O objetivo deste blog é discutir um projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil. Esse projeto não brotará naturalmente das forças de mercado e sim de um engajamento político que direcionará os recursos do país na criação de uma nação soberana, desenvolvida e com justiça social.
quarta-feira, janeiro 13, 2010
Milho aos pombos - Zé Geraldo
Ás vezes está abrindo em duplicidade. Ao mesmo tempo que abre o clip aqui do blog, também é iniciado doYou Tube. É só cancelar este que a música flue normalmente.
O impasse no Estado
Marcio Pochmann
A trajetória recente do desenvolvimento brasileiro permite que o debate político atual possa se concentrar cada vez mais sobre o futuro próximo que o conjunto da sociedade almeja para o país. Até pouco tempo, contudo, o foco das discussões encontrava-se aprisionado, quando não no passado, na emergência do “curtoprazismo”.
Por Marcio Pochmann, no jornal Valor Econômico
Esse patamar de maturidade alcançado ao longo dos últimos 25 anos pelo processo de consolidação democrática resulta de certos êxitos obtidos pelo reposicionamento do Estado mais recentemente. Recorda-se que a reforma do Estado defendida na década de 1980 terminou sendo inviabilizada pela forma com que as alianças políticas em prol da redemocratização foram conduzidas.
A nova República teve o inegável mérito de consagrar tanto a transição democrática como a geração da Constituição Federal que reconectou o país nas possibilidade contemporâneas de modernização. Nos anos 1990, contudo, o Estado foi tratado como fundamento principal dos problemas nacionais, passando, por conta disso, por medidas de desconstrução que apontaram para um dos maiores procedimentos de concentração de renda e riqueza da história nacional.
Três foram os principais procedimentos adotados para consagrar a brutal transferência de ativos financeiros e econômicos do país. O primeiro referiu-se à opção dos governos de plantão pela elevação do endividamento público, o que permitiu transferir – em menos de uma década – cerca de 1/5 do Produto Interno Bruto (PIB) à cúpula da pirâmide social na forma da financeirização da riqueza.
O segundo procedimento se deu por intermédio do processo de privatização do setor produtivo estatal. Quase 1/6 do PIB foi transferido da propriedade pública para mãos privadas nacionais e estrangeiras, o que possibilitou transformar os já muito enriquecidos nacionalmente em super ricos na escala global. Por fim, o terceiro procedimento resultou do dramático aumento da carga tributária no país. Acontece que a elevação da tributação no montante equivalente a 1/10 do Produto Interno Bruto nacional se deu fundamentalmente sobre a base da pirâmide social brasileira.
Ou seja, a população com remuneração de até dois salários mínimos mensais, que pagava tributos responsáveis pela absorção de quase 1/3 de seu rendimento, passou recolher quantia equivalente à metade de seus ganhos mensais. Na cúpula da pirâmide social, a ausência de tributos específicos, bem como a ação do planejamento tributário, continuou permitindo a evasão contributiva continuada da arrecadação tributária nacional.
Em pleno regime de débil dinamismo produtivo, o ajuste fiscal permanente promovido pelas políticas governamentais da década de 1990 favoreceu significativamente os interesses da parcela privilegiada dos brasileiros. Nesse sentido, observa-se que o Estado era concebido como problema enquanto incapaz de oferecer alternativas necessárias à sustentação da riqueza aos segmentos impossibilitados de elevar seus ganhos por meio do baixo dinamismo produtivo. A opção pela macroeconomia da financeirização da riqueza, fundada no ajuste “permanente” das finanças públicas, abriu caminho para que quantia equivalente a 45% do PIB fosse transferida de pobres para ricos no Brasil conduzido pelo neoliberalismo.
A recente volta do vigor econômico apontada pela maior dinâmica do setor produtivo, que cresce quase duas vezes mais que a experiência da década de 1990, permitiu novas escolhas para o reposicionamento do Estado nacional. Sem o abandono do compromisso com a estabilidade monetária, foi possível começar a reorientação da condução das políticas públicas, abrindo cada vez mais oportunidades de apoio também à base da pirâmide social.
Em resumo, o Estado deixou de ser tratado como problema, para assumir a condição de parte das soluções do conjunto dos problemas nacionais. Ao mesmo tempo em que o processo de endividamento público retrocedeu em relação ao PIB, o setor público estatal foi orientado para contribuir no financiamento do investimento voltado, entre outras áreas, para a ampliação da matriz energética, da infraestrutura econômica e social.
De um lado, bancos públicos vistos como improdutivos e passíveis de privatização foram resgatados e recolocados na marcha da função de apoio à produção e ao desenvolvimento nacional. De outro, empresas estatais que ainda não haviam sido privatizadas foram reconectadas ao esforço maior e executar suas missões de apoio ao crescimento estratégico da produção.
Toda essa reorganização do Estado brasileiro encontra-se incompleta. Mas seus resultados são inequívocos, especialmente em relação à experiência da década de 1990. Há, ainda, muito a ser feito. Mas isso, todavia, comporá parte do debate sobre os rumos do Brasil dos próximos anos. Para onde seguir. No mesmo sentido do fortalecimento do Estado como condição básica do projeto de desenvolvimento nacional com justiça social e sustentabilidade ambiental?
Quando se analisa a situação do conjunto dos municípios brasileiros, percebe-se que a presença do Estado ainda encontra-se insuficiente. Mais da metade dos municípios não conta com agências de banco público e estabelecimento público de cultura, enquanto um a cada três municípios não tem estabelecimentos públicos de saúde para atendimentos de urgência e internação. Somente 2,8% dos municípios possuem estabelecimentos públicos de ensino superior. O sentido do desenvolvimento nacional depende da superação do impasse nacional em torno do Estado. Em 2010, esse debate prosseguirá, guiando o futuro do Brasil.
Marcio Pochmann é presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada0 (Ipea) e professor licenciado do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas.
A trajetória recente do desenvolvimento brasileiro permite que o debate político atual possa se concentrar cada vez mais sobre o futuro próximo que o conjunto da sociedade almeja para o país. Até pouco tempo, contudo, o foco das discussões encontrava-se aprisionado, quando não no passado, na emergência do “curtoprazismo”.
Por Marcio Pochmann, no jornal Valor Econômico
Esse patamar de maturidade alcançado ao longo dos últimos 25 anos pelo processo de consolidação democrática resulta de certos êxitos obtidos pelo reposicionamento do Estado mais recentemente. Recorda-se que a reforma do Estado defendida na década de 1980 terminou sendo inviabilizada pela forma com que as alianças políticas em prol da redemocratização foram conduzidas.
A nova República teve o inegável mérito de consagrar tanto a transição democrática como a geração da Constituição Federal que reconectou o país nas possibilidade contemporâneas de modernização. Nos anos 1990, contudo, o Estado foi tratado como fundamento principal dos problemas nacionais, passando, por conta disso, por medidas de desconstrução que apontaram para um dos maiores procedimentos de concentração de renda e riqueza da história nacional.
Três foram os principais procedimentos adotados para consagrar a brutal transferência de ativos financeiros e econômicos do país. O primeiro referiu-se à opção dos governos de plantão pela elevação do endividamento público, o que permitiu transferir – em menos de uma década – cerca de 1/5 do Produto Interno Bruto (PIB) à cúpula da pirâmide social na forma da financeirização da riqueza.
O segundo procedimento se deu por intermédio do processo de privatização do setor produtivo estatal. Quase 1/6 do PIB foi transferido da propriedade pública para mãos privadas nacionais e estrangeiras, o que possibilitou transformar os já muito enriquecidos nacionalmente em super ricos na escala global. Por fim, o terceiro procedimento resultou do dramático aumento da carga tributária no país. Acontece que a elevação da tributação no montante equivalente a 1/10 do Produto Interno Bruto nacional se deu fundamentalmente sobre a base da pirâmide social brasileira.
Ou seja, a população com remuneração de até dois salários mínimos mensais, que pagava tributos responsáveis pela absorção de quase 1/3 de seu rendimento, passou recolher quantia equivalente à metade de seus ganhos mensais. Na cúpula da pirâmide social, a ausência de tributos específicos, bem como a ação do planejamento tributário, continuou permitindo a evasão contributiva continuada da arrecadação tributária nacional.
Em pleno regime de débil dinamismo produtivo, o ajuste fiscal permanente promovido pelas políticas governamentais da década de 1990 favoreceu significativamente os interesses da parcela privilegiada dos brasileiros. Nesse sentido, observa-se que o Estado era concebido como problema enquanto incapaz de oferecer alternativas necessárias à sustentação da riqueza aos segmentos impossibilitados de elevar seus ganhos por meio do baixo dinamismo produtivo. A opção pela macroeconomia da financeirização da riqueza, fundada no ajuste “permanente” das finanças públicas, abriu caminho para que quantia equivalente a 45% do PIB fosse transferida de pobres para ricos no Brasil conduzido pelo neoliberalismo.
A recente volta do vigor econômico apontada pela maior dinâmica do setor produtivo, que cresce quase duas vezes mais que a experiência da década de 1990, permitiu novas escolhas para o reposicionamento do Estado nacional. Sem o abandono do compromisso com a estabilidade monetária, foi possível começar a reorientação da condução das políticas públicas, abrindo cada vez mais oportunidades de apoio também à base da pirâmide social.
Em resumo, o Estado deixou de ser tratado como problema, para assumir a condição de parte das soluções do conjunto dos problemas nacionais. Ao mesmo tempo em que o processo de endividamento público retrocedeu em relação ao PIB, o setor público estatal foi orientado para contribuir no financiamento do investimento voltado, entre outras áreas, para a ampliação da matriz energética, da infraestrutura econômica e social.
De um lado, bancos públicos vistos como improdutivos e passíveis de privatização foram resgatados e recolocados na marcha da função de apoio à produção e ao desenvolvimento nacional. De outro, empresas estatais que ainda não haviam sido privatizadas foram reconectadas ao esforço maior e executar suas missões de apoio ao crescimento estratégico da produção.
Toda essa reorganização do Estado brasileiro encontra-se incompleta. Mas seus resultados são inequívocos, especialmente em relação à experiência da década de 1990. Há, ainda, muito a ser feito. Mas isso, todavia, comporá parte do debate sobre os rumos do Brasil dos próximos anos. Para onde seguir. No mesmo sentido do fortalecimento do Estado como condição básica do projeto de desenvolvimento nacional com justiça social e sustentabilidade ambiental?
