271013 gaddafi obamaLíbia - Diário Liberdade - [Nazanín Armanian, tradução do Diário Liberdade] Lênin chamou social-imperialistas aos social-democratas alemães que para rejeitarem o czar da Rússia defenderam a guerra de 1914; Mao adulterou um termo já pejorativo para definir a União Soviética e assim justificar a sua aliança com os EUA, o imperialismo "decadente".
Dois anos após o ataque indiscriminado da OTAN contra o Estado libio que acabou com a vida de milhares de pessoas "para libertá-los de Gaddafi!",destruiu boa parte do país e acabou com a Líbia como Estado, se vão conhecendo as falsidades vertidas pelos inimigos estrangeiros do país (Ver Complot contra a Líbia -em espanhol). Obama e Cameron, em sua propaganda de guerra, acusaram a Gaddafi de cometer ?genocídio? (aniquilación sistemática de um grupo étnico, racial ou religioso? acontecido em Ruanda, Congo ou Darfur) contra seu povo, termo escolhido cuidadosamente que permitia à OTAN intervir em Líbia aplicando a doutrina dos ovos de ouro da Responsabilidade de Proteger (R2P) da ONU -que não se aplicou à população de Gaza ou de Bahréin. Pouco importou que o próprio Robert Gates, secretário de Defesa dos EUA, confessasse que não podia confirmar tal fato. Depois, exageraram com "a morte de dezenas de milhares de civis", ao mesmo tempo que Anistia Internacional desmentia personagens como o promotor-chefe da Corte Penal Internacional Luis Moreno-Ocampo a "violação de mulheres líbias" pelos soldados que até levavam viagra em seus bolsos.
Assim, a OTAN lançou-se a salvar o povo líbio, enquanto seus barcos deixavam morrer em alto mar os que fugiam da guerra, denunciou The Gardian.
O cúmulo da hipocrisia foi acolher o ex-chefe da inteligência de Gaddafi e a Abdul Jalil, ministro de justiça do regime, que em vez de serem enviados à Corte Penal Internacional por serem integrantes da ditadura, se lhes ofereceu colaborar com aquela aliança militar. Que a bandeira negra do Al Qaeda fosse içada no Palácio de Justiça de Bengasi depois do assassinato de Gaddafi e que Jalili fosse designado pelos ocidentais para liderar a transição libia para a "democracia" foram o cúmulo do descaramento!
Os EUA, seus sócios europeus e Israel, na aplicação da política do "controle de danos" já tinham canalizado as rebeliões espontâneas no Egito e Tunísia, tinham contido as do Iraque, Iêmen, Arábia Saudita e Bahréin, e agora na Líbia ficavam em evidência, exibindo seu poder.
Derrocar um aliado
A Líbia, o país do milenar povo Libu, habitado por uma centena de tribos árabes e berberes, de religião muçulmana sunita, experimentou um giro radical em sua política a partir do fim da Guerra Fria. Muamar Gaddafi, um ditador e um férreo anti-comunista, começou a namoricar com Ocidente: em 2002 pagou uns 2.940 milhões de euros às vítimas de Lockerbie (ao mesmo tempo que negava seu envolvimento no atentado) e aceitou "a legalidade internacional, embora esteja falseada e imposta pelos EUA". O nome de seu país estava incorporado na lista do Eixo do mal e no ataque devastador anglo-americano a Iraque em 2003, fazia pedagogia do terror. Aceitou se desarmar -pelas pressões de Israel, país com armas nucleares, biológicas e químicas- para passar a ser comprador de armas aos mesmos países que anos depois bombardeariam seu indefeso país. [Passa o mesmo com a Síria. Nenhum ditador é minimamente inteligente, se não não seria ditador]. Entre 2005 e 2009 Europa vendeu 834,54 milhões de euros em armas (Espanha, 2.000 milhões). Colaborou com a "guerra contra o terror" da CIA enchendo seus cárceres com pessoas sem nenhum direito a se defender. Os bancos ocidentais, que o recebiam com o tapete vermelho e implantavam o seu haima nos palácios, estavam tirando importantes lucros dos depósitos da Líbia. Para cúmulo, o líder da república "socialista" libia financiou o candidato da extrema-direita francesa, Nicolás Sarkozy.
Certo. Estamos ante uma personagem complexa que, por desgraça para os analistas maniqueios, abundam no Sul. Ditadores autoritários ou totalitários e nacionalistas -que se encontram fora da órbita dos EUA- mas compartilham a cama com outros imperialistas: Reino Unido, Alemanha ou França.
Ainda assim, EUA decidiu matá-lo (recordem o "Vini vidi vinci" de Hillary Clinton) porque:
1. Occidente tinha mais medo a um Gaddafi capaz de usar o "poder suave" que ao Gaddafi "louco".
2. Esmagar a futura Primavera Líbia, antes de que se complicasse a situação, como aconteceu no Egito. Na Líbia, EUA não tinha nenhuma influência sobre o exército e não podia recorrer a um golpe de estado.
