Há ainda um segmento empresarial arcaico, sobretudo ligado ao rentismo e pouco chegado ao trabalho, que fica apenas procurando números nas contas nacionais para criticar
O colunista Joe Nocera, do jornal The New York Times, fez um rolezinho no Brasil, e gostou do que viu: uma classe média emergente na última década que, para ele, deveria ser modelo para os Estados Unidos, onde ocorre o inverso, com a classe média decaindo. Contou que ouviu de economistas brasileiros críticas sobre o crescimento menor do Produto Interno Bruto (PIB) e que faltariam ganhos em produtividade para sustentar a volta dos investimentos. Não saiu convencido destas críticas, já que a economia mundial nem se reergueu ainda, mas o Brasil continua ostentando um crescimento sólido, mesmo que em ritmo menor.
Em sua coluna escreveu elogios ao Brasil sobre a queda na desigualdade de renda, o baixo desemprego e mais de 40 milhões de pessoas saindo da pobreza. O artigo conclui que a prosperidade da classe média é mais importante do que o crescimento maior do PIB para poucos, como na era do "fazer o bolo crescer, para depois dividir as migalhas".
O artigo é pertinente porque lembra também a questão: afinal quem é o verdadeiro "vilão" no crescimento menor do PIB?
Certamente a crise internacional tem seu peso, afinal quase todos os países estão importando menos, prejudicando o setor exportador. Por outro lado, houve também desova da produção encalhada em países em crise, aumentando a concorrência de importados no mercado interno. Mas não é só isso.
Qualquer empresário sabe que o principal fator de sobrevivência da empresa é ter clientes. Ele pode ter um excelente produto, bons preços, um ótimo estabelecimento, mas, sem clientes, as portas fecham. E a chamada nova classe média, aquela que teve maior aumento da renda nos últimos anos e passou a ter poder aquisitivo para consumir mais coisas, são os clientes que os empreendedores precisam.
Muitos empresários responderam bem aumentando a oferta para atender a demanda desta nova classe média que injeta mais de R$ 1 trilhão na economia por ano. O número de abertura de pequenas empresas, a maioria no setor de serviços, bate recordes. E como há clientes, elas têm sobrevivido. Em 2002 a taxa de mortalidade empresarial era de quase 50% até o segundo ano, de acordo com estudo do Sebrae. Caiu para 22% em 2005.
Vários grandes empresários também estão aproveitando as oportunidades. É o caso de Luiza Trajano, do Magazine Luiza. Convidada para o programa Manhattan Connection, do canal de TV Globonews, demoliu uma a uma as críticas rastaqueras à economia, comuns entre jornalistas da mídia tradicional, mostrando que setores da economia, como o varejo, estão bombando no Brasil.
Mas há ainda um segmento empresarial arcaico, sobretudo ligado ao rentismo e pouco chegado ao trabalho, que se enxergar pepitas de ouro ao lado de uma poça d'água, em vez de garimpar, prefere ficar reclamando do governo pela poça. É essa gente que é incapaz de oferecer à nova classe média o que ela quer, e fica apenas procurando números nas contas nacionais para criticar. Alguns chegam a sugerir aumento do desemprego, outros como os donos da Rede Globo, em editorial do jornal pedem o fim de ganhos reais no salário mínimo, o que levaria a renda de milhões de famílias a perder poder aquisitivo, e empresas a perder clientes.
No crescimento do PIB, desde a crise internacional, o consumo das famílias, quase sempre, tem contribuído mais do que a formação bruta de capital fixo, à exceção de 2013. Traduzindo: a nova classe média está fazendo sua parte pelo lado da demanda para o PIB crescer, já uma parte da classe rica empresarial não está correspondendo nem para aproveitar as oportunidades.
As políticas econômicas governamentais nos últimos dez anos levou ao crescimento do emprego, da renda das famílias e, consequentemente, do mercado interno. Essa nova classe média deu ao empresariado o principal fator de sobrevivência para a empresa, a clientela. Falta uma "nova classe rica", mais empreendedora e menos rentista, para suprir essa nova classe média pelo lado da oferta, para o PIB crescer mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário