William Waack, da Globo, aparece nos documentos secretos. Foto: Reprodução.
Do Blog do Nassif
Novos documentos vazados pela organização WikiLeaks trazem à tona detalhes e provas da estreita relação do USA com o monopólio dos meios de comunicação no Brasil semicolonial. Um despacho diplomático de 2005, por exemplo, assinado pelo então cônsul de São Paulo, Patrick Dennis Duddy, narra o encontro em Porto Alegre do então embaixador John Danilovich com representantes do grupo RBS, descrito como “o maior grupo regional de comunicação da América Latina“, ligado às organizações Globo.
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O encontro é descrito como “um almoço ‘off the record’ [cujo teor da conversa não pode ser divulgado], e uma nota complementar do despacho diz: “Nós temos tradicionalmente tido acesso e relações excelentes com o grupo”.
Outro despacho diplomático datado de 2005 descreve um encontro entre Danilovich e Abraham Goldstein, líder judeu de São Paulo, no qual a conversa girou em torno de uma campanha de imprensa pró-sionista no monopólio da imprensa no Brasil que antecedesse a Cúpula América do Sul-Países Árabes daquele ano, no que o jornalão O Estado de S.Paulo se prontificou a ajudar, prometendo uma cobertura “positiva” para Israel.
Os documentos revelados pelo WikiLeaks mostram ainda que nomes proeminentes do monopólio da imprensa são sistematicamente convocados por diplomatas ianques para lhes passar informações sobre a política partidária e o cenário econômico da semicolônia ou para ouvir recomendações.
Um deles é o jornalista William Waack, apresentador de telejornais e de programas de entrevistas das Organizações Globo. Os despachos diplomáticos enviados a Washington pelas representações consulares ianques no Brasil citam três encontros de Waack com emissários da administração do USA. O primeiro deles foi em abril de 2008 (junto com outros jornalistas) com o almirante Philip Cullom, que estava no Brasil para acompanhar exercícios conjuntos entre as marinhas do USA, do Brasil e da Argentina.
O segundo encontro aconteceu em 2009, quando Waack foi chamado para dar informações sobre as conformações das facções partidárias visando o processo eleitoral de 2010. O terceiro foi em 2010, com o atual embaixador ianque, Thomas Shannon, quando o jornalista novamente abasteceu os ianques com informações detalhadas sobre os então candidatos a gerente da semicolônia Brasil.
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Outro nome proeminente muito requisitado pelos ianques é do jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, d’A Folha de S.Paulo. Os documentos revelados pelo WikiLeaks dão conta de quatro participações do jornalista (ou “ex-jornalista e consultor político”, como é descrito) em reuniões de brasileiros com representantes da administração ianque: um membro do Departamento de Estado, um senador, o cônsul-geral no Brasil e um secretário para assuntos do hemisfério ocidental. Na pauta, o repasse de informações sobre os partidos eleitoreiros no Brasil e sobre a exploração de petróleo na camada pré-sal.
Cai também a máscara de Fernando Rodrigues, da Folha. foto: Reprodução.
Fernando Rodrigues, repórter especial de política da Folha de S.Paulo, chegou a dar explicações aos ianques sobre o funcionamento do Tribunal de Contas da União.
Outro assunto que veio à tona com documentos revelados pelo WikiLeaks são os interesses do imperialismo ianque no estado brasileiro do Piauí.
Um documento datado de 2 de fevereiro de 2010 mostra que representantes do USA participaram de uma conferência organizada pelo governador do Piauí, Wellington Dias (PT), na capital Teresina, a fim de requisitar a implementação de obras de infra-estrutura que poderiam favorecer a exploração pelos monopólios ianques das imensas riquezas em matérias-primas do segundo estado mais pobre do Nordeste.
A representante do WikiLeaks no Brasil, a jornalista Natália Viana, adiantou que a organização divulgará em breve milhares de documentos inéditos da diplomacia ianque sobre o Brasil produzidos durante o gerenciamento Lula, incluindo alguns que desnudam a estreita relação do USA com o treinamento do aparato repressivo do velho Estado brasileiro. A ver.
(*) Matéria publicada originalmente no blog Pragmatismo Político.
http://www.fazendomedia.com/wikileaks-tira-mascara-da-midia-brasileira-e...
FONTE: No portal Cloudnews
http://www.cloudnews.com.br/
COMENTÁRIO E & P
O maior poder dos Estados Unidos atualmente é controle que eles tem sobre a imprensa mundial, inclusive a brasileira. Eles podem pautar as informações de acordo com seus interesses. No ano 2003, uma matéria da Revista Carata Capital entrevistou um agente estadunidense que confirmou que muitos jornalistas brasileiros estão a serviço de Washington. Com isso eles podem fabricar o que quiserem, o caso da Líbia foi ilustrativo. Derrubaram o governo líbio junto com a Otan e disseram que foram os "rebeldes". Agora vão implantar um governo fantoche como o da Arábia Saudita e empresas estadunidenses e européias poderão explorar o petróleo líbio e esses países terão petróleo a preços módicos, para infortúnio do povo líbio. Esse método poderá futuramente ser usado contra a Venezuela e mesmo contra o Brasil.É a mais pura barbárie. A humanidade corre perigo.
O objetivo deste blog é discutir um projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil. Esse projeto não brotará naturalmente das forças de mercado e sim de um engajamento político que direcionará os recursos do país na criação de uma nação soberana, desenvolvida e com justiça social.
sábado, agosto 27, 2011
Boaventura: Carta às esquerdas; como lutar contra a barbárie que se aproxima
Carta às esquerdas
Por Boaventura de Sousa Santos, na Anncol
Não ponho em causa que haja um futuro para as esquerdas mas o seu futuro não vai ser uma continuação linear do seu passado. Definir o que têm em comum equivale a responder à pergunta: o que é a esquerda? A esquerda é um conjunto de posições políticas que partilham o ideal de que os humanos têm todos o mesmo valor, e são o valor mais alto. Esse ideal é posto em causa sempre que há relações sociais de poder desigual, isto é, de dominação. Neste caso, alguns indivíduos ou grupos satisfazem algumas das suas necessidades, transformando outros indivíduos ou grupos em meios para os seus fins. O capitalismo não é a única fonte de dominação mas é uma fonte importante.
Os diferentes entendimentos deste ideal levaram a diferentes clivagens. As principais resultaram de respostas opostas às seguintes perguntas. Poderá o capitalismo ser reformado de modo a melhorar a sorte dos dominados, ou tal só é possível para além do capitalismo? A luta social deve ser conduzida por uma classe (a classe operária) ou por diferentes classes ou grupos sociais? Deve ser conduzida dentro das instituições democráticas ou fora delas? O Estado é, ele próprio, uma relação de dominação, ou pode ser mobilizado para combater as relações de dominação?
As respostas opostas as estas perguntas estiveram na origem de violentas clivagens. Em nome da esquerda cometeram-se atrocidades contra a esquerda; mas, no seu conjunto, as esquerdas dominaram o século XX (apesar do nazismo, do fascismo e do colonialismo) e o mundo tornou-se mais livre e mais igual graças a elas. Este curto século de todas as esquerdas terminou com a queda do Muro de Berlim. Os últimos trinta anos foram, por um lado, uma gestão de ruínas e de inércias e, por outro, a emergência de novas lutas contra a dominação, com outros atores e linguagens que as esquerdas não puderam entender.
Entretanto, livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação anti-social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação das seguintes ideias.
Primeiro, o mundo diversificou-se e a diversidade instalou-se no interior de cada país. A compreensão do mundo é muito mais ampla que a compreensão ocidental do mundo; não há internacionalismo sem interculturalismo.
Segundo, o capitalismo concebe a democracia como um instrumento de acumulação; se for preciso, ele a reduz à irrelevância e, se encontrar outro instrumento mais eficiente, dispensa-a (o caso da China). A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.
Terceiro, o capitalismo é amoral e não entende o conceito de dignidade humana; a defesa desta é uma luta contra o capitalismo e nunca com o capitalismo (no capitalismo, mesmo as esmolas só existem como relações públicas).
Quarto, a experiência do mundo mostra que há imensas realidades não capitalistas, guiadas pela reciprocidade e pelo cooperativismo, à espera de serem valorizadas como o futuro dentro do presente.
Quinto, o século passado revelou que a relação dos humanos com a natureza é uma relação de dominação contra a qual há que lutar; o crescimento económico não é infinito.
Sexto, a propriedade privada só é um bem social se for uma entre várias formas de propriedade e se todas forem protegidas; há bens comuns da humanidade (como a água e o ar).
Sétimo, o curto século das esquerdas foi suficiente para criar um espírito igualitário entre os humanos que sobressai em todos os inquéritos; este é um patrimônio das esquerdas que estas têm vindo a dilapidar.
Oitavo, o capitalismo precisa de outras formas de dominação para florescer, do racismo ao sexismo e à guerra e todas devem ser combatidas.
Nono, o Estado é um animal estranho, meio anjo meio monstro, mas, sem ele, muitos outros monstros andariam à solta, insaciáveis à cata de anjos indefesos. Melhor Estado, sempre; menos Estado, nunca.
Com estas ideias, vão continuar a ser várias as esquerdas, mas já não é provável que se matem umas às outras e é possível que se unam para travar a barbárie que se aproxima.
Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).
Repórter da revista Veja é flagrado em atividade criminosa contra José Dirceu
Do Blog do Dirceu
Depois de abandonar todos os critérios jornalísticos...
Depois de abandonar todos os critérios jornalísticos, a revista Veja, por meio de um de seus repórteres, também abriu mão da legalidade e, numa prática criminosa, tentou invadir o apartamento no qual costumeiramente me hospedo em um hotel de Brasília.
O ardil começou na tarde dessa quarta-feira (24/08), quando o jornalista Gustavo Nogueira Ribeiro, repórter da revista, se registrou na suíte 1607 do Hotel Nahoum, ao lado do quarto que tenho reservado. Alojado, sentiu-se à vontade para planejar seu próximo passo. Aproximou-se de uma camareira e, alegando estar hospedado no meu apartamento, simulou que havia perdido as chaves e pediu que a funcionária abrisse a porta.
O repórter não contava com a presteza da camareira, que não só resistiu às pressões como, imediatamente, informou à direção do hotel sobre a tentativa de invasão. Desmascarado, o infrator saiu às pressas do estabelecimento, sem fazer check out e dando calote na diária devida, ainda por cima. O hotel registrou a tentativa de violação de domicílio em boletim de ocorrência no 5º Distrito Policial.
