Diego Salmen
Especial para Terra Magazine
Conhecido pela condução da economia brasileira no período do chamado "Milagre Econômico", durante os governos militares de Costa e Silva e Médici, o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto falou a Terra Magazine sobre o crescimento de 5,4% do PIB em 2007, divulgado nesta quarta-feira pelo IBGE. E comparou os índices nos governos Lula e FHC.
- O Fernando Henrique entregou o Brasil falido. Todo mundo se recusa a entender esse fato - critica.
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Professor emérito da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP), Delfim crê que o crescimento do País terá menos entraves daqui em diante.
- O Brasil, na minha opinião, se libertou das duas coisas que poderiam abortar o crescimento: a oferta de energia e o déficit em contas corrente não financiável - avalia.
No ano passado, o País também registrou um crescimento de 4% do PIB per capita (a soma do PIB dividida pela população brasileira), totalizando R$ 13.515,00 anuais. Além disso, o setor que teve a maior alta foi a agropecuária, com 5,3%, seguido por indústria (4,9%) e serviços (4,7%).
- A agricultura está bombando. O pessoal que fica falando, que fica criticando o governo, devia fazer uma viagenzinha para o interior para ver que o Brasil está crescendo lá, que é o que eles tentam esconder aqui - critica o ex-ministro.
Ele também faz um alerta para os riscos de se manter a atual política cambial do país, aludindo a frase proferida pelo presidente Lula - quando o Brasil se tornou credor externo - em referência a Deus.
- Esse câmbio é tão mais pernicioso quanto mais tempo ele continuar - afirma. - É por isso que o governo precisa fazer uma política industrial exportadora, para substituir a mãozinha de Deus quando ela decidir ir embora.
Procurada pela reportagem, a assessoria do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que ele não se manifestaria sobre as declarações de Delfim Netto. Fernando Henrique se recupera de uma cirurgia e, segundo a assessoria, passa bem.
Leia a seguir a íntegra da entrevista com o ex-ministro da Fazenda.
Terra Magazine - Qual sua avaliação do resultado dilvugado hoje?
Delfim Netto - Era o esperado. Nenhuma surpresa, e vou dizer mais: suspeito que quando vier a primeira revisão (do PIB), (o resultado) vai ser um pouquinho maior.
O senhor acha que esse crescimento se manterá em 2008?
Para 2008, na minha opinião, tá praticamente contratado.
O que sustentou esse resultado, professor?
Na verdade são as forças do mercado interno e a idéia que foi colocada através do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) de que o Brasil podia crescer. Então, você tem investimentos em infra-estrutura começando a dar sinais que estão melhorando, você tem mercado interno e salário real crescendo, emprego crescendo, importações e exportações crescendo...Não existe nenhuma limitação que possa abortar esse processo de crescimento, mesmo com grandes dificuldades no mundo, talvez você tenha alguma redução...
Como é o caso da crise nos Estados Unidos...
É, mas não creio que isso tenha uma influência maior. Acho que o crescimento vai persistir no nível que está hoje.
O setor que registrou a maior alta foi o da agropecuária. O que isso significa?
A agricultura está bombando. Ontem eu fui a Rondonópolis (MT). O pessoal que fica falando, que fica criticando o governo, devia fazer uma viagenzinha para o interior para ver que o Brasil está crescendo lá, que é o que eles tentam esconder aqui. Fui para Rondonópolis e pude observar coisas que ninguém vê.
Como por exemplo?
Como por exemplo o Brasil crescendo robustamente.
Qual a diferença entre o crescimento dos governos Lula e FHC?
A diferença é completa. O Fernando Henrique entregou o Brasil falido. Todo mundo se recusa a entender esse fato; em 2002, o Brasil estava (em tom enfático) fa-li-do. Estava com déficit, a exportação crescia 4% enquanto a divida crescia 6,5%. Tinha US$ 17 bilhões de reservas e tinha feito uma bela duma....dum apagão em 2001. E não satisfeito, fez a crise externa em 2002, o que aconteceu foi isto. Houve uma mudança, o mundo também mudou...o Lula tem sido humilde, agora diz "eu, mais uma mãozinha de Deus, conseguimos fazer a coisa rodar". Então a gente tem que reconhecer isso, que é o que está acontecendo.
Os defensores da gestão econômica do governo FHC dizem que a admnistração do PSDB enfrentou várias crises.
Olha, eu não acredito nisso. Esse negócio de que a administração do Fernando Henrique foi perseguida por Deus...Ninguém nem acreditava no bicho.
E agora estamos às portas de uma nova crise, nos EUA, não?
Na verdade nós cometemos erros graves na política cambial. Lamentavelmente a política cambial do Lula não é muito melhor do que foi no passado. A diferença é que realmente o Lula entendeu que a salvação do capitalismo está em melhorar a igualdade de oportunidades. É essa a diferença. O Brasil está vendo com um pouco mais de tranquilidade esse crescimento.
O câmbio, com o dólar se desvalorizando cada dia mais, pode complicar o crescimento?
Esse câmbio vai ter conseqüências no longo prazo. Esse câmbio é tão mais pernicioso quanto mais tempo ele continuar, porque ele vai ser combinado com um crescimento robusto, e é por isso que o governo precisa realmente fazer uma política industrial exportadora, para substituir a mãozinha de Deus quando ela decidir ir embora.
Pode ser que o superávit na balança comercial se reverta?
Isso não tem muita importância hoje. Na semana passada nós estávamos com US$ 196 bilhões de reservas, então nós temos tempo para corrigir qualquer coisa. O Brasil, na minha opinião, se libertou das duas coisas que poderiam abortar o crescimento: a oferta de energia e o déficit em contas corrente não financiável. Isso faz parte do passado.
E agora é bola pra frente?
Agora é bola pra frente.
Terra Magazine
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