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quinta-feira, agosto 02, 2012
Opus deu no que deu
Por Brasil de Fato
Após passar os primeiros anos de seu mandato de governador/papa escrevendo encíclicas, textos e documentos, ocupado com doutrinas que baseiam seu governo religioso, Bento XVI passou mais recentemente a prática: à caça aos desafetos
02/08/2012
Fábio Py Murta de Almeida
Após alguns anos de papado, Bento XVI começa a colocar as “mangas de fora”. Já era de esperar, pois se sabe quão conservador se tornou após assumir a posição de cardeal, e a cadeira do Santo Ofício como doutrinador da Santa Fé. Algo complicado para um eminente teólogo que é.
O papado é um governo, pois o Vaticano é um estado religioso. Localizado em Roma e espalhado pelo globo com suas paróquias. Após passar os primeiros anos de seu mandato de governador/papa escrevendo encíclicas, textos e documentos, ocupado com doutrinas que baseiam seu governo religioso, passou mais recentemente a prática: à caça aos desafetos.
O ato de caçador tem o rosto dos governos locais que assumem o gatilho no enquadramento de sujeitos em descontinuidade com a reta doutrina da Igreja. Eles são os responsáveis pelas punições. Entre as últimas ações desse poderoso estado de caça chefiado pelo papa, de tentáculos nos governos locais, as mais significativas ações retaliadoras foram: primeiro, junto às Irmãs da Misericórdia dos EUA e o livro da professora de Yale Margaret Farley, com título Just Love, considerado de conteúdo “desobediente” pelos bispos dos EUA; segundo, junto ao teólogo André Torres Queiruga pela notificação dos bispos espanhóis, pois as obras dele tematizam o “repensar” teológico (que para a atual cúpula da Santa Fé não se tem necessidade de repensar por que tudo já se é conhecido); terceiro a indicação que docentes de teologia das “PUCs” sejam cléricos e não mais leigos como antes na América Latina; quarto e última indisposição foi a de que após anos de conflitos se retirou da importante Pontifícia Universidade Católica do Peru (PUCP) a nomeação de “Pontifícia” e “Católica”. O Judas da universidade foi o cardeal de Lima, Juan Luis Cipriani.
O que está em jogo nessa última deliberação é a tentativa de retaliar não só a universidade, mas indispor a teologia da libertação. O estopim para tal deposição veio da tentativa do cardeal de Lima (da Opus Dei), Juan Cipriani, em tentar indicar o nome do novo reitor da universidade – o que não foi devidamente acatado pela direção e alunos da universidade ao alegarem falta de autonomia universitária.
Não acho que seja algo apenas esporádico preso a Lima, Peru. Não mesmo; não acho que seja uma indisposição qualquer numa universidade. Até por que a PUCP tem relevância no meio religioso na América Latina. Foi nela que o padre Gustavo Gutiérrez, escrevera a primeira sistematização da Teologia da Libertação, em 1971. Nela, efetivamente, o padre publicou o livro “Teologia da Libertação” e seu “A força histórica dos pobres”, entre outras obras, em que parte da ideia de “Igreja dos Pobres” para chegar à famosa opção preferencial pelos pobres;
Nesse sentido, a PUCP foi o espaço que permitiu academicamente aflorar os enredos da libertação; sendo não só lembrada como berço dessa produção teológica, mas também, a partir dela se abriu ao diálogo com a sociedade. O que se vê em eventos como a Jornada de Reflexão Teológica chegando a reunir cerca de 1.800 pessoas em torno da teologia, preferencialmente leigos. Evento encabeçado por Gutiérrez.
Nesse sentido, é a primeira retaliação desse novo governo à corrente latino-americana. Achei até que demorou a ocorrer. Mas, quando veio pegou direto no Calcanhar de Aquiles. Afinal de bobos nada têm os lobos da Opus Dei, que preenchem as principais cadeiras do governo de Bento XVI. Agora, fico me perguntando se a mordedura da cúpula conservadora do Vaticano na PUCP pode ser encarada como um aviso às universidades católicas daqui? Isso só no futuro saberemos. Mas, de fato, será que isso já não está ocorrendo ao se retirar (gradualmente) a posição dos leigos dos locais, cargos e atividades católicas? Infelizmente, por isso, se percebe que o que era antes da Igreja dos pobres, hoje é da Opus Dei.
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