A revista não parou por aí.
O jornalista voltou à carga. Fez-se passar por assessor da Prefeitura de Varginha, insistindo em deixar no meu quarto "documentos relevantes". Disse que se chamava Roberto, mas utilizou o mesmo número de celular que constava da ficha de entrada que preencheu com seu verdadeiro nome. O golpe não funcionou porque minha assessoria estranhou o contato e não recebeu os tais “documentos”.
Os procedimentos da Veja se assemelham a escândalo recentemente denunciado na Inglaterra. O tablóide News of the World tinha como prática para apuração de notícias fazer escutas telefônicas ilegais. O jornal acabou fechado, seus proprietários respondem a processo, jornalistas foram demitidos e presos.
No meio da tarde da quinta-feira, depois de toda a movimentação criminosa do repórter Ribeiro para invadir meu apartamento, outro repórter da revista Veja entrou em contato com o argumento de estar apurando informações para uma reportagem sobre minhas atividades em Brasília.
Invasão de privacidade
O jornalista Daniel Pereira se achou no direito de invadir minha privacidade e meu direito de encontrar com quem quiser e, com a pauta pronta e manipulada, encaminhou perguntas por e-mail já em forma de respostas para praticar, mais uma vez, o antijornalismo e criar um factóide. Pereira fez três perguntas:
1 – Quando está em Brasília, o ex-ministro José Dirceu recebe agentes públicos – ministros, parlamentares, dirigentes de estatais – num hotel. Sobre o que conversam? Demandas empresariais? Votações no Congresso? Articulações políticas?
2 – Geralmente, de quem parte o convite para o encontro – do ex-ministro ou dos interlocutores?
3 – Com quais ministros do governo Dilma o ex-ministro José Dirceu conversou de forma reservada no hotel? Qual o assunto da conversa?
Preparação de uma farsa
Soube, por diversas fontes, que outras pessoas ligadas ao PT e ao governo foram procuradas e questionadas sobre suas relações comigo. Está evidente a preparação de uma farsa, incluindo recurso à ilegalidade, para novo ataque da revista contra minha honra e meus direitos.
Deixei o governo, não sou mais parlamentar. Sou cidadão brasileiro, militante político e dirigente partidário. Essas atribuições me concedem o dever e a legitimidade de receber companheiros e amigos, ocupem ou não cargos públicos, onde quer que seja, sem precisar dar satisfações à Veja acerca de minhas atividades. Essa revista notoriamente se transformou em um antro de práticas antidemocráticas, a serviço das forças conservadoras mais venais.
COMENTÁRIO E & P
A revista Veja não se contenta apenas em publicar matérias caluniosas, está partindo também para ações criminosas, é o que se deduz da denúncia feita por José Dirceu. Depois de atentar contra a democracia brasileira a Veja agora quer fazer parceria com os irmãos metralha! É hora de chamar o Civita para prestar esclarecimentos no Congresso Nacional, assim como os ingleses fizeram com o Murdoch. Isso é um atentado contra o povo brasileiro e levanta a suspeita de que talvez milhares de matérias da revista Veja tenham sido feitas desse jeito. O jornalista que deu uma de meliante deveria perder o MTb, pois foi contra a ética profissional dos jornalistas. Ele se transformou numa vergonha para o jornalismo assim como a revista que trabalha. Parece que na Veja além de caneta e computador também usam e muito o pé-de-cabra!
sexta-feira, agosto 26, 2011
Superavit primário cresce 111% no ano e bate recorde em julho
A economia feita pelo setor público para pagar os juros da dívida, o chamado superavit primário, cresceu 111% no acumulado até julho.
Segundo dados do Banco Central, União, Estados e municípios economizaram R$ 91,98 bilhões nesse período.
Em 7 meses, governo atinge 82% da meta do superavit de 2011
O valor equivale a 78% da meta de R$ 117,9 bilhões para o ano.
No mês, foram economizados R$ 13,8 bilhões, maior resultado para meses de julho da série iniciada em dezembro de 2001.
Em 12 meses, o superavit chega a R$ 150 bilhões (3,83% do PIB).
Esse resultado, somado ao crescimento da economia, ajudou a reduzir a dívida líquida do setor público, que caiu de 39,7% em junho para 39,4% em julho (R$ 1,5 trilhão).
Fonte: site Folha.com
Eles não se vêm no espelho
Do Tijolaço
Postei lá no blog Projeto Nacional um texto sobre o inacreditável convescote dos fracassados econômicos realizado ontem no Instituto FHC, com a presença do “chefe”.
Pedro Malan, André Lara Resende, Gustavo Franco e outros expoentes da “Congregação da Roda Presa” se reuniram para, do alto da estagnação econômica que impuseram ao país, pontificar conselhos ao Brasil e ao mundo.
Dizem, basicamente, que os gastos públicos – leia-se investimentos e políticas sociais – estão impedindo o Brasil de – creiam, eles disseram mesmo – de reduzir sua dívida e baixar os juros.
Inacreditável que os mesmos economistas que quase triplicaram a dívida pública – que só foi se reduzir no Governo Lula – e praticaram (veja o gráfico ao alto)juros públicos reais (acima da inflação) de até 50% – hoje, são 6,8% e, sim, são muito altos – possam vir falar, com a maior cara dura, este tipo de coisa.
E como são de uma pretensão de padrões mundiais, ainda querem ensinar que a política de bem estar social -uma tolice, isso, não é? – foi a responsável pela críse da dívida europeia, sem abrir o bico para dizer que, em 2008, os estados europeus abriram os cofres públicos para socorrer a banca privada.
Como é que essa gente, depois do fracasso que foi, ainda fica pretendendo deitar cátedra ao mundo?
Só há uma explicação: este tipo de seres não é capaz de se ver refletido no espelho. Só aparecem mesmo na mídia.
COMENTÁRIO E & P
Um dos motivos que explicam o extraordinário crescimento da China, Coréia e Índia que eles não mandam jovem para serem adestrados em economia nos Estados Unidos. O Brasil sofreu com esse pessoal que se formou em universidades estadunidenses como Harvard, Yale, chicago e outras marteladoras de teses furadas que só criam dependência dos países que as aplicam aos Estados Unidos, à Europa e ao Japão. aliás, até acho que o objetivo que levam jovens brasileiros para essas universidades é justamente esse. Nos últimos 8 anos eles perderam a influência que tinham sobre a economia brasileira e como resultado o país é mais independente dos países centrais, estamos crescendo com distribuição de renda e no pleno emprego. O que essa turma do PSDB defende para a economia brasileira é um crime lesa pátria.
quinta-feira, agosto 25, 2011
1968: Robespierre trai Cohn-Bendit. 1961: Globo persegue Brizola
Redação Conversa Afiada
Este ansioso blog já tratou de “João Goulart – uma biografia” , do historiador Jorge Ferreira.
A primeira impressão foi que Ferreira tivesse aplicado ao historialista Elio Gaspari, aquele de múltiplos chapéus, o devido tratamento: Gaspari ajudou a propagar a lorota de que Jango estava marcado para morrer porque gostava de coristas.
Com a evolução da leitura, porém, o ansioso blogueiro percebeu que Ferreira tratava Gaspari como um Heródoto, um Tucídides.
(Já houve um americano que o considerou Joaquim Nabuco. Breve, o Magnolli , o Conti ou o Villa o chamará de “o nosso Braudel”.)
Gaspari, como se sabe, escreveu infindável obra para provar que Geisel e Golbery são o Washington e o Jefferson da “Democracy in Brazil”.
(Que Tocqueville perdoe a intimidade.)
Embora Maurício Dias tenha a suspeita – de que esse ansioso blogueiro compartilha – de que o Golpe de 1964 tenha começado e acabado em Washington.
Na pág. 12, o Globo desta quinta-feira sustenta tese interessante, a propósito dos 50 anos da Rede da Legalidade de Brizola – clique aqui para ler -, que deu posse ao Presidente constitucionalmente eleito, João Goulart.
Ferreira sustenta que Brizola iludiu a esquerda.
Com a vitória retumbante de 1961, Brizola, um ilusionista, cruza de Átila, o rei dos Hunos, e Houdini, instigou a “esquerda” a ir para o “na lei ou na marra”.
E deu no que deu, aquilo que o Globo, em editorial na primeira página do dia 2 de abril de 1964 chamou de a ressurreição da democracia.
(Dias depois, o Globo, dedo-duro, publicava a lista dos intelectuais e artistas que mereciam ser “justiçados” pelos ressurretos democratas.)
Foi tudo culpa da vitória do Brizola, que restabeleceu a democracia em 1961.
Mas, o próprio professor Ferreira mostra que Jango não esboçou a menor reação.
Não acreditava no Golpe, nem na capacidade de impedí-lo.
Por quê ?
O professor Ferreira ele mesmo explica: porque San Tiago Dantas, mineiro, sabia que os mineiros Magalhães Pinto e Afonso Arinos tinham o apoio militar e diplomático dos Estados Unidos.
Se Magalhães Pinto decretasse Minas um “Estado Livre Associado”, como Porto Rico e a Inglaterra, Lyndon Johnson e Lincoln Gordon apoiariam incondicionalmente.
Mauricio Dias tem outra explicação, muito razoável.
Jango não resistiu porque percebeu que tinha perdido a política.
Se em 1961 e no Plebiscito tinha a Lei e a Constituição ao lado dele, não conseguiu inscrever as Reformas de Base no mesmo quadro.
A UDN e o PiG (*) conseguiram transformar as reformas numa ruptura.
E, aí, sim, o radicalismo de Brizola e Julião pode ter ajudado os conservadores (e golpistas) a mobilizar uma parte da classe média.
(Embora, como lembra Ferreira, o IBOPE daqueles dias mostrasse elevada popularidade de Jango e apoio às reformas.)
Mas, ponderam Dias e Ferreira, o PSD (com a traição de JK – PHA) já tinha dilapidado a base parlamentar que sustentou a posse em 1961 e derrubou o parlamentarismo em 62.
E o Brizola já não contava mais com o Comandante do III Terceiro Exército.
Agora, daí a querer dizer que Brizola tapeou a esquerda vai uma pequena distância.
É como dizer que Robespierre de 1789 tapeou o Cohn-Bendit de maio de 1968.
Como se Cohn-Bendit se inspirasse no Comitê de Saúde Publica da Revolução Francesa para incendiar Paris.
Cohn-Bendit só se deu bem – e a vitória ainda não terminou – em obra monumental de outro historialista, também colonista (**) do Globo.
