Fernando Brito
“Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma.”
Carta Testamento de Getúlio Vargas, 24/08/1954
Há uma semana que o amigo leitor e a cara leitora não leem nada nas manchetes dos jornais que não seja a tal compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras.
Opiniões, valores, declarações, suspeitas…
E quais são as suspeitas, afinal?
Até agora, tudo o que que o negócio que, no máximo, teria sido desvantajoso para a empresa diante das mudanças no mercado de petróleo – como pode ocorrer em qualquer grande empresa num ramo de risco.
margensAliás, o valor de uma refinaria, ligado à margem de lucro que ela produz ao refinar petróleo, é a gangorra que de 2011, mostrando que o ganho por barril refinado variou “apenas” entre mais de US$ 20 e US$ 5. Quatro vezes, “só”.
É óbvio que os estudos que embasaram a compra da refinaria, que se aprofundaram depois de uma carta de intenções de setembro de 2005, levaram em conta as margens de lucro médias vigentes no período, sempre muito altas, exceto no final de 2006, logo após sua compra quando houve – registra o Washington Post, “um colapso no lucro margens de refinarias de petróleo e uma queda de US $ 17 o barril nos preços do petróleo desde agosto”.
Como você vê no gráfico foi, como se previa, uma baixa pouco duradoura, numa expansão que continuou até a crise de 2008, quando, aí sim, as margens de lucro caíram de forma duradoura.
Portanto, foi, à época, um negócio dentro dos parâmetros de mercado.
É bom lembrar que, mesmo antes do pré-sal, época em que foi efetuada a compra, o Brasil tinha (e ainda tem) um enorme déficit em sua capacidade de refino.
Não se fazia nenhuma nova refinaria no país desde o início dos anos 80, exceto a pequena Clara Camarão, no Rio Grande do Norte. Isso não era fruto de uma incapacidade técnica ou financeira da Petrobras em fazer novas plantas, mas uma determinação do governo Fernando Henrique para forçar a entrada do capital estrangeiro no setor de refino.
Basta ler este parágrafo da revista Petroequímica, especializada no setor, de agosto de 2011.
“A Petrobras tem firmado com a Agência Nacional do Petróleo uma capacidade máxima de refino — 1,8 milhão de barris/dia até 2005, quando o consumo deverá estar girando em torno de 2,3 milhões de barris diários. Assim, a ANP quer abrir espaço para a concorrência – a rigor, hoje a Petrobras detém 98% desse mercado no país. “
Então, nos primeiros anos do Governo Lula, além de avançar nos projetos de novas refinarias, a Petrobras precisava de refino rápido, urgentemente. E comprar refinarias, na ocasião e hoje, ainda é mais barato que construí-las, mesmo que exigissem altos investimentos em sua modernização. Aliás, muito mais barato.
O que dá dinheiro, mesmo, no petróleo, é extrair e vender, tanto que as grandes empresas caíram fora do setor de refino faz tempo.
A Petrobras o amplia porque tem compromisso com o abastecimento interno e entende que a atividade de refino é um forte motor da atividade econômica interna e porque as descobertas do pré-sal vão mudar o perfil majoritário do petróleo brasileiro de pesado para leve,
Toda essa informação é para que o leitor saiba que, fora de um clima de histeria e politicagem, a compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras – teve todas as justificativas técnicas e financeiras para ser feita e a forma e valor de aquisição foi aprovado apenas depois de estudos e pareceres internos e externos que a alicerçassem.
O assunto não é novo e sequer tem peso na politica de investimentos da companhia: menos de 1% do que empresa investiu, seja no ano da primeira compra seja assumindo, por determinação de corte arbitral, sua segunda metade.
A discussão técnico-econômica pode ser muita mais aprofundada, mas sempre vai refletir estes aspectos essenciais.
A questão virou, porém, político eleitoral.
Toma esse vulto, apenas, porque a Petrobras é, no fundo, o centro de nossa campanha eleitoral.
Ela tornou-se ainda mais a coluna vertebral do processo de desenvolvimento nacional soberano, com o pré-sal.
Os mesmos compromissos e interesses que levaram José Serra a prometer a Chevron que desfaria o modelo de partilha e a hegemonia da Petrobras – como antes, fizeram FHC vender parte do capital da empresa na Bolsa de Nova York – continuam existindo.
Mas é preciso fantasia-los de “defesa da moralidade” e da “eficiência da empresa”.
Como aquela conversa de dizer a uma mãe pobre que, entregando seu filho, ele será mais bem tratado e terá do bom e do melhor, querem que entreguemos nosso petróleo, agora abundante.
O dever de transparência que se tem nos negócios públicos não pode significar o abandono do que é essencial neste caso: a luta política pelo controle do maior patrimônio material de riqueza deste país, o petróleo.
Essa luta não nos dá o direito de sermos ingênuos ou primários.
Porque ela envolve um valor sagrado: a autonomia e o progresso do Brasil e de seu povo.
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