segunda-feira, março 15, 2010

Brasileiros e brazileiros ou 7 factóides em 15 dias



13 de março de 2010 - Sonia Montenegro


A economia vai bem, o Brasil nunca gozou de tanto prestígio e reconhecimento no mundo, nunca na história desse país um presidente foi tão querido... Então, por que é que eu sinto um nó no peito?


Nos últimos 15 dias, a imprensa tem submetido a todos nós, que estamos satisfeitos com os rumos que o Brasil está seguindo e que queremos eleger a Dilma para dar continuidade e avançar neste caminho, a uma verdadeira tortura psicológica.


O Brasil sempre foi tido como "o país de futuro", e quando esse futuro parece se aproximar, brazileiros tentam boicotar? Não deveriam eles estar também engajados nessa mesma onda? Parece óbvio, mas infelizmente não é!
Sempre acusamos os portugueses, ingleses e norte-americanos por terem explorado o Brasil, mas eles só o fizeram porque brazileiros deixaram. E é muito triste fazer essa constatação. Certos brazileiros que rimam com fuleiros, preferiram defender seus projetos e interesses pessoais aos interesses da nação. E para atingir seus objetivos, foram e são capazes de atos impensados. No final de 2009, foi realizada a Confecom - Conferência Nacional de Comunicação em Brasília, depois de concluídos os debates em todas as regiões do país. Era uma demanda antiga de diversas entidades, por sua incomensurável importância. É a imprensa que nos informa, e é a grande "formadora de opinião". Tem os meios de nos fazer pensar como querem que pensemos. Uma arma silenciosa tanto quanto perigosa, já que são brazileiros e não brasileiros. Querem o Brasil para eles, e não para todos os brasileiros, como nós queremos.


Quem quis participou, quem se inscreveu falou e no final foi democraticamente votado um documento que foi enviado à Presidência da República, com as sugestões de políticas democráticas para a comunicação.


Os grandes veículos da mídia brazileira foram convidados, mas declinaram do convite para promover a sua própria conferência em São Paulo. Os palestrantes foram escolhidos pelos organizadores: jornalistas e articulistas dos grandes veículos de comunicação, como Globo, Abril (revista não-Veja), Folha, Estadão etc. Para assistir às palestras, era cobrado um ingresso de R$ 500,00 (isso mesmo, quinhentos reais).


Também fizeram um documento, que afirma que o setor de comunicação no país não precisa de leis, basta apenas a auto-regulação. A eles deve ser concedido o direito de fazer o que quiserem, independentemente do que pensa a população brasileira e dos interesses do próprio país. Baseados não se sabe em que, decidiram que a eleição da Dilma é uma ameaça à liberdade de imprensa. Os movimentos sociais foram taxados de "autoritários".


A mensagem que se pode captar é que querer justiça social é sinônimo de ser comunista. Criticar a imprensa é sinal de autoritarismo. E ponto final!


Coincidência ou não, o que se viu acontecer a partir dessa tal conferência foi uma descarga de factóides, todos exibidos nas primeiras páginas dos jornalões e noticiários de TV, notadamente o Jornal Nacional da Rede Globo.


1 - O Estadão chamou o PT de "partido da bandidagem".


2 - A revista Istoé, publica uma matéria na qual liga o petista Fernando Pimentel ao caixa-2 do PT, apelidado de "mensalão" para dar um colorido mais grave à denúncia. O Portal Terra, antes de divulgar a notícia, fez o que TODOS os jornalistas deveriam fazer: checar a informação. Telefonou para o procurador responsável pela investigação, Patrick Salgado Martins, e perguntou se o fato era verdadeiro, recebendo como resposta um sonoro não. Fernando Pimentel não era objeto da investigação.


A matéria não visa apenas incriminar o ex-prefeito de Belo Horizonte, um dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff, mas induzir o leitor a acreditar que o mensalão petista foi financiado com dinheiro público, o que até o momento não foi provado, diferentemente dos mensalões do PSDB (MG) e do DEM (DF), cuja origem do dinheiro público já foi comprovada.


3 - O jornal Folha de São Paulo, que já publicou uma ficha-falsa da Dilma Rousseff como se verdadeira fosse entre inúmeros outros escândalos que desdenham da nossa inteligência, publica matéria na qual acusa o PNBL - Plano Nacional de Banda Larga do Governo Federal de beneficiar um cliente de consultoria do ex-deputado do PT José Dirceu, chamado Nelson dos Santos, que receberia R$ 200 milhões na "negociata". Dirceu teria feito o lobby para beneficiar seu cliente, e para tal, recebido R$ 600 mil. Em função dos esclarecimentos e desmentidos, a própria FSP foi obrigada a mudar a sua versão, porque o governo federal ganhou na Justiça o direito de utilizar a fibra ótica da falida Eletronet (criada por FHC), para levar banda larga para os lugares onde não interessa às empresas privadas, um meio barato de difundir conhecimento. Não precisou desembolsar um tostão, com uma única exigência, determinada pela justiça: pagar eventuais credores por material fornecido e não pago. Note bem: em momento algum o tal de Nelson dos Santos seria beneficiado, como afirmou a matéria. O jornalista Luiz Nassif explica didaticamente em seu blog, que a própria FSP foi obrigada a reconhecer, para tirar o "deles da reta", que sua fonte foi o tal Nelson dos Santos, cujo objetivo era exatamente o contrário do que afirmava a matéria, ou seja, impedir o PNBL, para que ele pudesse negociar com as teles as fibras óticas, quando poderia vir então a receber de R$ 70 a R$ 200 milhões. Em resumo: a FSP acusa Dirceu por um lobby que ele não fez, e sim ela, tentando melar o PNBL e dar ao seu informante a chance de angariar os valores acima descritos.


