domingo, agosto 18, 2013

O mensalão e as lições da história


Permitam-me retomar uma querida metáfora histórica que cultivo há algum tempo, quando penso no combate político que blogueiros e ativistas digitais dão contra a grande mídia corporativa. Em seu clássico História, o grego Heródoto descreve uma das maiores guerras da Antiguidade, que moldou a civilização ocidental. A vitória dos gregos sobre os persas representa, ao menos simbolicamente, o primeiro grande triunfo dos valores democráticos modernos sobre o totalitarismo asiático.

Decerto uma das batalhas mais determinantes para o futuro da Grécia e da humanidade, é a famosa Batalha das Termópilas. É a primeira batalha decisiva do segundo ciclo de ataques que os persas faziam à Grécia. No primeiro, dez anos antes, haviam sido derrotados pelos atenienses e aliados. No segundo ciclo, os espartanos desempenharão o papel principal.

A batalha das Termópilas ficou famosa pelo incrível desequilíbrio de forças. Alguns milhares contra milhões. Os gregos não haviam conseguido se organizar novamente numa frente única. Os próprios espartanos viviam divisões políticas domésticas que os impediam de aprovar o envio de um exército para receber Xerxes, cujas tropas são estimadas por Heródoto em mais de cinco milhões de soldados.

Então Leônidas, rei de Esparta, pede autorização aos que detinham autoridade para que aprovassem ao menos que um grupo de 300 soldados de elite, incluindo ele mesmo, se dirigisse às Termópilas para frear a invasão.

Aos 300 de Esparta se juntam batalhões de outras cidades, mas são os espartanos que ganharão a imortalidade ao assumirem a linha de frente, atrasando por várias semanas a invasão persa, dando tempo e inspirando valentia a todos os povos helênicos para derrotarem Xerxes definitivamente.

Xerxes era tão rico como a família Marinho. E seus generais, assim como os colunistas de jornal, vestiam armaduras de ouro. Os gregos vestiam-se com simplicidade e leveza, e suas vantagens na guerra eram bravura, destreza, agilidade e inteligência militar. Enquanto o exército persa era formado por escravos e lacaios, os soldados gregos eram cidadãos orgulhosos de sua pátria.

No julgamento do mensalão, penso mais uma vez nessa batalha. De um lado, a grande mídia, com os Marinho ocupando o poder central, numa posição privilegiada para controlar a opinião pública brasileira e patrocinar uma grande farsa, pela qual vende aos brasileiros que, pela primeira vez, poderosos serão condenados. Faz isso ao mesmo tempo em que acoberta crimes muito maiores de seus amigos políticos e de si mesmo. O maior caso de corrupção da história do Brasil, por exemplo é a criação da própria Globo, cujos proprietários entram na ditadura com um jornal de médio porte, deficitário, e saem dela figurando entre as famílias mais ricas do mundo.

O mensalão é um processo político controlado pela Globo. Outros veículos de mídia têm de seguir a ordem central, mais ou menos dissimuladamente.

A rede democrática de resistência contra as sinistras manipulações da Globo e seus satélites é formada por guerreiros espartanos. A internet é o nosso Desfiladeiro de Termópilas.

O prognóstico para essa primeira batalha não me parece muito luminoso. Mas seremos derrotados com a altivez de quem se perfilou ao lado de valores democráticos e humanistas. Não nos comove o espírito de linchamento que a mídia conseguiu, com sucesso, insuflar no espírito de milhões de brasileiros. A história se moverá e o bom senso, como sempre, irá prevalecer. Os mesmos milhões que aderiram às tramóias da Globo, voltar-se-ão contra quem os enganou. Os “fiéis” da Igreja Globo, no caso mensalão, vem declinando rapidamente. Muitos já se deram conta do engano. A truculência do presidente do STF, Joaquim Barbosa, nada mais é do que desespero de se ver desmascarado. Querem encerrar tudo rápido, com medo do debate. Mas se o tempo está contra eles, então eles estão lascados, porque o tempo não pára. Em algum momento, haverá uma virada na opinião pública, e aí quero ver.

Os Xerxes da mídia encontram-se hoje, talvez, levemente estupefatos, como ficou o original, mais de dois mil anos atrás, ao topar com nossa renhida e espartana resistência.

Ao fim, venceremos, não porque somos tão fortes assim, mas porque os princípios que defendemos são justos. Ninguém pode ser condenado por linchamento, sobretudo na mais alta corte do país. Os verdadeiros corruptos continuam posando de heróis para a mesma mídia que promove o linchamento de inocentes.

Os globais nos ameaçam com ataques diários, enquanto dão sequência a coberturas parcialíssimas sobre a fase final do julgamento da Ação Penal 470. Todos seus lacaios são mobilizados: chargistas, colunistas, humoristas, repórteres, âncoras.

Heródoto conta que o soberano persa, pouco antes de iniciar as hostilidades contra os espartanos, mandou um recado ameaçador: iria deflagrar um chuva de flechas tão grande, que cobriria a luz do sol. Um soldado grego sorri altivamente e rebate, aos brados:
“Muito bem, lutaremos à sombra!”

É o que estamos fazendo. Podemos não ter os grandes meios de comunicação a nosso favor. Podemos não contar sequer com o apoio do governo, a bem da verdade também cercado pelas mesmas tropas dos persas midiáticos. Mas seguiremos fazendo tantos estragos, fazendo a vitória da mídia custar tão caro, mas tão caro, que eles, um dia, serão obrigados a recuar.

Aí será tarde demais para eles, porque serão perseguidos até os confins do mundo. Então poderemos desfrutar, finalmente, da democracia moderna e autêntica que vimos tentando implantar no país desde a Constituição de 1988.

Sem democratizar a mídia, nossa democracia corre o risco de se tornar um triste e rico feudo da família Marinho, cuja fortuna de R$ 52 bilhões aliada a seu latifúndio comunicativo faz dela um agente político extremamente perigoso à estabilidade democrática. Não vai ser fácil, claro. Todas as coisas que brilham muito, como a liberdade, a democracia e a independência, são perigosas quando nos aproximamos. Mas quando essas luzes estiverem nas mãos do povo, o que nos ameaçava se tornará nossa principal arma contra o arbítrio dos herdeiros da ditadura.

Por: Miguel do Rosário

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