Quando se analisa a situação do conjunto dos municípios brasileiros, percebe-se que a presença do Estado ainda encontra-se insuficiente. Mais da metade dos municípios não conta com agências de banco público e estabelecimento público de cultura, enquanto um a cada três municípios não tem estabelecimentos públicos de saúde para atendimentos de urgência e internação. Somente 2,8% dos municípios possuem estabelecimentos públicos de ensino superior. O sentido do desenvolvimento nacional depende da superação do impasse nacional em torno do Estado. Em 2010, esse debate prosseguirá, guiando o futuro do Brasil.
Marcio Pochmann é presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada0 (Ipea) e professor licenciado do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas.
Brasil: pobres pagam mais impostos que ricos
Clique e acesse o documento do IPEA
Um interessante levantamento do IPEA, intitulado "Pobreza, desigualdade e políticas públicas" mostra que os brasileiros com menor renda teriam que pagar 85,9% a menos de impostos do que os mais ricos para que a carga tributária das duas pontas fosse igualada. Segundo Márcio Pochmann, presidente do órgão, a discrepância está relacionada com a forma de cobrança dos impostos no Brasil.
Pochman explica que a base de arrecadação mais forte é a chamada tributação indireta, embutida nos preços dos alimentos e bens de consumo. Como os mais pobres gastam a maior parte dos ganhos com estes produtos, pagam mais impostos.
Resultado: quem ganha até dois salários mínimos tem 48,9% do rendimento comprometido com os impostos; quem recebe mais de 30 mínimos têm o percentual reduzido para 26,3%. Para reverter essa situação, Pochmann sugere "medidas mais sofisticadas que passam por políticas de tributação", como a cobrança progressiva dos impostos e taxas.
Sempre digo que no Brasil a questão do imposto indireto e regressivo, que os mais pobres pagam e o direto, que os mais ricos pagam e não aceitam a progressividade - por exemplo do IPTU e mesmo do IR, cheio de buracos para sonegar e descontar - é mais antiga do que o problema da reforma política e da democratização dos meios de comunicação, ou mesmo do que a questão da terra no país. Passam governos e Congressos e não há maioria para enfrentá-la.
Porém, mais cedo ou mais tarde, junto com a questão das Forças Armadas - tão em evidência agora frente ao Plano Nacional de Direitos Humanos - o Brasil terá que enfrentar esse problema. Aliás como todos países o fizeram. E pasmem, a maioria no século XIX. Isso mesmo, no século XIX...
terça-feira, janeiro 12, 2010
Lincoln Gordon e a origem dos "desaparecidos"
A elite americana
por William Blum [*]
Lincoln Gordon morreu há poucas semanas com a idade de 96 anos. Licenciara-se summa cum laude em Harvard aos 19 anos, doutorara-se em Oxford como bolsista Rhodes, publicara o seu primeiro livro aos 22 anos, com dúzias mais a seguir sobre governo, economia e política externa na Europa e América Latina. Entrou [como professor] na Faculdade de Harvard aos 23 anos. O dr. Gordon foi executivo no Gabinete de Produção de Guerra durante a II Guerra Mundial, administrador de topo dos programas do Plano Marshall na Europa do pós guerra, embaixador no Brasil, teve outras altas posições no Departamento de Estado e na Casa Branca, foi investigador no Centro Internacional Woodrow Wilson para Académicos, economista na Brookings Institution, presidente da Johns Hopkins University. O presidente Lyndon B. Johnson louvou o serviço diplomático de Gordon como "uma rara combinação de experiência, idealismo e julgamento prático".
Está a ver o quadro? O rapaz maravilha, intelectual brilhante, líder notável de homens, patriota americano destacado.
Abraham Lincoln Gordon foi também o homem de Washington no Brasil, e muito activo, como director do golpe militar de 1964 que derrubou o governo moderadamente de esquerda de João Goulart e condenou o povo brasileiro a mais de 20 anos de uma ditadura terrivelmente brutal.
Os que fazem campanha pelos direitos humanos sustentam há muito que o regime militar do Brasil originou a ideia dos "desaparecidos" e exportou métodos de tortura através da América Latina. Em 2007, o governo brasileiro publicou um livro de 500 páginas, "O direito à memória e à verdade", no qual esboça a tortura sistemática, violação e desaparecimento de aproximadamente 500 activistas de esquerda e inclui fotos de cadáveres e vítimas de tortura. Actualmente, o presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva está a propor uma comissão para investigar alegações de tortura pelos militares durante a ditadura de 1964-1985. (Quando será que os Estados Unidos criam uma comissão para investigar a sua própria tortura?)
Num telegrama para Washington após o golpe, Gordon declarava — numa observação que dificilmente superaria as de John Foster Dulles — que sem aquele golpe poderia ter havido uma "perda total para o ocidente de todas as repúblicas sul americanas". (O golpe foi realmente o princípio de uma série de golpes anti-comunistas fascistóides que aprisionou a metade sul da América do Sul em décadas de um longo pesadelo, culminando na "Operação Condor", no qual várias ditaduras, ajudadas pela CIA, cooperaram na captura e morte de esquerdistas.)
Gordon posteriormente testemunhou numa audiência perante Congresso e, negando completamente qualquer conexão com o golpe no Brasil [1] , declarou que este fora "a mais decisiva vitória isolada da liberdade nos meados do século XX".
Ouçam uma conversação telefónica entre o presidente Johnson e o secretário assistente de Estado para Assuntos Inter-Americanos, Thomas Mann, em 3 de Abril de 1964, dois dias após o golpe:
MANN: Espero que esteja tão feliz como eu acerca do Brasil.
LBJ: Estou.
MANN: Penso que é a coisa mais importante acontecida no hemisfério nos últimos três anos.
LBJ: Espero que eles nos dêem algum crédito ao invés do inferno.
(Michael Beschloss, Taking Charge: The Johnson White House Tapes, 1963-1964 (New York, 1997), p.306. Todas as outras fontes desta secção sobre Gordon podem ser encontradas em: Washington Post, 22/Dezembro/2009, obituário; The Guardian (Londres), 31/Agosto/2007; William Blum, "Killing Hope", chapter 27.)
Assim, da próxima vez que se encontrar com um rapaz maravilha de Harvard, tente manter a sua adulação não importa que posto o homem tenha, mesmo — oh, apenas escolhendo uma posição aleatoriamente — a presidência dos Estados Unidos. Mantenha os olhos centrados não sobre estes "liberais" ... "melhores e mais brilhantes" que vêm e vão, mas sobre a política externa dos EUA que permanece a mesma década após década. Há dúzias de Brasis e de Lincoln Gordons no passado dos EUA. No seu presente. No seu futuro. Eles são o equivalente diplomático dos sujeitos que dirigiam a Enron, a AIG e a Goldman Sachs.
Naturalmente, nem todos os nossos responsáveis pela política externa são como este. Alguns são piores.
E recorde as palavras do espião condenado Alger Hiss: A prisão é "um bom correctivo para três anos de Harvard".
[1] O que é uma mentira diplomática descarada. O golpe de 1964 no Brasil foi preparado, coordenado e apoiado pela Embaixada dos EUA no Rio de Janeiro sob o comando do embaixador Lincoln Gordon. A preparação psicológica e política para o golpe foi feita por entidades criadas pela CIA, como o IPES e o IBAD. A coordenação foi feita pelo general da CIA Vernon Walters em conjunto com o general Castelo Branco (o primeiro presidente pós golpe). Quanto ao apoio militar, o sr. Lincoln Gordon até mandou vir uma esquadra da U.S.Navy pronta para intervir caso houvesse resistência significativa aos golpistas. Preparado durante mais de dois anos, o golpe consumou-se 18 dias depois de o presidente João Goulart anunciar algumas pequenas restrições à remessa de lucros das transnacionais que operavam no Brasil e de uma tímida lei da Reforma Agrária que previa a expropriação de terras (com indemnização aos proprietários) numa faixa de terra ao longo das rodovias federais.(NR)
[*] Autor de numerosas obras, como La CIA Una Historia Negra/ Killing Hope: Intervenciones de La CIA desde la segunda guerra mundial/ U.S. Military and CIA Interventions Since World War II e Les Guerres scélérates . BBlum6@aol.com
O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/blum01072010.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/eua/american_elite.html .
por William Blum [*]
Lincoln Gordon morreu há poucas semanas com a idade de 96 anos. Licenciara-se summa cum laude em Harvard aos 19 anos, doutorara-se em Oxford como bolsista Rhodes, publicara o seu primeiro livro aos 22 anos, com dúzias mais a seguir sobre governo, economia e política externa na Europa e América Latina. Entrou [como professor] na Faculdade de Harvard aos 23 anos. O dr. Gordon foi executivo no Gabinete de Produção de Guerra durante a II Guerra Mundial, administrador de topo dos programas do Plano Marshall na Europa do pós guerra, embaixador no Brasil, teve outras altas posições no Departamento de Estado e na Casa Branca, foi investigador no Centro Internacional Woodrow Wilson para Académicos, economista na Brookings Institution, presidente da Johns Hopkins University. O presidente Lyndon B. Johnson louvou o serviço diplomático de Gordon como "uma rara combinação de experiência, idealismo e julgamento prático".
Está a ver o quadro? O rapaz maravilha, intelectual brilhante, líder notável de homens, patriota americano destacado.
Abraham Lincoln Gordon foi também o homem de Washington no Brasil, e muito activo, como director do golpe militar de 1964 que derrubou o governo moderadamente de esquerda de João Goulart e condenou o povo brasileiro a mais de 20 anos de uma ditadura terrivelmente brutal.
Os que fazem campanha pelos direitos humanos sustentam há muito que o regime militar do Brasil originou a ideia dos "desaparecidos" e exportou métodos de tortura através da América Latina. Em 2007, o governo brasileiro publicou um livro de 500 páginas, "O direito à memória e à verdade", no qual esboça a tortura sistemática, violação e desaparecimento de aproximadamente 500 activistas de esquerda e inclui fotos de cadáveres e vítimas de tortura. Actualmente, o presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva está a propor uma comissão para investigar alegações de tortura pelos militares durante a ditadura de 1964-1985. (Quando será que os Estados Unidos criam uma comissão para investigar a sua própria tortura?)