4 - A revista (não)Veja produz uma matéria, que só não dá para chamar de sensacionalista por ser pleonasmo. Para não me alongar muito, basta dizer que a "fonte" da revista é um promotorzinho cujo nome me recuso a repetir, porque é esse o seu principal objetivo: ficar conhecido e se candidatar a uma cadeira na Câmara Federal (como ele mesmo afirmou), e já foi assunto de uma denúncia da própria revista no passado. Começando por seu pai, preso em flagrante por posse de bens roubados, cuja soltura foi negociada pelo filho com um delegado. Antes de se tornar promotor, foi sócio do filho de Ivo Noal, conhecido banqueiro de bicho e morou num apartamento de Alfredo Parisi, condenado por bancar jogo de bicho. Foi acusado pela tentativa de proteção do mega-contrabandista chinês Law Kin Chong, desviando as investigações para pequenos contrabandistas. Seu patrimônio também é fruto de suspeitas, já que comprou, de uma só vez, 2 carros importados e blindados, entre outros delitos mais. Ainda assim a revista acreditou em todas as declarações da sua "fonte", sem checar a informação.
Outro fato estranho é que essa denúncia é, como se usa dizer no jargão jornalístico, uma matéria "requentada", ou seja, não é um fato novo, e o promotorzinho a denunciou para a imprensa, antes de apresentá-la à justiça. Correu para fazê-lo, e anteontem, teve os seus pleitos negados pelo juiz Carlos Eduardo Lora Franco, ou seja, o bloqueio de contas da Bancoop e a quebra de sigilo bancário do ex-presidente da cooperativa, João Vaccari Neto, desqualificando o promotorzinho por fazer uma série de afirmações "sem demonstrar em quais elementos as acusações se sustentam".


5 - A mais alta corte brasileira, o STF, deixa vazar para a imprensa uma denúncia de que estaria investigando o presidente do Banco Central, Henrique Meireles, que ignorava o fato e veio a saber por quem? Pela imprensa! Eu tenho cá pra mim uma forte suspeita da autoria do vazamento de um processo que correria em segredo de justiça!


6 - O que deveria ser uma boa notícia, depois de 7 anos, o Brasil consegue na OMC - Organização Mundial do Comércio, o direito de retaliar os EUA pelos prejuízos causados ao país por subsídios ilegais que dão aos seus produtores de algodão. Aliás, não apenas ao Brasil, mas também à África. A grande potência norte-americana faz o que sempre condenou em outras nações: protege o seu mercado, criando uma concorrência desleal. Mas na imprensa brazileira, vira uma temeridade. Uma "guerra comercial" contra os EUA, sem deixar de enfatizar que o consumidor teria que pagar a conta pelo aumento do pãozinho. Uma imprensa que pretende nos fazer crer que não somos uma nação soberana, e que temos que nos curvar eternamente à grande potência norte-americana.


7 - A exploração da viagem do Lula a Cuba, pela "saia-justa" de coincidir a sua chegada com a morte de Zapata por greve de fome. A imprensa brazileira afirma que Zapata era dissidente do regime cubano, já Aleida Guevara March, filha do Guevara, em visita ao Brasil nesta semana, afirmou que Orlando Zapata, era um "delinquente comum". Disse mais: "São personagens criadas pela mídia para caluniar Cuba. Recebem dinheiro de empresários dos EUA e Europa que são contrários à revolução cubana". Digamos que a opinião de Aleida seja parcial, mas seria imparcial e digna de credibilidade a informação da imprensa brazileira colonizada, que repete aqui a ladainha norte-americana?


Os EUA divulgaram em 2007 parte dos documentos secretos da CIA chamados "Jóias da Família", onde reconheciam terem tentado matar por diversas vezes o líder cubano Fidel Castro, sem contar a invasão mal sucedida à Baía dos Porcos em Cuba, dentre inúmeras outras ações contra o país.


Em 2 de setembro de 2005, o português José Saramago e o brasileiro Oscar Niemeyer, entre outros, assinaram um documento pedindo a libertação de 5 cubanos presos e injustamente condenados nos EUA. Até hoje, nada aconteceu.


E Guantánamo, e Abu Ghraib? Por acaso a nação norte-americana é algum exemplo de respeito aos direitos humanos?


Em janeiro de 1988, quando Fidel recebeu a visita do Papa João Paulo II, ele afirmou: "Esta noite, milhões de crianças dormirão na rua, mas nenhuma delas em Cuba". Os EUA não poderiam fazer esta afirmação... Não existe analfabeto em Cuba. A saúde é um direito de todos os cidadãos do país, e tá lá o Obama querendo fazer o mesmo na nação mais rica do planeta, com enormes dificuldades.


Cuba enviou médicos para ajudar o Haiti, os EUA enviaram tropas para controlar o espaço aéreo e as propriedades de cidadãos norte-americanos.


Vá lá que um erro não justifique o outro, e sendo libertária, reprovo qualquer regime de força, mas sentar no próprio rabo para falar mal do rabo alheio é falta de caráter!


E o nó no peito é a constatação do que todos nós já esperávamos: vamos sofrer muito nessas eleições. Será uma luta entre Davi e Golias. E todos nós, que temos consciência do que está em jogo temos a responsabilidade de salvar o BRASIL desses brazileiros.

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