É que o Globo não se emenda.
Não engoliu até hoje as duas vitórias do Brizola para Governador do Rio – contra o Roberto Marinho.
Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.
Do Conversa Afiada
O melhor ano para o emprego se deixarem
Ninguém nega o óbvio de que estamos diante de uma crise internacional. E, muito menos, que ela deve ser séria e longa.
E nem mesmo que a área econômica tomou medidas para desaquecer a expansão da economia.
Mas desaquecer a expansão é absolutamente diferente de fazer a economia retrair-se.
E é um remédio que, dado além da dose, retrai mesmo.
Desde a posse da Presidenta Dilma, a imprensa trata a situação econômica como em perigo iminente.
No início, era a inflação “descontrolada”, o que, é claro, criou uma insegurança nos agentes econômicos – especialmente os de menor porte – quanto aos preços que praticavam. Pequenos aumentos tiveram – e foram – absorvidos pela população.
Depois, a especulação com o dólar, que obrigou a uma intervenção gradativamente mais forte do Governo no mercado de câmbio.
E, agora, vem a “voz prudente” da mídia recomendando freios e mais freios por conta da retração do mercado mundial.
Ora, na hora da crise, existe um valor maior a se proteger, um valor que duramente se construiu.
O emprego e a renda dos brasileiros.
Outro dia, escrevi aqui sobre o “terrorismo” que o Estadão – mas que toda a mídia fez – com o resultado menor nos dados de emprego do Ministério do Trabalho. Era, de fato, menos que o resultado do mesmo mês do ano anterior. E é óbvio que fosse, porque não se sai contratando a rodo quando há uma possível desaceleração da economia. Mas, sobretudo, porque os níveis de emprego estão altos e muitos setores aprenderam com a crise de 2008 que não se sai demitindo em massa porque vêm más notícias de fora.
Porque foi isso que grandes empresas, como a Vale e a Embraer fizeram ao primeiro sinal daquela crise. E perderam muito dinheiro com demissões precipitadas, além do imenso drama humano que causaram.
Hoje, com os números do desemprego divulgados pelo IBGE, que você vê no gráfico do post, a gente percebe com toda a clareza que não existe nada que justifique o pânico que parte da mídia tenta desenhar.
Temos uma curva de emprego melhor ainda que a de 2010, que já foi a melhor de todos os tempos.
Pode ser que a ameaça de crise não consiga deter a tendência de ser este o melhor ano do emprego em toda a nossa história.
Quando um jornal como o Estadão publica que “o emprego cresce como tartaruga”, não está apenas sendo ridículo e equivocado. Está participando de uma ameaça muito mais grave que limiar da crise do mundo desenvolvido.
Está jogando contra nossa autoestima, nossa confiança, nossa capacidade de nos vermos como capazes de continuar movendo nossa economia olhando para nós mesmos, sobretudo pelos que têm menos.
Do Tijolaço
quarta-feira, agosto 24, 2011
O Conversa Afiada reproduz texto de Mauro Santayana, extraído do JB:
A Otan, a Líbia, e a esperteza dos tolos
por Mauro Santayana
O dia 11 de novembro de 1630 foi decisivo para a história da França e da Europa. Nesse dia, em Versailles, um jovem rei, Luís 13, rompeu com a mãe, a Rainha Maria de Médicis, e entregou todo o poder político da França a seu ministro, o Cardeal de Richelieu. Richelieu amanhecera deposto pela Rainha, mas um de seus conselheiros o convenceu a ir até o monarca, e expor-lhe suas razões. Foi uma conversa sem testemunhas. O fato é que Luis 13 teve a atitude que correspondia ao filho de Henrique IV: “entre minha mãe e o Estado, fico com o Estado”.
Ao tomar conhecimento da reviravolta, quando os inimigos do Cardeal festejavam sua derrota, o poeta Guillaume Bautru, futuro Conde de Serrant – um dos fundadores da Academia Francesa, libertino, sedutor, e homem de frases curtas e fortes – resumiu os fatos, ao ridicularizar os açodados: “c’est la journée des dupes”. Em nossa boa língua pátria, “o dia dos tolos”. Ao mesmo tempo em que se vingava da princesa italiana, que o humilhara, Richelieu iniciava uma fase de grandeza da monarquia de seu país que só se encerraria 162 anos depois, com a decapitação de Luís 16.
A história é cheia de jornadas semelhantes. Os planos, por mais bem elaborados sejam, nunca se cumprem exatamente e, na maioria das vezes, se frustram, diante dos caprichosos deuses do inesperado. O caso da Líbia, se o examinarmos com cuidado, está prometendo ser uma operação “des dupes”. Não vai, nesta análise, qualquer juízo moral sobre Khadafi. É certo que se trata de um megalômano, que, tendo chegado ao poder aos 27 anos, provavelmente não estivesse preparado para administrar o êxito que coroou a sua participação na revolta contra outro déspota, o rei Idris. Mas Khadafi não teria sido quem foi, durante 42 anos, se a Europa e os Estados Unidos não tivessem tido atitude sinuosa e incoerente para com o seu regime. Reagan chegou a determinar o ataque aéreo a Trípoli e Bengazi, em 1986, quando uma residência de Khadafi foi atingida e uma sua filha adotiva morreu. Esses ataques, longe de enfraquecer o governante, fortaleceram-no, e desestimularam os poucos inimigos tribais internos.
Os interesses econômicos da Europa, que fazia bons negócios com o dirigente do velho espaço dos beduínos, berberes e tuaregues, ditaram as oscilações da diplomacia diante de Trípoli. A bolsa, sempre pejada e generosa, de Khadafi, favorecia seus entendimentos e os de seus filhos com altos funcionários das chancelarias européias e financiavam festas suntuosas a que eram convidadas as grandes celebridades do show business e dos círculos ociosos da grã-finagem internacional. Enfim, Khadafi fazia o que quase todos fazem. Não é por acaso que Berlusconi sempre o teve como um de seus mais devotados amigos, até que, coerente com seu caráter, somou-se à cruzada contra Trípoli.
Khadafi, por mais insano tenha sido – e todos podiam identificar os sinais de sua mente vacilante – fez um governo de bem-estar social, como nenhum outro da região. Contando com os recursos do petróleo, criou sistema de assistência à saúde que, mesmo restrito aos centros urbanos, tem sido exemplar. Reduziu drasticamente os níveis de mortalidade infantil, possibilitou o tratamento gratuito de toda a população, universalizou a educação, estimulou a agricultura nas raras terras cultiváveis, e fixou salários dignos para os trabalhadores. É certo que se enriqueceu e enriqueceu seus familiares e favoritos, mas os líbios não tinham por que queixar-se de sua política social. Em contrapartida, não admitia qualquer tipo de oposição.
Monsieur Sarkozy, que anda fazendo apostas perigosas com a posteridade, e Cameron, da Grã Bretanha, foram os grandes animadores da intervenção maciça da Otan contra a Líbia. A ocasião era propícia. A Europa se encontra combalida com a crise econômica e o avanço da corrupção está erodindo a coesão de seus povos. O tema é de particular intimidade da França, detentora, na História, dos mais espetaculares escândalos, entre eles o da frustrada construção do Canal do Panamá por uma companhia francesa: a empresa obtivera, mediante propinas a muitos parlamentares, a concessão de uma loteria especial para o financiamento da obra, recolhera investimentos pesados dos homens de negócios europeus e dos poupadores modestos, e quebrou espetacularmente poucos meses depois. Durante muito tempo, “panamá” passou a ser sinônimo, em todas as línguas, de negócios escusos e da corrupção política. Talvez com a única exceção dos tempos de De Gaulle, nunca houve governo na França imune a denúncias de sujeiras semelhantes. A corrupção foi uma das causas da Revolução Francesa.
Quase todos estão saudando a vitória contra Khadafi, mas isso não significa que tenham conquistado a Líbia. São grupos internos de interesses diferentes que se uniram, para livrar-se de um inimigo comum, com o apoio das potências estrangeiras, que bombardearam sistematicamente a população civil – o que, convenhamos, é terrorismo puro. Mas, sempre que as armas se calam, novo e mais complicado conflito se inicia. Quem assumirá o poder? Irão as tribos do deserto, que se relacionam entre elas mediante complexa malha de fidelidade, fundada no parentesco e nas alianças bélicas seculares, unir-se sob um protetorado estrangeiro? É duvidoso.
Há uma questão de fundo, que Sarkozy e Cameron, em seu açodamento, desprezaram. Londres e Paris, pressurosos em aproveitar os episódios dos países árabes, a fim de reocuparem seu domínio colonial, tomando o lugar da Itália na influência sobre a Líbia, esqueceram-se de Israel. Mubarak, do Egito, o principal aliado de Tel-Aviv, e fiel vassalo de Washington, perdeu o poder e corre o risco de perder também a cabeça. Israel tomou a iniciativa de provocar as novas autoridades do Egito ao cometer o ataque fronteiriço, que causou a morte de oficiais daquele país, na pressão para que se feche novamente a passagem aos palestinos. Nada indica que os governos que eventualmente sucedam aos déspotas destituídos no Egito e na Tunísia, e os que possam vir a ser derrubados nas vizinhanças, sejam mais condescendentes com Israel. Até mesmo a Síria é uma incógnita, no caso em que Assad perca o mando. A Itália, acossada pela crise econômica e pela desmoralização de Berlusconi, em lugar da neutralidade, somou-se, na undécima hora, aos agressores.
Os fundamentalistas se somam aos que saúdam os movimentos de rebeldia nos países árabes. A Palestina, por intermédio do Hamas, aplaude o fim de Khadafi. Terá suas razões para isso. E a rede Al Jazeera já está emitindo de Trípoli. Como se queixou Khadafi, a Al-Qaeda não o apoiava.
Enfim, para lembrar o burlador Conde de Serrant, é bem provável que este ano de 2011 fique na história como o ano dos tolos.
O momento de baixar os juros, por Delfim
Da Folha
ANTONIO DELFIM NETTO
Esta é a hora
Há uma nuvem escura sobre a economia mundial, anunciadora de possíveis dificuldades. Talvez a manifestação mais típica dessa ameaça seja a procura dos papéis do Tesouro das duas maiores economias de mercado.
Os EUA, com uma inflação anual da ordem de 3,6% ao ano e a Alemanha, com 2,4%, têm taxas de juros reais virtualmente nulas para papéis com menos de um ano.
