sábado, outubro 12, 2013


Do Tijolaço

Num post desta madrugada, tratei das possibilidades que nos abriam os interesses estratégicos da China.

Obvio que não acho que os chineses sejam mais “bonzinhos” do qualquer um.

Mas isso abre espaço para que o Brasil deixe de ter o cóccix de borracha com que se desvirtuou a diplomacia brasileira da linha de buscar oportunidades para o Brasil para torná-la, erroneamente, apenas um oferecimento do Brasil como oportunidade.

Essa deformação correspondeu às décadas em que se deixou de ter uma visão estratégica do desenvolvimento brasileiro e em que a prioridade passou a ser, exclusivamente, “fechar as contas”, “fazer o dever de casa”, nos apresentarmos como “bons meninos” na ordem mundial.

Entre os mais velhos, muitos de nós aceitamos esta lógica submissa, a começar de uma intelectualidade que se perdeu na fatuidade de uma linguagem pomposa e oca, que servia apenas para mascarar seu afastamento do povo e a perda da ideia de nação.

Infelizmente, muitos estão mais dedicados à discussão sobre seus umbigos célebres, como mostra este caso ridículo das biografias, do que no país que os nutriu para florir.

Os mais velhos se lembram como o FMI nos dava “broncas” quando tirávamos “nota vermelha” nos seus exames. Não lembra? Então imagine, olhando o peso e a importância que nossa mídia dá a qualquer “pito” que nos venha de lá e das vozes do capitalismo financeiro mundial.

Pois essa nova postura abre caminho para um processo de exploração de nossas riquezas em sentido inverso ao que o neoliberalismo nos levou – e os maiores exemplos disso foram a internacionalização parcial do capital da Petrobras e a entrega da Vale a um projeto meramente exportador de minério.

Hoje, em seu blog, Mauro Santayanna trata destas oportunidades em outro campo, diferente mas com semelhanças daquele do qual tratei, o petróleo.

O dos minérios essenciais para o mundo da alta tecnologia que, não por acaso, recebem o nome de “terras raras”.

E da mudança de nosso papel de lugar dos “negócios da China” para o de negócios COM a China, à procura de maiores ventagens estratégicas para nosso país.

Nem é preciso dizer que Santayana, como este seu aprendiz aqui, temos fortes ligações com a China apenas na saudade dos tempos em que podíamos comer, sem remorsos, um pastel fumegante.

E, longe de ser esquerdismo, essa visão tem muito mais a ver com aquele be-a-bá que todo mundo, quando trata dos seus negócios, deve seguir: a análise de forças, fraquezas, oportunidades e ameaças.

E se a gente pensa nisso para o Brasil, é porque este país precisa de estratégia, para dar certo, porque ela é a ferramenta, para pessoas e para nações, de transformar desejos em realidades.

O Brasil e os negócios da China

Mauro Santayanna

Desde o início dos tempos, elementos tangíveis e intangíveis, como as matérias-primas, a inteligência e o conhecimento, determinaram a concorrência entre os estados e a ascensão e a queda de impérios e civilizações.

A espionagem, pelo Canadá, de computadores do Ministério de Minas e Energia, e a proposta que a União Européia pretende fazer ao Brasil, na próxima semana, no âmbito de “matérias- primas estratégicas” servem de alerta aos que acham que o advento de novas tecnologias vai sepultar ou diminuir a importância das commodities e das matérias-primas no xadrez geopolítico internacional, nos próximos anos.
Segundo declarou o vice-presidente da Comissão Européia e Comissário de Indústria e Empreendedorismo, Antonio Tajani, em entrevista ao “Valor”, ontem, a Europa pretende propor ao Brasil uma aliança para impedir que a China continue tentando “ter o monopólio de matérias-primas industriais” em escala planetária.
Por trás do eufemismo, está o interesse europeu em um verdadeiro “negócio da China”- que se encontra sob controle de Pequim, neste momento.
Uma alternativa de acesso a terras raras, um conjunto de minerais essenciais para o avanço tecnológico em setores estratégicos, como imãs, baterias de alto desempenho, levitação magnética, ótica, energia eólica, lasers, computação, diagnóstico por imagem, automóveis híbridos e elétricos, aviação, espaço, etc.
País mais populoso do mundo, segunda economia do planeta, e o maior produtor mundial – cerca de 90% – de terras raras, com uma rígida política de comercialização desses minerais, a China pretende três coisas: agregar valor à sua produção, processando-a e transformando-a em produtos acabados em seu próprio território; controlar sua oferta nos mercados internacionais, de forma a obter preços mais justos; e evitar a formação de estoques estratégicos no exterior – terras raras são de grande importância para a área de defesa, por exemplo – por parte de seus maiores competidores.
O grande problema dos países da OTAN, do ponto de vista geopolítico, é que a disponibilidade de terras raras está concentrada, hoje, em países como a China, a Índia, a África do Sul e o Brasil. Todos são nações do BRICS, e é preciso – para eles – evitar que se construa, a partir daí, uma aliança.
O Brasil, com grandes reservas – entre outros minerais de onde se extraem essas matérias-primas – de nióbio e areias monazíticas, já está discutindo, junto com o novo marco da mineração, uma Política Nacional de Minerais Estratégicos e Terras Raras.
É nesse sentido, estratégico e geopolítico, que tem que ser avaliada qualquer proposta européia.
Quem quiser ter acesso a nossas reservas, que se associe ao Brasil para processá-las e agregar valor, aqui mesmo, por meio de transferência de tecnologia.
Não custa nada ouvir o que os europeus têm a dizer. Mas é preciso também conversar com os outros. Começando – depois da UE – pelos BRICS, naturalmente.

Por: Fernando Brit

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