As opiniões e o engodo
Minha análise de um artigo de Ali Kamel em O Globo, feita ontem, recebeu até o momento 81 comentários. Somente três discordam, com elegância. Muitas observações preciosas e instigantes daqueles que concordam. Não cito seus autores, para não desmerecer ninguém. Um ponto interessante diz respeito ao eventual QI baixo dos nossos pretensos formadores de opinião. Pelo menos, de alguns deles. Há quem aprove, e quem admita a sabujice, a hipocrisia, a arrogância, mas as enxergue como prova de esperteza. De minha parte, sinto que muitos dos nossos comunicadores acabam por acreditar no que escrevem, por obra de um mecanismo psicológico que passa pela tendência ao escorregão, ao deslizamento, por uma debilidade moral ditada em parte pelo medo pânico de perder o emprego. Ou, por outra, gente fraca, sem convicções arraigadas. Um caso extraordinário, limite dos limites, nos foi proporcionado pelo doutor Roberto Marinho, hoje conjunto viário batizado por Marta Suplicy, com o oportuno esclarecimento: jornalista. Ou seja, alguém como nós. Comovente, não é? Pois o nosso colega, ao longo de 1998 acreditou cegamente nas informações da sua colunista Miriam Leitão. Afirmava que a estabilidade era o grande trunfo de Fernando Henrique Cardoso e a bandeira de sua campanha à reeleição. Como talvez alguns cidadãos consigam recordar, exatos doze dias depois de empossado para o segundo mandato, janeiro de 1999, FHC, de abrupto, desvalorizou o real. Trata-se do maior engodo eleitoral da historia do Brasil. E o País quebrou. A própria Globo sofreu um sério abalo. A CartaCapital, ainda quinzenal, foi às bancas com uma capa sugestiva, a imagem de FHC pelo fogo e a chamada QUEBRAMOS. Solitários, botamos o dedo na ferida. E o resto da mídia? Impassível. Indiferente como o sol que surgiu naquele dia para iluminar o desastre ignorado. Logo participei de um debate, diante de uma platéia de garbosos cavalheiros engravatados. Fui recebido com protestos, e a minha fala navegou entre eles.
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