Num telegrama para Washington após o golpe, Gordon declarava — numa observação que dificilmente superaria as de John Foster Dulles — que sem aquele golpe poderia ter havido uma "perda total para o ocidente de todas as repúblicas sul americanas". (O golpe foi realmente o princípio de uma série de golpes anti-comunistas fascistóides que aprisionou a metade sul da América do Sul em décadas de um longo pesadelo, culminando na "Operação Condor", no qual várias ditaduras, ajudadas pela CIA, cooperaram na captura e morte de esquerdistas.)
Gordon posteriormente testemunhou numa audiência perante Congresso e, negando completamente qualquer conexão com o golpe no Brasil [1] , declarou que este fora "a mais decisiva vitória isolada da liberdade nos meados do século XX".
Ouçam uma conversação telefónica entre o presidente Johnson e o secretário assistente de Estado para Assuntos Inter-Americanos, Thomas Mann, em 3 de Abril de 1964, dois dias após o golpe:
MANN: Espero que esteja tão feliz como eu acerca do Brasil.
LBJ: Estou.
MANN: Penso que é a coisa mais importante acontecida no hemisfério nos últimos três anos.
LBJ: Espero que eles nos dêem algum crédito ao invés do inferno.
(Michael Beschloss, Taking Charge: The Johnson White House Tapes, 1963-1964 (New York, 1997), p.306. Todas as outras fontes desta secção sobre Gordon podem ser encontradas em: Washington Post, 22/Dezembro/2009, obituário; The Guardian (Londres), 31/Agosto/2007; William Blum, "Killing Hope", chapter 27.)
Assim, da próxima vez que se encontrar com um rapaz maravilha de Harvard, tente manter a sua adulação não importa que posto o homem tenha, mesmo — oh, apenas escolhendo uma posição aleatoriamente — a presidência dos Estados Unidos. Mantenha os olhos centrados não sobre estes "liberais" ... "melhores e mais brilhantes" que vêm e vão, mas sobre a política externa dos EUA que permanece a mesma década após década. Há dúzias de Brasis e de Lincoln Gordons no passado dos EUA. No seu presente. No seu futuro. Eles são o equivalente diplomático dos sujeitos que dirigiam a Enron, a AIG e a Goldman Sachs.
Naturalmente, nem todos os nossos responsáveis pela política externa são como este. Alguns são piores.
E recorde as palavras do espião condenado Alger Hiss: A prisão é "um bom correctivo para três anos de Harvard".
[1] O que é uma mentira diplomática descarada. O golpe de 1964 no Brasil foi preparado, coordenado e apoiado pela Embaixada dos EUA no Rio de Janeiro sob o comando do embaixador Lincoln Gordon. A preparação psicológica e política para o golpe foi feita por entidades criadas pela CIA, como o IPES e o IBAD. A coordenação foi feita pelo general da CIA Vernon Walters em conjunto com o general Castelo Branco (o primeiro presidente pós golpe). Quanto ao apoio militar, o sr. Lincoln Gordon até mandou vir uma esquadra da U.S.Navy pronta para intervir caso houvesse resistência significativa aos golpistas. Preparado durante mais de dois anos, o golpe consumou-se 18 dias depois de o presidente João Goulart anunciar algumas pequenas restrições à remessa de lucros das transnacionais que operavam no Brasil e de uma tímida lei da Reforma Agrária que previa a expropriação de terras (com indemnização aos proprietários) numa faixa de terra ao longo das rodovias federais.(NR)
[*] Autor de numerosas obras, como La CIA Una Historia Negra/ Killing Hope: Intervenciones de La CIA desde la segunda guerra mundial/ U.S. Military and CIA Interventions Since World War II e Les Guerres scélérates . BBlum6@aol.com
O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/blum01072010.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/eua/american_elite.html .
Por uma Comissão da Mentira!
DEBATE ABERTO
Marco Aurélio Weissheimer
Já que a verdade causa tanto desconforto no Brasil, que se crie logo a Comissão da Mentira, o instrumento definitivo para "enterrar" (um termo muito adequado ao caso) qualquer revanchismo, a palavra mais repetida na imprensa brasileira nos últimos dias.
Data: 10/01/2010
Há uma saída simples, barata e eficiente para sepultar (palavra adequadíssima, no caso) a polêmica criada pela proposta de criação de uma Comissão da Verdade, destinada a investigar casos de tortura e desaparecimentos ocorridos durante a ditadura militar. Já que a verdade causa desconforto e urticária no Brasil, que se crie a Comissão da Mentira, o instrumento definitivo para enterrar (outra palavra muito adequada ao caso) qualquer revanchismo, a palavra mais repetida na imprensa brasileira nos últimos dias. Já que a verdade ameaça a democracia, e ninguém quer ameaçar a democracia, que se crie logo a Comissão da Mentira. O país dormirá mais tranqüilo.
Como disse o editorial do jornal O Globo, de 31 de dezembro, é preciso dar um basta a essas reiteradas tentativas de revanchismo. E o prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), do alto de sua sabedoria e compromisso com a democracia, advertiu a nação brasileira em um antológico artigo intitulado “Retrocesso e Anarquia”: não há como julgar os torturadores sem julgar os terroristas que pegaram em armas contra o governo dos generais. Tanto a direção de O Globo quanto o prefeito de Curitiba dormiriam mais tranqüilos com a criação da Comissão da Mentira. Ela se encarregaria, por exemplo, de enterrar as versões de que as principais empresas de comunicação do país apoiaram o golpe militar que derrubou o governo constitucional de João Goulart e, depois, se beneficiaram economicamente com o gesto. E quem disse que houve tortura no Brasil? Os militares estavam defendendo a democracia contra terroristas, lembrou o prefeito tucano, já afinado com o espírito da Comissão da Mentira.
Quem quer saber disso? O que interessa para a população saber que os principais jornais e TVs do país apoiaram a ditadura militar? Puro revanchismo! Foram coniventes com a censura, com prisões ilegais, tortura e desaparecimento de prisioneiros políticos? Revanchismo inaceitável!!! Casos de tortura? Não se preocupem! A Comissão da Mentira se encarregaria de não “recriar uma zona de turbulência já superada pela sociedade brasileira”, como disse o editorial de O Globo.
Há um candidato certo para presidir tal comissão: o incansável ministro da Defesa, Nelson Jobim. Ele se encarregaria de trazer para o caminho da mentira aqueles que estão perdidos em busca da verdade, esta coisa desagradável e incômoda. Figuras como o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Cezar Britto, para quem “o Brasil não pode se acovardar e querer esconder a verdade”. O presidente da OAB acredita ainda que “anistia não é amnésia”. Pois bem, a Comissão da Mentira resolveria essas angústias, transformando anistia em amnésia, verdade em covardia e qualquer outra transmutação que seja necessária para livrar o pobre povo brasileiro de zonas de turbulência, como nos alertou O Globo.
A verdade, nos lembrou Beto Richa, pode nos trazer retrocesso e anarquia. Quem quer isso? Turbulência, revanchismo, anarquia, retrocesso...Quem inventou essa história de Comissão da Verdade deveria ser preso e acusado de crime hediondo. Lula deve rever o decreto, como ordenou O Globo. A verdade não é uma alternativa, enfatizou. É preciso arrancar a mentira da verdade, nem que seja à força. Contra todo o revanchismo, que se institua logo a Comissão da Mentira. O Brasil não pode se acovardar e querer conhecer sua história. Isso seria inaceitável, ou, como diria outro possível candidato a presidir a comissão, uma vergonha!
Marco Aurélio Weissheimer
Já que a verdade causa tanto desconforto no Brasil, que se crie logo a Comissão da Mentira, o instrumento definitivo para "enterrar" (um termo muito adequado ao caso) qualquer revanchismo, a palavra mais repetida na imprensa brasileira nos últimos dias.
Data: 10/01/2010
Há uma saída simples, barata e eficiente para sepultar (palavra adequadíssima, no caso) a polêmica criada pela proposta de criação de uma Comissão da Verdade, destinada a investigar casos de tortura e desaparecimentos ocorridos durante a ditadura militar. Já que a verdade causa desconforto e urticária no Brasil, que se crie a Comissão da Mentira, o instrumento definitivo para enterrar (outra palavra muito adequada ao caso) qualquer revanchismo, a palavra mais repetida na imprensa brasileira nos últimos dias. Já que a verdade ameaça a democracia, e ninguém quer ameaçar a democracia, que se crie logo a Comissão da Mentira. O país dormirá mais tranqüilo.
Como disse o editorial do jornal O Globo, de 31 de dezembro, é preciso dar um basta a essas reiteradas tentativas de revanchismo. E o prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), do alto de sua sabedoria e compromisso com a democracia, advertiu a nação brasileira em um antológico artigo intitulado “Retrocesso e Anarquia”: não há como julgar os torturadores sem julgar os terroristas que pegaram em armas contra o governo dos generais. Tanto a direção de O Globo quanto o prefeito de Curitiba dormiriam mais tranqüilos com a criação da Comissão da Mentira. Ela se encarregaria, por exemplo, de enterrar as versões de que as principais empresas de comunicação do país apoiaram o golpe militar que derrubou o governo constitucional de João Goulart e, depois, se beneficiaram economicamente com o gesto. E quem disse que houve tortura no Brasil? Os militares estavam defendendo a democracia contra terroristas, lembrou o prefeito tucano, já afinado com o espírito da Comissão da Mentira.
Quem quer saber disso? O que interessa para a população saber que os principais jornais e TVs do país apoiaram a ditadura militar? Puro revanchismo! Foram coniventes com a censura, com prisões ilegais, tortura e desaparecimento de prisioneiros políticos? Revanchismo inaceitável!!! Casos de tortura? Não se preocupem! A Comissão da Mentira se encarregaria de não “recriar uma zona de turbulência já superada pela sociedade brasileira”, como disse o editorial de O Globo.
Há um candidato certo para presidir tal comissão: o incansável ministro da Defesa, Nelson Jobim. Ele se encarregaria de trazer para o caminho da mentira aqueles que estão perdidos em busca da verdade, esta coisa desagradável e incômoda. Figuras como o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Cezar Britto, para quem “o Brasil não pode se acovardar e querer esconder a verdade”. O presidente da OAB acredita ainda que “anistia não é amnésia”. Pois bem, a Comissão da Mentira resolveria essas angústias, transformando anistia em amnésia, verdade em covardia e qualquer outra transmutação que seja necessária para livrar o pobre povo brasileiro de zonas de turbulência, como nos alertou O Globo.