Diante das incertezas que envolvem a economia mundial, há uma procura de abrigo nos papéis do Tesouro das duas economias. A despeito do ridículo exibicionismo da S&P, a demanda de papéis americanos tem aumentado com taxa de juro real cadente... Sinal ainda mais evidente da desesperada busca de segurança é o preço do ouro: US$ 1.873,9 por onça, em 19/8.
Se você não está confuso, é porque está desinformado!
São, no fundo, sinais de pânico no mundo em que prevalecem: 1º) a disfuncionalidade política dos EUA; 2º) as complicações da administração da Comunidade Europeia; 3º) o esgotamento das medidas tocadas por tecnocratas (as políticas fiscal e monetária) e 4º) mais importante, a evidente falta de estadistas.
O grave é que o problema se autoalimenta. A fuga para a segurança produz mais insegurança: destrói valor nas Bolsas (particularmente dos bancos "sob suspeita") e pode levar a outra interrupção do crédito interbancário, condição suficiente para ampliar a crise da economia real. O Brasil, como parte do mundo, também sentirá os efeitos da tempestade.
Nossa situação é melhor do que a da maioria dos países, mas ainda temos a maior taxa de juros real e a moeda mais sobrevalorizada do mundo!
Talvez tenhamos a chance de iniciar a solução desses problemas, ao reduzir substancialmente a taxa de juro real.
O movimento preliminar preparatório deve aproveitar a credibilidade do governo e estabelecer uma política fiscal de longo prazo, cuidadosa e crível: de crescimento de custeio abaixo do crescimento do PIB; regras claras para a redução da taxa do financiamento da dívida com LFT; colocação de papéis do Tesouro em reais no exterior; políticas de estímulo à poupança; aumento do superavit primário; atenção ao problema da aposentadoria do servidor público; desindexação ampla, geral e irrestrita; ajustamento da caderneta de poupança e medidas microeconômicas que reduzam o estresse do ajustamento do mercado de trabalho.
A curva de juros atual parece indicar que é hora de um programa fiscal bem conformado e amplo, acompanhado de políticas microeconômicas que retirem do Banco Central o peso das incertezas fiscais (vistas pelo mercado) e lhe deem musculatura e tranquilidade para, num prazo adequado, reduzir a taxa de juros real a qualquer coisa entre 2% e 3%.
segunda-feira, agosto 22, 2011
Homenagem a Barros de Castro: a China
Extraído do site do IEDI:
Lições de Inovação que Vêm da China
(Homenagem a Antônio Barros de Castro)
Esta é uma singela homenagem a Antônio Barros de Castro, falecido ontem no Rio de Janeiro. Grande historiador e um dos maiores economistas do País, Antônio Barros de Castro foi professor da Unicamp e da UFRJ e presidiu o BNDES. Dedicava-se ultimamente com grande afinco e paixão ao estudo da China, preocupado como era com o futuro da economia mundial e com as possibilidades brasileiras de ampliar seu desenvolvimento. Antônio Castro em diversas ocasiões esteve muito próximo do IEDI. Escreveu textos, colaborou com as propostas de política industrial e tecnológica do Instituto e foi membro do Fórum IEDI em companhia de outros grandes economistas que discutiam o presente e o futuro da indústria no Brasil e no mundo.
Esta Análise traz um resumo de um estudo que o IEDI está ultimando e que em breve será publicado sobre as políticas de inovação na China, um dos temas prediletos de Antonio Barros de Castro. O Instituto pretende oferecer ao governo e à sociedade brasileira um exemplo de grande determinação e esforço de ampliação de avanço tecnológico e de inovação empresarial.
Desde 1978 quando iniciou sua reforma econômica, a China vem reduzindo rapidamente sua distância em relação aos países de economia avançada. O sucesso da estratégia chinesa de catching-up se expressa em diversos indicadores. Em 2010, por exemplo, a China, que em termos do produto interno bruto (PIB) em paridade do poder de compra já ocupava o segundo lugar desde 2001 atrás apenas dos Estados Unidos, tornou-se também a segunda maior economia mundial em termos do PIB em dólar corrente.
Em ciência, tecnologia e inovação (C, T & I), a ascensão da China tem sido especialmente impressionante. Desde 1999, os investimentos chineses em pesquisa e desenvolvimento (P&D) crescem em média 20% por ano, tendo alcançado 1,44% do PIB em 2007, convergindo rapidamente para a média de 2,1% do grupo dos principais países avançados. A meta é elevar as despesas com P&D para 2,5% do PIB em 2020. A emergência da China como potência em tecnologia e inovação é o objeto do presente estudo.
A China registra um notável desempenho na solicitação de patentes no exterior, indicador da aplicação do conhecimento científico. O número de patentes de invenções obtidas junto ao escritório americano de patentes e marcas (USPTO, na sigla em inglês) atingiu 2.657 em 2010 (90 em 1999). Já o número de solicitações chinesas de patentes internacionais no âmbito do Tratado de Cooperação de Patentes (PCT, na sigla em inglês), que garante proteção às invenções domésticas em 142 países, mais do que triplicou entre 2006 e 2010, levando a China da oitava para a quarta posição do ranking, ultrapassando a Coreia do Sul, a França, o Reino Unido e a Holanda e reduzindo o diferencial em relação à Alemanha, terceiro lugar do ranking, atrás dos Estados Unidos e do Japão.
Embora os Estados Unidos e o Japão permaneçam como os países-líderes em ciência, tecnologia e inovação (C, T & I), a China se tornou em 2008 o segundo maior produtor mundial de conhecimento científico, expresso no número de artigos publicados, após revisão crítica, em revistas científicas, atrás apenas dos Estados Unidos. Mantido na atual trajetória, o avanço chinês na produção científica mundial deverá levar o país à primeira posição em meados da presente década. Em algumas áreas do conhecimento, como química e nanotecnologia, a China já alcançou reconhecida excelência.
O sucesso da convergência tecnológica chinesa frente aos países avançados repousa na visão estratégica de longo prazo do governo, que vem, desde a década de 1980, elaborando sucessivos planos de desenvolvimento cientifico e tecnológico. Nesses planos, a prioridade conferida à ciência e inovação tem sido coerentemente articulada com outros aspectos da política industrial, tais como formação de recursos humanos, estratégias setoriais, propriedade intelectual, uso seletivo do investimento estrangeiro direto.
Além da rápida e sistemática absorção de conhecimento estrangeiro, a China investiu pesadamente em capital humano, promovendo todos os níveis educacionais do país, bem como educação e treinamento no exterior, e na construção da infraestrutura de ciência e tecnologia. Desde meados de 1990, foram criados mais de 100 laboratórios nacionais em áreas selecionadas de pesquisa básica e inúmeros parques científicos e tecnológicos.
Na China, onde muitos membros do Conselho de Estado – a mais alta instância do governo – são cientistas e engenheiros experientes, o progresso científico e tecnológico é entendido como o principal meio de obter ganhos substanciais de produtividade e de promover o desenvolvimento econômico e social, de forma coordenada e sustentável. Essa visão está claramente explicitada no Programa Nacional de Médio e Longo Prazo para o Desenvolvimento Ciência e Tecnologia (MLP, na sigla em inglês), anunciado em 2006, que pretende transformar a China em uma economia orientada à inovação até o ano de 2020, de modo a garantir a manutenção do crescimento em um patamar elevado e assegurar a coesão social interna. Os princípios norteadores dos esforços chineses nesse período de
quinze anos são:
Inovação nativa: fomento à inovação original própria, à inovação integrada (novos usos para tecnologias existentes) e à re-inovação (absorção e aperfeiçoamento de tecnologias importadas), em ordem de melhorar a capacidade de inovação nacional;
Saltos tecnológicos (“leapfrogging”) em áreas prioritárias: selecionar e concentrar esforços em áreas-chave, de força e vantagem relativa, vinculadas à economia nacional e à subsistência da população, bem como à segurança nacional;
Promoção do desenvolvimento: viabilizar tecnologias-chave que são urgentemente necessárias para o desenvolvimento econômico e social sustentável e coordenado;
Liderar o futuro: utilizar pesquisas básicas e tecnologias de ponta para criar novas demandas e novas indústrias, as quais irão impulsionar o futuro crescimento econômico e desenvolvimento social.
Os principais objetivos do MLP são: reduzir a dependência da China de tecnologia estrangeira para menos de 30% até 2020; ampliar o gasto doméstico bruto com P&D de 2,0% do PIB em 2010 para 2,5% em 2020; elevar a contribuição das atividades de C, T & I a 60% do crescimento do PIB; posicionar a China entre os cinco principais países do mundo em número de patentes domésticos e em citação internacional de artigos científicos. São inúmeras as evidências de que a China vem realizando progressos significativos em direção as metas definidas no MLP.
A emergência da China como potência científica e tecnológica representa um sério desafio para os países avançados, que já enfrentam a crescente concorrência chinesa em diferentes áreas, e deve servir de inspiração para outros países em desenvolvimento. Porém, é preciso ressaltar que o avanço chinês ainda está longe de implicar no declínio dos Estados Unidos, Japão, Alemanha, França e Reino Unido e outros. Embora estejam perdendo participação em termo de investimento e desempenho na atividade global de P&D, a produção científica e tecnológica desses países segue crescendo em termos absolutos a partir de uma base já elevada.
(…)
COMENTÁRIO E & P
Grande economista que deixa uma lacuna intelectual no Brasil. Nunca foi afeito a modismos e sempre teve um pensamento original comprometido com o povo brasileiro e o desenvolvimento soberano do país.
domingo, agosto 21, 2011
Crise: O Terrorismo Dos Estados Unidos
Autor: MIGUEL URBANO RODRIGUES
O terrorismo de estado americano ameaça a humanidade e impede a pazpor Miguel Urbano Rodrigues [*]
A humanidade enfrenta a mais grave crise de civilização da sua história. Ela difere de outras, anteriores, por ser global, afectando a totalidade do planeta. É uma crise política, social, militar, financeira, económica, energética, ambiental, cultural.
O homem realizou nos últimos dois séculos conquistas prodigiosas. Se fossem colocadas a serviço da humanidade, permitiriam erradicar da Terra a fome, o analfabetismo, as guerras, abrindo portas a uma era de paz e prosperidade.
Mas não é o que acontece. Uma minoria insignificante controla e consome os recursos naturais existentes e a esmagadora maioria vive na pobreza ou na miséria.
O fim da bipolaridade, após a desagregação da URSS, permitiu aos Estados Unidos adquirir uma superioridade militar, política e económica enorme que passou a usar como instrumento de um projecto de dominação universal. As principais potências da União Europeia, nomeadamente o Reino Unido, a Alemanha e a França tornaram-se cúmplices dessa perigosa política.
