sexta-feira, julho 31, 2009

O Fretado em São Paulo









O serviço de ônibus fretado atende a uma parcela da população de maior renda. São pessoas que moram em cidades num raio de até 100 quilômetros da capital ou em bairros distantes e trabalham na cidade de São Paulo. Apesar de possuírem automóvel, preferem a comodidade do ônibus em que podem ir lendo o jornal, livro ou até mesmo dormindo, além da economia com combustível, pedágio e estacionamento.

A cidade de São Paulo não oferece um transporte público de qualidade. A rede metroviária é a menor entre as grandes capitais do mundo. O metrô de São Paulo é o mais lotado de todos; na linha 3 – Vermelha chegam a ser transportados mais de nove passageiros por metro quadrado, sendo que os técnicos recomendam o máximo de seis. A rede da CPTM que atende a cidade também não apresenta qualidade. Trens velhos e superlotados, estações centenárias sem acessibilidade e conforto configuram o quadro caótico da empresa.

A gestão do transporte sobre pneus a cargo da Prefeitura de São Paulo também não anda bem das pernas. O sistema, que na gestão da petista Marta Suplicy era bem avaliado pelos usuários, agora apresenta um baixo desempenho. Isso porque a gestão Serra/Kassab não continuou o projeto do Interligado deixado pela administração anterior.

A construção de corredores de ônibus foi pífia. Apenas poucos quilômetros do corredor da Avenida Vereador Diniz foram construídos e o Expresso Tiradentes, que já se encontrava parcialmente pronto, teve continuidade. O corredor de ônibus é essencial para aumentar a velocidade dos ônibus e melhorar a mobilidade urbana.

Além disso, a gestão Kassab não gerencia de forma adequada os corredores que estão prontos. Há invasão da faixa exclusiva para ônibus por carros particulares sem que haja fiscalização. O pavimento de boa parte deles está repleto de buracos, o que reduz a velocidade e causa desconforto aos passageiros.

A Prefeitura tinha anunciado a construção de seis corredores, mas houve resistência de alguns moradores de regiões de classe média e editoriais contrários de alguns jornais, causando o recuo do prefeito.

A renovação da frota está parada e as empresas foram autorizadas a rodarem com ônibus velhos, o que os contratos não permitem. O Interligado prevê ainda a construção de mais terminais de ônibus para facilitar o transbordo de passageiros, a instalação de GPS (sistema de localização e monitoramento) em todos os ônibus e modernização da gestão das empresas. Pelo cronograma inicial, ele deveria estar integralmente implantado, com mais de 300 quilômetros de corredores de ônibus, frota renovada constantemente, novos terminais e serviço de qualidade em 2008.

Nada disso foi feito e a Prefeitura tem optado pelo transporte individual em detrimento do coletivo. Houve redução da frota com aumento do número de passageiros. Como resultado a qualidade do transporte público ofertado pelo município piorou com ônibus cheios e desconforto dos usuários.

E esse sistema é o principal da cidade, pois transporta mais de oito milhões de pessoas diariamente, segundo dados da SPTrans, enquanto o Metrô transporta 3,5 milhões. De janeiro a maio de 2009, houve crescimento de 15,21% no número de passageiros nos ônibus municipais, sem contrapartida no aumento da frota.

O prefeito, ao invés de priorizar o transporte municipal sob sua gestão, criou o factóide de estar investindo no Metrô. Na verdade, do bilhão prometido, menos da metade chegou de fato à Companhia do Metropolitano de São Paulo. E como a Companhia não possui projetos para alavancá-lo, esse dinheiro ainda não está sendo gasto. Deveria primeiro ter terminado o Interligado que está só pela metade, oferecendo um serviço de qualidade para os usuários do transporte municipal que é a obrigação do prefeito Kassab. Depois de pronto o Interligado, aí sim, mandar recursos para o Metrô, que é da alçada do governado estadual.

A cidade de São Paulo precisa de pelo menos 200 quilômetros de Metrô, possui somente 61,3 quilômetros. Mas enquanto a cidade não tem essa malha, uma rede municipal eficiente poderia no médio prazo suprir a necessidade de transporte coletivo da metrópole.

É assim que cada vez mais o paulistano corre para o automóvel como meio de locomoção. E à medida que isso ocorre, os congestionamentos também aumentam proporcionalmente. E a Prefeitura sob gestão do Kassab não sabe o que fazer. Não tem proposta.

Primeiro, além de investir pesado no transporte municipal, deveria montar uma rede de semáforos inteligentes para melhorar o fluxo. É muito comum atualmente vários faróis ficarem apagados, prejudicando o trânsito em vias muito movimentadas. Em dia de chuva isso é uma constante. Contratar mais profissionais para a Companhia de Engenharia de Trânsito – CET, orientar e fiscalizar o trânsito dotá-los de equipamentos de comunicação e de guinchos para retirar rapidamente os veículos que quebram na via.

São soluções sistêmicas que exigem competência e planejamento. Na gestão paulistana nada disso está presente. O prefeito escolheu o caminho mais fácil e transformou o serviço de ônibus fretado em bode expiatório.

Provocou o caos em várias vias da cidade e está dificultando a vida de milhares de pessoas que utilizam o sistema para trabalhar. Além disso, incentiva a utilização do veículo particular, pois muitos usuários manifestaram que a partir de agora, pelas dificuldades impostas, vão preferir ir de carro a usar o transporte público pela má qualidade ofertada. Ou seja, tende a piorar o trânsito da cidade.

Os passageiros do fretado tiveram seus custos de transportes aumentados, por serem obrigados a pegar o metrô e mais um ônibus para chegar ao trabalho, terão desembolso adicional de R$ 187,50 por mês, ou R$ 2.062,50 anualmente.

A gestão dos transportes em São Paulo está sendo feita de improviso. Falta planejamento, competência e prioridade ao transporte público. Uma cidade com mais de 11 milhões de habitantes não pode ficar a mercê de uma gestão que não sabe o que faz e que não tem projetos.

Nenhum comentário: