terça-feira, janeiro 28, 2014

Chomsky descreve política interna dos EUA como “pura selvajaria”

Esquerda.Net


Intelectual e ativista diz que os cortes aos programas alimentares para os mais pobres e o fim do auxílio especial aos desempregados é pura loucura e afirma que a desigualdade, hoje, está num nível nunca antes visto, pelo menos, desde 1920. Por Jacob Chamberlain, do CommonDreams.com

Os EUA são um país de um partido, o Partido dos Negócios, diz Chomsky. Foto de tr.robinson / FlickR, licença Creative Commons
Enquanto o Congresso dos Estados Unidos decide, esta semana, se vai manter um subsídio de desemprego de emergência a milhões de americanos ou se vai aprovar as negociações de uma lei agrícola que cortaria milhares de milhões dos programas de vale-refeição, o prestigiado ativista e intelectual Noam Chomsky resumiu, numa entrevista, o ponto a que chegou a política interna dos EUA com apenas duas palavras: ‘pura selvajaria.’

“A recusa de proporcionar um padrão de vida muito mínimo às pessoas que foram apanhadas por esta monstruosidade – é pura selvajaria”, disse Chomsky durante uma entrevista à HuffPost Live. “Não há outra forma de dizer.”

O Washington Post relatou que as atuais negociações da lei agrícola podem levar, na próxima década, à eliminação de 9 mil milhões de dólares no fundo para os selos de comida (food stamps) distribuídos pelo Programa de Assistência Suplementar Nutricional (SNAP), “de acordo com diversos assessores que estão familiarizados com as negociações e que não são autorizados a falar publicamente sobre os detalhes.”

As mudanças iriam diminuir os auxílios para, no mínimo, 800 mil famílias, com cortes de até 90 dólares por mês. “Essa é a última semana de mercearia do mês”, disse a senadora Kirsten Gillibrand ao Washington Post.

O Congresso, controlado pelos republicanos tinha, originalmente, proposto cortes de 40 mil milhões de dólares e o Senado, de maioria democrata, propôs cortes de 4 mil milhões de dólares. A negociação, que tem uma conclusão esperada para a próxima semana, realiza-se dois meses depois de os deputados norte-americanos terem deixado que chegasse ao fim um outro estímulo da SNAP, cortando fundos universais de 5.000 milhões de dólares no financiamento, que acabou com a assistência alimentar de 47 milhões de dólares a beneficiários dos selos de comida, sendo 49% deles crianças.

Fim do subsídio de desemprego de emergência

Se isso não fosse pouco, no mês passado, o Congresso acabou com o subsídio de desemprego de emergência de longo prazo para 1,3 milhões de americanos, uma “linha de vida” para muitos que estavam à procura de empregos há um longo período de tempo e dependiam desses benefícios para sobreviver.

Na terça, o Senado aprovou por pequena margem uma resolução para fazer avançar a lei que irá reinstaurar esses subsídios de desemprego. Mas mesmo que essa lei acabe por ser aprovada pelo Senado, irá enfrentar forte oposição quando chegar à câmara dos representantes dominada pelos republicanos.

“A desigualdade tem sido um sério problema por muito tempo,” disse Chomsky. “Mas a desigualdade, agora, está num nível nunca antes visto, pelo menos, desde 1920... ou até antes. Isso é muito grave.”

Qualquer crescimento nos últimos anos foi para os 2% mais ricos da população, disse Chomsky, acrescentando que uma grande parte da população está a viver abaixo da linha da pobreza, enquanto que no topo da sociedade, os lucros estão a crescer para os ricos.

Contudo, os bloqueios impostos aos programas públicos, que muitos dizem ser essenciais para os pobres dos Estados Unidos, não têm “nada a ver com maçãs podres no Congresso,” disse Chomsky ao HuffPost Live. “São problemas estruturais que tem ligação ao assalto neoliberal à população, não só americana mas mundial, que ocorreu nas gerações passadas. Algumas áreas conseguiram escapar a ele, mas o assalto espalhou-se.”

O partido dos negócios

Chomsky disse ainda: “Anos atrás era costume dizer que os Estados Unidos são um país de um partido – o partido dos negócios – com duas fações, Democratas e Republicanos. Isso já não é verdade. Ainda é um país de um partido – o partido dos negócios – mas só com uma fação. E não é a democrata, são os republicanos moderados. Os chamados Novos Democratas, que são a força dominante no partido Democrático, são o que eram os Republicanos Moderados décadas atrás. E o resto do partido Republicano só tem flutuado para fora espectro.

Publicado na Carta Maior. Tradução de Isabela Palhares, revista por Luis Leiria

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