quarta-feira, dezembro 04, 2013

De FHC a Dilma, medo da inflação e uso da selic caracteriza a política econômica

A única diferença que se esboçou foi a tentativa de Dilma de baixar a Selic real para 2% ao ano, que perdurou por alguns meses. Por Amir Khair


O que caracteriza a política econômica, sem distinção de partido no poder, não é o tripé como normalmente é difundido, mas o medo da inflação e o remédio para combatê-la que é a taxa básica de juros Selic.


Foi assim com FHC, Lula e está sendo com Dilma. A única diferença que se esboçou foi a tentativa dessa presidente de baixar a Selic real (excluída a inflação) para 2% ao ano, que perdurou por alguns meses. Com a volta da Selic aos dois dígitos a partir desta 4ª feira, a Selic real passa a ficar no nível de 4% ao ano, enquanto o nível internacional desde a crise de 2008 está praticamente em zero.. Mais uma frustração na política econômica deste governo.

O consolo é que já foi pior. Muito pior! Os sucessivos presidentes do Banco Central (BC) desde o início do Copom praticaram taxas básicas de juros elevadas que contribuíram para elevar a dívida do governo federal e satisfazer o rentismo que domina o País.

Com FHC a média superou a 20%, caindo para 15% no governo Lula e caminha para 10% no governo Dilma.

Esses valores superaram largamente a inflação média do período de gestão de cada presidente do BC, constituindo ganhos extraordinários aos aplicadores do País e do capital especulativo internacional.

A contrapartida desses ganhos são os rombos crescentes nas contas públicas e a forte elevação da dívida líquida interna do governo federal e BC, que passou de R$ 32,2 bilhões (6,16% do PIB) no início do governo FHC para R$ 1.800,0 bilhões (38,49% do PIB) ao final de setembro deste ano, apesar da amortização feita nesse período pelo governo federal, que pagou R$ 1.761,9 bilhões. O estrago causado por essa política suicida não tem paralelo na história econômica do País.

Inflação - Vale entender o que se passou com a inflação desde maio do ano passado até agora para avaliar se foi necessário ou não elevar a Selic.

Para isso é considerada a inflação ocorrida nos últimos doze meses, considerando seus três componentes: serviços, alimentos e bebidas e preços monitorados.

Os alimentos foram o vilão da inflação com a subida de preços que ocorreu desde maio do ano passado, quando passou de 6,3% para 14% em abril, puxando o IPCA para cima. Quando esses preços passaram a cair a partir de abril deste ano, puxaram o IPCA para baixo.

Os serviços apresentaram razoável estabilidade no entorno de 8,3%, pouco influenciando na variação da inflação. Os preços monitorados registraram forte redução no período apresentando inflação de 1,0% nos últimos doze meses. A Petrobras tem servido aos propósitos do governo federal para segurar a inflação ao ser obrigada a subsidiar a gasolina e diesel com sérios prejuízos à estatal.

Fica claro que o que influiu na inflação nesse período foram os alimentos e os preços monitorados. Como a Selic não influi no comportamento dos alimentos, que respondem a choques climáticos ou entressafras, e não influi também nos serviços e nos preços monitorados, o governo federal usou indevidamente a Selic para controlar a inflação.


O mercado financeiro, no entanto, e o governo vão atribuir à Selic o recuo ocorrido na inflação a partir de abril deste ano, escondendo os determinantes da variação da inflação. Mais uma vitória do rentismo que impregna a economia do País.

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