Os jornais franceses amanheceram neste sábado com manchetes garrafais sobre uma inédita “greve” dos principais clubes de futebol do país, que se iniciaria ao fim de novembro e se estenderia por quase um mês. É que o presidente francês François Hollande declarou nesta sexta-feira que os atletas franceses não serão poupados da nova lei fiscal que entra em vigor em breve. O capítulo da nova lei que está aterrorizando os clubes é o que prevê uma taxação de 75% sobre os salários acima de 1 milhão de euros por ano.
É uma greve patronal, visto que a iniciativa vem dos dirigentes dos clubes franceses. Serão os clubes, naturalmente, que pagarão os impostos de seus atletas.
Hollande não anda muito popular na França, mas os franceses – que jamais perderam seu lado maravilhosamente jacobino – estão adorando a polêmica. O Le Monde publicou editorial há pouco fazendo uma comparação entre manifestações de trabalhadores de um frigorífico na Bretanha francesa, que recebem baixos salários e estão sendo demitidos em massa, e a “revolta” dos ricos do futebol. O editorial conclui afirmando que a greve dos clubes será, seguramente, “impopular”; e diante da dificuldade crescente de setores operários franceses, poderá ser considerada até mesmo “indecente”.
São coisas que só acontecem na França, país onde o jornal da direita, Le Figaro, se fosse traduzido para o português e publicado no Brasil, seria considerado um periódico de centro-esquerda. O principal jornal do país, Le Monde, é de esquerda, e o partido socialista (PS) domina amplamente o parlamento francês.
É bom lembrar que Hollande perdeu popularidade na França em virtude de seu eleitorado achar que ele não está fazendo um governo realmente de esquerda. O seu alinhamento aos EUA, por sua vez, tanto na Líbia quanto agora, na Síria, acabou por desmoralizá-lo de vez junto ao setor progressista. Por isso mesmo ele está apostando tanto no simbolismo desta nova lei ao estilo robin hood. Segundo o Le Monde, apenas 120 jogadores e treinadores da Liga 1 cairiam no filtro dos 75% de imposto, logo isso não representará algo substancial no orçamento nacional. Mas para Hollande é uma questão de honra. Todo mundo tem que ajudar a França a sair do buraco. Os itens mais draconianos da lei fiscal valerão apenas para os anos de 2013 e 2014.
Aí eu lembrei do tal “tripé macroeconômico” da Marina Silva, que nada mais é do que um discurso ultra-conservador que visa melhorar o desempenho fiscal do governo através de cortes no orçamento social. Acontece que o mesmo resultado poderia ser alcançado através do combate à sonegação das grandes empresas e do aumento de impostos dos mais ricos. Que é exatamente o que os países desenvolvidos sempre fizeram, inclusive os EUA, cujo imposto sobre a herança é um dos mais altos do mundo. Como ela, Marina, tem um eleitorado quase europeu, que ama passar as férias na inesquecível Paris, bem que podia lembrá-los que os ricos, desde a revolução de 1789, jamais tiveram moleza por lá.
Só não tenho certeza se os seus novos amigos de Higienópolis, como Maria Alice Setubal, herdeira do Itaú, iriam gostar de ouvir coisas desse tipo.
Por: Miguel do Rosário
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