Paulo Henrique Amorim
Máximas e Mínimas 613
Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil.
. O meu amigo José Alexandre Scheinkman, um dos mais notáveis economistas brasileiros e colunista da Folha de S. Paulo, fez uma interessante analise da mídia conservadora (e golpista !) – o ponto de exclamação é dele -, de alguns blogueiros, de “extremistas brasileiros”, e alguns “defensores mais radicais do presidente Lula”.
(Leia na Folha, pág. B12, de domingo, dia, 12 de agosto de 2007.)
. Para Scheinkman, esses estranhos personagens têm a pretensão anti-capitalista de ler jornais em que o noticiário – ao contrário dos editoriais e colunas – fosse imparcial.
. A separação entre “Church and State”, entre editoriais e informação, como existe nas melhores casas do ramo, na Europa e nos Estados Unidos, é uma agressão ao espírito do “mercado”, informa-nos Scheinkman.
. Scheinkman sustenta seu argumento num paper de Matthew Gentzkow e Jesse M. Shapiro, da Universidade de Chicago (onde Scheinkman foi um dos mais respeitados professores), cuja última versão é de novembro de 2006.
. O estudo, no Brasil, não é lá essas novidades.
. Aqui, no Conversa Afiada mesmo, já tratamos dele, ao tentar explicar por que a mídia americana (e brasileira) foi para a direita (clique aqui para ler).
. O estudo de Gentzkow e Shapiro procura provar que os jornais diários americanos distorcem o noticiário, porque é o que os leitores querem – e não os donos de jornais.
. Logo, os jornais (como os dentifrícios) se regulam apenas pelas leis do mercado – acompanhar o gosto dos leitores – e não pelo que pensam seus proprietários – e muito menos por Tocqueville !
. A idéia de que os jornais deveriam ser instrumentos da democracia – pobre Tocqueville ! -, e oferecer aos leitores a informação mais objetiva possível, para que eles, leitores, formassem suas opiniões e fizessem, livremente, suas escolhas – isso foi para o beleléu.
. Algumas questões preliminares, porém.
. As empresas que editam diários nos Estados Unidos não são muito parecidas com as brasileiras.
. Nos Estados Unidos, muitos jornais diários pertencem a grandes grupos empresariais de múltiplos interesses e não a poucas famílias de um negocio só – como aqui.
. Nos Estados Unidos, há uma imprensa diária regional muito mais importante do que aqui.
. Nos Estados Unidos, não há a concentração na mídia que existe no Brasil.
. E mesmo nos Estados Unidos, onde o papel dos donos de jornal – segundo Scheinkman, Gentzkow e Shapiro – é irrelevante na “inclinação” (“slant”) do noticiário, quando o maior empresário de mídia do mundo foi comprar o melhor jornal impresso dos Estados Unidos, o que aconteceu ?
. A família Bancroft, proprietária do Wall Street Journal, exigiu que Murdoch se submetesse a um Conselho Editorial.
. E Murdoch teve que se submeter, mais ainda, à imposição dos EDITORIALISTAS, aos redatores da OPINIÃO do Journal: Murdoch não vai poder determinar a linha dos editoriais nem escolher os colunistas !!!
. Se levarmos em consideração que o Wall Street Journal é um jornal de opinião conservadora, que seus leitores são conservadores, e que Murdoch é o Mullah do conservadorismo na mídia mundial – como é que fica a tese dos nossos amigos Scheinkman, Gentozkow e Shapiro ?
. Por que cargas d’água a família Bancroft e os editorialistas do Journal precisariam amarrar uma coleira no pescoço de Murdoch ?
. Aqui no Brasil, caríssimo Scheinkman, os jornais diários são a expressão impressa dos desígnios e idiossincrasias de três famílias: Marinho, Mesquita e Frias.
. (A Veja entra num outro capitulo, como braço do Fascio brasileiro.)
. Além de reproduzirem cada vez mais o que supõem ser a aspiração de seus leitores, os jornais expressam, cada vez mais, com veemência, o que os seus proprietários gostariam que acontecesse no Brasil.
. Ou seja, gostariam de abreviar ou implodir o Governo Lula.
. Caro Scheinkman, enquanto, em Chicago, você se beneficiava do raro prazer de ler o Trib, o New York Times e o Wall Street Journal, nós, aqui, especialmente em São Paulo, temos que ler jornais de qualidade infinitamente inferior e completamente “slanted”.
. Um membro notável da família Mesquita foi discutir, em 1964, a formação do Ministério com o líder militar que depôs o presidente constitucionalmente eleito.
. As camionetes da Folha, onde você, quinzenalmente, nos brinda com seu brilho, serviam à Oban, durante o período mais negro dos “anos militares”.
. E a família Marinho trabalha para derrubar – por qualquer meio – os governos trabalhistas, desde Vargas.
. Scheinkman, meu caro, aqui todos são o Citizen Kane: “Give me the facts, I’ll give you a war !”
. E não é à toa que os jornais brasileiros e americanos – por causa desse “slant” - caminham inexoravelmente para o buraco...
. O raciocínio de Gentzkow e Shapiro pode levar a conclusões esdrúxulas.
. Por exemplo, a Folha de S. Paulo, ao descobrir que Geraldo Alckmin é o candidato a prefeito da preferência de seus leitores, só cobrir a campanha do Alckmin.
(Isso jamais acontecerá, porque a Folha morre de amores por José Serra – um dos mais notáveis economistas brasileiros, como sabe Scheinkman – e o candidato de Serra está em quarto lugar na pesquisa.)
. A Folha de S. Paulo, por exemplo, não precisaria dar a menor bola para Corinthians, Palmeiras e Santos, porque a maioria de seus leitores torce pelo São Paulo.
. Se for assim, meu caro Scheinkman, vou começar a desconfiar que você, Gentzkow e Shapiro acham o Granma uma beleza: não é esse o Granma que os seus leitores querem – independente do que Fidel achar ?
(Em tempo: acatarei a sua sugestão: daqui para frente, só pretendo me referir à mídia conservadora (e golpista !) com o ponto de exclamação !)
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