O objetivo deste blog é discutir um projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil. Esse projeto não brotará naturalmente das forças de mercado e sim de um engajamento político que direcionará os recursos do país na criação de uma nação soberana, desenvolvida e com justiça social.
segunda-feira, setembro 19, 2011
Os economistas: entre a civilização e a barbárie
Evaristo Almeida*
A economia é uma ciência humana, histórica que depende de decisões políticas para que determinada teoria seja hegemônica ou não. Ela não é uma ciência dura que independe do tempo para que suas leis sejam válidas.
Nos últimos 30 anos a economia se transformou num simulacro da matemática. Essa manipulação foi pra esconder as contradições existentes na sociedade, na política, na história e o conflito de classes sociais. O objetivo do uso sistemático de equações matemáticas foi tentar esconder da sociedade os conflitos inerentes da apropriação de renda e poder por determinado grupo social.
O ódio da direita com Karl Marx é que ele mostrou que o capitalismo cresceu sobre a exploração do trabalho. A criação do valor de um produto está no trabalho não pago, a mais-valia, que é apropriado por uma elite. As equações matemáticas davam um verniz novo a luta entre trabalho e capital.
No Brasil sempre tivemos duas escolas de economia, uma preocupada com o desenvolvimento social e econômico do país, da qual Celso Furtado é o maior expoente e outra dentro dos princípios neoclássicos, em que prevalecem os interesses financeiros e estrangeiros em detrimento do país e do seu povo, no qual Eugenio Gudin é o mais ilustre representante.
A escola desenvolvimentista foi hegemônica desde a revolução de 1930 que veio acoplada a um projeto de nação. Junto com a perda do poder os conservadores também viram o livre cambismo da Velha República ser colocado de lado.
Nos anos 1990 o país foi assaltado pela teologia neoliberal, a-histórica, a-social e comprometida com os interesses estrangeiros. O mantra era privatização, diminuição da ação do Estado, reforma fiscal permanente, abertura do mercado, leis trabalhistas para acabar com os sindicatos e precarizar o trabalho no Brasil, abrir mão de qualquer política de desenvolvimento por parte do Estado e ficar a mercê do mercado.
Os teólogos neoliberais advogavam que bastava o país fazer a lição de casa, como colegiais, fazendo as reformas, que o capital viria e desenvolveria o país.
A velha imprensa entrou de cabeça com os ensinamentos da teologia neoliberal. Fundamentalistas de mercado eram entrevistados todo dia nos jornais, dando ares de gênios, afinal tinham estudado em escolas estadunidenses, especialmente Harvard, Yale e Chicago.
O que eles aprenderam lá não se aplicava aqui, pois deu totalmente o contrário, o país não cresceu, criou o maior nível de desemprego de sua história industrial, aumentou o nível de violência nas regiões metropolitanas, o tráfico de drogas floresceu, se endividou, quebrou três vezes, aumentaram os juros em níveis estratosféricos, salários caíram. E prometiam a cada ano que o crescimento econômico, segundo suas fórmulas matemáticas viriam no ano seguinte.
E o crescimento não veio, mostrando a falácia dos anos de FHC e seus economistas axiomáticos.
Muitos deles ficaram ricos, pelas informações que tinham ou foram trabalhar em bancos ou empresas que ajudaram a vender a preço de banana.
Nesse período os trabalhadores brasileiros e empresários eram taxados quase que como bandidos, por defenderem uma política de renda e desenvolvimento.
O país sobreviveu a esse verdadeiro tsunami que foram os anos do tucano Fernando Henrique Cardoso.
O povo votou no presidente Lula em 2002 e a política econômica começou a ter outro viés. Uma nova escola de economia começou a ganhar escopo no governo, principalmente a partir de 2005.
Resgatamos a tradição desenvolvimentista da economia brasileira. Só que com mais qualidade, pois pela primeira vez crescemos acumulando divisas externas, distribuindo renda e com inflação sob controle.
O país voltou a formular políticas desenvolvimentistas com o Plano de Aceleração do Crescimento – PAC, que estruturou projetos de infraestrutura social, de transportes e de energia com uma nova gestão, que torna eficaz os projetos, resolvendo gargalos e melhorando a vida do povo brasileiro.
Também o Estado brasileiro voltou a formular políticas industriais com o resgate da indústria de construção naval, ferroviária e incentivo à inovação tecnológica.
Com a política de rendas o salário mínimo teve aumento real que se aproxima dos 70% em 2012, criação de 12 milhões de empregos, colocação de uma argentina na classe média, aumento dos salários em todos os níveis, queda abrupta dos níveis de pobreza.
O Brasil passa por um processo virtuoso de desenvolvimento social e econômico, apesar da grave crise internacional.
Mas o fundamentalismo neoliberal, apesar de derrotado como ciência, sobrevivendo apenas como ideologia, não desistiu de suas teses.
Continuam nas escolas conservadoras de economia e nos comentaristas econômicos, que são bem pagos pela velha imprensa para desinformar o povo brasileiro.
