O Chefe do Estado-maior do Exército de Israel general Gabi Ashkenazi chegou a Washington na 2ª-feira para encontros com vários funcionários do governo dos EUA, inclusive o Conselheiro para Assuntos de Segurança Nacional da Casa Branca James Jones e o Presidente do Conselho de Altos Comandantes do Exército Mike Mullen.
O tema das sanções contra o Iraque é item obrigatório da pauta desses encontros, agora que a Casa Branca foi obrigada a amaciar o pacote de sanções, que começaram como “crippling sanctions” [literalmente “sanções incapacitantes”] e não obteve as adesões que precisava obter. O ‘amaciamento’ das sanções contra o Irã acontece depois de meses de tentativas fracassadas para ganhar o voto de todos os membros do P-5+1, sobretudo de Rússia e China.
Os EUA já reconheceram que estão tendo de trabalhar numa versão ‘diluída’ do pacote original de sanções, que passarão a visar não as importações de gasolina, mas os setores de navegação, bancos e seguros do Irã, depois de aparentemente os EUA se terem resignado ao fato de que Rússia e China não aceitarão a proposta inicial de sanções mais rigorosas. O prazo que agora se considera final para a apresentação de um primeiro rascunho dessas novas sanções é maio, embora nem isso pareça ser muito definitivo (lembrar que houve uma data limite antes, em fevereiro, absolutamente esquecida).
Por tudo isso, os EUA encontram-se num beco geopolítico sem saída, sem opções a considerar nem oferecer e tendo de enfrentar a dura realidade de depender de que Rússia e China embarquem no mesmo barco com os demais países do P-5+1 e concordem com pressionar Teerã no sentido de desistir de suas ambições nucleares, ao mesmo tempo em que evitam mais uma guerra no Golfo Persa.
O problema é que, mesmo ante a versão diluída das tensões, ainda interessa mais à Rússia que os EUA continuem enredados nessas discussões. Cada dia que os EUA consomem na discussão de seus problemas no Oriente Médio, é mais um dia que a Rússia ganha para cuidar de seu renascimento no espaço da ex-URSS, processo mais fácil de conduzir se Washington não interferir. E a China, que depende do Irã para ter porção importante do petróleo que lubrifica sua economia em frenética expansão, ganha muito com a oposição da Rússia às sanções, diluídas ou não, porque, assim, a Rússia sai da difícil posição de ser o único país, no Conselho de Segurança da ONU, que não se curva ante os desígnios de Washington.
O presidente Obama está preso à posição de ter de contar com que Rússia e China mudem de ideia; depende, portanto, do que digam esses gigantes sobre a nova versão das sanções. Até lá a “maior superpotência mundial” terá de pisar em ovos.
Washington sabe que a mais recente versão das sanções – chamadas “smart” [aproximadamente “inteligentes”] porque não trabalham contra o povo iraniano, mas contra a elite militar do país, o Corpo dos Guardas Revolucionários Islâmicos – servirá, no máximo, para aplacar a fúria dos israelenses, que sonham com arrastar os EUA para uma guerra contra o Irã e utilizam a força militar dos EUA como meio para deter o andamento do programa nuclear iraniano.
"O problema é que, mesmo ante a versão diluída das tensões, ainda interessa mais à Rússia que os EUA continuem enredados nessas discussões. Cada dia que os EUA consomem na discussão de seus problemas no Oriente Médio, é mais um dia que a Rússia ganha para cuidar de seu renascimento no espaço da ex-URSS, processo mais fácil de conduzir se Washington não interferir. E a China, que depende do Irã para ter porção importante do petróleo que lubrifica sua economia em frenética expansão, ganha muito com a oposição da Rússia às sanções, diluídas ou não, porque, assim, a China sai da difícil posição de ser o único país, no Conselho de Se gurança da ONU, que não se curva ante os desígnios de Washington."
Outra tática também já tentada pelos EUA é utilizar uma terceira força – seja um Estado-ator, seja um ator não-Estado – para impor os desejos-ordens de Washington. Jogar os guerrilheiros islâmicos contra os soviéticos na invasão russa ao Afeganistão (com apoio financeiro da Arábia Saudita e assistência logística do Paquistão) é exemplo bem conhecido dessa tática; outro exemplo foi usar os “Awakening Councils” nas províncias sunitas do Iraque na ‘avançada’, surge, de 2007, que contribuiu para inverter a maré dos que, então, parecia ser guerra sem fim.
Afinal, com a obsessão de capacitar o Exército Nacional Afegão e a Polícia Nacional Afegã – em tudo semelhante à obsessão de “vietnamizar” a guerra do Vietnã nos anos 70s –, aí está a história dos últimos 100 anos da política exterior dos EUA resumida numa imagem: é país que sempre opera segundo a noção de que é sempre mais vantajoso que outros trabalhem e façam, do que você ter de trabalhar e fazer.
Hoje, quando os EUA examinam a atual paisagem do Oriente Médio, não veem qualquer bom candidato para o posto de ‘encarregado’ de conter o Irã.
O Iraque – contrapeso histórico para conter uma Pérsia forte – está enfraquecido e fraturado; há maior probabilidade de o Iraque converter-se em satélite do Irã (resultado não previsto da invasão dos EUA em 2003 para derrubar o governo de Saddam Hussein), do que o contrário.
O ‘renascimento’ da Rússia na Ásia Central e no Cáucaso reduziu muito qualquer possibilidade que houvesse de os EUA tentarem desestabilizar Teerã por aquela via; também aí, mais fácil foi, para o Irã, ganhar o apoio de Moscou.
Os Estados do Golfo Persa sabem que a geografia é rainha; os EUA compram petróleo desses países, e os Iranianos são presença inapagável na região, que não sumirá. E há os sauditas que, apesar dos equipamentos sofisticadíssimos, têm exército praticamente incapaz de atuar fora das próprias fronteiras. A Turquia – país forte na Região e que teoricamente poderia ser de grande ajuda para os EUA – está focada em outras agendas de política exterior e, pelo menos por enquanto, absolutamente não precisa da ajuda dos EUA.
O Afeganistão tem seus próprios problemas – o maior dos quais é a evidência de que jamais existiu como Estado-nação coerente –, e o Paquistão enfrenta hoje seu próprio combate doméstico contra a guerrilha jihadista.
Não se concretizaram as esperanças de uma revolução no Irã – apesar da propaganda mundial que recebeu o “Movimento Verde”, de alguns pequenos movimentos militantes anti-regime cujos interesses têm alguns pontos aparentados aos interesses de Washington (Mujahideen-e-Khalq e Jundallah) –, mas nada daquilo sequer se aproximou do que teria de ser, para aspirar a assumir o poder em Teerã.
Há, claro, a possibilidade de negociar. Mas o caminho está minado com todos os tipos de barganhas faustianas. Numa linha e em resumo, pode-se dizer que os EUA estão encurralados, sem saída, no que tenha a ver com o Irã.
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