Voz da Rússia
Embora os EUA e a direção da União Europeia já tivessem declarado que não reconhecem o plebiscito da Crimeia, nem os seus resultados, a realidade geopolítica na região mudou.
Todavia as raízes destas mudanças e dos roteiros do posterior desenrolar dos acontecimentos devem ser procurados no limiar entre a década de 90 do século passado e os anos 2000.
Breve história política da Crimeia
É difícil de contestar o fato de que a situação em torno da Ucrânia tem desestabilizado já há vários meses a situação política e financeira na Europa e no mundo em geral. Mas uma concepção mais ampla do problema torna evidente que ela é continuação de mudanças geopolíticas e da “re-formatação” do espaço euro-asiático e norte-africano que tinha começado ainda na década 90 do século passado no “polígono” da antiga Iugoslávia. Mudou apenas o “matiz” deste processo: enquanto que durante a década de 90 e primeira metade da década de 2000 estas mudanças correspondiam basicamente aos interesses dos EUA, da União Europeia e da OTAN, a partir do início dos anos 2000 este processo passou a ser equilibrado pela crescente influência da Rússia e dos seus processos de integração.
O fator-chave foi, sem dúvida, a proclamação unilateral da independência de Kosovo em 2008, seguida pela reconhecimento apressado deste ato pelas potências ocidentais. Foi precisamente o precedente de Kosovo que determinou em grande parte o desenrolar dos acontecimentos em outras regiões conflituosas dos Balcãs, da região do mar Negro e do Cáucaso e a sua influência não acusa a mínima tendência de diminuir, confirmou à Voz da Rússia o perito Alexander Karasev:
“Tem-se a impressão de que o eco dos acontecimentos em Kosovo vai soar ainda durante muito tempo. A proclamação da independência de Kosovo em 2008 e o seu reconhecimento pelo Ocidente criaram um precedente. E este precedente ficará doravante no direito internacional”.
Trata-se da decisão do Tribunal Internacional de Haia de 2010 a respeito de Kosovo que tinha reconhecido na realidade que semelhantes declarações correspondiam ao direito internacional. Ainda em julho de 2009 a Casa Branca americana apresentou ao Tribunal Internacional da ONU um comentário em que se analisava a situação em Kosovo. Naquele caso Washington declarava que “o princípio jurídico de integridade territorial não impede que as formações não estatais anunciem pacificamente a sua independência”.
A União Europeia procura mesmo hoje reduzir ao mínimo a influência do referendo da Crimeia. Catherine Ashton, suprema representante da União Europeia para a política externa e política de segurança, exortou a Rússia a “entabular diálogo com a direção da Ucrânia e continuar conversações com a comunidade internacional a fim de diminuir a tensão e encontrar uma via política de saída da crise”.
A Rússia está pronta para as conversações. Mas a manifestação quase unânime da vontade dos habitantes da Crimeia é um fato consumado. E não é a Rússia quem deve responder pelo precedente de Kosovo que há seis anos tinha “reformatado” radicalmente o espaço geopolítico.
Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/2014_03_19/Autodetermina-o-da-Crimeia-Ocidente-colhe-os-frutos-da-sua-pol-tica-6335/
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