sábado, setembro 17, 2011

Em defesa da Grécia


Aminha primeira neta, Helena, tem sangue grego. Mas não é por isso que resolvi sair em defesa da Grécia hoje. É que ela tem sido injustiçada, no meu entender. Quem acompanha a crise pelos jornais fica com a impressão de que se trata de um país relapso, que não cumpre o que promete, apesar da enorme ajuda que tem recebido do FMI e dos seus parceiros da área do euro.

Não é bem assim. A Grécia está sendo massacrada por uma crise de proporções monumentais. O ajustamento fiscal já realizado é imenso. Basta dizer o seguinte: o atual governo grego, que tomou posse em outubro de 2009, reduziu a razão déficit público/PIB em nada menos que 7 pontos percentuais em apenas dois anos — de 15,5% em 2009 para algo como 8,5% em 2011, segundo as projeções revistas, isto é, levando em conta que a meta original do programa de ajustamento acordado com os europeus e o FMI não será alcançada este ano.

Repare, leitor, que esse resultado foi alcançado em meio a uma recessão de rachar quarteirão. Estima-se que o PIB da Grécia, que já caíra 2% em 2009, tenha se reduzido em mais cerca de 10% em 2010 e 2011! Ora, não é pouca coisa alcançar um corte da ordem de 7 pontos de percentagem na razão déficit/PIB com a economia passando por uma contração tão brutal. Uma recessão forte sempre afeta de forma muito negativa as receitas do governo — e é o que está acontecendo no caso da Grécia.

Assim, as queixas de alemães e outros europeus de que os gregos não estão cumprindo as metas, precisam fazer mais etc., devem ser relativizadas. A verdade é que a população grega está pagando um preço altíssimo pela crise e pelo ajustamento fiscal draconiano.

A recessão em 2011 está se mostrando mais profunda do que se esperava. As novas estimativas indicam que 2012 será outro ano de recessão na Grécia, o quarto consecutivo de queda da atividade econômica. Em junho, a taxa de desemprego chegou a 16% contra 12% um ano antes. Para os jovens o problema é ainda mais grave. A taxa de desemprego para pessoas com menos de 25 anos alcançou 43% contra 30% em junho de 2010!

Como se chegou a esse ponto? A Grécia tem a sua quota de responsabilidade, claro. Nos anos anteriores à crise internacional e até 2009, o governo grego fez o diabo em matéria de política econômica. Por exemplo, acumulou imensos déficits fiscais e ocultou parte desses déficits com vários artifícios contábeis. Valeu-se da sua condição de membro da então prestigiosa área do euro para financiar esses enormes déficits fiscais nos mercados internacionais. A grande entrada de capitais externos, principalmente europeus, cobriu também elevados déficits nas contas externas correntes, que refletiam outro grave problema: a competitividade baixa e decrescente da economia grega. A condição de membro da área do euro revelou-se um ônus considerável para a Grécia. Primeiro porque, se ela não tivesse sido aceita como membro, nunca teria recebido os capitais externos que financiaram a farra fiscal e os grandes déficits externos no período anterior à crise. Segundo, sem moeda própria, a Grécia não tem agora como suavizar os efeitos do violento ajuste fiscal com uma política monetária mais flexível e depreciação cambial.

Para completar o quadro, o apoio financeiro recebido pela Grécia é insuficiente. Pede-se demais aos gregos, e muito pouco aos credores privados da Grécia, que são principalmente bancos e outras instituições financeiras europeias. Está ficando cada vez mais claro que a Grécia precisa de uma reestruturação mais ambiciosa da dívida externa privada.

Quanto mais cedo isso for reconhecido, maior será a chance de superar a crise da Grécia e conter as suas repercussões no resto da zona do euro.

Um “post scriptum” estritamente sentimental: o nome oficial da Grécia é “República Helênica”.

Paulo Nogueira Batista Jr

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