A verdade, nos lembrou Beto Richa, pode nos trazer retrocesso e anarquia. Quem quer isso? Turbulência, revanchismo, anarquia, retrocesso...Quem inventou essa história de Comissão da Verdade deveria ser preso e acusado de crime hediondo. Lula deve rever o decreto, como ordenou O Globo. A verdade não é uma alternativa, enfatizou. É preciso arrancar a mentira da verdade, nem que seja à força. Contra todo o revanchismo, que se institua logo a Comissão da Mentira. O Brasil não pode se acovardar e querer conhecer sua história. Isso seria inaceitável, ou, como diria outro possível candidato a presidir a comissão, uma vergonha!
O IRÃ E OS DIREITOS HUMANOS
Laerte Braga
Uma bomba detonada por controle remoto matou na terça-feira, 12 de janeiro, o cientista nuclear iraniano Massoud Ali-Mohammadi, professor da Universidade de Teerã. A bomba explodiu na própria universidade e o Ministério das Relações Exteriores afirma que “existem indícios de envolvimento dos EUA e de Israel no ataque”.
A expressão “indícios” chega a ser quase que uma concessão a Israel e aos EUA, já que é prática dos serviços secretos dos governos desses dois países a eliminação de adversários e aqueles que consideram “inimigos”. Isso é terrorismo lato senso e os governos de Israel e dos EUA são terroristas.
À época de Bush o presidente assinou decreto autorizando a CIA e agências de segurança e informações, a seqüestrar ou eliminar pessoas fora do território norte-americano em nome da “garantia da integridade do povo dos EUA”. Obama deu indicativos que esse tipo de crime seria banido em seu governo, mas como tudo o que Obama faz ou fala, na realidade se repete o governo Bush. Saiu a areia e entrou a vaselina.
As poucas mudanças são na política interna e mesmo assim voltadas para ganhos eleitorais e jogando o jogo das futuras eleições.
Está acontecendo em Teerã o julgamento de sete integrantes da religião Bahá’i, presos sob acusação de atividades suspeitas nos protestos contra a reeleição do presidente Mahamud Ahmadinejad.
Os porta-vozes dos Bahá’iis estão denunciando em todo o mundo o caráter “ilegal” das prisões e do julgamento, apontando que os direitos humanos dos presos estão sendo “violados”.
A constituição da República Islâmica do Irã reconhece a existência de mais três religiões além do Islamismo. O Zoroastrianismo, o Cristianismo e o Judaísmo. Todas têm uma cota de representação no parlamento iraniano.
O atual e os governos anteriores, mesmo o moderado de Rafsanjani, atribuem a integrantes da religião Bahá’i ligações com o governo terrorista de Israel, mais precisamente, o uso da religião Bahá’i como instrumento de Tel Aviv para práticas como a de terça-feira, dia 12, a que matou o físico Massoud Ali-Mohammadi.
A sede da religião Bahá’i é em Haifa, no território de Israel. As autoridades iranianas negam perseguição aos integrantes da religião ou à própria religião, mas exibem na mídia do país documentos que comprovam ligações de membros Bahá’is com Israel.
Para o governo de Teerã aceitar os Bahá’is não seria problema e nem é. Não existe veto algum à religião Bahá’i, mas a participação de vários dos que cultuam a fé, em flagrante desacordo com os princípios da própria religião, que proíbe atividade político partidária de seus integrantes, em atos contra o governo. Desde passeatas financiadas por Israel e EUA, manifestações montadas para criar um clima de conflito no país e atentados como esse que matou o físico Massoud Ali-Mohammadi.
A presença de agentes norte-americanos e israelenses em território iraniano se dá através de agentes infiltrados ou integrantes da religião Bahá’i.
Segundo as autoridades iranianas é o caso dos sete presos que estão sendo submetidos a julgamento e outros que foram presos durante a semana passada e nesta semana.
O fato é que a reeleição de Mahamud Ahmadinejad pegou de surpresa os EUA e Israel. A vantagem do presidente sobre seu principal adversário foi de quase dois por um e para isso foi decisiva a participação do eleitorado xiiita em todo o país. Norte-americanos e israelenses apostavam na derrota de Ahmadinejad.
O programa nuclear iraniano é um complicador para as pretensões de Israel e EUA no Oriente Médio. A construção de armas nucleares pelo Irã equilibra a situação naquela parte do mundo, o privilégio dessas armas deixa de ser só de Israel e isso muda, por exemplo, a política de agressão constante ao povo palestino.
O assassinato do físico Massoud Ali-Mohammadi elimina um cientista de peso no programa nuclear do Irã. É um ato de terrorismo puro, hediondo. Não vai, no entanto, paralisar esse programa.
E além de Israel, regimes ditatoriais como o do Egito, da Arábia Saudita, Jordânia, Emirados Árabes começam a enfrentar dificuldades em maior escala com as reações populares à forma como os palestinos são tratados. No Egito, por exemplo, partidos de caráter islâmico tiveram que ser proscritos para que não vencessem as eleições parlamentares em anos anteriores e colocassem em risco a ditadura de Osni Mubarak, controlado por Washington e submisso a Tel Aviv.
A construção de um muro pelo governo egípcio para impedir a passagem de palestinos acaba por somar-se ao muro de Israel que roubou terras palestinas e transforma o que deveria ser, de direito, por decisão da ONU, um estado palestino, num grande gueto. Um grande campo de concentração.
A prática do governo de Israel não difere da prática do governo alemão ao tempo do IIIº Reich. É idêntica.
É claro que a comunidade Bahá’i no Irã, envolvida por Israel e a partir de Israel, em Haifa, sede da religião, vive apreensiva e temerosa. Mas óbvio está a participação de lideranças Bahá’is em ações terroristas contra o governo do presidente Ahmadinejad.
Não significa necessariamente a participação do todo dos Bahá’is, mas é patente o uso da religião para outros fins.
Nessa medida fica difícil aceitar a inocência dos sete Bahá’is que estão sendo julgados em Teerã. Os documentos apresentados pelo governo e autoridades judiciárias do Irã sobre ações terroristas dos acusados a serviço de potências e interesses e estrangeiros são fartos.
A morte por assassinato, terrorismo, do físico Massoud Ali-Mohammadi, é quase que uma prova cabal desse tipo de ação e envolvimento de figuras de destaque na comunidade Bahá’i em complôs contra o Irã.
Quem quer que observe o noticiário sobre a reeleição de Ahmadinejad, voltar no tempo um pouco, vai perceber que a mídia ocidental, a norte-americana e a nosso caso a brasileira, procurou criar uma realidade bem diferente dos fatos, uma versão ao sabor de Washington e Tel Aviv. O temor que, transformando-se numa potência nuclear, o Irã consiga deter o processo terrorista posto em prática na região por Israel e pelos EUA, além das ditaduras de países árabes coniventes com Reich atual.
Não há dúvidas que direitos básicos e fundamentais têm que ser respeitados, do contrário, como dizia Guevara, se para impor nossas idéias precisamos da “porrada”, não há porque lutar. Isso no entanto não retira do governo do Irã, vontade do povo iraniano, o direito de garantir sua segurança e a soberania nacional, além da própria integridade territorial.
A História recente mostra que desde a Revolução Islâmica, que pôs fim a uma ditadura favorável aos EUA, as ações de norte-americanos e israelenses têm sido de violência e agressões sistemáticas ao Irã.
Terça-feira, 12 de janeiro de 2010 fica registrado como um dia em que a ação terrorista do império “eliminou” mais um inimigo. Barack Obama, qualquer autoridade governamental ou mídia dos EUA, ou aqui a nossa, quefalar em direitos humanos chega a ser um escárnio, um insulto.
São bárbaros, assassinos. Pena que estejam envolvendo toda uma comunidade, a Bahá’i, arrastando-a por algumas figuras, a uma situação lamentável.
Os próprios Bahá’is em todo o mundo devem refletir sobre o assunto levando em conta os princípios da religião. Para que não sejam transformados por Israel e pelos EUA, através de agentes, falsos Bahá’is, em instrumento de práticas golpistas e terroristas.
Uma bomba detonada por controle remoto matou na terça-feira, 12 de janeiro, o cientista nuclear iraniano Massoud Ali-Mohammadi, professor da Universidade de Teerã. A bomba explodiu na própria universidade e o Ministério das Relações Exteriores afirma que “existem indícios de envolvimento dos EUA e de Israel no ataque”.
A expressão “indícios” chega a ser quase que uma concessão a Israel e aos EUA, já que é prática dos serviços secretos dos governos desses dois países a eliminação de adversários e aqueles que consideram “inimigos”. Isso é terrorismo lato senso e os governos de Israel e dos EUA são terroristas.
À época de Bush o presidente assinou decreto autorizando a CIA e agências de segurança e informações, a seqüestrar ou eliminar pessoas fora do território norte-americano em nome da “garantia da integridade do povo dos EUA”. Obama deu indicativos que esse tipo de crime seria banido em seu governo, mas como tudo o que Obama faz ou fala, na realidade se repete o governo Bush. Saiu a areia e entrou a vaselina.
As poucas mudanças são na política interna e mesmo assim voltadas para ganhos eleitorais e jogando o jogo das futuras eleições.
Está acontecendo em Teerã o julgamento de sete integrantes da religião Bahá’i, presos sob acusação de atividades suspeitas nos protestos contra a reeleição do presidente Mahamud Ahmadinejad.
Os porta-vozes dos Bahá’iis estão denunciando em todo o mundo o caráter “ilegal” das prisões e do julgamento, apontando que os direitos humanos dos presos estão sendo “violados”.
A constituição da República Islâmica do Irã reconhece a existência de mais três religiões além do Islamismo. O Zoroastrianismo, o Cristianismo e o Judaísmo. Todas têm uma cota de representação no parlamento iraniano.
O atual e os governos anteriores, mesmo o moderado de Rafsanjani, atribuem a integrantes da religião Bahá’i ligações com o governo terrorista de Israel, mais precisamente, o uso da religião Bahá’i como instrumento de Tel Aviv para práticas como a de terça-feira, dia 12, a que matou o físico Massoud Ali-Mohammadi.