O sistema de poder que tem o seu pólo em Washington, incapaz de encontrar solução para a crise do seu modelo, inseparável da desigualdade social, da sobre-exploraçao do trabalho e do esgotamento gradual dos mecanismos de acumulação, concebeu e aplica uma estratégia imperial de agressão a povos do chamado Terceiro Mundo.
Em guerras ditas de baixa intensidade, promovidas pelos EUA e seus aliados, morreram nos últimos sessenta anos mais de trinta milhões de pessoas. Algumas particularmente brutais, definidas como "preventivas" visaram o saque dos recursos naturais dos povos agredidos.
Reagan criou a expressão "o império do mal" para designar a URSS no final da guerra fria. George Bush pai vulgarizou o conceito de "estados canalhas" para satanizar países cujos governos não se submetiam às exigências imperiais. Entre eles incluiu o Irão, a Coreia Popular, a Líbia e Cuba.
Em Setembro de 2001, após os atentados que destruíram o World Trade Center e demoliram uma ala do Pentágono, George W. Bush (o filho) utilizou o choque emocional provocado por esse trágico acontecimento para desenvolver uma estratégia que fez da "luta contra o terrorismo" a primeira prioridade da política estado-unidense.
Uma gigantesca campanha mediática foi desencadeada, com o apoio do Congresso, para criar condições favoráveis à implantação da política defendida pela extrema-direita. Segundo Bush e os neocon, "a segurança dos EUA" exigia medidas excepcionais na esfera internacional e na interna.
Os grandes jornais, as cadeias de televisão, as rádios, a explorando a indignação popular e o medo, apoiaram iniciativas como o Patriot Act que suspendeu direitos e garantias constitucionais, legalizando a prática de crimes e arbitrariedades. A irracionalidade contaminou o mundo intelectual e até em universidades tradicionais professores progressistas foram despedidos e houve proibição de livros de autores célebres.
A campanha adquiriu rapidamente um carácter de caça às bruxas, com perseguições maciças a muçulmanos. Uma vaga de anti-islamismo varreu os EUA, com a cumplicidade dos grandes media. O Congresso legalizou a tortura.
No terreno internacional, o povo do Afeganistão foi a primeira vítima da "cruzada contra o terrorismo". Os EUA, a pretexto de que o governo do mullah Omar não lhe entregava Bin Laden – declarado inimigo numero um de Washington – invadiu, bombardeou e ocupou aquele pais.
Seguiu-se o Iraque após uma campanha de desinformação de âmbito mundial. O Governo de Bagdad foi acusado de acumular armas de extermínio massivo e de ameaçar portanto a segurança dos EUA e da Humanidade. A acusação era falsa, como se provou mais tarde, e os EUA não conseguiram obter o apoio do Conselho de Segurança. Mas, ignorando a posição da ONU, invadiram, vandalizaram e ocuparam o país. Inicialmente contaram somente com o apoio do Reino Unido.
Crimes monstruosos foram cometidos no Afeganistão e no Iraque pelas forças de ocupação. A tortura de prisioneiros no presídio de Abu Ghrabi assumiu proporções de escândalo mundial. Ficou provado que o alto comando do exército e o próprio secretário da Defesa, Donald Rumsfeld tinham autorizado esses actos de barbárie. Mas a Justiça norte-americana limitou-se a punir com penas leves meia dúzia de torcionários.
Simultaneamente, milhares de civis, acusados de "terroristas" -muitos nunca tinham sequer pegado numa arma – foram levados para a base de Guantanamo, em Cuba, e para cárceres da CIA instalados em países da Europa do Leste.
As Nações Unidas não somente ignoraram essas atrocidades como acabaram dando o seu aval à instalação de governos títeres em Cabul e Bagdad e ao envio para ali de tropas de muitos países. No caso do Afeganistão, a NATO, violando o seu próprio estatuto, participa activamente, com 40 mil soldados, da agressão às populações. Dezenas de milhares de mercenários estão envolvidas nessas guerras.
Em ambos os casos, Washington sustenta que essas guerras preventivas representam uma contribuição dos EUA para a defesa da liberdade, da democracia, dos direitos humanos e da paz e foram inspiradas por princípios e valores éticos universais. O presidente Barack Obama, ao receber o Premio Nobel da Paz em Oslo, defendeu ambas, num discurso farisaico, como serviço prestado à humanidade. Isso no momento em que decidira enviar mais 30 mil soldados para a fogueira afegã.
Os factos são esses. Apresentando-se como líder da luta mundial contra o terrorismo, o sistema de Poder dos EUA faz hoje do terrorismo de Estado um pilar da sua estratégia de dominação.
A criação de um exército permanente em África – o Africom – os bombardeamentos da Somália e do Iémen, a participação na agressão ao povo da Líbia inserem-se nessa politica criminosa de desrespeito pela Carta da ONU.
Mas a ambição de poder absoluto de Washington é insaciável.
O Irão, por não capitular perante as exigências do sistema de Poder hegemonizado pelos EUA, é há anos alvo permanente da hostilidade dos EUA. Washington tem saudades do governo vassalo do Xá Pahlevi e cobiça as enormes reservas de gás e petróleo iranianas.
A campanha de calúnias, apoiada pelos media, repete incansavelmente que o Irão enriquece urânio para produzir armas atómicas. A acusação é gratuita. A Agencia Internacional de Segurança Atómica não conseguiu encontrar qualquer indício de que o país esteja a utilizar as suas instalações nucleares com fins militares. O presidente Ahmanidejah, aliás, de acordo com o Brasil e a Turquia, numa demonstração de boa fé, propôs-se a enriquecer o urânio no exterior. Mas essa proposta logo foi recusada por Washington e pelos aliados europeus.
Sobre as armas nucleares de Israel, obviamente, nem uma palavra. Para os EUA, o Estado sionista e neo fascista, responsável por monstruosos crimes contra os povos do Líbano e da Palestina, é uma democracia exemplar e o seu melhor aliado no Médio Oriente.
O agravamento das sanções que visam estrangular economicamente o Irão é acompanhado de declarações provocatórias do Presidente Obama e da secretaria de Estado Clinton, segundo as quais "todas as opções continuam em aberto", incluindo a militar. Periodicamente jornais influentes divulgam planos de hipotéticos bombardeamentos do Irão, ou pelos EUA ou por Israel, sem excluir o recurso a armas nucleares tácticas. O objectivo é manter a tensão na guerra não declarada contra um pais soberano.
Lamentavelmente, uma parcela importante do povo dos EUA assimila as calunia anti-iranianas como verdades. A maioria dos estado-unidenses desconhece a gravidade e complexidade da crise interna. A recente elevação do teto da divida publica de mais de 14 mil milhões de dólares para 16 mil milhões – total superior ao PIB do pais – é, porem, reveladora da fragilidade do gigante que impõe ao mundo uma politica de terrorismo de estado.
Entretanto, o discurso oficial, invocando os "pais da Pátria", insiste em apresentar os EUA como o grande defensor da democracia e das liberdades, vocacionado para salvar a humanidade.
Sem o controlo pelo grande capital da esmagadora maioria dos meios de comunicação social e dos áudio visuais pelo sistema de poder imperial, a manipulação da informação e a falsificação da História não seriam possíveis. Um instrumento importante nessa politica é a exportação da contra-cultura dos EUA, país -- registe-se -- onde coexiste com a cultura autêntica.
A televisão, o cinema, a imprensa escrita e, hoje, sobretudo a Internet cumprem um papel fundamental como difusores dessa contra cultura que nos países industrializados do Ocidente alterou profundamente nos últimos anos a vida quotidiana dos povos e a sua atitude perante a existência.
A construção do homem formatado principia na infância e exige uma ruptura com a utilização tradicional dos tempos livres. O convívio familiar e com os amigos é substituído por ocupações lúdicas frente à TV e ao computador, com prioridade para jogos violentos e filmes que difundem a contra cultura com prioridade para os que fazem a apologia das Forças Armadas dos EUA.
A contra-cultura actua intensamente no terreno da música, da canção, das artes plásticas, da sexualidade. A contra-musica que empolga hoje multidões juvenis é a de estranhas personagens que gritam e gesticulam, exibindo roupas exóticas, berrantes em gigantescos palcos luminosos, numa atmosfera ensurdecedora, em rebeldia abstracta contra o vácuo.
O jornalismo degradou-se. Transmite a imagem de uma falsa objectividade para ocultar que os media ao serviço da engrenagem do poder insistem, com poucas excepções, em justificar as guerras americanas como "cruzada anti-terrorista" em defesa da humanidade porque os EUA, nação predestinada, batalhariam por um mundo de justiça e paz.
É de justiça assinalar que um número crescente de cidadãos americanos denunciam essa estratégia de Poder, exigem o fim das guerras na Ásia e lutam em condições muito difíceis contra a estratégia criminosa do sistema de poder.
Nestes dias em que se multiplicam as ameaças ao Irão, é minha convicção de que a solidariedade actuante com o seu povo se tornou um dever humanista para os intelectuais progressistas.
Visitei o Irão há cinco anos. Percorri o país de Chiraz ao Mar Cáspio. Escrevi sobre o que vi e senti. Tive a oportunidade de verificar que é falsa e caluniosa a imagem que os governos ocidentais difundem do país e da sua gente. Independentemente da minha discordância de aspectos da politica interna iraniana nomeadamente os referentes à situação da mulher -- encontrei um povo educado, hospitaleiro, generoso, amante da paz, orgulhoso de uma cultura e uma civilização milenares que contribuíram decisivamente para o progresso da humanidade.
Para mim o Irão encarna muito mais valores eternos da condição humana do que a sociedade norte americana, cada vez mais robotizada.
Porto, Portugal, 10/Agosto/2011
[*] Texto enviado ao Festival Internacional Justiça e Paz que se realizará no Irão em Outubro próximo
O original encontra-se em http://www.odiario.info/?p=2178
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Madri-Londres: os bons e os "maus" meninos
Do blog do Weden,
Eis que ninguém ousou perguntar nos grandes jornais, nas TVs por assinatura, nos blogs ultraconservadores: "Por que os brasileiros não se indignam...como a juventude inglesa?"
Logo quando surgiu o Movimento 15 de Maio, a imprensa espanhola demonstrou desprezo e desconfiança em relação aos meninos da Plaza Puerto del Sol.