Eles representam o pensamento da sub-elite brasileira (não tem projeto de nação e é colonizada) e seus dogmas são a necessidade de uma reforma trabalhista, que tire direitos dos trabalhadores brasileiros, como FGTS, férias remuneradas, deixando-os na condição existente antes da criação da CLT; reforma previdenciária, que talvez só garanta aposentadoria depois que o trabalhador completar 100 anos, forte ajuste fiscal, que pare de gastar com o Bolsa Família, Pronaf, saúde, educação, segurança, entre outros gastos com pobres para prover dinheiro e pagar os juros mais altos do planeta.
É óbvio que esses economistas não perderiam seus direitos trabalhistas, pois possuem empregos com excelentes contratos, suas aposentadorias também não correriam riscos, pois as instituições em que trabalham garantem a aposentadoria integral e como geralmente são ricos e não utilizam serviços públicos de educação e saúde, suas famílias não seriam afetadas pela queda da qualidade ou inexistência dos serviços, caso suas receitas fossem seguidas.
Manutenção da taxa de juros na estratosfera, pois a acham natural, visto que as 20.000 famílias mais ricas do Brasil se locupletam com ela. Daí tirar o dinheiro gasto com pobres para pagá-los, mesmo não tendo evidência científica da necessidade de doar 5% do PIB para os mais ricos via juros.
Aliás, os economistas neoliberais só se preocupam em garantir o pagamento para ricos. Nunca li nenhum deles reclamando que o Estado não paga os precatórios, cujos credores são essencialmente os mais pobres. Esses precisam esperar e muitas vezes são os netos que recebem essas dívidas, pois demora tanto que as pessoas não vivem o suficiente.
Para o fundamentalismo neoliberal o aumento do salário mínimo é prejudicial ao país, pois encarece o custo de produção e aumenta a inflação. Assisti até um deles dizendo que não era interesse dos trabalhadores que o salário mínimo aumentasse, pois geraria desemprego. É lógico que todos eles não dependem de salário mínimo, pois ganham fortunas para defender suas teses.
O desemprego para eles é necessário, principalmente se fosse feito o ajuste fiscal que pregam. Também não atingiria o emprego deles em escolas de economia, postos em governos ou em bancos.
Para os economistas conservadores o país deveria abrir mão de uma política desenvolvimentista, pois acreditam piamente na lei das vantagens comparativas, criada por David Ricardo, um economista inglês do século XVIII, para quem cada país só deve produzir aquilo que tem vocação.
Assim o Brasil deveria continuar a ser um imenso cafezal, não produzir aço, automóvel, avião, computador. Até li um deles no jornal Valor Econômico, encantado com um carro coreano. Vinte anos atrás ninguém daria nada por um carro coreano. Eles provaram que a teoria das vantagens comparativas é para ingênuos ou colonizados.
Foi por não ter economistas que defendessem essas idéias que o Japão e Coreia do Sul enriqueceram e china e Índia estão se desenvolvendo. Os países passam por várias etapas de desenvolvimento industrial até incorporar a tecnologia e passar a desenvolvê-la. Como o Brasil fez com os aviões. Infelizmente não criamos uma indústria automobilística nacional e iniciativas como a Gurgel, Puma, Santa Matilde, entre outras fracassaram, pela ideologia de que o mercado é quem deveria dar conta de uma indústria de ponta sem nenhuma ajuda do governo.
Tiveram que enfrentar câmbio sobrevalorizado falta de crédito, taxas de juros astronômicas, abertura descontrolada da economia e não sobreviveram para contar a história. Se os coreanos tivessem seguido a receita neoliberal, o carro coreano não estaria emocionando um economista conservador no jornal Valor Econômico.
A indústria de telecomunicação brasileira também foi pro ralo na política neoliberal da privatização das companhias telefônicas brasileiras para capitais estrangeiros. Perdemos a capacidade de política industrial e de inovação nessa área. E pagamos os serviços de telefonia e banda larga mais caros do mundo e com baixa qualidade.
O escopo dessas ideias são marteladas dia e noite pela velha imprensa, mancomunada com a teologia neoliberal. Eles agora estão criticando o governo federal por ter baixado os juros e ter aumentado o imposto sobre os automóveis importados.
Ações que protegem o dinheiro do povo brasileiro e o emprego estão sendo criticadas pelos porta-vozes do neoliberalismo no Brasil. Porque será?
Nenhum país do mundo se desenvolveu, distribuiu renda, criou uma indústria sólida dentro dos preceitos que eles defendem.
Cada vez fica mais evidenciado os interesses que permeiam essa gente e não são os do povo brasileiro.
Suas teses levam à concentração de renda, desemprego, queda dos salários, redução dos direitos trabalhistas, juros altos, desindustrialização, dependência de outros povos, aumento da violência e da falta de perspectiva para o Brasil.
E tudo com uma roupagem moderna e pseudo-científica. É a barbárie com promessa de civilização.
Felizmente o povo brasileiro em 2010 refutou o atraso e sofrimento que as teses neoliberais representam e continuamos crescendo, distribuindo renda e vamos erradicar a miséria do Brasil.
Quanto à miséria intelectual representada pelo neoliberalismo esta está enraizada nas classes mais ricas e nos partidos políticos de direita brasileiros que se recusam a aprender com a história.
*Mestre em Economia Política pela PUC-SP
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