A sede da religião Bahá’i é em Haifa, no território de Israel. As autoridades iranianas negam perseguição aos integrantes da religião ou à própria religião, mas exibem na mídia do país documentos que comprovam ligações de membros Bahá’is com Israel.
Para o governo de Teerã aceitar os Bahá’is não seria problema e nem é. Não existe veto algum à religião Bahá’i, mas a participação de vários dos que cultuam a fé, em flagrante desacordo com os princípios da própria religião, que proíbe atividade político partidária de seus integrantes, em atos contra o governo. Desde passeatas financiadas por Israel e EUA, manifestações montadas para criar um clima de conflito no país e atentados como esse que matou o físico Massoud Ali-Mohammadi.
A presença de agentes norte-americanos e israelenses em território iraniano se dá através de agentes infiltrados ou integrantes da religião Bahá’i.
Segundo as autoridades iranianas é o caso dos sete presos que estão sendo submetidos a julgamento e outros que foram presos durante a semana passada e nesta semana.
O fato é que a reeleição de Mahamud Ahmadinejad pegou de surpresa os EUA e Israel. A vantagem do presidente sobre seu principal adversário foi de quase dois por um e para isso foi decisiva a participação do eleitorado xiiita em todo o país. Norte-americanos e israelenses apostavam na derrota de Ahmadinejad.
O programa nuclear iraniano é um complicador para as pretensões de Israel e EUA no Oriente Médio. A construção de armas nucleares pelo Irã equilibra a situação naquela parte do mundo, o privilégio dessas armas deixa de ser só de Israel e isso muda, por exemplo, a política de agressão constante ao povo palestino.
O assassinato do físico Massoud Ali-Mohammadi elimina um cientista de peso no programa nuclear do Irã. É um ato de terrorismo puro, hediondo. Não vai, no entanto, paralisar esse programa.
E além de Israel, regimes ditatoriais como o do Egito, da Arábia Saudita, Jordânia, Emirados Árabes começam a enfrentar dificuldades em maior escala com as reações populares à forma como os palestinos são tratados. No Egito, por exemplo, partidos de caráter islâmico tiveram que ser proscritos para que não vencessem as eleições parlamentares em anos anteriores e colocassem em risco a ditadura de Osni Mubarak, controlado por Washington e submisso a Tel Aviv.
A construção de um muro pelo governo egípcio para impedir a passagem de palestinos acaba por somar-se ao muro de Israel que roubou terras palestinas e transforma o que deveria ser, de direito, por decisão da ONU, um estado palestino, num grande gueto. Um grande campo de concentração.
A prática do governo de Israel não difere da prática do governo alemão ao tempo do IIIº Reich. É idêntica.
É claro que a comunidade Bahá’i no Irã, envolvida por Israel e a partir de Israel, em Haifa, sede da religião, vive apreensiva e temerosa. Mas óbvio está a participação de lideranças Bahá’is em ações terroristas contra o governo do presidente Ahmadinejad.
Não significa necessariamente a participação do todo dos Bahá’is, mas é patente o uso da religião para outros fins.
Nessa medida fica difícil aceitar a inocência dos sete Bahá’is que estão sendo julgados em Teerã. Os documentos apresentados pelo governo e autoridades judiciárias do Irã sobre ações terroristas dos acusados a serviço de potências e interesses e estrangeiros são fartos.
A morte por assassinato, terrorismo, do físico Massoud Ali-Mohammadi, é quase que uma prova cabal desse tipo de ação e envolvimento de figuras de destaque na comunidade Bahá’i em complôs contra o Irã.
Quem quer que observe o noticiário sobre a reeleição de Ahmadinejad, voltar no tempo um pouco, vai perceber que a mídia ocidental, a norte-americana e a nosso caso a brasileira, procurou criar uma realidade bem diferente dos fatos, uma versão ao sabor de Washington e Tel Aviv. O temor que, transformando-se numa potência nuclear, o Irã consiga deter o processo terrorista posto em prática na região por Israel e pelos EUA, além das ditaduras de países árabes coniventes com Reich atual.
Não há dúvidas que direitos básicos e fundamentais têm que ser respeitados, do contrário, como dizia Guevara, se para impor nossas idéias precisamos da “porrada”, não há porque lutar. Isso no entanto não retira do governo do Irã, vontade do povo iraniano, o direito de garantir sua segurança e a soberania nacional, além da própria integridade territorial.
A História recente mostra que desde a Revolução Islâmica, que pôs fim a uma ditadura favorável aos EUA, as ações de norte-americanos e israelenses têm sido de violência e agressões sistemáticas ao Irã.
Terça-feira, 12 de janeiro de 2010 fica registrado como um dia em que a ação terrorista do império “eliminou” mais um inimigo. Barack Obama, qualquer autoridade governamental ou mídia dos EUA, ou aqui a nossa, quefalar em direitos humanos chega a ser um escárnio, um insulto.
São bárbaros, assassinos. Pena que estejam envolvendo toda uma comunidade, a Bahá’i, arrastando-a por algumas figuras, a uma situação lamentável.
Os próprios Bahá’is em todo o mundo devem refletir sobre o assunto levando em conta os princípios da religião. Para que não sejam transformados por Israel e pelos EUA, através de agentes, falsos Bahá’is, em instrumento de práticas golpistas e terroristas.
segunda-feira, janeiro 11, 2010
Filha de Zuzu Angel desabafa. Leitura contra torturadores
Quem tem medo da verdade?
CHEGA UMA hora em que não aguento, tenho que falar. Já que quem deveria falar não fala, ou porque se cansou do combate ou porque acomodou-se em seus novos empregos… POIS BEM: é impressionante o tiroteio de emails de gente da direita truculenta, aqueles que se pensava haviam arquivado os coturnos, que despertam como se fossem zumbis ressuscitados e vêm assombrar nosso cotidiano com elogios à ação sanguinária dos ditadores, os quais torturaram e mataram nos mais sórdidos porões deste país, com instrumentos de tortura terríveis, barbaridades medievais, e trucidaram nossos jovens idealistas, na grande maioria universitários da classe média, que se viram impedidos, pelos algozes, de prosseguir seus estudos nas escolas, onde a liberdade de pensamento não era permitida, que dirá a de expressão!… E AGORA, com o fato distante, essas múmias do passado tentam distorcer os cenários e os personagens daquela época, repetindo a mesma ladainha de demonização dos jovens de esquerda, classificando-os de “terroristas”, quando na verdade eram eles que aterrorizavam, torturavam, detinham o canhão, o poder, e podiam nos calar, proibir, censurar, matar, esquartejar e jogar nossos corpos, de nossos filhos, pais, irmãos, no mar… E MENTIAM, mentiam, mentiam, não revelando às mães sofredoras o paradeiro de seus filhos ou ao menos de seus corpos. Que história triste! Eles podiam tudo, e quem quisesse reclamar que fosse se queixar ao bispo… ELES TINHAM para eles as melhores diretorias, nas empresas públicas e privadas, eram praticamente uma imposição ao empresariado — coitado de quem não contratasse um apadrinhado — e data daquela época esse comportamento distorcido e desonesto, de desvios e privilégios, que levou nosso país ao grau de corrupção que, só agora, com liberdade da imprensa, para denunciar, da Polícia Federal, para apurar, do MP, para agir, nos é revelado…
DE MODO cínico, querem comparar a luta democrática com a repressão, em que liberdade era nenhuma, e tentam impedir a instalação da Comissão da Verdade e Justiça, com a conivência dos aliados de sempre… QUEREM COMPARAR aqueles que perderam tudo — os entes que mais amavam, a saúde, os empregos, a liberdade e, alguns, até o país — com aqueles que massacraram e jamais responderam por isso.
Um país com impunidade gera impunidade. A história estará sempre fadada a se repetir, num país permissivo, que não exerce sua indignação, não separa o trigo do joio… TODOS OS países no mundo onde houve ditadura constituíram comissões da Verdade e Justiça. De Por tugal à Espanha, passando por Chile, Grécia, Ur uguai, Bolívia e Ar gentina, que agora abre seus arquivos daqueles tempos, o que a gente, aqui, até hoje não conseguiu fazer… QUE MEDO é esse de se revelar a Ver dade? Medo de não poderem mais olhar para seus próprios filhos? Ou medo de não poderem mais se olhar no espelho?…
CHEGA UMA hora em que não aguento, tenho que falar. Já que quem deveria falar não fala, ou porque se cansou do combate ou porque acomodou-se em seus novos empregos… POIS BEM: é impressionante o tiroteio de emails de gente da direita truculenta, aqueles que se pensava haviam arquivado os coturnos, que despertam como se fossem zumbis ressuscitados e vêm assombrar nosso cotidiano com elogios à ação sanguinária dos ditadores, os quais torturaram e mataram nos mais sórdidos porões deste país, com instrumentos de tortura terríveis, barbaridades medievais, e trucidaram nossos jovens idealistas, na grande maioria universitários da classe média, que se viram impedidos, pelos algozes, de prosseguir seus estudos nas escolas, onde a liberdade de pensamento não era permitida, que dirá a de expressão!… E AGORA, com o fato distante, essas múmias do passado tentam distorcer os cenários e os personagens daquela época, repetindo a mesma ladainha de demonização dos jovens de esquerda, classificando-os de “terroristas”, quando na verdade eram eles que aterrorizavam, torturavam, detinham o canhão, o poder, e podiam nos calar, proibir, censurar, matar, esquartejar e jogar nossos corpos, de nossos filhos, pais, irmãos, no mar… E MENTIAM, mentiam, mentiam, não revelando às mães sofredoras o paradeiro de seus filhos ou ao menos de seus corpos. Que história triste! Eles podiam tudo, e quem quisesse reclamar que fosse se queixar ao bispo… ELES TINHAM para eles as melhores diretorias, nas empresas públicas e privadas, eram praticamente uma imposição ao empresariado — coitado de quem não contratasse um apadrinhado — e data daquela época esse comportamento distorcido e desonesto, de desvios e privilégios, que levou nosso país ao grau de corrupção que, só agora, com liberdade da imprensa, para denunciar, da Polícia Federal, para apurar, do MP, para agir, nos é revelado…
DE MODO cínico, querem comparar a luta democrática com a repressão, em que liberdade era nenhuma, e tentam impedir a instalação da Comissão da Verdade e Justiça, com a conivência dos aliados de sempre… QUEREM COMPARAR aqueles que perderam tudo — os entes que mais amavam, a saúde, os empregos, a liberdade e, alguns, até o país — com aqueles que massacraram e jamais responderam por isso.