Mais do que as palavras, os atos daquela juventude eram vistos como um discurso temeroso. Afinal, desconfiava-se que viria com a mesma febre, o mesmo calor e a mesma ardência dos protestos gregos, e de antigas barricadas francesas.
Mas não. Fora alguns contratempos, tensões esporádicas, alguns excessos, aqueles que bradaram "contra tudo que esta aí" faziam um movimento absolutamente pacífico, civilizado, diria mesmo, "domesticável" pelos gestos de interpretação logo lançados por jornais como El Pais e outras oligarquias midiáticas.
Mais do que isso: sem que fosse a intenção dos "indignados" espanhóis, o movimento acabou ajudando, pelo clima de "oposição", a vitória da direita nas últimas eleições regionais.
O movimento, além de não causar grandes temores, ainda ajudou a se fortalecerem no poder os conservadores, os partidários do neoliberalismo, das receitas do FMI - e, portanto, dos arrochos, da recessão, do desemprego - do preconceito contra os imigrantes, e dos apoios estabanados a guerras alheias.
Mesmo tenso em certas situações, o M-15 foi bem capitalizado pela direita espanhola, apoiada pela grande mídia, a partir do "expurgo" de alguns temas incômodos levantados pelos jovens.
Ganhos partidários, sem vidraças estilhaçadas, sem carros incendiados, sem feridos, sem mortos. Perfeito. Como não elogiar os bons meninos?
É dentro deste contexto que se pode compreender a aventura opinativa do jornalista Juan Arias, do El Pais, perguntando-se sobre o motivo de os brasileiros não se "indignarem"... como os espanhóis.
O artigo foi repetido, comentado, aclamado pela mídia brasileira, virou tema de debates em canais por assinatura, ganhou comentários em blogs ligados a portais ultraconservadores, e até editoriais na grande imprensa.
Indisfarçavelmente, a questão posta pela plateia de Arias era: "por que o povo não vai às ruas contra o Governo Dilma"?
O desprezo de Arias e dos seguidores brasileiros pelos temas fortes do M-15 era notório: os bons meninos protestam contra a corrupção, a falta de empregos, baixos salários, excesso de desigualdade, da repressão contra imigrantes.
Mas todas estas críticas à situação atual da Espanha, e da Europa, foram, nestas bandas, simplificadas como uma grande cruzada moralista.
E aí surgem os "maus" meninos
Há duas semanas, no entanto, outros indignados foram às ruas. Os "maus" meninos de Londres e outras cidades inglesas foram radicais: os seus protestos, barulhentos nos gestos, silenciosos nas palavras, eram contra o preconceito, contra a violência e humilhação, contra o desleixo em relação aos socialmente desprivilegiados, contra um modelo econômico que não mais se sustenta.
Não vou discutir se muitos caíram na farra da depredação, pelo simples desejo de partilhar do caos. Mas seria simplismo reduzir o todo à parte.
Nos discursos materializados em corpos raivosos e gestos de fúria, havia, possivelmente, muito daquilo que indigna os bons meninos de Madri.
Mas os "maus" meninos foram à raiz dos problemas: seu discurso foi febril, ardente. Voltou-se contra o capital, a propriedade privada, o mercado, os bens públicos, os símbolos da força e do poder.
Seu discurso de ruptura, seu desaforo, jamais poderia e poderá ser capitalizado pela imprensa local ou internacional, ou por qualquer partido.
No Brasil, evidentemente, a imprensa não se perguntou por que os brasileiros não se indignavam como os ingleses! Muito pelo contrário: o tratamento dado aos indignados britânicos foi bem outro: "Criminosos!", "Marginais!", "Vândalos!".
Não houve debates em canais fechados, nem comentários simpáticos em blogs de portais ultraconservadores. Pelo contrário: estes foram os que mais condenaram os “maus meninos”. Esse tipo de indignação, não capitalizável, não interessa.
Os "maus" meninos ingleses - mesmo sob desesperança e desamparo extremos - não mereceram editorais, nem tentativas de compreensão de nossa grande mídia.
Os meninos da Rainha não causaram inveja àqueles que gostariam que os brasileiros fossem às ruas protestar "contra tudo que está aí".
Pelo radicalismo, pela vocação à ruptura, dessa vez, ficaria realmente muito difícil, para alguns brasileiros, tirar proveito das misérias alheias.
E, vendo o que aconteceu em Londres, sei que muitos que os criticavam, finalmente, agradeceram aos brasileiros, porque não se indignam.
sábado, agosto 20, 2011
Nogueira Batista: Brasil tem munição contra a crise
Do Tijolaço
Reproduzo o, como sempre, claro e direto artigo do professor Paulo Nogueira Batista Jr., representante do Brasil na direção do FMI e um dos raros que jamais entregou o cérebro e a alma aos tapetes dos salões das finanças mundiais:
Pouca Munição
“Um dos fatores que agravam a turbulência financeira é a percepção generalizada de que os governos dos países desenvolvidos já gastaram boa parte da sua munição com a crise de 2008. Estados Unidos e Europa, que estavam – e continuam – no epicentro da crise, lançaram mão dos mais variados instrumentos: políticas fiscais anticíclicas, redução das taxas básicas de juro para quase zero, injeções maciças de liquidez pelos bancos centrais e operações custosas de socorro a instituições financeiras privadas.
A crise foi contida, mas nunca chegou a ser superada. As economias dos EUA, da Europa e do Japão crescem pouco ou nada; as taxas de desemprego e subemprego permanecem elevadas, especialmente entre os jovens; as finanças públicas estão fragilizadas; uma parte do sistema bancário continua vulnerável, particularmente na Europa.
No momento, o grande risco é o de um novo mergulho recessivo, desencadeado por choques oriundos do sistema bancário ou de riscos soberanos. Se isso acontecer, os governos não poderão responder como antes.
Como as dívidas públicas aumentaram rapidamente e os balanços dos bancos centrais estão sobrecarregados, fica mais difícil promover uma nova rodada de estímulos fiscais e monetários. Pior: alguns países, notadamente na zona do euro, estão sendo forçados a adotar políticas fiscais pró-cíclicas em face das pressões dos mercados.
A munição política também é menor. Hoje, existe mais resistência à ampliação dos gastos públicos do que há três anos. E novas operações de salvamento de instituições financeiras privadas seriam recebidas com uma onda de indignação da opinião pública.
Os EUA e a zona do euro são os principais focos de preocupação, mas há problemas em outras áreas da economia mundial.
É o caso da China, por exemplo. Em 2008-2009, o governo chinês pôde adotar um vigoroso programa de estímulo à demanda interna que compensou, em parte, o choque recessivo provocado pelos desmandos financeiros nos EUA e na Europa. Em 2011, contudo, a China enfrenta inflação significativa dos preços de bens e serviços, que se adiciona ao problema mais antigo de uma onda especulativa com ativos imobiliários. A menos que a inflação ceda rapidamente, a China dificilmente poderá responder a uma segunda recessão nas economias desenvolvidas com políticas de expansão da demanda. Ou seja, o maior dos emergentes pouco poderá fazer para sustentar a demanda na economia mundial.
Como fica o Brasil? Como se sabe, a economia brasileira não escapará ilesa de um novo mergulho recessivo dos países desenvolvidos. Mas a nossa margem de manobra é maior do que a deles. Temos munição para gastar, em caso de um agravamento da situação mundial.
As reservas internacionais do país aumentaram consideravelmente desde 2009 e podem ser usadas em caso de redução de linhas internacionais de crédito e pressões sobre as contas externas. Há espaço, além disso, para permitir que o câmbio se deprecie. Uma desvalorização do real, desde que não seja abrupta, será até bem-vinda, uma vez que a moeda nacional se valorizou excessivamente nos anos recentes. O Banco Central pode também reduzir os elevados compulsórios sobre passivos bancários e injetar liquidez na economia.
Por último, mas não menos importante, também há espaço para diminuir as taxas de juro básicas. Caso a crise internacional se agrave, afetando o nível de atividade da economia, o Banco Central poderá baixar os juros sem comprometer o controle da inflação. Isso ajudará a reduzir o custo da dívida pública, favorecendo o equilíbrio das contas do governo. Além disso, desestimulará entradas de capital, ajudando a corrigir a sobrevalorização cambial.
Nas circunstâncias atuais, melhor seria responder a um choque recessivo externo com estímulos monetários, mantendo uma política fiscal mais rigorosa. A coordenação entre as políticas fiscal e monetária é hoje melhor do que em 2008. Naquela época, Fazenda e Banco Central atuavam de forma divergente, com frequentes conflitos. Hoje, a equipe econômica está mais coesa, uma vantagem considerável em época de incertezas e turbulência.”
sexta-feira, agosto 19, 2011
Santayana: não subestimem a Direita
Do Conversa Afiada
O Conversa Afiada reproduz texto de Mauro Santayana, extraído do JB:
A sombra dos anos 30
por Mauro Santayana
O século passado teve como eixo a década de 30. Ela se iniciou com a crise econômica mundial, que estas últimas horas de angústia nos mercados financeiros fazem lembrar, e se fechou com a conseqüência prevista pelos céticos: o início da Segunda Guerra Mundial. Foram os anos do grande confronto entre a esquerda e a direita, com contradições, idas e vindas, ilusões e tragédias, que os livros registram. Em suma, sinistras lições aos homens, que devem ser meditadas, para que o mundo não volte a ser encharcado de sangue.
Muitas são as teorias que tentam explicar aquela amostra do apocalipse. A mais conhecida é a de que, derrotada e humilhada em 1918, a Alemanha buscava a revanche com Hitler. Para isso, seu líder, encarnando o velho orgulho prussiano, obtivera o apoio da Nação a fim de vingar-se de seus inimigos e expandir o espaço vital, que consideravam necessário à plena realização de seu destino de povo de senhores.
Naqueles anos e meses da República de Weimar, mais do que em outras épocas históricas, as distorções da linguagem serviram para confundir e desorientar os homens. A esquerda buscava construir, na antiga Rússia, uma sociedade socialista. Hitler começou filiando-se a um pequeno partido de trabalhadores, que ele dominaria e o ampliaria no Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Os comunistas e socialistas alemães menosprezaram aquele grupo de bêbados, que se vestiam militarmente e brandiam slogans primários. A Alemanha não é a Itália, declarou, confiante, aos que temiam o totalitarismo no país, Ernst Thälmann, o lendário dirigente do Partido Comunista Alemão, depois de ter sido derrotado nas eleições presidenciais de 1932, por Hindemburg, e da ascensão de Hitler à chefia do governo, à frente da coligação de direita, graças ao apoio dos católicos. Em março de 33, poucas semanas depois, Thälmann seria metido no campo de concentração de Buchenwald, onde foi executado em agosto de 1944.
