Luis Nassif
Na segunda-feira passada, o programa Brasilianas.org, da TV Brasil, juntou os economistas Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos decanos do pensamento desenvolvimentista brasileiro, José Luís Oreiro, presidente da Associação Keynesiana Brasileira, e Paulo Tenani, um dos bons economistas de mercado do país, para discutir a política econômica do governo Dilma Rousseff e os rumos do desenvolvimento.
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Houve consenso de que o governo Dilma Rousseff foi colhido pela crise internacional, pelo fim da abundância monetária e pela redução dos preços das commodities, criando vulnerabilidades nas contas externas.
Mas também houve consenso de que as discussões econômicas no país refletem, no fundo, uma disputa entre o chamado mercado e os defensores de um maior ativismo de governo.
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Hoje em dia a sustentabilidade econômica depende de um impulso nos investimentos públicos e privados. Esse impulso depende da confiança do setor privado e do nível de taxa de juros.
No início de seu governo, Dilma montou um plano ousado para trazer as taxas para níveis civilizados. A Selic chegou a bater em 7,5%. Quando isso ocorreu, conta Tenani, os gestores de fundos começaram a repensar suas estratégias de investimento, preparando-se para entrar em projetos de investimento.
De repente, houve a reversão da política. Problemas internacionais, repercutindo no país, aumento nos preços dos alimentos e disseminação dos aumentos de preços. Segundo Beluzzo, só restou ao Banco Central a opção de aumentar a Selic para conter o processo.
Com o aumento da Selic, houve o refluxo de todas as intenções de investimento. “Com 4,5% de taxa real ao ano, ninguém vai querer correr risco”, diz Tenani.
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E aí se entra na questão do poder. Beluzzo defende que o governo aumente o superávit fiscal para poder reduzir os juros novamente.
Mas o pequeno superávit fiscal assusta? Tenani é franco: “Relação dívida/PIB estabilizada e um superávit de 1,9% deixa o Brasil em melhor situação do que qualquer outra economia”. Por que, então, o mercado exige mais? “Questão ideológica”, diz Tenani. “Questão de poder”, emenda Beluzzo. Então, jogue-se a toalha e atendam-se às expectativas do mercado.
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Oreiro e Beluzzo são taxativos em afirmar que sem uma mudança no patamar do câmbio, a economia não recuperará o dinamismo. Mas nenhum empresário investirá no mercado externo se não houver a garantia firme de que, depois de desvalorizado, o câmbio não se apreciará novamente.
Há consenso que a grande perda de oportunidade foi em 2003. O dólar explodiu, por conta das eleições, chegando a R$ 4,00. Se tivesse ficado por volta de R$ 3,00, tudo seria diferente.
A reapreciação do real provocou o que Oreiro identificou como a segunda grande onda de desindustrialização – o período 2005-2010. A primeira foi do Real até a maxi de 1999.
Responsável pelo desastre, até hoje o ex-Ministro da Fazenda Antônio Palocci é enaltecido pelo mercado. Assim como Mailson da Nóbrega, o Ministro que, para contentar o mercado, jogou o país na superinflação de 1989.
Tudo é questão de poder.
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