Um país com impunidade gera impunidade. A história estará sempre fadada a se repetir, num país permissivo, que não exerce sua indignação, não separa o trigo do joio… TODOS OS países no mundo onde houve ditadura constituíram comissões da Verdade e Justiça. De Por tugal à Espanha, passando por Chile, Grécia, Ur uguai, Bolívia e Ar gentina, que agora abre seus arquivos daqueles tempos, o que a gente, aqui, até hoje não conseguiu fazer… QUE MEDO é esse de se revelar a Ver dade? Medo de não poderem mais olhar para seus próprios filhos? Ou medo de não poderem mais se olhar no espelho?…
CULTURA BRASILEIRA
Um país só se transforma numa nação desenvolvida e soberana quando aprende a gostar e respeita sua própria cultura. Ela é o espelho da alma brasileira, das nossas aspirações e dos nossos sonhos. O Brasil tem uma cultura muito rica. O nosso povo produz cultura de alta qualidade.
Moraes Moreira - Preta pretinha
Moraes Moreira - Preta pretinha
História Sonegada!
“A abertura ou não dos arquivos sobre a repressão à insurgência armada durante a ditadura militar se resume numa questão: se alguém tem o direito de sonegar à nação sua própria História. Os debates sobre a conveniência de se remexer esse passado viscoso e sobre as razões e as causas de cada lado são secundários. A discussão real é sobre quem são os donos da nossa História. E se, 25 anos depois do fim da ditadura, os militares têm sobre a nossa memória o mesmo poder arbitrário que tiveram durante 20 anos sobre a nossa vida cívica.
Não é só a nossa história em comum que está sendo sonegada. A história individual dos mortos pela repressão também. Aos parentes são negados não apenas seus restos, como a formal cortesia de uma biografia completa. Uma reivindicação que nada tem a ver com revanchismo, que só pede uma deferência à simples necessidade das famílias reaverem seus corpos e saberem seu fim. Impedir que isso aconteça para não melindrar noções corporativas de honra ou imunidade é uma forma de prepotência que, 25 anos depois, não tem mais desculpa.
Revelações como as que o Estadão está publicando sobre a guerrilha no Araguaia servem como um começo para o resgate da nossa memória tutelada. Não precisa mexer na Lei da Anistia. É mais importante para a nação saber a verdade do que punir os culpados. E já que se liberou a História e se busca a verdade com novoânimo, por que não aproveitare investigar alguns pontos cegos daqueles tempos, como a participação de setores do empresariado em coisas como o Comando de Caça aos Comunistas e a Operação Bandeirantes, agindo como corpos auxiliares da repressão urbana, não raro com entusiasmo maior do que o dos militares ou da polícia política – como costuma acontecer quando diletantes fazem o trabalhode profissionais? Algum correspondente civil ao major Curió deve ter em seus arquivos o relato da guerra naquela outra selva.
Mas sei não, há uma tradição brasileira de poupar o patriciado quando ele se desencaminha. Quando descobriram que todos os negócioscom o novo governo Collor teriam que passar pela empresa do P.C. Farias, não foram poucos e não foram pequenos os empresários nacionais que aderiram ao esquema sem fazer perguntas. Nas investigações sobre a corrupção que acabou derrubando Collor, seus nomes desapareceram. E, neste caso, não foram os militares que esconderam a verdade.”
Artigo publicado em vários jornais brasileiros em 25/06/2009.
http://magazinebrasil.blogspot.com/2010/01/historia-sonegada.html
sábado, janeiro 09, 2010
GEOPOLÍTICA
O mito da competência americana
Você já notou que nunca aparece nos noticiários, em qualquer jornal, rádio, TV, nas matérias das agências de notícias, qualquer crítica à competência dos americanos?
Sempre que ocorre algo que mostre a fragilidade dos orgãos de segurança americanos, o fato é imediatamente transformado em algo positivo, em indiscutível prova da “competência” dos orgãos de segurança. O Presidente envia cartas elogiosas, ou telefona para cumprimentar os funcionários envolvidos nos episódios, e todos os jornais do mundo divulgam a matéria de que “mais uma vez os orgãos de segurança dos Estados Unidos funcionaram de forma perfeita”.
Vejamos o episódio da base militar de Fort Hood, no Texas, a maior base militar dos Estados Unidos no mundo – a população da base é de 72.000 pessoas, das quais 42.000 militares. O restante são civis das famílias dos soldados, pessoal das lojas e restaurantes, escolas, etc.
No dia 5 de Novembro de 2009 o Major Nidal Malik Hasan matou 13 pessoas e feriu outras 30, até ser ferido por uma policial civil, Sargento Kimberly Munley, que foi atingida também por Hasan.
Eis os fatos:
1. O Major Hasan vem de uma família palestina que emigrou para os Estados Unidos
2. Nos últimos anos expressava abertamente sua oposição às guerras dos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque. Tornou-se mais radical após a morte de seus pais.
3. Freqüentava assiduamente a mesquita Dar Al-Hijrah em Falls Church, Virginia, na mesma época em que Nawaf al-Hazmi e Hani Hanjour, dois dos seqüestradores dos aviões que destruíram o World Trade Center nos ataques de 11 de Novembro
4. O computador de Hasan mostra visitas a diversos sites Islâmicos radicais
5. Certa vez, Hasan estava fazendo uma palestra para outros psiquiatras e em lugar de falar sobre psiquiatria, usou a oportunidade para falar do Islam, declarando que os infiéis seriam enviados para o Inferno, decapitados, incendiados, e óleo fervente seria derramado em suas gargantas. Segundo a Associated Press, a palestra de Hasan também “justificou os ataques suicidas”.
6. Durante o tempo em que Hasan serviu no Walter Reed Medical Center em Virginia, foi avaliado como “desconectado”, “desinteressado”, “paranoico”, “beligerante” e “esquizóide”.
7. Hasan mostrava admiração pelos ensinamentos de Anwar al-Awlaki, imã da mesquita de Dar al-Hijrah entre 2000 e 2002. Al-Awkali estava sob vigilância e Hasan foi investigado pelo FBI depois que as agencias de inteligência interceptaram 18 emails entre eles no período de Dezembro de 2008 e Junho de 2009. Em um dos emails Hasan escreveu: “Mal posso esperar para me juntar a vocês após a morte”. Hasan também indagou a al-Awlaki quando a jihad era apropriada, e se era permitido matar inocentes em um ataque suicida.
8. O Exército foi informado sobre os contatos, mas achou que não havia nada de anormal. Um grupo de combate ao terrorismo sediado em Washington foi notificado, e a informação analisada por um de seus especialistas do Serviço de Defesa e Investigação Criminal, que concluiu que não havia informação suficiente para uma investigação mais profunda. Apesar de dois investigadores de duas força-tarefas haverem analisado as informações sobre Hasan, os supervisores do Departamento da Defesa não foram informados sobre estas investigações.
9. Hasan estava designado para servir no Afeganistão em 28 de Novembro de 2009. Este fato o deixou extremamente perturbado, e solicitou aos seus superiores que o dispensassem da ida para o Afeganistão. Seu pedido foi recusado.
10. Nos últimos anos, Hasan vinha sendo alvo de perseguições por ser muçulmano. Deixava claro que estava decepcionado com o Exercito, e que desejava sair. Chegou a contratar um advogado para dar baixa, sem sucesso.
Se você ler os itens acima, percebe claramente um padrão. Um homem que se sentia desajustado no Exército, que freqüentava locais e pessoas do Islã radical, que não escondia sua revolta com o Sistema e seu radicalismo cada vez maior.
E, no entanto nem o FBI, nem a CIA, nem o Serviço de Informação do Exercito, nem a NST (National Security Agency) nem o recém criado Departamento de Defesa Territorial (Department of Homeland Security Office of Intelligence and Analysis) perceberam nada de anormal.
Seria de esperar que o FBI tivesse um sistema computadorizado com algoritmos para registrar e analisar todas as pessoas adeptas da religião muçulmana nos Estados Unidos. Que neste universo o FBI definisse um perfil de “pessoa perigosa”, considerando sua freqüência às mesquitas onde os ímãs fossem radicais, seus relacionamentos, viagens suspeitas, etc. Nesse perfil deveriam entrar pessoas que defendessem os comandos suicidas, o Islã radical, etc.
Pelo visto, nada disso é feito. Todos os órgãos de segurança foram surpreendidos, mesmo sabendo de tudo o que listei acima.
Como é possível?
Falta de competência. Mesmo.
Os Estados Unidos têm muito, muito dinheiro. Mas o empregam mal, desperdiçam muito, a corrupção é endêmica, os funcionários são tão burocráticos quanto os funcionários brasileiros do serviço público.
Não se iluda. Os americanos têm mais dinheiro, mas o pessoal encarregado de usar este dinheiro é preguiçoso, burocrata, corrupto. Com um agravante. Nos Estados Unidos há um culto absoluto à lei. Isso é bom, no que se refere aos crimes comuns, ao desempenho da polícia, que faz cumprir a lei sem exceções, etc.
Mas esta mentalidade impera em todo o país, em todas as profissões, em todas as esferas. O que faz com que funcionários do FBI, da CIA, simplesmente “sigam as regras” e sequer cogitem em “pensar por si próprios”.
E o mais incrível é que apenas após 8 horas depois do incidente o Ten. Gen. Robert W. Cone, do Exército Americano, comandante de toda a base, se dignou falar com a imprensa. Conseguiu informar o nome do atirador, e número de mortos e de feridos.
Oito Horas!
E sabem o que ele declarou, após este fiasco? “Embora tenha sido horrível, poderia ter sido bem pior!”
O comandante da base foge de toda responsabilidade.
Uma base com mais de 40 mil soldados, cercada, murada, onde só se entra passando por sentinelas e mostrando identificação, o coração do Exercito americano, foi incapaz de detectar um militar extremista, incapaz de detectar, mesmo com minutos de antecedência, que havia um homem pronto a executar um ataque terrorista.
