O objetivo deste blog é discutir um projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil. Esse projeto não brotará naturalmente das forças de mercado e sim de um engajamento político que direcionará os recursos do país na criação de uma nação soberana, desenvolvida e com justiça social.
sexta-feira, agosto 16, 2013
O morto da Praça Tahir é o povo egípcio
Será que as multidões que festivamente ocupavam a Praça Tahir, no Cairo, um mês atrás, tinham ideia de que as ruas do país estivessem hoje tomadas pelo cheiro de centenas, provavelmente milhares de cadáveres?
Não adianta, agora, que aleguem que não era isso o que pediam, que não queriam o poder mortal do Exército desenfreado para matar, quando apelaram para que o mesmo exército assassinasse o governo de Mohamed Mursi, eleito pelo voto dos egípcios um ano antes.
Aquilo de que se vangloriava o movimento contestatório – não ter líderes, ser “espontâneo”, inorgânico – transformou-se no pior dos venenos: a legitimação da violência fascista, brutal, assassina.
Os mortos serão enterrados, mesmo os mortos de hoje, amanhã e depois.
O que não se vai enterrar talvez por décadas é o ódio dissolvente plantado ali.
O morto é o povo egípcio, como unidade fundamental da organização nacional.
Pouco importa, também, que Estados Unidos e União Européia mantenham um cínico e temporário nariz torcido aos rumos que tomou o golpe de estado no Egito, pois o estimularam, promoveram e deram-lhe sustentação internacional.
Afinal de contas, seguem a mesma estratégia que lhes foi vitoriosa desde antes da derrubada da União Soviética: estimular o sectarismo comunal, tribal, subnacional, racial, sectário ou qualquer um que lhe permitisse dividir, conturbar, conflitar e, finalmente, dissolver países.
Chechenos, ucranianos, iugoslavos, iraquianos, afegãos, líbios, sírios e, agora, egípcios, pouco importa com quem seja, há sempre um desabrochar primaveril, saudado mundialmente, a se louvar.
Depois, o país onde esta “floração” se deu, murcha, encolhe e passa ao domínio de alguns anônimos, cuja principal virtude é serem dóceis ao poder mundial hegemônico.
Quando isso se dá, porém, em terras “amigas”, ah!, é monstruoso e terrorista.
Não foi assim com os irlandeses – vítimas pela fome e pelas armas de um dos maiores genocídios da história – com os bascos, com os catalães, com os palestinos que continuam mendigando por terras, pela dura repressão aos sikhs da Índia ?
Os “politicamente corretos”, que deixaram de olhar para o mundo e transformaram seus umbigos no centro do Universo, não conseguem enxergar os monstros que caminham, quase invisíveis, junto a eles.
Aqui, ao lado dos nossos “rebeldes”, também andam estas sombras, dos camisas-negras do vandalismo ao reacionários do “volta, ditadura”.
Mas eles não se importam, acham que são ilusões inofensivas.
Mas quando estas “ilusões” tomam forma e aparecem em todo o seu horror, como apareceram no Egito, fazem mais do que matar centenas ou milhares de pessoas.
Inclusive aos tolos que as toleraram.
Elas não são ilusões, são expressões brutais de interesses, que matam países e sonhos de progresso e independência de povos inteiros.
Por: Fernando Brito
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