Os democratas e as organizações de esquerda não souberam unir-se, ali, para a resistência – o que reclamava a construção de uma idéia forte de centro político, a fim de impedir, a tempo, a ascensão dos nazistas. Não souberam unir-se ali, nem em outras nações. O caso mais dramático, fora da Alemanha, foi o da Espanha. Como anotou Salvador de Madariaga, de resto um homem rigorosamente de centro, o malogro da República Espanhola foi o malogro do centro político. Ao crescer o radicalismo tanto na direita quanto na esquerda, não houve espaço para a moderação do centro. Mais poderosa – com a ajuda dos fascistas italianos e dos nazistas, e a total adesão da hierarquia da Igreja Católica – a direita esmagou a República, depois de quase três anos de conflito. De nada valeu a pouca ajuda soviética que conseguia chegar ao país – nem a presença simbólica dos corajosos intelectuais que formaram as Brigadas Internacionais. Madariaga tinha razão: se tivesse havido o entendimento entre os partidos de esquerda, que mal se acomodavam na Frente Popular, e, depois, com as forças de centro, não haveria clima para a insurreição dos generais Sanjurjo, Mola, Queipo de Llano e Francisco Franco. Madariaga foi rigorosamente de centro no eclodir do conflito: como embaixador da República, não tomou partido na guerra, mas se tornou vigoroso opositor da ditadura franquista, e só voltou à Espanha em 1976, depois da morte do ditador.
Menosprezar a direita tem sido, mais do que erro de percepção política, ilusão criminosa. Na mesma Espanha, quando o governo dispunha de informes seguros da conspiração em marcha, o então chefe do governo, Casares Quiroga, recebeu a advertência do serviço secreto republicano com um muxoxo: se eles se levantam, eu vou me deitar. Em 1964 – recordam-se? – as esquerdas, também divididas em nosso país, percorreram as mesmas sendas da ilusão. Não só é vezo da esquerda subestimar as forças adversárias, mas também assusta-las, com os espantalhos da insurreição. Em seu favor milita realmente a ilusão. As Ligas Camponesas, armadas de fé e de espingardas cartucheiras, cresciam seu ilusório poder, diante da classe média em pânico. O mito de Che Guevara empolgava os jovens, da mesma maneira que a invencibilidade cubana, na Bahia dos Porcos, atiçava os ânimos bélicos de muitos de nós, os que vivemos aquele tempo.
Esse excurso ao passado não é por acaso. Estamos em tempo muito parecido aos anos 30. Nos Estados Unidos, um governo que tenta chegar ao centro, o de Obama, é acossado pelo Tea Party e pelos velhos texanos, que sempre estiveram na linha de frente do obscurantismo. Basta recordar que foi em Dallas que a direita eliminou Kennedy, ainda que o jovem presidente, como a história nos mostra, não fosse exatamente um liberal de esquerda. Do Texas vieram Bush pai e Bush filho, e os republicanos agora ameaçam buscar em Rick Perry, seu atual governador, e raivoso direitista, o oponente a Obama nas eleições vindouras.
A Europa caminha rapidamente para a direita, e os governantes buscam justificar a repressão policial como necessária, diante das crescentes manifestações populares contra o desemprego, a redução das pensões, a falta de moradias e de perspectivas para o povo - também comuns nos anos 30. A Espanha recebeu ontem a visita do papa Bento 16, cuja simpatia pela direita é notória. Os espanhóis foram às ruas, protestar contra os gastos governamentais com a recepção ao pontífice, em momento de gravíssima crise econômica interna. Ainda que o papa se tenha declarado contra a lógica do “lucro acima do direito das pessoas”, seus atos não confirmam a retórica. A posição do papa, diante das dificuldades da Península, foi bem exposta em visita anterior a Santiago de Compostela, quando Ratzinger expressou preocupação contra a crescente laicidade dos espanhóis e o seu anticlericalismo, “que lembra os anos 30”, e pediu “nova evangelização” na península. A “evangelização” franquista dos anos 30, apoiada na Opus Dei e no garrote vil, nós já conhecemos. Que outra “evangelização” pretende agora o papa, quando se queixa da liberdade de pensamento na Espanha atual?
A presidente Dilma Roussef atribuiu-se duas missões em seu governo: a de combater a corrupção e a de eliminar a miséria que ainda assola grande parte de nosso povo. E a direita nacional, ainda que com certa dissimulação, começa a articular-se. Isso vai exigir da esquerda, no diálogo com o centro, grande esforço, para a criação de força política de centro, organizada e articulada, firme em sua ação, a fim de dar o suporte da nação, para que possa enfrentar o vendaval internacional – com a crise econômica, o renascimento brutal do racismo na Europa e a reorganização dos nazistas e fascistas.
A Alemanha, contra o otimismo dos comunistas e socialistas, repetiu, em 30, com mais tragédias, o fascismo italiano. Por pouco, os integralistas não se apossaram do Brasil, nos anos 30. Sofremos o que sofremos sob a direita nacional, a partir de 1964. Essas lições dos anos 30 nos exigem acurada vigilância e a visão real do processo histórico. A direita está aí, firme, construindo sua vez e sua hora.
Potencial inaproveitado
CARTA MAIOR
De que adianta lançar o Programa Brasil Maior, quando o câmbio, afetado pela elevada Selic está contribuindo para acelerar a desindustrialização no Brasil? Com a enxurrada de dólares no mundo, manter a Selic nesse nível absurdo é permitir aos especuladores internacionais lucros elevados sem correr riscos, podendo repatriá-los sem maiores problemas em prazos curtos. Está dada oportunidade ímpar de reduzir a Selic. Caso isso não ocorra, os capitais internacionais irão continuar aproveitando de aplicações financeiras que dêem lucros fáceis e o Brasil continuará a funcionar como um ímã para atraí-los. O artigo é de Amir Khair.
Amir Khair (*)
Apesar de todo potencial que o Brasil possui, pouco foi aproveitado pelos sucessivos governos que conduziram o País. Temos posição estratégica em commodities, alimentos, matriz energética limpa, abundância de água, petróleo e imenso mercado interno a ser aproveitado.
O governo Lula se distinguiu do governo FHC por priorizar o crescimento econômico através da ampliação da classe C, ao praticar políticas de estímulo na base da pirâmide social e marcar seu segundo mandato com o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC).
O governo FHC usou como estratégia a atração de investimentos do exterior ao priorizar a privatização das empresas estatais. Não deu certo, fragilizou os fundamentos macroeconômicos deixando as contas internas externas em má situação, além de praticamente esgotar as reservas externas do País, obrigando-o a recorrer ao FMI.
Vários analistas consideram, no entanto, que ambos usaram o tripé: superávit primário, câmbio flutuante e metas de inflação e, concluíram que não houve mudança de política econômica, como se esse tripé definisse a política econômica, que envolve principalmente o crescimento econômico, que está ausente do tripé.
A falha de ambos foi ter dado as rédeas da economia ao comando do Banco Central (BC), que tem forte dependência do mercado financeiro, que lucra com a Selic, a taxa básica de juros mais elevada do mundo. Além disso, não puseram nenhum limite às taxas de juros cobradas pelos bancos, também, as mais altas do mundo.
Já passou da hora de retomar as rédeas da economia para as mãos do governo e o que se impõe é reduzir imediatamente as taxas de juros que caracterizam o Brasil como o paraíso da agiotagem legalizada.
A pergunta que cabe é: será que Dilma irá romper com essa dependência e reduzir rapidamente a Selic? A oportunidade se apresenta agora. Neste momento em que a crise que se alastra no centro do capitalismo – EUA, Europa e Japão – a tendência é de queda nos preços das commodities, que têm influenciam sobre a inflação e, passou o primeiro quadrimestre quando sazonalmente ocorre cerca de 40% da inflação do ano.
Receio, no entanto, que essa oportunidade poderá, mais uma vez, ser jogada fora.
Lendo os jornais do dia 15, surgiram várias matérias de analistas, que avaliavam que as taxas de juros poderiam, face à crise, começar a cair. Mas, eis que leio a manchete do Valor Econômico: “Dilma pede austeridade e cautela para baixar juros”. Nessa matéria, segundo relato de um interlocutor, teria dito: "Ninguém mais do que eu quer baixar a taxa de juros, mas não é assim tão fácil. Não é uma questão de vontade".
Aqui cabe, então, a indagação: não é uma questão de vontade manter durante mais de uma década o título de País com a maior taxa de juros do mundo, disparado na frente do segundo pior colocado? A resposta só pode ser afirmativa.
É a vontade do mercado financeiro, que predomina na condução da economia, em estreita aliança com o Banco Central (BC), que não têm independência operacional alguma, pois é uma grossa anomalia sob o pretexto de controlar a inflação praticar taxas de juros muito superiores ao que vigoram internacionalmente, mas que possuem inflação semelhante à nossa.
O BC já avisou que prefere esperar os dados de inflação do mês de agosto, que serão divulgados mês que vem, antes de decidir sobre cortes nos juros. Se ficar comprovado o recuo dos preços haverá, segundo o BC, espaço para redução da taxa Selic. Analistas acreditam que uma desaceleração da economia no segundo trimestre, cujo resultado sai no início de setembro, também pode levar o BC a cortar juros na reunião seguinte.
O Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), que serve como uma proxy mensal para o PIB apresentou queda de 0,26% em junho em relação a maio, em termos dessazonalizados. Em comparação com o mesmo mês do ano passado, o IBC-Br desacelerou de crescimento de 4,2% em maio para 2,9% em junho. Esses resultados confirmam a desaceleração da atividade doméstica no segundo trimestre deste ano, em linha com o que a produção industrial e as vendas do comércio varejista têm mostrado para este mesmo período.
Sempre é bom lembrar que ocorreu forte pressão no início do ano para o governo federal reduzir suas despesas, considerada fundamental pelos analistas conservadores como necessário para a queda da inflação. Como resposta o governo efetuou um corte no orçamento de R$ 50 bilhões, que atingiu diversos programas e investimentos.
Interessante, no entanto, observar que as despesas com juros nos últimos doze meses até junho atingiram R$ 223 bilhões. Parece brincadeira a maneira como se trata da questão fiscal no País. Até hoje, mesmo dentro do governo, os juros são um caso à parte. É como se não fizesse parte das despesas. Isso obriga a cortar despesas que deveriam ocorrer, especialmente, em investimentos e programas de transferência de renda, cujos resultados contribuem para o desenvolvimento do País.
