O objetivo deste blog é discutir um projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil. Esse projeto não brotará naturalmente das forças de mercado e sim de um engajamento político que direcionará os recursos do país na criação de uma nação soberana, desenvolvida e com justiça social.
quinta-feira, maio 16, 2013
Lula -“Brasil virou gente grande e precisa ser mais ousado”
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma defesa veemente, nesta terça-feira (14), em Porto Alegre, da necessidade de o Brasil ter uma política externa mais ousada. "O Brasil está vivendo um momento especial, venceu o complexo de vira-latas, virou gente grande e tem que ser mais ousado e disputar espaço em todas as partes do mundo. Precisamos oferecer à África e à América Latina uma perspectiva não colonizadora", disse Lula durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Rio Grande do Sul (CDES-RS).
Marco Aurélio Weissheimer
Porto Alegre - “O Brasil está vivendo um momento especial, venceu o complexo de vira-latas, virou gente grande e tem que ser mais ousado em sua política externa. O país deveria estar no G7, pois já é a sexta economia do mundo. Não está porque o G7 é uma confraria. O Brasil precisa disputar em todas as partes do mundo. Tem que ir entrando e conquistando espaço. Precisamos oferecer à África e à América Latina uma perspectiva não-colonizadora. Para isso, temos que ajudar a financiar as economias menores. Se não fizermos, os chineses, os americanos e os europeus o farão”. Essa é a síntese da proposta apresentada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta terça-feira (14), em Porto Alegre, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Rio Grande do Sul (CDES-RS).
A intervenção de Lula foi uma defesa veemente da necessidade de o Brasil ter uma política externa mais ousada. Após elogiar a iniciativa do governador Tarso Genro de realizar uma série de missões internacionais para, entre outras coisas, abrir novos mercados para empresas gaúchas e atrair investimentos para o Estado, Lula relatou um pouco do que foi a política externa em seu governo e defendeu o fortalecimento da presença do Brasil no mundo. Falando sobre as viagens que fez em seu governo, o ex-presidente lembrou que recebeu muitas críticas quando decidiu começar a visitar a África e quando rejeitou, junto com outros presidentes da região, a proposta da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) em favor do fortalecimento do projeto do Mercado Comum Sulamericano (Mercosul) e, mais tarde, da União Sulamericana de Nações (Unasul).
Empresário defende missões internacionais
Lula defendeu que o governo gaúcho deve aprofundar essa política, recordando um episódio de seu governo: “Nós gastamos cerca de 500 mil dólares para fazer uma feira em Dubai. Recebemos muitas críticas de gente que dizia que estávamos jogando dinheiro fora. No outro dia dessa feira, empresas brasileiras venderam 50 milhões de calçados. E os críticos não disseram nada sobre isso”.
O empresário gaúcho Paulo Tigre, integrante do CDES-RS, defendeu a posição de Lula e a política de missões internacionais implementada pelo governo estadual. “Alguns negócios levam anos para sair. Para que isso ocorra, é muito importante abrir esse diálogo entre governos e empresas”, afirmou. Na mesma linha, Tarso Genro defendeu enfaticamente a política de seu governo: “Superamos uma visão paroquial da política marcada pelo complexo de vira-latas. Algumas pessoas ainda acham mais importante ficar perguntando quanto custa cada missão, ignorando por completo os benefícios que trazem para o Estado no médio e longo prazo”.
Aumento de poder e de responsabilidade
“Quando iniciei meu governo, a nossa balança comercial com a Argentina era de apenas 7 bilhões de dólares. No final, era de 39 bilhões”, destacou Lula. Ele defendeu ainda que o Brasil, na condição de maior país e maior economia da região, tem que ser mais generoso e querer que seus vizinhos cresçam também. “Por isso, quando deixei o governo, nosso principal parceiro comercial era a América Latina e não os Estados Unidos ou a União Europeia”.
Hoje, acrescentou, o desafio colocado para nossos governantes e empresários é maior. “Ganhamos as direções da FAO e da OMC e as nossas responsabilidades aumentaram muito. Na hora em que nos tornamos grandes não podemos nos comportar da mesma maneira”, emendou ao justificar a defesa de mais ousadia na política internacional brasileira.
Lula contextualizou essa necessidade fazendo um diagnóstico da crise financeira e econômica internacional, iniciada em 2008. “Essa crise, que ainda não terminou, é resultado de uma crise política maior. Ela poderia ter sido resolvida entre 2008 e 2009. Só não foi por falta de dirigentes políticos capazes de decidir. Cerca de 9,5 trilhões de dólares já foram gastos para enfrentar a crise sem resolver o problema. Na Europa, agravou-se o problema do desemprego. A economia está dando sinais de recuperação nos Estados Unidos porque Obama está querendo reindustrializar o país. Por outro lado, os Estados Unidos gastaram cerca de 3 trilhões de dólares, só na guerra no Iraque. Imaginem quantos programas como o Bolsa Família ou o Luz para Todos poderiam ser financiados na África com esses recursos”. Diante deste cenário, o ex-presidente pediu maior protagonismo dos governantes e empresários brasileiros em todas as partes do mundo.
A diplomacia do mascate
“Tem que jogar o jogo e, para isso, é preciso disputar, é preciso viajar e se reunir com representantes de outros países. Se não fizermos isso, podem ter certeza que a China, a Índia e outros países o farão”. Lula lembrou também as tentativas dos Estados Unidos de recuperar espaço perdido na região com propostas de tratados de livre comércio bilaterais (como o que está sendo discutido com a Colômbia) e do Pacto do Pacífico, querendo afastar os países dessa região da área de influência do Brasil e dos projetos de integração sulamericanos. “Os Estados Unidos precisam olhar o Brasil como parceiro e não como adversário. Eles querem afastar países como Equador, Colômbia, Peru e Chile da América do Sul. Ao mesmo tempo, querem fazer o Pacto do Atlântico. Essa é outra razão pela qual o Brasil precia ser mais ousado”, reforçou Lula, acrescentando, de modo enfático:
“O país tem que fazer política externa como se fosse um mascate, precisa mapear cada país e ver onde há complementariedades e onde o Brasil pode colocar seus produtos. Precisamos pegar tudo o que o Brasil produz e mostrar ao mundo. E temos que fazer isso propondo sociedades e parcerias, não querendo sufocar os países menores”.
Lula destacou também, como condição necessária para o sucesso dessa política externa, a necessidade de o Brasil manter sólidas relações com a Argentina. “A Argentina e o Brasil tem que compreender que um país precisa do outro. Se as relações entre Argentina e Brasil estiverem bem, o Mercosul e a Unasul estarão bem. Se não estiverem, esses projetos de integração ficam enfraquecidos”. Além disso, reforçou outro de seus temas prediletos nos últimos anos, que é a defesa do aprofundamento das relações do Brasil com a África. “O Oceano Atlântico não é nenhum empecilho para o Brasil”, ironizou. “Erroneamente, muita gente ainda pensa que a África é um continente de miseráveis. A democracia na África está se consolidando em quase todos os países. A Nigéria é um país que tem 170 milhões de habitantes e tem só 4.500 megawatts de energia. Ou colocamos nosso pé lá ou outros colocarão”, acrescentou o ex-presidente, lembrando da forte e crescente presença da China nesta região.
A metáfora do mascate empregada por Lula falar de sua proposta para a política externa brasileira não a reduz a uma dimensão meramente comercial. Ele acredita que essa é também uma solução política para a crise. “Em 2008, recebi muitas críticas quando falei que a crise seria uma marolinha e pedi à população para que consumisse. E a economia do país resistiu bem à crise, ao contrário do que aconteceu em outros países”. Lula defende que uma das medidas para enfrentar a crise política e econômica internacional é mais comercial, lembrando que os debates na Organização Mundial do Comércio estão congelados há quatro anos. E agora, um brasileiro estará na direção da OMC, o que não é um detalhe menor, lembrou.
Precisamos revisar os manuais. A política exige mais velocidade, precisamos inovar no comportamento, inovar na atitude”.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário