Febraban organiza jantar de fim de ano sem direito a acompanhante; hotel preferido já estava ocupado; no subsolo, salão de festas não permitia uso de celular; faltou heliponto para fugir dos alagamentos paulistanos; muxoxos e resignações ocuparam o lugar dos sorrisos rasgados de anos anteriores; Roberto Setúbal, do Itaú, Murilo Portugal, chefe da Federação, e José Luiz Acar, do Panamericano, entre outros, querem que o 2012 dos juros baixos termine o quanto antes
17 DE DEZEMBRO
247 – "Um jantar melancólico, como o ano dos bancos". O título escolhido pelo jornal Valor Econômico para encimar reportagem sobre a festa anual dos banqueiros diz muito. Organizada pela Federação Brasileira dos Bancos, teve mais muxôxos, resignações e até piadinhas sobre o ano magro das instituições financeiras do que as gargalhadas rasgadas de anos anteriores.
"Bônus? O que é isso?", perguntava-se numa roda de altos executivos, logo no comecinho da celebração, conforme relataram Vanessa Adachi, Carolina Mandl e Felipe Marques, jornalistas do Valor. "Ninguém se lembra mais", completou o homem, "agitando o copo de uísque no ar". Deu dó?
A queda nos juros, forçada por uma série de movimentos do governo, a agressividade dos bancos públicos na concessão de crédito e captação de novos clientes e a cruzada contra taxas e tarifas escorchantes levaram os banqueiros a lucros menores em relação aos que eles se acostumaram a ter ao longo de décadas. "O ano de 2102 foi frustrante", reconheceu o presidente do Tribanco, João Ayres Rabello Filho. A instituição é o braço financeiro do grupo atacadista Martins, um dos maiores do Brasil. Ele admitiu ao Valor que, em relação a vendas, os resultados do grupo "foram os melhores em quatro anos". Mas culpou a falta de reação no crédito pelos resultados que considera magros. "Nos bancos comerciais, este ano, os bônus serão baixíssimos, mais para retenção do que para premiação", acrescentou ele. Em tempo: para banqueiros, bônus baixíssimos podem significar dois, três, quatro ou mais salários à mais nesta época de final de ano. O simples 13º é coisa, apenas, para o trabalhador. Lá em cima é diferente.
Famoso pelo pagamento de bônus elevados à sua diretoria, o Itaú Unibanco foi representado pelo titular do Conselho de Administração, Roberto Setúbal. Ele foi um dos últimos a chegar ao convescote, realizado no Hotel Unique. Como qualquer mortal, sofreu com os alagamentos de uma noite chuvosa em São Paulo, no trajeto entre o Jabaquara, sede do grupo, e a avenida Brigadeiro Luíz Antonio, onde fica o hotel. Lá não tem heliponto, que pena...
"O crédito deve crescer 10% a 15%" em 2013, segundo Setúbal projetou ao Valor. Com a ressalva: "Mais nos bancos públicos, com os privados crescendo também". Numa tradução livre, a frase indica que, para 2013, não se verá o Itaú Unibanco na linha de frente da concessão de empréstimos ao público.
Estava presente, entre outros, o presidente do banco Panamericano, José Luiz Acar Pedro. Ex de Silvio Santos, que reclama ter sido passado para trás por André Esteves, titular do BTG Pactual, o Panamericano é a única unidade de negócios do próprio BTG (em sociedade com a Caixa Econômica Federal) que terá resultados fracos este ano. Mas, acredita Acar, 2013 será "um pouco melhor". Para quem conhece o BTG, melhor ele acelerar nas curvas, porque o ritmo lento de lucros sempre desperta oposição entre as dezenas de sócios minoritários de Esteves. Confusão na certa.
O anfitrião Murilo Portugal teve de caprichar para encobrir o momento. Ao longo do ano, mais de uma vez ele foi barrado em reuniões oficiais entre o governo e os banqueiros, em Brasília, em razão de sua oposição à política econômica. Ex-secretário do Tesouro no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, a escolha de Portugal para presidir a Febraban foi vista por setores do governo como uma provocação. Com efeito, o diálogo, com ele no cargo, considerado um economista ultraortodoxo, não fluiu. Isso fez com que as relações entre a área econômica e os donos das casas bancárias se tornassem ainda mais difíceis.
Na festa, que não deu direito aos banqueiros de levarem acompanhante, num sinal de corte de curtos, Portugal chegou ao lado do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, esforçando-se para ser agradável aos representantes da administração federal. A ministra chefe do Casa Civil, Gleise Hoffmann, braço direito da presidente Dilma Rousseff, estava lá. "Era preciso reduzir o custo do crédito no Brasil", amenizava ele, sobre a determinação do governo de baixar os juros bancários. "Isso não é só nossa tarefa, mas é um tarefa com a qual estamos comprometidos", ressalvou. Para um economista nada acostumado a ter atenção às posições alheias, até que já é um começo.
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