O objetivo deste blog é discutir um projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil. Esse projeto não brotará naturalmente das forças de mercado e sim de um engajamento político que direcionará os recursos do país na criação de uma nação soberana, desenvolvida e com justiça social.
terça-feira, julho 03, 2012
2º round: bancos resistem
Amir Khair
O maior desafio econômico do País é crescer em ambiente de redução internacional de atividade. O governo lançou vários pacotes de estímulo sem resultados. A cada dia saem previsões de redução do crescimento econômico. Na quinta-feira, o Banco Central (BC) reduziu sua previsão de 3,5% para 2,5%. O governo ainda mantém a previsão de 4,5%.
As explicações para essa falta de dinamismo, segundo várias análises, está na insuficiente taxa de investimento da economia, de 18% do PIB, que deveria estar em 25%. Outras explicações atribuem à falta de competitividade das empresas, por causa da baixa produtividade relativa à de empresas de outros países, e prejudicadas mais ainda pelo alto custo Brasil (carga tributária, juros, infraestrutura e burocracia).
Essas explicações envolvem soluções de longo prazo, quando são necessárias medidas de estímulo com efeitos rápidos e fortes para sacudir a letargia econômica atual.
Há dois caminhos possíveis a seguir para o crescimento: expandir as exportações ou o consumo doméstico. Exportar em ambiente de crise é dar murro em ponta de faca. A concorrência internacional está acirrada e nossa posição competitiva não é das melhores, a não ser em algumas commodities e na agroindústria.
Deve-se, contudo, estimular as exportações, depreciando o real frente ao dólar via injeção de liquidez na economia, mas os resultados ainda irão custar a aparecer e dificilmente será aceita pelo governo a injeção de liquidez.
Expandir o consumo tem sido combatido em algumas análises sob o argumento de que já se atingiu a saturação com o que consideram o alto endividamento das famílias. Na realidade o endividamento está em nível satisfatório e pode baixar caso caiam as exorbitantes taxas de juros que o consumidor deve suportar.
Bancos
O governo vinha desde o início de abril travando verdadeira guerra contra as altas taxas de juros cobradas pelos bancos a seus clientes. Acredita que, removendo esse freio ao consumo, por debilitar o poder aquisitivo das pessoas, vai permitir o fluxo normal do consumo, que tem potencial considerável a ser usufruído.
Compartilho dessa avaliação. Mas o problema está em fazer isso sem perder tempo. Ao orientar a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil (BB) para reduzirem suas taxas, um primeiro passo foi dado, mas os resultados não são animadores. Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a taxa média de juros para a pessoa física caiu apenas 1,6 ponto, ao passar de 107% ao ano em abril para 105,4% (!) em maio, e assim mesmo causada pela redução nos bancos oficiais como se verá a seguir.
O BC apresenta no endereço http://www.bc.gov.br/?TXJUROS o ranking bancário das taxas de juros das principais modalidades de empréstimos para as pessoas e empresas desde 2009. Essas informações são atualizadas diariamente pelas instituições financeiras. A seguir, pode-se avaliar a evolução ocorrida em cada um dos cinco principais bancos do País do início de abril até quinta-feira (acompanhar quadro abaixo). É apresentada, também, a maior e a menor taxa praticada.
Cheque especial
É uma das modalidades mais usadas pelo consumidor. O quadro 1 apresenta a evolução ocorrida entre o dia 4 de abril e o dia 28 de junho. A leitura do quadro é simples. A coluna 1 (mais à esquerda) apresenta a posição do banco no ranking. Quanto maior o número, mais alta é a taxa de juros cobrada. A Caixa ocupou a 7.ª posição no dia 28 de junho. A coluna 2 indica a taxa que foi cobrada em 4 de abril, de 152% ao ano. A coluna 3 indica a taxa cobrada no dia 28 de junho, de 65%.
A coluna 4 indica a diferença entre as taxas de 28 de junho e 4 de abril, que deu 87 pontos (152 menos 65), com queda expressiva. A coluna 4 indica a evolução relativa, que foi de 57% (queda de 87 dividida por 152). Vale notar que, apesar de praticar a mais baixa taxa entre os cinco maiores bancos, ela se encontra bem acima da posição ocupada pelo Banco Sofisa, que praticou a taxa de 25% ao ano.
Observe-se, também, que foi modesta a redução do BB, de 9%, e quase nenhuma redução para o Bradesco, Itaú e Santander, esse sempre em último lugar, cobrando a taxa de 222% ao ano, ou nove vezes mais alta que o primeiro colocado. Isso expressa a resistência dos bancos privados em reduzir essa modalidade de crédito.
Ranking
O quadro 2 apresenta a posição em 28 de junho ocupada pelo banco no ranking para várias modalidades de empréstimo para pessoas e empresas (capital de giro e desconto de duplicatas). Quanto menor a posição, mais baixa a taxa de juro cobrada. No caso do crédito pessoal (coluna 2) a Caixa ocupou a 10.ª posição, o BB a 30.ª (!), o Bradesco a 62.ª, o Itaú a 53.ª e o Santander a 50.ª num total de 92 bancos.
Na compra de veículos, tem-se uma disputa maior entre os bancos, ficando as posições mais próximas e abaixo da maior parte dos bancos, num total de 47. No caso do capital de giro das empresas, a Caixa tem a melhor taxa entre os cinco maiores bancos, mas ocupa a posição 10 e, no desconto de duplicatas, a melhor posição é a do BB.
Esses dados revelam que os maiores bancos não apresentam as melhores taxas, ocupando posições altas no contexto dos demais bancos em decorrência da concentração bancária e da dificuldade do tomador de empréstimo migrar de banco (portabilidade).
Sugestões
Vale repetir as sugestões apresentadas nos últimos artigos. A retirada do principal freio da economia, que são as elevadas taxas de juros bancárias, só vai ocorrer quando o governo reduzir para valer as tarifas bancárias e a Selic. Essas reduções vão diminuir os ganhos bancários dessas duas fontes, forçando os bancos a disputar entre si a oferta de crédito.
O BC reduz a Selic a conta-gotas, e as tarifas bancárias, além de altas, foram elevadas ainda mais para compensar a pequena redução das taxas de juros. Se o governo, ao invés dos pacotinhos econômicos, não agir rapidamente para enquadrar o sistema bancário, verá seu crescimento ir na direção do que prevê o boletim Focus, porta voz dos bancos, de crescimento de apenas 2%. O segundo round da guerra com os bancos privados foi vencida por eles. E o próximo?
Amir Khair é Mestre em Finanças Públicas pela FGV e consultor
Fonte: O Estado de São Paulo
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