O Presidente Obama, o Vice Joe Biden, o ex-Presidente Bush, divulgaram notas de apoio e de solidariedade com os feridos e com as famílias dos mortos – nem uma palavra sobre uma investigação para verificar as responsabilidades.
Nem uma palavra na imprensa sobre a incapacidade do FBI de detectar com antecedência o plano terrorista.
Nem uma palavra na imprensa sobre a incompetência do General Cone em zelar pela segurança das 72 mil pessoas sob sua responsabilidade. Nada.
Na imprensa, louvores para o heroísmo da Sargento Kimberly Munley, detalhes dos tiros com que ela atingiu Hasan, detalhes da vida pessoal de Kimberly, etc.
O episódio foi transformado em um enorme ato de heroísmo e de competência por parte da Policia de Killeen, Texas, município onde se situa a base.
As autoridades, com a conivência da imprensa, lançaram uma cortina de fumaça sobre as coisas que realmente interessam: porque o FBI não percebeu a ameaça? Porque o Gen. Cone não consegue cuidar da segurança de sua base? Porque o enorme aparato de segurança dos Estados Unidos não teve a mínima ideia do que ia acontecer? Quem é responsável? Que medidas devem ser tomadas para evitar que isto se repita?
Quem foi punido? Em um Exército eficiente, o General comandante da base teria sido afastado em 24 horas.
Sobre isso, como já mencionei, existem algoritmos que permitem analisar toda a população muçulmana dos Estados Unidos, e com base em detalhes de comportamento, de declarações, dos relacionamentos, etc., conseguem indicar suspeitos para serem seguidos e vigiados. Hasan nunca foi suspeito nem vigiado.
No dia 25 de Dezembro de 2009 um homem detonou um pequeno explosivo dentro de um Airbus A-330 da Northwest Airlines, que vinha de Amsterdã, no momento em que aterrissava em Detroit, às 11h53 locais (14h53 em Brasília). Segundo a companhia aérea Delta (proprietária da Northewest), algumas pessoas ficaram feridas na fracassada tentativa de atentado.
Autoridades americanas acusaram o nigeriano Abdul Mudallad, de 23 anos, pela tentativa de explodir o avião. Análises preliminares feitas pelo FBI, indicaram que o material encontrado com Abdulmutallab tinha o poderoso explosivo PETN, tetranitrato de pentaeritritol.
As autoridades ainda estão tentando esclarecer como o nigeriano conseguiu embarcar mesmo tendo o seu nome em uma lista de extremistas. Além disso, não ficou claro como ele conseguiu passar pela segurança com os explosivos.
O pai do nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab, havia alertado as autoridades dos Estados Unidos sobre as posições extremistas do filho, segundo fontes de inteligência americanas.
As autoridades americanas confirmaram que uma investigação sobre Abdulmutallab foi aberta após o aviso de seu pai, um importante banqueiro nigeriano, mas disseram que as informações não eram suficientes para colocá-lo na lista de pessoas proibidas de voar aos Estados Unidos.
Autoridades em Washington, que pediram anonimato, disseram que o nome de Abdulmutallab havia sido incluído em uma lista de mais de meio milhão de pessoas conhecida como Ambiente Datamart de Identidades Terroristas (Tide, na sigla em inglês).
Depois dos ataques de 11 de Setembro contra as Torres Gêmeas, a segurança nos aeroportos americanos é motivo de orgulho para os americanos, como demonstração da “competência” dos órgãos de segurança americanos.
Que competência? Um homem cujo pai o acusa de extremista, que está em uma lista de suspeitos, embarca tranquilamente em um avião em Amsterdã, e explode uma bomba dentro de um avião, isso é sinal de competência?
Como pôde embarcar? Nós inocentes passageiros, ao embarcarmos para os Estados Unidos, somos submetidos a uma série de controles. Na chegada, mais controles, verificações, listas, etc. Na saída, abrem as nossas malas, nossos computadores, nos mandam tirar os sapatos, etc.
Cumprem todas as regras – e ainda assim um terrorista consegue embarcar.
O nível de incompetência é tão alto que o próprio Presidente Obama declarou que as falhas de segurança que quase permitiram ao extremista nigeriano Umar Farouk Adbulmutallab detonar um explosivo no vôo Amsterdã-Detroit foram "sistêmicas" e são "totalmente inaceitáveis", "Quando nosso governo tem informações sobre um extremista conhecido e essa informação não é compartilhada e trabalhada, de forma que essa pessoa embarca em um avião com explosivos que poderiam custar 300 vidas, uma falha sistêmica ocorreu", afirmou Obama no Havaí, onde passa as festas com sua família.
Ainda segundo o presidente, a sucessão de equívocos levou a um "lapso catastrófico na segurança". O explosivo utilizado pelo nigeriano no frustrado atentado terrorista em Detroit era mais potente do que avaliaram inicialmente autoridades. Caso fosse detonada com sucesso, a bomba poderia ter provocado um buraco na fuselagem do avião, segundo reportagem publicada pelo Washington Post.
Especialistas advertem que até mesmo as determinações mais simples tomadas depois dos ataques de 11 de Setembro, como checar o nome em listas de suspeitos de terrorismo, não foram aplicadas e poderiam ter impedido o embarque de Abdulmullab.
Com o nome na lista de suspeitos de terrorismo, sem despachar bagagem e pagando a passagem em dinheiro vivo, o nigeriano não foi questionado pela segurança do aeroporto. Enquanto isso, nos EUA, as pessoas continuam enfrentando enormes filas e agora devem se adaptar às novas regras, como a proibição de ir ao banheiro na última hora de vôo.
E nós cidadãos dos “países emergentes” continuamos a acreditar nas imagens heróicas de Hollywood que passam nos cinemas e nas séries de TV como C.S.I., e outras análogas. A verdade é bem diferente. A verdade é um sistema incompetente e burocrático, e que nem sempre aplica as regras mais básicas de detecção de suspeitos.
E apesar de todos estes episódios humilhantes para as forças de segurança dos Estados Unidos, no dia 31 de Dezembro, o Taliban assumiu a autoria de um ataque suicida que resultou na morte de ao menos sete agentes da CIA em uma base no sul do Afeganistão, na Província de Khost.
O ataque é considerado o mais grave contra a equipe de inteligência dos EUA desde o início da guerra no Afeganistão, há oito anos, e um dos maiores da história da CIA. Ao menos outros seis funcionários ficaram feridos.
Segundo relato da Associated Press, entre os mortos está a chefe da CIA na base de Khost.
O diretor da agência, Leon Panetta, disse em mensagem aos funcionários que as mortes foram resultado de um ataque terrorista. "Devemos a eles nossa mais profunda gratidão, e prometemos a eles e a suas famílias que nunca vamos parar de lutar pela causa à qual dedicaram suas vidas -uma América mais segura".
O Diretor da CIA declara sua “profunda gratidão” pelo sacrifício de vidas. Mas nem uma palavra sobre responsabilidades. Supõe-se que os funcionários da CIA no Afeganistão sejam homens de elite, treinados em técnicas de detecção de mentiras, de atitudes suspeitas, supõe-se que verifiquem os nomes e as vidas de todos os afegãos que são recrutados pela CIA. No Afeganistão, ser recrutado pela CIA não é o mesmo que ser contratado para trabalhar na Nestlé ou no Carrefour. Deve haver uma detalhada análise do passado dos candidatos. Um acompanhamento e uma vigilância 24 horas por dia, pelo menos durante alguns meses. Provavelmente nada disso foi feito.
Mais uma vez pergunto: Quem foi punido? Quem é responsável? Estas perguntas jamais foram feitas pela mídia americana.
Um porta-voz do Taliban afirmou que o homem-bomba era um soldado das forças armadas afegãs que decidiu se juntar aos insurgentes. "Afegãos que estavam trabalhando com os americanos (...) agora estão com o Taliban. E agora eles sabem que os americanos são os inimigos da nossa religião", afirmou Zabiullah Mujahid, o porta-voz. A versão não foi confirmada pelos EUA.
A CIA coordenou o ataque inicial americano contra o Taliban no Afeganistão em 2001 e desde então tem contribuído com espiões, operações paramilitares e analistas em contra-terrorismo para a região. No último ano, a CIA vinha aumentando sua presença na região.
Apesar de já terem ocorrido outros ataques em bases na Província de Khost, este último foi particularmente audacioso porque o homem bomba ingressou na base pelo portão principal. Ele conseguiu chegar próximo a uma sala de ginástica do posto. Não se sabe até agora se trabalhava no local ou se ele se aproveitou de alguma brecha da segurança.
Leia de novo - Não se sabe até agora se ele trabalhava no local ou se ele se aproveitou de alguma brecha da segurança.
Se fosse no Brasil, a imprensa já estaria criticando, exigindo que os responsáveis fossem encontrados, etc.
A imprensa americana é tão dócil, que não publica uma só palavra de crítica. É uma imprensa inútil e emasculada. Sem coragem.
O ataque contra funcionários da CIA chega em momento de baixa moral da agência devido a acusações de falhas na vigilância ao terrorismo após a tentativa frustrada de ataque a um vôo que ia de Amsterdã a Detroit na última sexta.
Um item em que os americanos são realmente competentes é o Marketing.
Desde pequenos são treinados, preparados, para fazer o Auto-Marketing. Mostrar ao mundo que são capazes de tudo, que são os melhores em tudo, que não cometem erros nem têm falhas.
Pensa que estou exagerando? Lembra do furacão Katina, que destruiu a cidade de Nova Orleans? Durante o furacão, e nos primeiros dois dias após, a cobertura da imprensa, as noticias do governo Federal, Estadual, Municipal, mostravam como as autoridades estavam mobilizadas, e como “tudo estava sob controle”.
Este é o mantra do auto-Marketing.
Não se preocupem, “Está tudo sob controle” – ninguém mais competente do que as pessoas e as equipes que estão cuidando do caso.
Com o passar dos dias, descobriu-se que os efeitos do furacão haviam sido enormemente aumentados devido a falhas humanas, diques que deveriam ter sido abertos e não foram, causando seu rompimento e grande inundação.
