Da Carta Capital
O professor de Harvard Dani Rodrik prevê taxas menores de crescimento, mas ressalta responsabilidade especial do País por ser uma democracia
O economista Dani Rodrik, titular de Política Econômica Internacional da Universidade Harvard (EUA), disse ver com bons olhos a situação econômica brasileira, mas pediu cautela ao país em meio à crise global. "Não sejam ambiciosos demais, sejam cautelosos e seguros", disse o economista na palestra “Como Enfrentar a Crise Mundial”, realizada durante o Fórum de Economia organizado pela revista CartaCapital em São Paulo. Ele falou da importância de ter “reservas e espaço de manobra para lidar com os prováveis choques e diversidades provenientes do resto do mundo”.
Segundo o professor, nos próximos anos o mundo terá, na melhor das hipóteses, um crescimento lento. Nesse cenário, destacou, A América Latina não vai ficar imune à situação ruim, embora ainda seja uma “região relativamente segura”.
Rodrik elogiou a atual situação do país. “Toda vez que eu venho para o Brasil, eu acho ele está ficando mais ‘normal’. Nós estamos vivendo num mundo econômico que é qualquer coisa, menos normal. Ou seja: neste cenário, ser normal é o melhor elogio que você pode fazer a um país.” O professor disse que o Brasil não tem como voltar a um crescimento de 7% ou 8% ao ano, mas que “3% a 4% numa base sustentável seria muito bom”.
Isso porque, segundo explicou mais tarde, as altas taxas de crescimento são observadas em períodos de “industrialização rápida” por meio de um modelo básico de manufatura e absorção de trabalhadores a partir de um período de baixa produtividade. “Este período acabou por causa da mudança da natureza da manufatura. Hoje as indústrias são diferentes.”
China. Durante sua fala, ele analisou os os problemas da economia mundial e citou os desafios enfrentados pela China, que passa por “uma grande mudança estrutural na produção”. Atualmente, o país busca sair de uma economia baseada na manufatura e indústria pesada para uma de bens de consumo e serviços. “Neste contexto eu estou preocupado com o sistema político chinês. Todo o sistema de reforma chinesa foi bem dirigido, mas chegou ao fim da estrada com o que ela pode fazer no contexto atual,” disse o professor.
De acordo com Rodrik, a China deve deixar para trás o monopólio do Partido Comunista se quiser fazer a transição de sua economia. “As democracias são mais previsíveis, geram menos declínios econômicos e menos decolagens rápidas de crescimentos. Um regime autoritário bem gerido pode fazer bem ao país, mas o oposto também ocorre e pode levar um país à ruína.”
Ao falar da Europa, o professor criticou as decisões que vem sendo tomadas no continente. “As políticas existentes para abordar os problemas são, grosso modo, contraproducentes. Chama a atenção que esses países ainda se mantenham. A pergunta é: por quanto tempo eles conseguirão se manter?” disse, citando o desemprego na Espanha e na Grécia.
Para o professor, as políticas de austeridade fiscal, que buscam reduzir os níveis de endividamento, levaram a um ciclo vicioso que teve um resultado contrário no continente. Essas políticas equivocadas, segundo ele, levariam a uma baixa demanda e, consequentemente, a uma arrecadação menor dos governos e ao aumento do endividamento sobre o PIB.
Integração. Ao fim da palestra, durante debate com os economistas Luiz Gonzaga Belluzzo e Antonio Delfim Netto, colunistas de CartaCapital, Rodrik lembrou das dificuldades para se promover a integração continental na Europa e citou o caso americano como exemplo. Ele lembrou que a unificação de leis e tributos no país teve conflitos e processos violentos.
Em sua fala, Delfim Netto disse sair da palestra com “mais confiança” nas possibilidades do País e comparou a situação mundial com as condições brasileiras. “As diferenças entre São Paulo e Minas Gerais estão resolvidas. Nossa mobilidade é total e completa. Quando olho para o Brasil e vejo a União Europeia, penso: ‘chegamos antes’”.
O ex-ministro da Economia disse concordar com a análise do professor de Harvard sobre os índices mais modestos de crescimento econômico. “O futuro vai ser construído por nós. Nunca mais vamos voltar a um crescimento de 6% a 7% ao ano, mas não custa acreditar.”
Protagonismo. No debate, Rodrik ressaltou a responsabilidade “moral” do Brasil diante da economia mundial por se tratar de uma democracia. “A China tem mais recursos, mas o Brasil tem uma responsabilidade especial”, afirmou. Segundo ele, o Brasil deve representar valores que extrapolem o principio comercial.
Segundo Belluzzo, o protagonismo brasileiro nasce na falta de pretensão de ser protagonista. “Na crise, todas as observações do presidente Lula e da presidenta Dilma foram no sentido de agir para se colocar questões de maneira modesta, caso da guerra cambial, que está se desenrolando. O Brasil hoje é visto como referencia. Não pelo comportamento de pretensões hegemônicas, mas sempre esperam do Brasil o papel de país integrador na América Latina, com uma economia que suporte os choques”, afirmou.
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