De que adianta lançar o Programa Brasil Maior, quando o câmbio, afetado pela elevada Selic está contribuindo para acelerar o processo de desindustrialização do Brasil?
Com a enxurrada de dólares sobrando no mundo, manter a Selic nesse nível absurdo é permitir aos especuladores internacionais lucros elevados sem correr riscos, podendo repatriá-los sem maiores problemas em prazos curtos. Estão saqueando o País com a complacência do governo. O IOF de 6% para tentar frear esse saque não consegue conter a especulação e uma das formas que vem sendo usada é através do investimento direto de estrangeiros, isento do IOF de 6%, que não tem controle por parte do governo sobre a sua real aplicação.
As análises econômicas confluem cada dia mais para um quadro de estagnação nos impropriamente chamados de países desenvolvidos: EUA, Europa e Japão. Não conseguirão se livrar da crise que paralisou suas economias durante vários anos. São países cuja classificação deveria passar a ser de países estagnados ou em decadência. Isso poderá levar a uma queda nos preços das commodities e alimentos no mundo, o que contribui para reduzir a inflação, mas prejudica as contas externas do País.
Está dada oportunidade ímpar de reduzir a Selic. Caso isso não ocorra, os capitais internacionais irão continuar aproveitando de aplicações financeiras que dêem lucros fáceis e o Brasil continuará a funcionar como um ímã para atraí-los. Com isso o real se aprecia sem parar perante o dólar e fica cada vez mais difícil competir com o produto estrangeiro.
Essa é a política que vem sendo adotada desde o Plano Real para combater a inflação. É a denominada “âncora cambial”, que impede que haja remarcação de preços quando ocorre um aumento da demanda interna. Pode ser útil para evitar abusos das empresas que aumentam suas margens de lucro, elevando seus preços, causando inflação.
O produto importado é um regulador de preço. Essa função é importante para o controle inflacionário. Ocorre que o excesso de dólares injetado pelos EUA acabou por artificializar o câmbio em todos os países, à exceção da China que mantém a paridade cambial com o dólar praticamente inalterada, pois não quer perder sua posição de forte exportador mundial. Isso garante emprego aos chineses e, reduz desemprego nos países que têm seus produtos substituídos pela forte concorrência chinesa.
Para controlar esse processo, o governo tem à sua disposição vários instrumentos de proteção às empresas sediadas no País. Entre eles, o estabelecimento de preços mínimos e/ou quantitativos máximos para o produto importado, calibrar melhor os impostos de importação, etc.
Vamos aguardar os próximos passos do governo e verificar se quer ou não aproveitar o imenso potencial que o País possui, que está sendo desperdiçado pela ação nefasta do BC.
quinta-feira, agosto 18, 2011
A compulsão da notícia levou à idiotia
O Estadão traz uma matéria que é um primor. O cidadão que a escreve tem tanta vontade de mostrar que o Brasil está em crise que tortura a matemática de forma atroz, tentando mostrar que estamos na iminência de uma crise de desemprego.
É óbvio que a geração de 140 mil empregos em julho, divulgada pelo Caged, ontem, poderia ter tido números mais largos. Na verdade, para continuarmos na situação de virtual pleno emprego em que nos encontramos – com taxas abaixo de 7%, fica-se perto da busca de emprego residual provocada pela rotatividade de mão de obra – precisamos criar perto de 200 mil empregos/mês, para alcançar um saldo em torno de 2 milhões por ano de novos postos de trabalho. Portanto, os 140 mil empregos criados em julho ficam abaixo disso, como os números de abril, maio e junho ficaram acima.
Mas a câmara de torturas estatísticas do Estadão não perdoa.
“Nos últimos cinco meses, a velocidade do crescimento das demissões superou a das contratações, mas, como a geração de vagas mantém vantagem o ano inteiro, o desemprego ainda não é rápido o suficiente para ultrapassar o emprego. Em outras palavras, a criação de vagas de trabalho passou de lebre a tartaruga”.
Ei, alô, atenção, senhor repórter, cadê a tartaruga?
De janeiro a julho, houve um saldo líquido de 1,59 milhão de contratações. É, apenas, o segundo melhor da história do país. Só perde para 2010, quando foram criados, no período, 1,65 milhão de vagas, E ganha de 2008, antes da crise mundial, que teve, no mesmo intervalo, 1,56 milhão de novos empregos.
O segundo melhor resultado de emprego da história do país pode ser chamado assim?
Mas se o repórter quiser achar uma tartaruga, a gente ajuda.
É só olhar o gráfico ao lado e ver que a tartaruga ficou lá para trás, no Governo Fernando Henrique Cardoso – aquele da “roda presa” – quando, no mesmo mês, a média de criação de empregos, em oito anos, andou na casa de 25 mil vagas a cada mês de julho.
E o exercício da previsão do caos continua, de uma maneira simplória, como se não fosse óbvio que num quadro de crescimento estável a velocidade de crescimento do emprego não pode ser a mesma que num momento de recuperação econômica, assim como o fato de apertar-se menos o acelerador em um carro que vai a 80 km por hora do que quando ele está a 40 não quer dizer que se esteja correndo menos.
O número total de empregos com carteira assinada cresceu 4,43% em relação a dezembro de 2010. Como a população ativa cresceu perto de um quarto deste índice, é óbvio que o emprego subiu.
Que o Estadão torça para o Brasil ficar de roda-presa e empregar menos, a gente até compreende. Mas começar uma matéria dizendo que “o mercado de trabalho perde fôlego no ritmo mais veloz desde o início da crise internacional de 2008″ quando qualquer aluno de ginásio sabe que amargamos um final de 2008 e início de 2009 com saldo negativo de dezenas e até centenas de milhares de empregos, passa dos limites da torcida macabra e chega às fronteiras da idiotia.
Do Tijolaço do Brizola Neto
Omeletes quebram ovos
Quem tem razão não teme companhia, mas não baixa a cabeça
Do Tijolaço do Brizola Neto
A Presidenta Dilma tem toda a razão em afirmar, como fez hoje, que “a verdadeira faxina que este país tem de fazer é a faxina contra a miséria”. E também em afirmar que “nossa maior riqueza não é o petróleo, não é o minério, não é a nossa sofisticada agricultura, nossa maior riqueza são os 190 milhões de brasileiros”.
Mas a Presidenta não é, certamente, ingênua de achar que o Brasil inteiro se unirá num “grande abraço republicano, olhando para os brasileiros que mais precisam”.
A miséria no Brasil não é uma desgraça cultural, climática, filosófica ou sociológica. É fruto de um modelo econômico que foi imposto e é sustentado por forças políticas que não têm o menor pudor em concordar, em tese, com aquelas afirmações, nem de publicar estas profissões de fé nas páginas de papel couché de seus “balanços sociais”.
Nossa miséria não é de “geração espontânea”. Dos senhores de engenho aos investidores modernos, ela é fruto da apropriação da riqueza natural e do trabalho das coletividades humanas, ao quais encaram como “custo”, não como elemento dinâmico do crescimento da economia.
A nossa riqueza não é o petróleo, não é o minério, não é a nossa sofisticada agricultura, são os brasileiros. Mas são aqueles, e não estes, que lhes importam de verdade.
É dever republicano de um chefe de Estado convocar todos, sem distinção, para o combate à miséria. Mas é também seu dever saber, como sabe Dilma, que o crescimento econômico com inclusão social só não tem inimigos “em tese”. Porque, na prática, os beneficiários do modelo excludente e gerador de miséria vão se aferrar com seus dentes e garras ferozes aos privilégios que, para eles, transformam o Brasil num paraíso.
Do Tijolaço do Brizola Neto
A Presidenta Dilma tem toda a razão em afirmar, como fez hoje, que “a verdadeira faxina que este país tem de fazer é a faxina contra a miséria”. E também em afirmar que “nossa maior riqueza não é o petróleo, não é o minério, não é a nossa sofisticada agricultura, nossa maior riqueza são os 190 milhões de brasileiros”.
Mas a Presidenta não é, certamente, ingênua de achar que o Brasil inteiro se unirá num “grande abraço republicano, olhando para os brasileiros que mais precisam”.
A miséria no Brasil não é uma desgraça cultural, climática, filosófica ou sociológica. É fruto de um modelo econômico que foi imposto e é sustentado por forças políticas que não têm o menor pudor em concordar, em tese, com aquelas afirmações, nem de publicar estas profissões de fé nas páginas de papel couché de seus “balanços sociais”.
Nossa miséria não é de “geração espontânea”. Dos senhores de engenho aos investidores modernos, ela é fruto da apropriação da riqueza natural e do trabalho das coletividades humanas, ao quais encaram como “custo”, não como elemento dinâmico do crescimento da economia.
A nossa riqueza não é o petróleo, não é o minério, não é a nossa sofisticada agricultura, são os brasileiros. Mas são aqueles, e não estes, que lhes importam de verdade.
É dever republicano de um chefe de Estado convocar todos, sem distinção, para o combate à miséria. Mas é também seu dever saber, como sabe Dilma, que o crescimento econômico com inclusão social só não tem inimigos “em tese”. Porque, na prática, os beneficiários do modelo excludente e gerador de miséria vão se aferrar com seus dentes e garras ferozes aos privilégios que, para eles, transformam o Brasil num paraíso.
terça-feira, agosto 16, 2011
Vídeo institucional - Escolas Técnicas - Expansão de campi de universidades federais
COMENTÁRIO E & P
Essa é a política correta para um projeto de nação. Os tucanos que eram subvernientes aos interesses estrangeiros só tinham preocupação de acabar com a universidades públicas para privatizá-las. Houve universidade federal que não tinha nem dinheiro para pagar a conta de luz no tempo do PSDB. A Universidade de São Paulo que está sob controle dos tucanos há mais de 16 anos passa por um processo de desconstrução. Faltam professores, material, não há ampliação e nem futuro. O Brasil hoje é um outro país graças ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dá orgulho ver o país ampliando suas universidades e dando oportunidades a todos os brasileiros para que estudem. O ensino superior antes do Lula era visto como um bem só para as camadas mais ricas da sociedade. Atualmente qualquer um pode nos inúmeros programas implantados pelo governo federal ter acesso ao ensino superior. Democratizamos o ensino superior no Brasil, graças ao povo brasileiro que teve coragem para mudar e eleger um presidente comprometido com seu povo, seu país e seu mundo.
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