sexta-feira, novembro 11, 2011

Juros: A Itália e o Brasil. A mídia e os tucanos


Jogada nas cordas pelos mercados, ameaçada de insolvência, obrigada a destituir il Cavalieri porque nem alguém com a desenvoltura moral de um Berlusconi dá conta de cumprir o arrocho requerido pelo diretório financeiro europeu, a Itália gastará este ano cerca de 4,8% de seu PIB, 76 bilhões de euros com o pagamento de juros aos rentistas da dívida. Em reais, isso significa R$ 182,5 bilhões.

O Brasil, nesse mesmo quesito, gastará 5,5% do PIB este ano; ou cerca de R$ 226 bilhões para honrar o serviço da dívida pública. Portanto, R$ 43,5 bilhões mais do que o alquebrado Tesouro italiano. Não é pouca a diferença. Trata-se de soma suficiente para financiar quase dois anos e meio de Bolsa Família, o programa de transferência de renda que beneficia 50 milhões de brasileiros mais pobres.

Em 31 de agosto, o governo Dilma, ancorado numa percepção correta de agravamento do quadro mundial, cortou a taxa de juro pela primeira vez em seu mandato. O dispositivo midiático-tucano reagiu então, como disse o economista Luiz Gonzaga Belluzzo em debate promovido por Carta Maior, entre 'indignado e estupefato'.

Em 28 de setembro, o grão-tucano Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, declarou ao jornal Valor Econômico que considerava a decisão do BC 'precipitada'. Expoentes menores mas igualmente aplicados na defesa dos mercados autorreguláveis, como o economista de banco Alexandre Schwartzman, já haviam se manifestado na mesma linha da percepção tucana das coisas. Em sua douta análise dos fatos, veiculada em 4-09, Alexandre Schwartzman, também conhecido como 'o professor de Deus' pontificou em pedra e cal:" não há indícios de que a crise econômica global de 2011 seja tão grave quanto a de 2008". Que não o ouçam os 16 milhões de desempregados europeus.

Outros sábios de bico longo e o mesmo olhar de lince, como Luis Carlos Mendonça de Barros, o Mendonção, ex-presidente do BNDES e expoente das privatizações no sistema de comunicações na gestão FHC, consideravam, até a semana passada, que o BC brasileiro ficou refém de um agravamento da crise mundial que justificasse a sua decisão." "O BC passou a torcer pela crise", diziam, argüindo a estratégia brasileira de priorizar o enfrentamento da crise e não o combate a inflação, que tenderia a recuar por conta do desaquecimento econômico global.

Bem, a economia mundial hoje está no seguinte pé, segundo um leque de avaliações mais ecumênicas: "A crise é gravíssima. A economia mundial está à deriva" (Paulo Nogueira Batista Junior; Estadão -7-11); "A situação da economia mundial tem todos os ingredientes para continuar se agravando" (Delfim Netto -Valor 08-11);"A economia mundial corre o risco de cair numa espiral descendente de incerteza e instabilidade financeira e ter pela frente uma década perdida" (Christine Lagarde, diretora- gerente do FMI; agencias 10-11).

Ademais, todos os índices de preços mostram recuo e perda de fôlego. Sugestivamente, a mesma cepa de opinião que classificava como 'precipitado' o corte na Selic até a semana passada, agora cobra do governo cortes maiores; o dispositivo midiático-conservador anota e repercute; sem um pio de espanto. Ou de decência.

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