quarta-feira, março 12, 2008

PIB: Para Delfim Netto, FHC entregou país "falido"

Diego Salmen
Especial para Terra Magazine


Conhecido pela condução da economia brasileira no período do chamado "Milagre Econômico", durante os governos militares de Costa e Silva e Médici, o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto falou a Terra Magazine sobre o crescimento de 5,4% do PIB em 2007, divulgado nesta quarta-feira pelo IBGE. E comparou os índices nos governos Lula e FHC.

- O Fernando Henrique entregou o Brasil falido. Todo mundo se recusa a entender esse fato - critica.

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Professor emérito da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP), Delfim crê que o crescimento do País terá menos entraves daqui em diante.

- O Brasil, na minha opinião, se libertou das duas coisas que poderiam abortar o crescimento: a oferta de energia e o déficit em contas corrente não financiável - avalia.

No ano passado, o País também registrou um crescimento de 4% do PIB per capita (a soma do PIB dividida pela população brasileira), totalizando R$ 13.515,00 anuais. Além disso, o setor que teve a maior alta foi a agropecuária, com 5,3%, seguido por indústria (4,9%) e serviços (4,7%).

- A agricultura está bombando. O pessoal que fica falando, que fica criticando o governo, devia fazer uma viagenzinha para o interior para ver que o Brasil está crescendo lá, que é o que eles tentam esconder aqui - critica o ex-ministro.

Ele também faz um alerta para os riscos de se manter a atual política cambial do país, aludindo a frase proferida pelo presidente Lula - quando o Brasil se tornou credor externo - em referência a Deus.

- Esse câmbio é tão mais pernicioso quanto mais tempo ele continuar - afirma. - É por isso que o governo precisa fazer uma política industrial exportadora, para substituir a mãozinha de Deus quando ela decidir ir embora.

Procurada pela reportagem, a assessoria do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que ele não se manifestaria sobre as declarações de Delfim Netto. Fernando Henrique se recupera de uma cirurgia e, segundo a assessoria, passa bem.

Leia a seguir a íntegra da entrevista com o ex-ministro da Fazenda.

Terra Magazine - Qual sua avaliação do resultado dilvugado hoje?
Delfim Netto - Era o esperado. Nenhuma surpresa, e vou dizer mais: suspeito que quando vier a primeira revisão (do PIB), (o resultado) vai ser um pouquinho maior.

O senhor acha que esse crescimento se manterá em 2008?
Para 2008, na minha opinião, tá praticamente contratado.

O que sustentou esse resultado, professor?
Na verdade são as forças do mercado interno e a idéia que foi colocada através do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) de que o Brasil podia crescer. Então, você tem investimentos em infra-estrutura começando a dar sinais que estão melhorando, você tem mercado interno e salário real crescendo, emprego crescendo, importações e exportações crescendo...Não existe nenhuma limitação que possa abortar esse processo de crescimento, mesmo com grandes dificuldades no mundo, talvez você tenha alguma redução...

Como é o caso da crise nos Estados Unidos...
É, mas não creio que isso tenha uma influência maior. Acho que o crescimento vai persistir no nível que está hoje.

O setor que registrou a maior alta foi o da agropecuária. O que isso significa?
A agricultura está bombando. Ontem eu fui a Rondonópolis (MT). O pessoal que fica falando, que fica criticando o governo, devia fazer uma viagenzinha para o interior para ver que o Brasil está crescendo lá, que é o que eles tentam esconder aqui. Fui para Rondonópolis e pude observar coisas que ninguém vê.

Como por exemplo?
Como por exemplo o Brasil crescendo robustamente.

Qual a diferença entre o crescimento dos governos Lula e FHC?
A diferença é completa. O Fernando Henrique entregou o Brasil falido. Todo mundo se recusa a entender esse fato; em 2002, o Brasil estava (em tom enfático) fa-li-do. Estava com déficit, a exportação crescia 4% enquanto a divida crescia 6,5%. Tinha US$ 17 bilhões de reservas e tinha feito uma bela duma....dum apagão em 2001. E não satisfeito, fez a crise externa em 2002, o que aconteceu foi isto. Houve uma mudança, o mundo também mudou...o Lula tem sido humilde, agora diz "eu, mais uma mãozinha de Deus, conseguimos fazer a coisa rodar". Então a gente tem que reconhecer isso, que é o que está acontecendo.

Os defensores da gestão econômica do governo FHC dizem que a admnistração do PSDB enfrentou várias crises.
Olha, eu não acredito nisso. Esse negócio de que a administração do Fernando Henrique foi perseguida por Deus...Ninguém nem acreditava no bicho.

E agora estamos às portas de uma nova crise, nos EUA, não?
Na verdade nós cometemos erros graves na política cambial. Lamentavelmente a política cambial do Lula não é muito melhor do que foi no passado. A diferença é que realmente o Lula entendeu que a salvação do capitalismo está em melhorar a igualdade de oportunidades. É essa a diferença. O Brasil está vendo com um pouco mais de tranquilidade esse crescimento.

O câmbio, com o dólar se desvalorizando cada dia mais, pode complicar o crescimento?
Esse câmbio vai ter conseqüências no longo prazo. Esse câmbio é tão mais pernicioso quanto mais tempo ele continuar, porque ele vai ser combinado com um crescimento robusto, e é por isso que o governo precisa realmente fazer uma política industrial exportadora, para substituir a mãozinha de Deus quando ela decidir ir embora.

Pode ser que o superávit na balança comercial se reverta?
Isso não tem muita importância hoje. Na semana passada nós estávamos com US$ 196 bilhões de reservas, então nós temos tempo para corrigir qualquer coisa. O Brasil, na minha opinião, se libertou das duas coisas que poderiam abortar o crescimento: a oferta de energia e o déficit em contas corrente não financiável. Isso faz parte do passado.

E agora é bola pra frente?
Agora é bola pra frente.

Terra Magazine

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