segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Estados Unidos: Hipocrisia e ditaduras de direita em nome dos interesses estadunidenses


Por raq_uel
Do Envolverde

04/02/2011 - Democracia hostil ou autoritários amigos?Por Thalif Deen, da IPS

Nova York, Estados Unidos, 4/2/2011 – A distinção entre regimes “autoritários” e “amigos” de direita e regimes “autoritários” e as ditaduras “totalitárias” e “hostis” de esquerda, que no passado fez Jeanne Kirkpatrick, ex-representante dos Estados Unidos junto à Organização das Nações Unidas (ONU), parece que continua vigente neste país quando se trata de propagar a democracia. Washington critica governantes que, a seu ver, encabeçam regimes autoritários com Robert Mugabe, do Zimbábue; general Than Shwe, da Birmânia; Saddam Hussein, do Iraque; Fidel Castro, de Cuba e, nos últimos tempos, o presidente da Bielorússia, Aleksandr Lukashenko.

No entanto, apoia vários outros governos autoritários, a maioria do Oriente Médio, acusados de manter leis de emergência, deter dissidentes, reprimir a imprensa, torturar presos políticos e fraudar eleições. Os Estados Unidos não têm escrúpulos em apoiar países que são claramente monarquias fortes e regimes autoritários, como Arábia Saudita, Egito, Jordânia, Kuwait, Marrocos, Tunísia e Iêmen, por razões políticas, econômicas ou estratégicas. O vinculo entre Washington e alguns governos do Oriente Médio parece ser principalmente militar.


“Os Estados Unidos estão prontos para pregar a democracia no mundo”, disse um diplomata asiático. “Contudo, quando há protestos pacíficos pedindo democracia, como os do Egito, o gás lacrimogêneo e os caminhões lança-água utilizados contra os manifestantes, invariavelmente, foram fabricados neste país ou em outro do Ocidente”, acrescentou.

Há mais de três décadas, Egito e Israel assinaram, em setembro de 1978, o acordo de paz de Camp David. “Infelizmente, um dos preços a pagar pelo tratado é um acordo pelo qual Washington se compromete a fornecer assistência militar aos dois países”, disse Natalie J. Goldring, do Centro de Estudos para a Segurança e a Paz, da Faculdade de Serviço Estrangeiro Edmund A. Walsh, na Universidade de Georgetown. A instabilidade social e política no Egito destaca a importância de se pensar nas consequências de longo prazo da venda de armas, acrescentou.

“Muitas vezes, os destinatários das armas norte-americanas são regimes autocráticos que não são dignos do compromisso” que elas exigem, disse Natalie à IPS. É desconcertante saber que gases lacrimogêneo norte-americanos são utilizados contra os manifestantes. “Mas, não surpreende”, afirmou.

O governo do Egito deve manter a lei e a ordem e proteger a vida, a liberdade e a segurança da população, disse Navi Pillay, alta comissária dos Direitos Humanos da ONU, ao criticar a repressão às manifestações. “Fui informada desde o início dos protestos de rua que a polícia reprimiu os manifestantes com balas de borracha, gás lacrimogêneo, caminhão lança-água e cassetetes, e que deteve mais de mil pessoas, incluindo integrantes da oposição”, lamentou.

Desde os acordos de Camp David, o Egito recebeu mais de US$ 35 bilhões em assistência dos Estados Unidos, a maior parte em fundos militares, sem obrigação de devolução. Washington comprometeu US$ 1,3 bilhão de fundos militares ao estrangeiro para este ano, US$ 250 mil em apoio econômico e US$ 1,4 milhão para capacitação e educação militar internacional.

Na Justificativa do Orçamento para o Congresso deste ano, o Departamento de Estado disse que “os Estados Unidos se beneficiam prática e politicamente de sua relação estratégica com o Egito e do vasto apoio que lhe proporciona para dissuadir e contrapor-se às ameaças à segurança”. Esse valor inclui o fornecimento de apoio logístico às tarefas militares dos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque. Ironicamente, Washington também se comprometeu a manter os programas de capacitação policial para promover os direitos humanos e as práticas comunitárias como formas de transformar a maneira de exercer a autoridade.

No dia 1º, Navi lamentou o grande número de vítimas no Egito e disse que há denúncias não confirmadas de que cerca de 300 pessoas morreram, mais de três mil ficaram feridas e centenas foram detidas. Também cobrou das autoridades egípcias que assegurem que a polícia e outras forças de segurança não façam uso excessivo da força, e, ainda, que sejam evitadas as detenções arbitrárias de pessoas por expressarem suas opiniões políticas. “O fato de o governo egípcio manter a lei de emergência por 30 anos é um sinal de seu desprezo pelos direitos humanos”, acrescentou Navi, que também criticou a retirada da polícia das ruas no final de semana, o que pode ter favorecido o saque generalizado.

Os protestos populares ocorridos na Tunísia em janeiro se propagaram não apenas para o Egito, mas também para o Iêmen e a Jordânia, disse Goldring à IPS. É muito cedo para dizer que se trata de uma transformação regional, mas, sem dúvida, no Oriente Médio há mais espaço para governos democráticos, ressaltou.

O acordo que os Estados Unidos assinaram há pouco tempo com a Arábia Saudita para vender-lhe US$ 60 bilhões em armas e serviços é apenas o último de uma série de transferências similares a regimes autoritários do Oriente Médio, destacou Natalie. “Se os governos caírem, o controle sobre os arsenais militares provavelmente também desparecerá, com o risco de armas norte-americanas de última geração caírem em mãos de organizações hostis a Washington”, alertou. Envolverde/IPS

(IPS/Envolverde)

http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=86417&edt=1

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