domingo, março 31, 2013

O desenvolvimento de um país é uma equação política, feita por uma elite, é preciso construí-la

Evaristo Almeida

No regime feudal na idade média havia o processo de vassalagem em que um senhor feudal devia ser fiel ao proprietário mais forte. Ele deveria pagar impostos e se colocar ao lado deste senhor feudal em caso de guerra. Em troca o feudo mais rico e forte mantinha a segurança dos senhores feudais, digamos de segunda linha, mantendo também inalterado os privilégios que esse grupo tinha dentro de uma concepção mais ampla.

Com o advento do capitalismo isso mudou, pois foi criado o conceito de nação que superou a partilha da terra em feudos.
Essa ideia de nação não floresceu automaticamente na Europa e nem nos demais países, mais foi num processo de lutas sociais e econômicas na busca da industrialização, que não foi um processo fácil e linear.

A Inglaterra saiu na frente na industrialização e logo os economistas ingleses criaram teorias econômicas para sacramentar o desenvolvimento industrial inglês, criando a teoria da vantagem comparativa, que pregava que países deveriam produzir bens industriais enquanto outros se especializavam em explorar produtos primários.
Quem mostrou que essa teoria era de interesse nacional da Inglaterra e lutou contra foi o economista alemão Georg Friedrich List, que percebeu que sem proteção do mercado interno nenhuma nação se desenvolveria. Ele foi muito influenciado por Alexander Hamilton, cujo relatório sobre manufaturas, garantiu que os Estados Unidos se desenvolvessem.

Ao longo do tempo vários países foram tomando medidas econômicas e sociais que garantiram o seu desenvolvimento. Países como o Japão, os Estados Unidos, a França, a Alemanha, entre outros.
Mas a busca desse desenvolvimento não foi sem luta política, pois uma parte das chamadas elites locais, educadas segundo os dogmas econômicos e sociais achavam que somente o livre mercado poderia levá-los a se constituírem numa nação rica.

Em várias países foram se constituindo o que chamo de elite, forjada num projeto de nação, com desenvolvimento social e econômico. O Japão com a dinastia Meiji, implantada em 1868 foi um desses. O plano incluiu educar toda a população e investir na industrialização. O Japão nunca leu Adam Smith, nem David Ricardo, economistas ingleses, e muito menos o mais pernicioso de todo, Malthus, que pregava que o pobre deveria ser jogado à própria sorte.
Na América Latina as ideias econômicas liberais sempre foram muitos fortes. O processo de colonização foi ruim para o continente, tanto que nenhum país que foi colônia no sentido clássico conseguiu se desenvolver no mundo. No continente foi implantada uma subelite, um grupo, que apesar de estar no topo da pirâmide social abriu mão de um projeto do desenvolvimento nacional.

Esse é o conceito de subelite que espero desenvolver aqui, é um processo como no regime feudal de vassalagem, sendo leal ao feudo mais forte, hoje representado pelos Estados Unidos, a Europa Ocidental e o Japão. Em troca esse grupo social se beneficia junto com as demais nações da espoliação do seu povo. O juro alto pago no Brasil aos rentistas é uma forma de benefício à subelite local.
Eles não desejam buscar a hegemonia mundial, melhorando social e economicamente o país em que vivem. Representam os interesses estrangeiros no país. E quando são governos, são apenas fantoches, seguindo diretrizes dos países centrais, principalmente dos Estados Unidos.

Na América Latina esse processo ficou muito claro na década de 1990, em que governos neoliberais eram teleguiados de Washington, seguindo o que mandava o Fundo Monetário Mundial, o Banco Mundial e o Departamento de Estado dos Estados Unidos. Vide os governos de Fernando Henrique Cardoso, no Brasil, de Menem, na Argentina e Fujimori no Peru.
A imprensa no continente é parte vital desse esquema de poder entre os países centrais e a subelite. Ela é controlada por interesses exógenos dos povos da América Latina. Assim tanto faz a imprensa brasileira, como a hondurenha, paraguaia, Venezuela, argentina ou outra, a pauta será sempre a mesma. Os governos do mundo que levantarem a cabeça contra o subdesenvolvimento e a exploração dos seus povos, como fez Chávez ou Rafael Correa, são tratados como ditadores, enquanto ditaduras amigas dos Estados Unidos, da Europa e do Japão, nada é dito sobre a falta de democracia.

Eles invertem países democráticos como Venezuela e Equador, que não tem nenhum preso político e os governos são eleitos são pautados por toda a imprensa das Américas como ditaduras, simplesmente porque os países centrais não estão se locupletando em cima desses povos. Enquanto outros países, principalmente árabes que são petromonarquias, recebem um tratamento como se fossem democracias.

Governos progressistas como o de Lula, Dilma Rousseff, Cristina Kirchner e Evo Morales também são combatidos diuturnamente por uma imprensa que a pretexto da liberdade de imprensa, age segundo o que manda o Departamento de Estado dos Estados Unidos. Apoiaram o golpe em Honduras e no Paraguai e apoiariam em qualquer outro país, desde que seja para colocar um governo teleguiado por Washington.

No Brasil ao longo da história sempre houve tentativa de se construir uma elite para iniciar o desenvolvimento social e econômico do país. Os inconfidentes foram um deles. A Revolução de 1930 constituiu essa elite, mesmo com o esperneio da subelite, que reagiu através da contrarrevolução paulista de 1932.

Essa elite foi se constituindo com o fortalecimento do trabalhismo no Brasil, em que trabalhadores, empresários, estudantes e políticos constituíram uma força formidável para o projeto de nação. O velho Partido Trabalhista Brasileiro - PTB era quem liderava politicamente esse grupo. A União Democrática Brasileira - UDN era o representante da subelite, querendo subordinar de novo os interesses do Brasil aos dos Estados Unidos e demais países hegemônicos.
De 1930 até o golpe de estado de 1964, o Brasil fez um processo formidável, criando empresas públicas e privadas em vários setores em que o país tinha necessidade. Apesar de Eugenio Gudin, o guru da subelite brasileira, defender a ideia de um país agrário; o Brasil se tornou irremediavelmente industrializado. Criamos a indústria siderúrgica, a naval, a de telecomunicações e a maior e mais odiada pela subelite, pelo que ela representa, a Petrobras.
A Petrobras representa em si um projeto de desenvolvimento nacionaç. Quem controlar a Petrobras terá o poder supremo sobre o Brasil. Se a Petrobras for inteiramente privatizada não haverá governo, mesmo que eleito pelo voto popular que consiga desenvolver o país.

O golpe de 1964 contra João Goulart foi tramado nos Estados Unidos porque o Brasil tinha um projeto de desenvolvimento nacional. O objetivo dos Estados Unidos, junto à subelite local, representada pela empresa Folha de São Paulo, Globo, Estado de São Paulo e outros empresários, com os militares sendo os artificies da carnificina que hora seria implantada aqui, que depois foi no Chile, no Uruguai e na Argentina.

O Brasil já tinha avançado muito, com uma classe operária lutadora por seus direitos, um partido político que era imbatível nas urnas e se aplicado o projeto de reforma agrária, junto com a melhoria da educação e projetos de infraestrutura, como queria João Goulart, hoje poderíamos ter um desenvolvimento compatível com o da Coreia do Sul, que com o apoio dos Estados Unidos aplicaram lá o projeto que seria feito aqui; por medo do comunismo da Coréia do Norte.
O fato é que hoje temos na pirâmide social brasileira, uma subelite, que governou o Brasil do golpe de estado até 2003. Em 2003 o projeto de nação começou de novo a ser reconstruído, com os governos Lula e Dilma.

É isso que a subelite brasileira não tolera, pois por representar os interesses dos países estrangeiros que não querem o Brasil desenvolvido, é capaz de tudo, até de inventar um golpe de estado como o de 1º de abril de 1964.
É isso que temos em 2014, um projeto de nação, formada pela elite trabalhadora e nacionalista brasileira, ou de novo, como em 1964, o aborto desse projeto de país que ora está se consolidando.

Quando Aécio Neves, fala mal da Petrobras, ele está buscando apoio de países estrangeiros, ávidos por nos surrupiar o pré-sal. Aecio e o PSDB se investem de Joaquim Silvério dos Reis, que traiu o país, na Inconfidência Mineira. Serra, segundo o conversa Afiada, já havia prometido dar o pré-sal para a Chevron. Atualmente o PSDB, o DEM e o PPS tem o papel histórico que teve a UDN, no passado. São o braço político atual da subelite brasileira.

E o que representa um projeto nacional de desenvolvimento?

As riquezas e o trabalho dos brasileiros sendo canalizados para o desenvolvimento social e econômico do país. Os povos dos Estados Unidos, da Europa e do Japão, vivem bem porque fizeram isso. Esses países tentam evitar que outros o façam, pois um mundo desenvolvido é um risco à hegemonia deles.
Então para continuarmos construindo um Brasil com igualdade para todos e melhoria de vida é preciso que sejamos essa elite capaz de neutralizar a subelite brasileira e tudo o que eles representam, que são juros altos, desemprego, desigualdade social, violência e um país sem futuro.

Então o conceito de elite dentro do desenvolvimento nacional são as forças capazes de implantar um projeto de desenvolvimento social e econômico do país, independente da sua condição intelectual ou econômica. E a subelite, apesar de ser a parcela mais rica do país, representam as forças retrógradas, que inercialmente, querem manter o país atrasado, subdesenvolvido e pobre. Os compromissos dessas forças não são com o povo brasileiro e sim com nações estrangeiras. São aqueles que vivem falando mal do Brasil e dizendo que esse país não tem jeito. A velha imprensa mercantil brasileira é a imagem e a voz dessas forças.

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