O Globo prega arrocho dos salários
Por Altamiro Borges, em seu blog
Em pleno Carnaval, nesta terça-feira (4), o jornal O Globo publicou um editorial que mereceria a dura repulsa do sindicalismo brasileiro. Sem meias palavras, o diário patronal prega abertamente a volta política de arrocho praticada durante o triste reinado de FHC. Com o título “Desindexação urgente”, ele critica o acordo firmado entre o ex-presidente Lula e as centrais sindicais de valorização do salário mínimo e afirma, na maior caradura, que esta política pode resultar na explosão da inflação no país. E o velho fantasma inflacionário usado para atacar o rendimento dos trabalhadores, garantir os lucros exorbitantes dos empresários, facilitar o rentismo dos especuladores financeiros e – de quebra – ajudar o discurso oposicionista contra o governo Dilma Rousseff.
Segundo o jornal, a atual política de valorização do salário mínimo – que garante a reposição da inflação, mais ganho real equivalente à variação do PIB de dois anos antes – foi “fixada por decreto presidencial” e “é passível de injunções políticas”. Duas mentiras descaradas. Esta política foi fruto de um acordo com as centrais sindicais, que representam muito mais a sociedade do que a bilionária famiglia Marinho, e tem regras bem definidas, sem qualquer risco de “injunções políticas”. Com base nestas mentiras, O Globo até reconhece que a atual política “assegurou ganhos expressivos tanto para trabalhadores como para a grande maioria de aposentados e pensionistas da previdência social” e “tem impacto ainda sobre os salários que estão ligeiramente acima do piso”.
Mesmo assim, o jornal afirma que ela prejudica o Brasil. “Se por um lado tal regra de fato deu previsibilidade à política de valorização do mínimo, por outro instituiu um mecanismo de indexação que ignora a conjuntura. A variação do PIB de dois anos antes pode não ser compatível com a situação da economia no momento em que o ajuste é repassado ao salário mínimo”. Para o jornalão patronal, a atual política de valorização do salário mínimo “ignora as condições da economia”, “não tem relação com a produtividade do trabalho” e “tira competitividade das cadeias produtivas (pela elevação dos custos)”. Neste sentido, blefa O Globo, “em vez de se conseguir que haja um avanço da massa salarial, asfixia-se a galinha dos ovos de ouro”. O cinismo do diário é descomunal!
Com base nele, o jornal decreta: “Tal regra tem data para terminar: 2015. A indexação automática, e inflexível, não pode se perpetuar. Pela importância do salário mínimo no conjunto da economia brasileira, essa indexação se transformou em fonte de pressão sobre a inflação”. O Globo nada diz sobre o impacto positivo da política de valorização do salário mínimo, que aqueceu o mercado interno e evitou que a crise capitalista mundial fosse ainda mais destrutiva no Brasil. Nada fala sobre os milhões de brasileiros que finalmente tiveram acesso ao consumo nem sobre os milhões de empregos criados como resultado desta política. Se dependesse da famiglia Marinho, o Brasil não teria leis trabalhistas e nem assalariados – e voltaria à época da escravidão pura e simples!
PS do Viomundo: É por isso que eu, Azenha, tenho dito a meus amigos de esquerda, muitos dos quais criticam ferozmente o governo Dilma: o que quer que vocês façam, se houver segundo turno votem na Dilma. Há uma ofensiva mundial da direita e da extrema-direita para impor a austeridade neoliberal. Uma ofensiva para conquistar mão-de-obra barata, recursos naturais e novos mercados. Vide Ucrânia e Venezuela. A direita não se envergonha nem de se associar a neonazistas para obter seus objetivos imperiais. Na América Latina, “conquistar” o Brasil para o neoliberalismo puro sangue é o primeiro passo para desmontar a arquitetura de uma soberania regional ainda que limitada. Tempos bicudos, estes!
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