quinta-feira, agosto 25, 2011

1968: Robespierre trai Cohn-Bendit. 1961: Globo persegue Brizola




Redação Conversa Afiada

Este ansioso blog já tratou de “João Goulart – uma biografia” , do historiador Jorge Ferreira.

A primeira impressão foi que Ferreira tivesse aplicado ao historialista Elio Gaspari, aquele de múltiplos chapéus, o devido tratamento: Gaspari ajudou a propagar a lorota de que Jango estava marcado para morrer porque gostava de coristas.

Com a evolução da leitura, porém, o ansioso blogueiro percebeu que Ferreira tratava Gaspari como um Heródoto, um Tucídides.

(Já houve um americano que o considerou Joaquim Nabuco. Breve, o Magnolli , o Conti ou o Villa o chamará de “o nosso Braudel”.)

Gaspari, como se sabe, escreveu infindável obra para provar que Geisel e Golbery são o Washington e o Jefferson da “Democracy in Brazil”.

(Que Tocqueville perdoe a intimidade.)

Embora Maurício Dias tenha a suspeita – de que esse ansioso blogueiro compartilha – de que o Golpe de 1964 tenha começado e acabado em Washington.

Na pág. 12, o Globo desta quinta-feira sustenta tese interessante, a propósito dos 50 anos da Rede da Legalidade de Brizola – clique aqui para ler -, que deu posse ao Presidente constitucionalmente eleito, João Goulart.

Ferreira sustenta que Brizola iludiu a esquerda.

Com a vitória retumbante de 1961, Brizola, um ilusionista, cruza de Átila, o rei dos Hunos, e Houdini, instigou a “esquerda” a ir para o “na lei ou na marra”.

E deu no que deu, aquilo que o Globo, em editorial na primeira página do dia 2 de abril de 1964 chamou de a ressurreição da democracia.

(Dias depois, o Globo, dedo-duro, publicava a lista dos intelectuais e artistas que mereciam ser “justiçados” pelos ressurretos democratas.)

Foi tudo culpa da vitória do Brizola, que restabeleceu a democracia em 1961.

Mas, o próprio professor Ferreira mostra que Jango não esboçou a menor reação.

Não acreditava no Golpe, nem na capacidade de impedí-lo.

Por quê ?

O professor Ferreira ele mesmo explica: porque San Tiago Dantas, mineiro, sabia que os mineiros Magalhães Pinto e Afonso Arinos tinham o apoio militar e diplomático dos Estados Unidos.

Se Magalhães Pinto decretasse Minas um “Estado Livre Associado”, como Porto Rico e a Inglaterra, Lyndon Johnson e Lincoln Gordon apoiariam incondicionalmente.

Mauricio Dias tem outra explicação, muito razoável.

Jango não resistiu porque percebeu que tinha perdido a política.

Se em 1961 e no Plebiscito tinha a Lei e a Constituição ao lado dele, não conseguiu inscrever as Reformas de Base no mesmo quadro.

A UDN e o PiG (*) conseguiram transformar as reformas numa ruptura.

E, aí, sim, o radicalismo de Brizola e Julião pode ter ajudado os conservadores (e golpistas) a mobilizar uma parte da classe média.

(Embora, como lembra Ferreira, o IBOPE daqueles dias mostrasse elevada popularidade de Jango e apoio às reformas.)

Mas, ponderam Dias e Ferreira, o PSD (com a traição de JK – PHA) já tinha dilapidado a base parlamentar que sustentou a posse em 1961 e derrubou o parlamentarismo em 62.

E o Brizola já não contava mais com o Comandante do III Terceiro Exército.

Agora, daí a querer dizer que Brizola tapeou a esquerda vai uma pequena distância.

É como dizer que Robespierre de 1789 tapeou o Cohn-Bendit de maio de 1968.

Como se Cohn-Bendit se inspirasse no Comitê de Saúde Publica da Revolução Francesa para incendiar Paris.

Cohn-Bendit só se deu bem – e a vitória ainda não terminou – em obra monumental de outro historialista, também colonista (**) do Globo.

É que o Globo não se emenda.

Não engoliu até hoje as duas vitórias do Brizola para Governador do Rio – contra o Roberto Marinho.


Paulo Henrique Amorim


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

Do Conversa Afiada

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