3. Gaddafi não se converteu em um fantoche. Ademais, seu caráter imprevisível gerava insegurança para seus planos militares e econômicos na África. Disse Marco Rubio, o senador republicano estadunidense que seu "interesse nacional pede a eliminação de Gaddafi do poder". bloqueava as oportunidades dos EUA na Líbia. Bechtel (gigante em engenharia) e Caterpillar (fabricante de equipes de construção) era excluídas em favor das companhias russas, chinesas e alemãs. Já em setembro de 2011, o embaixador dos EUA, Gene Cretz, anunciava que uma centena de empresas de seu país planejavam fazer negócios em Líbia pós Gaddafi. Também, o secretário de Defesa britânico Philip Hammond, nada mais assassinar ao líder africano, convidou os empresários a irem reconstruir o que a OTAN destruiu: isso tem o nome de "capitalismo abutre" ou "destruição criativa". A companhia Geral Electric sonha com ganhar até 10.000 milhões de dólares investindo no devastado país.
4. Proclamava uma África com uma identidade política integrada, não dividida entre uma "África branca, civilizada mediterrânica" e outra "negra bárbara". Defendeu seu autosuficiencia, separada das instituições financeiras ocidentais.
5. Conter o incremento do poder e influência do próprio Gaddafi no continente, que impedia a livre circulação do capital ocidental pela região. Líbia, sob a sua liderança, tinha uns 150.000 milhões dólares investidos na África.
6. Foi visto por Washington como o principal obstáculo para o domínio militar de EUA na África. 45 países tinham-se negado a ser sede de Africom. Agora, a Líbia é uma candidata para abrigar o comando militar dos EUA. Além disso, a OTAN pode tomar conta do levante mediterrâneo: só resta eliminar ao sírio Bashar Ao Assem para "atlantizar" a bacia deste mar.
7. Converteu-se no principal aliado dos BRICS, sobretudo da China. Os contratos de umas 70 empresas chinesas cujo valor ascendia a 18.000 milhões dólares foram congelados depois da guerra.
A Rússia também perdeu uns 4.000 milhões de dólares em contratos de armas (ver Líbia: un negócio de guerra redondo -em espanhol).
O especial papel de Israel
O primeiro que a futura Nova Líbia recebia dos israelenses foi as smart-bomba lançadas desde a aviação da OTAN em 2011. Enquanto o Mossad e outro serviço aliados iam atrás de um Gaddafi anti-israelense, os rebeldes negociavam o intercâmbio de embaixadores com os hebreus.
Tel Aviv, depois de acabar com o Iraque como Estado rival -através do "papai EUA"- e enquanto seguia debilitando a Irã, canalizando a rebelião popular contra Mubarak no Egito, incitou e participou ativamente em acabar com a poderosa Líbia e seu líder. Em 2007, Goldman Sachs, uma das instituições financeiras do lobby judeu, ficou com a totalidade dos 1.500 milhões de dólares investidos por Gaddafi, quem não pensava perdoá-los.
O papel do lobby pró israelense na ONU e nos meios de comunicação (entre eles Al Jazira) foi determinante para demonizar o chefe do Estado líbio ante a opinião pública.
Israel, em seu avanço pela África, divide-a pela cor da pele de suas gentes, as crenças religiosas e grupos etnolingüísticos, apoiando a "África negra" contra a "árabe-muçulmana" (ver El bombardeo de Sudán por Israel -em espanhol).
O chovinismo do regime israelense, dirigido pelos europeus ashkenazíes, atingiu na década dos 90 aos mizrahíes, judeus "impuros" do norte da África e Médio Oriente: submeteu centenas de mulheres judias etíopes solicitantes de emigração a uma esterilização oculta e forçada antes de as admitir.
Hoje, e depois de perder a seu firme aliado Husni Mubarak, Netanyahu tentará converter à "nova" Líbia em um apoio estratégico.
O que se passou com o petróleo líbio?
Dona da primeira reserva de hidrocarburo da África e, além do mais, de alta qualidade, a Líbia exportou 379.5 milhões de barris de petróleo em 2012.
Apesar dos EUA e a UE, a Líbia de hoje manda mais petróleo à China do que na era de Gaddafi: se em 2010 30% de seu Ouro Negro ia para a Itália, 16% para a França e 11% para a China, um ano depois a China ocupava o posto dos franceses, comprando até 100.000 barris por dia. O tratamento de favor recebe-o Eni, a companhia da velha metrópole. As companhias Shell e BP não ganharam o concurso de licitación para explorar o petróleo: curioso paradoxo.
A produção do crude caiu de 1,4 milhões de barris ao dia em 2010 a uns 500.000 por causa da marcha dos técnicos das companhias estrangeiras, da sabotagem nos oleodutos pelos grupos opositores e a venda de fuel no mercado negro pelas máfias armadas. Nem os 18.000 vigilantes contratados pelo governo conseguiram que o azeite flua com segurança: muitos deles são contrários aos dignatários de Trípoli. Situação que, se por um lado tem induzindo ao coma a uma economia dependente da venda de hidrocarburo, por outro obriga os clientes como Turquia a recorrerem à energia nuclear. Ancara está construindo uma central em Akköy, localizado em uma região sísmica.
À deriva
Destruir a Líbia é outro dos contributos de Barak Obama. Este filho traidor da África, que apoia os ditadores do continente, balcanizou o Sudão, desestabilizou a Somalia e desviou as "primaveras árabes" apoiando os militares ou o setor mais reaccionario dos islamistas.
A onda de violência contra a população negra do país, o pessoal diplomático e os organismos internacionais não cessa: começou com a matança de milhares de cidadãos negros e/ou defensores de Gaddafi e continuou com o assassinato do embaixador dos EUA, o ataque ao cônsul italiano, o atentado contra as embaixadas da França, da Rússia e os edifícios da ONU, e está terminando em uma guerra civil e a desintegração do país. Ainda pode ir para pior.
Fonte: Blogs Público
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