Do Conversa Afiada
A Democracia é o ponto forte do Brasil. O que explica sua resistência à crise !
Dani Rodrik é professor de Política Econômica Internacional da Escola John Kennedy, da Universidade de Harvard, e foi o principal orador do evento “Diálogos Capitais”, promovido pela Carta Capital, nesta terça-feira.
A seguir, um resumo da exposição de Rodrik, um dos economistas americanos (ele é de origem turca) mais respeitados.
Ele não se filia à corrente neolibelês (*), que , aqui no Brasil, tem como seu maior expoente a Urubóloga.
Secundariamente, está o Edmar Bacha, que aparece em “Entregar é o coelho da cartola dos tucanos”.
Rodrik está mais perto de Paul Krugman do que da seção de Economia do Globo.
O Brasil é cada vez mais um país normal e, hoje no mundo, o que menos há são situações normais.
Dos anos 90 do século passado para cá houve uma reversão: os países em desenvolvimento passaram a crescer mais rápido que os países ricos.
Esse processo vai durar ? Afinal, os em desenvolvimento dependem do crescimento dos Estados Unidos, da União Européia e da China.
O Brasil está crescendo ?
Sim.
Mais importante que analisar o crescimento do PIB per si é acompanhar a relação do PIB per capita do brasileiro em relação ao PIB per capita dos ricos.
Ou seja, o brasileiro em relação aos ricos.
E o crescimento do PIB per capita do brasileiro, do início dos anos 2000 para cá (hoje, 25%), é impressionante.
O que se deve perguntar é se o dinamismo interno dos países em desenvolvimento é sustentável ou se as influencias externas, temporárias, serão mais importantes.
Qual é a dinâmica para o crescimento ?
Historicamente há quatro modelos para impulsionar o PIB.
O crescimento movida pela dívida, que termina mal, como na Espanha, Irlanda, Grécia.
O crescimento rápido com produção industrial maciça, como o da China, Coreia e Taiwan, e que hoje é impossível de se reproduzir, porque a economia mundial mudou e a tecnologia mudou.
Não dá mais para pagar salários baixos para trabalhadores que tem que manejar processos tecnológicos avançados.
Tem um terceiro modelo, o do crescimento baseado em venda de commodities, com preço alto.
É um problema subjacente ao Brasil.
Não se pode confiar em preços voláteis: qual será o futuro da China ?
O segundo problema nesse terceiro tipo de crescimento é que a venda de commodities provoca séria concentração de renda.
Além do mais – o Brasil sabe o que isso significa – a venda de commodities valoriza o câmbio e prejudica a produção manufatureira.
No caso do Brasil, rico em recursos, produzir commodities não é ameaça, mas oportunidade, desde que faça reformas para compensar os problemas do câmbio e da desigualdade.
Um quarto modelo pressupõe investir no capital humano, em governança das instituições, na saúde e na educação.
Nenhum país se enriquece sem ampliar as capacidades de uma base ampla da população.
Mas, isso fará com que o crescimento seja mais lento, porque investir nos fundamentos é mais caro.
Os modelos 1, 2 e 3 são mais mais rápidos mas não se sustentam.
O modelo 4 é lento, mas sem surtos.
O mundo, hoje, porém, exibe três falhas tectônicas.
Os Estados Unidos têm um problema central: a ampliação da desigualdade de renda.
A distribuição de renda nos Estados Unidos, hoje, é igual à dos anos 20, do século passado, antes do New Deal, e da rede de proteção social que ele criou.
A renda mediana da população americana estagnou desde 2000.
Isso é tolerável politicamente, um capitalismo selvagem ?
A dívida pública americana chegou a 100% do PIB.
E o Governo se tornou um despoupador.
Países com alto endividamento crescem menos.
Nesse caso, a questão do endividamento é boa notícia para o Brasil e uma má notícia para os Estados Unidos.
Sobre a Europa.
Os índices de desemprego da Grécia, da Espanha são inacreditáveis – 25, 30%.
O desemprego entre jovens chega a 60% !
Por quanto tempo isso se mantém politicamente ?
As políticas são anti-keynesianas.
As autoridades falam em “reformas estruturais”.
Os brasileiros sabem o que isso significa: a precarização do trabalho e a privatização.
E isso não funciona, porque vai faltar consumidor.
A União Europeia vive um “trilema”: mais flexibilidade da política monetária para permitir a depreciação da moeda; repetir a fórmula da incorporação da Alemanha Oriental, com maciços recursos de transferências; e abrir mão da soberania nacional.
Ou seja, a solução europeia é mais ou menos união política.
A China.
A taxa de investimento da China corresponde a metade do PIB !
É possível sustentar isso ?
Isso parece com a União Soviética, na fase de maciça inversão na indústria.
A China vai ter que reduzir isso rapidamente.
Com investimento na indústria de bens de consumo.
E substituir bens industriais pesados por bens de consumo e serviços.
Menos indústria de base e mais indústria de consumo e serviços.
Porque a classe média quer mais saúde, educação, entretenimento.
O futuro chinês vai exigir forte reajuste.
E o sistema político ? Vai saber lidar com isso ?
Chegou ao fim a estrada que permitia pequenas reformas com monopólio do partido comunista.
Vai haver uma redução do monopólio do PC.
Que países enfrentam melhor a adversidade ?
As democracias.
São regimes mais previsíveis, com menos decolagens rápidas e quedas menos bruscas, em compensação.
É quando há transparência e governança na Economia, o que dá legitimidade.
Como acontece no Brasil.
O Brasil adotou a estabilidade e enfrentou os problemas sociais.
O que esperar do futuro ?
Uma suave desglobalização, especialmente dos serviços financeiros.
E das cadeias de fornecimento.
Há as três falhas tectônicas: nos Estados Unidos, na União Europeia e na China.
A América Latina será afetada.
Mas, é uma região relativamente segura.
O Brasil tem instituições macro-econômicas, tem democracia, tem uma política de custos e fiscal transparente.
É o que explica a resistência brasileira a crises.
Os brasileiros devem ser cautelosos e firmes.
A economia vai crescer entre 3% e 4% daqui para a frente.
O que é muito bom.
(Resumo feito pelo ansioso blogueiro a partir de anotações ao longo da palestra)
(*) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.
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