PAULO NOGUEIRA
Ao manter a Veja tal como ela vem sendo nos últimos dez anos, os novos comandantes da Abril fizeram sua opção
“Bons tempos aqueles em que a CIA resolvia essas questiúnculas de forma radical …”
O comentário de um leitor que assina Andre M. Andrade Jr aparece no blog de Reinaldo Azevedo, na Veja.
O tema do artigo de Azevedo era a detenção do parceiro do jornalista Glen Greenwald em Heathrow.
Previsivelmente, Azevedo apoiou a detenção. Disse que a Scotland Yard fez o que devia fazer. E arrematou: “Fico tranquilo”. Ah, que bom: a tranquilidade de Azevedo é realmente uma coisa que faz muita diferença no conturbado mundo em que vivemos.
O leitor lamentava que a CIA simplesmente não pudesse mais matar Greenwald, e seu “marido”, como Azevedo definiu. E também Snowden, Assange etc.
Disse, quando a nova geração de Civitas assumiu a Abril com a morte do pai, que eles poderiam escolher entre figurar rapidamente na lista das pessoas mais detestadas do Brasil ou mudar a Veja.
Passados alguns meses, está claro que a opção 1 é a que se materializará. Lamento, porque Giancarlo, com quem trabalhei, é um bom cara, e sempre me falaram bem do caráter de Titi, o caçula.
Reinaldo Azevedo escreve coisas repulsivas, e atrai leitores igualmente repulsivos. São pessoas que representam o que existe de pior numa sociedade: ignorantes, preconceituosos, homofóbicos, egoístas e moralmente corrompidos.
Em suma, eles são exatamente como Azevedo. A frase de Pulitzer segundo a qual uma imprensa canalha cria leitores canalhas se aplica integralmente a Reinaldo Azevedo.
Considere o texto sobre Greenwald.
O brasileiro David Miranda, por exemplo, é chamado no título de “marido” de Greenwald.
A homofobia é clara e desprezível. Azevedo tenta desqualificar Greenwald por ser homossexual.
Mas pior que isso são as reações que isso desperta nos leitores da Veja. Uma amostra:
1) “Quem diz que os gays são perseguidos no Brasil é a militância gay e os partidos e movimentos de esquerda. Nenhum, absolutamente, nenhum é perseguido. É conversa de vigarista.”
2) “Marido?! Por favor, esse termo é reservado a quem é casado com mulher, esse palhaço é na máximo amásio, ou amásia, do traidor.”
3) “Gostei da ironia da palavra ‘marido’. Vou adotar. Não é a primeira vez que um brasileiro e seu par são notícia na mídia lá fora.”
4) “Essa confusão toda é pq o cara é gay! Não sei como o Reinaldo sabe se o cara é ‘MARIDO’ ou ‘MARIDA’. É brincadeira uma coisa dessas.”
5) “Reinaldo, quando li a notícia e falou que o brasileiro era o marido fiquei na dúvida e voltei para conferir a esposa. Só que a esposa é também do sexo masculino. Não é engraçado ? O que a polícia britânica fez faz todo sentido. Quem manda ser marido de jornalista envolvido com o traidor?”
6) “Marido! Que marido. Casal é e sempre será entre um homem e uma mulher – entre um macho e uma fêmea. Entre dois machos e/ou duas fêmeas será sempre PAR e não casal. É igual a um par de botina, sapato, luvas, etc., mas não um casal.”
7) “Ei Reinaldo, vc sabe se o brasileiro é marido ou esposa? Lol.”
8) “Lamentável que o mundo esteja aceitando e disseminando com tanta naturalidade o homossexual a ponto de achar que beijo na boca em público – na frente de crianças – é normal, que não é obsceno. Minha mulher, lembrando da verdadeira relação marido-mulher, teve vontade vomitar quando leu esta matéria, disse ela!”
9) “Em tempos de guerra, seriam certamente fuzilados. Aqui no Brasil eles contam com a simpatia da imprensa por uma questão de homossexualidade.”
10) “É o Brasil mostrando sua cara! Os nascidos no pais não serão jamais conhecidos por ganhar um prêmio Nobel, mas sim por serem gays e por ser amasiados com porta-vozes de terroristas. Viva o Brasil, vivam os … gays brasileiros!”
Esta, em síntese, a mentalidade do leitor de Reinaldo Azevedo. Note que ele escolhe minuciosamente os comentários que publica. Opiniões divergentes são simplesmente censuradas e deletadas.
Sugeri outro dia à nova administração da Abril – o presidente executivo Fabio Barbosa incluído – que fizesse um teste: mandar com nome fantasia comentários divergentes e polidos a Azevedo para testar seu apreço à democracia.
Reinaldo Azevedo atrai o que existe de pior entre os brasileiros. Contribui poderosamente – não sozinho, é verdade — para que a revista seja achincalhada nas manifestações em que jovens protestam por um país menos iníquo.
Contribuirá poderosamente, também, para que Giancarlo e Titi Civita logo estejam entre as pessoas mais abominadas do Brasil.
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