Independentemente da vitória de Sanders, Piketty prevê 'o fim do ciclo político-ideológico' aberto por Ronald Reagan e pelas elites financeiras em 1980
Lauren McCauley - Commons Dreams
O influente economista Thomas Piketty recentemente observou que o "incrível sucesso do ‘socialista’ Bernie Sanders" é um forte indicativo de que progressivamente toma forma um movimento popular muito mais profundo ao redor dos Estados Unidos.
Em uma coluna publicada no jornal francês Le Monde, na segunda-feira, Piketty argumenta que, independentemente de Sanders ganhar as primárias democratas, "estamos testemunhando o fim do ciclo político-ideológico aberto pela vitória de Ronald Reagan nas eleições de novembro de 1980".
Demarcando o avanço de Sanders dentro do contexto histórico, Piketty revisita o período entre 1930 e 1980, quando os EUA "buscaram uma política ambiciosa de redução das desigualdades sociais" com políticas econômicas que incluíam taxações progressivas sobre renda e propriedade, bem como a implementação de um salário mínimo federal (superior a 10 dólares/hora, corrigidos para 2016, no final da década de 1960).
"Meio século de progressividade fiscal estável" chegou a um fim abrupto em 1980, quando Ronald Reagan assumiu a presidência "em um programa destinado a restabelecer um suposto capitalismo mítico que ele dizia ter existido no passado", impulsionado em grande parte pelas frustrações “das elites financeiras".
Piketty afirma que isso culminou com a reforma fiscal de 1986, que reduziu o teto superior de tributação para 28% (em comparação com uma taxa média de 82% para os americanos mais ricos durante a era anterior), bem como o congelamento do salário mínimo federal.
Em nenhuma medida, observa ele, esses retrocessos foram "verdadeiramente desafiados pelos democratas dos anos Clinton e da era Obama", levando a uma "explosão de desigualdades, salários desproporcionais(...) e estagnação dos rendimentos da maioria". Na verdade, o economista francês ganhou destaque mundial em 2014, quando argumentou em seu livro “O Capital no século XXI” que o mundo havia entrado em novos Anos Dourados.
Piketty admite: "Diante da máquina eleitoral da Clinton e do conservadorismo da grande mídia, Bernie talvez não vença as primárias". Mas acrescenta: "esse processo demonstrou que um outro Sanders, possivelmente mais jovem e menos branco, pode um dia ganhar as eleições presidenciais norte-americanas e mudar a cara do país".
"Hoje, o sucesso de Sanders demonstra que uma proporção substancial dos americanos está cansada dessa desigualdade crescente e de pseudo-alternativas e, assim, pretende voltar a uma agenda progressista e a uma tradição americana de igualitarismo", conclui.
O irmão mais velho de Bernie Sanders, Larry, que vive no Reino Unido e é um líder local do Partido Verde, apresentou um argumento semelhante na semana passada. Larry Sanders atribuiu a popularidade de seu irmão ao seu foco na desigualdade econômica, dizendo a BBC: "A concentração da riqueza social na mãos dos super-ricos é um fato notório e, quando alguém diz isso, as pessoas ficam atentas".
Tradução por Allan Brum
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