e 2012.
Schleicher destacou que a melhora na Educação foi impulsionada, entre outros fatores, pelo aumento dos investimentos no setor e pelo sucesso em atrair melhores professores para as salas de aula.”
Entretanto, Zuenir Ventura aplica o seguinte título ao texto no qual analisa os resultados do PISA: “Nosso ensino inferior”.
Este é um assunto muito importante, então analisemos os três primeiros parágrafos do artigo de Zuenir:
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Não é para entrar em depressão, mas também não é para comemorar. Nos dois testes internacionais a que foi submetido esta semana — o do ensino médio e o do superior — o nosso sistema educacional não foi totalmente reprovado e até melhorou, mas também não “passou” com louvor. Sob certos aspectos, o desempenho foi medíocre.
No primeiro exame, o Pisa, que avalia alunos de 15 anos de 65 países, o Brasil foi o que mais avançou em matemática entre 2003 e 2012, mas mesmo assim continua lá atrás, ficou em 58º lugar e, em leitura, foi pior, caiu dois pontos para a 55ª colocação. Em Ciências, permaneceu onde estava, na 59ª posição.
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, considerou o resultado “uma grande vitória”, mas o responsável pelo Pisa, Andreas Schleicher, acha que temos que “acelerar muito o ritmo de melhoria”, investindo mais em professores e dando aos alunos pobres melhores escolas, para não continuar fazendo feio.
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Repare bem. O Brasil foi o país que apresentou o maior avanço no PISA, dentre todos os países do mundo, e Zuenir inicia seu texto falando em depressão. Zuenir é um homem inteligente, sabe que a mensagem subliminar do texto, aquilo que irá se fixar na mente do leitor, após concluir a leitura do primeiro parágrafo, é a palavra “depressão”.
No segundo parágrafo, quando inicia a apresentação de dados, Zuenir realiza a primeira distorção. A informação de que o Brasil foi o país que mais avançou em matemática, entre os anos de 2003 a 2012 é dada como que “en passant”. No entanto, o PISA de 2012 teve como foco justamente o ensino de matemática. O PISA é realizado de três em três anos. Em 2000, o foco foi em Leitura; em 2003, Matemática; e em 2006, Ciências. O Pisa 2009 iniciou um novo ciclo do programa, com o foco novamente recaindo sobre o domínio de Leitura; em 2012, Matemática mais uma vez; e em 2015, será Ciências.
Ou seja, se o foco do programa este ano foi Matemática e o Brasil foi o país que apresentou o maior avanço no mundo neste item, acredita-se que temos aí uma boa notícia, não?
Vamos direto à fonte. O relatório do PISA sobre o Brasil abre assim:
Tradução dos pontos principais: “Enquanto a performance brasileira permanece abaixo da média da OECD, o seu desempenho em matemática tem melhorado desde 2003, de 356 para 391 pontos, fazendo do Brasil o país que obteve os maiores ganhos desde 2003. Melhoras substanciais também ocorreram em Leitura e Ciências. Melhoras foram particularmente fortes entre alunos com baixo desempenho em matemática, leitura e ciências.”
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É óbvio que ainda temos um longo caminho a percorrer. Mas não há milagres. A “performance” de Zuenir mostra que, mesmo entre jornalistas, ainda se encontra enorme dificuldade para se interpretar um texto…
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