Esta imagem é vendida ao mundo por Hollywood, pelos noticiários das TVs, pela CNN. Observe que sempre é mostrado como as situações de crise estão sendo bem administrados. Os responsáveis dão entrevistas coletivas onde destilam autoconfiança e firmeza, e a dócil imprensa, como sempre, não se atreve a perguntar sobre falhas, sobre cobrança de responsabilidades, sobre punições, sobre inquéritos disciplinares.
E nossa imprensa nos diz que aqui é a “Terra da Impunidade”.
A imprensa americana se limita a "informar" o que as autoridades dizem em entrevistas coletivas, press-releases, relatórios coloridos e bem encadernados preparados para consumo dos jornalistas.
Uma última reflexão – as organizações nos Estados Unidos que recebem as maiores verbas, que não sofrem cortes em seus orçamentos, que multiplicaram seus efetivos nos últimos anos, que foram totalmente “reorganizadas”, são as agencias de segurança.
E que demonstram uma total inabilidade, total incompetência, para cumprir seu papel.
São burocratas preocupados com suas carreiras, seus salários, seus carros, suas casas, etc.
Imagine agora o seguinte – se as organizações de segurança são tão incompetentes, como serão então as empresas comuns?
São piores. Uma competição quase mortal entre os funcionários a fim de subir na carreira, fofocas, histórias, escândalos sexuais, corrupção, falta de ética, e tudo encoberto pela dócil imprensa americana.
A mesma incompetência foi o motivo da Depressão de 2008, onde banqueiros, economistas, especialistas incapazes ocupavam altas posiçoes, não tinham a minima ideia do que fazer, não entendiam o que estava ocorrendo, e levaram o país para a mais grave crise desde 1929.
E você pode notar que não saiu na imprensa uma só palavra de critica aos dirigentes do Federal Reserve, o Banco Central. Nem contra os dirigentes do FMI, do Banco Mundial, das agencias de classificaçao de risco, como a Moody’s, que continuaram a classificar o Brasil como “alto risco” e os Estados Unidos com “nenhum risco” – como “risco zero”, senhores? Onde estão com a cabeça?
Não se iluda, o Império é poderoso apenas porque tem mais dinheiro.
E tem mais dinheiro porque a natureza deu ao país enormes reservas de petróleo, de ouro, de prata, deu ao país enormes territórios já prontos
Você já notou que nunca aparece nos noticiários, em qualquer jornal, rádio, TV, nas matérias das agências de notícias, qualquer crítica à competência dos americanos?
Sempre que ocorre algo que mostre a fragilidade dos orgãos de segurança americanos, o fato é imediatamente transformado em algo positivo, em indiscutível prova da “competência” dos orgãos de segurança. O Presidente envia cartas elogiosas, ou telefona para cumprimentar os funcionários envolvidos nos episódios, e todos os jornais do mundo divulgam a matéria de que “mais uma vez os orgãos de segurança dos Estados Unidos funcionaram de forma perfeita”.
Vejamos o episódio da base militar de Fort Hood, no Texas, a maior base militar dos Estados Unidos no mundo – a população da base é de 72.000 pessoas, das quais 42.000 militares. O restante são civis das famílias dos soldados, pessoal das lojas e restaurantes, escolas, etc.
No dia 5 de Novembro de 2009 o Major Nidal Malik Hasan matou 13 pessoas e feriu outras 30, até ser ferido por uma policial civil, Sargento Kimberly Munley, que foi atingida também por Hasan.
Eis os fatos:
1. O Major Hasan vem de uma família palestina que emigrou para os Estados Unidos
2. Nos últimos anos expressava abertamente sua oposição às guerras dos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque. Tornou-se mais radical após a morte de seus pais.
3. Freqüentava assiduamente a mesquita Dar Al-Hijrah em Falls Church, Virginia, na mesma época em que Nawaf al-Hazmi e Hani Hanjour, dois dos seqüestradores dos aviões que destruíram o World Trade Center nos ataques de 11 de Novembro
4. O computador de Hasan mostra visitas a diversos sites Islâmicos radicais
5. Certa vez, Hasan estava fazendo uma palestra para outros psiquiatras e em lugar de falar sobre psiquiatria, usou a oportunidade para falar do Islam, declarando que os infiéis seriam enviados para o Inferno, decapitados, incendiados, e óleo fervente seria derramado em suas gargantas. Segundo a Associated Press, a palestra de Hasan também “justificou os ataques suicidas”.
6. Durante o tempo em que Hasan serviu no Walter Reed Medical Center em Virginia, foi avaliado como “desconectado”, “desinteressado”, “paranoico”, “beligerante” e “esquizóide”.
7. Hasan mostrava admiração pelos ensinamentos de Anwar al-Awlaki, imã da mesquita de Dar al-Hijrah entre 2000 e 2002. Al-Awkali estava sob vigilância e Hasan foi investigado pelo FBI depois que as agencias de inteligência interceptaram 18 emails entre eles no período de Dezembro de 2008 e Junho de 2009. Em um dos emails Hasan escreveu: “Mal posso esperar para me juntar a vocês após a morte”. Hasan também indagou a al-Awlaki quando a jihad era apropriada, e se era permitido matar inocentes em um ataque suicida.
8. O Exército foi informado sobre os contatos, mas achou que não havia nada de anormal. Um grupo de combate ao terrorismo sediado em Washington foi notificado, e a informação analisada por um de seus especialistas do Serviço de Defesa e Investigação Criminal, que concluiu que não havia informação suficiente para uma investigação mais profunda. Apesar de dois investigadores de duas força-tarefas haverem analisado as informações sobre Hasan, os supervisores do Departamento da Defesa não foram informados sobre estas investigações.
9. Hasan estava designado para servir no Afeganistão em 28 de Novembro de 2009. Este fato o deixou extremamente perturbado, e solicitou aos seus superiores que o dispensassem da ida para o Afeganistão. Seu pedido foi recusado.
10. Nos últimos anos, Hasan vinha sendo alvo de perseguições por ser muçulmano. Deixava claro que estava decepcionado com o Exercito, e que desejava sair. Chegou a contratar um advogado para dar baixa, sem sucesso.
Se você ler os itens acima, percebe claramente um padrão. Um homem que se sentia desajustado no Exército, que freqüentava locais e pessoas do Islã radical, que não escondia sua revolta com o Sistema e seu radicalismo cada vez maior.
E, no entanto nem o FBI, nem a CIA, nem o Serviço de Informação do Exercito, nem a NST (National Security Agency) nem o recém criado Departamento de Defesa Territorial (Department of Homeland Security Office of Intelligence and Analysis) perceberam nada de anormal.
Seria de esperar que o FBI tivesse um sistema computadorizado com algoritmos para registrar e analisar todas as pessoas adeptas da religião muçulmana nos Estados Unidos. Que neste universo o FBI definisse um perfil de “pessoa perigosa”, considerando sua freqüência às mesquitas onde os ímãs fossem radicais, seus relacionamentos, viagens suspeitas, etc. Nesse perfil deveriam entrar pessoas que defendessem os comandos suicidas, o Islã radical, etc.
Pelo visto, nada disso é feito. Todos os órgãos de segurança foram surpreendidos, mesmo sabendo de tudo o que listei acima.
Como é possível?
Falta de competência. Mesmo.
Os Estados Unidos têm muito, muito dinheiro. Mas o empregam mal, desperdiçam muito, a corrupção é endêmica, os funcionários são tão burocráticos quanto os funcionários brasileiros do serviço público.
Não se iluda. Os americanos têm mais dinheiro, mas o pessoal encarregado de usar este dinheiro é preguiçoso, burocrata, corrupto. Com um agravante. Nos Estados Unidos há um culto absoluto à lei. Isso é bom, no que se refere aos crimes comuns, ao desempenho da polícia, que faz cumprir a lei sem exceções, etc.
Mas esta mentalidade impera em todo o país, em todas as profissões, em todas as esferas. O que faz com que funcionários do FBI, da CIA, simplesmente “sigam as regras” e sequer cogitem em “pensar por si próprios”.
E o mais incrível é que apenas após 8 horas depois do incidente o Ten. Gen. Robert W. Cone, do Exército Americano, comandante de toda a base, se dignou falar com a imprensa. Conseguiu informar o nome do atirador, e número de mortos e de feridos.
Oito Horas!
E sabem o que ele declarou, após este fiasco? “Embora tenha sido horrível, poderia ter sido bem pior!”
O comandante da base foge de toda responsabilidade.
Uma base com mais de 40 mil soldados, cercada, murada, onde só se entra passando por sentinelas e mostrando identificação, o coração do Exercito americano, foi incapaz de detectar um militar extremista, incapaz de detectar, mesmo com minutos de antecedência, que havia um homem pronto a executar um ataque terrorista.
O Presidente Obama, o Vice Joe Biden, o ex-Presidente Bush, divulgaram notas de apoio e de solidariedade com os feridos e com as famílias dos mortos – nem uma palavra sobre uma investigação para verificar as responsabilidades.
Nem uma palavra na imprensa sobre a incapacidade do FBI de detectar com antecedência o plano terrorista.
Nem uma palavra na imprensa sobre a incompetência do General Cone em zelar pela segurança das 72 mil pessoas sob sua responsabilidade. Nada.
Na imprensa, louvores para o heroísmo da Sargento Kimberly Munley, detalhes dos tiros com que ela atingiu Hasan, detalhes da vida pessoal de Kimberly, etc.
O episódio foi transformado em um enorme ato de heroísmo e de competência por parte da Policia de Killeen, Texas, município onde se situa a base.
As autoridades, com a conivência da imprensa, lançaram uma cortina de fumaça sobre as coisas que realmente interessam: porque o FBI não percebeu a ameaça? Porque o Gen. Cone não consegue cuidar da segurança de sua base? Porque o enorme aparato de segurança dos Estados Unidos não teve a mínima ideia do que ia acontecer? Quem é responsável? Que medidas devem ser tomadas para evitar que isto se repita?
Quem foi punido? Em um Exército eficiente, o General comandante da base teria sido afastado em 24 horas.
Sobre isso, como já mencionei, existem algoritmos que permitem analisar toda a população muçulmana dos Estados Unidos, e com base em detalhes de comportamento, de declarações, dos relacionamentos, etc., conseguem indicar suspeitos para serem seguidos e vigiados. Hasan nunca foi suspeito nem vigiado.
No dia 25 de Dezembro de 2009 um homem detonou um pequeno explosivo dentro de um Airbus A-330 da Northwest Airlines, que vinha de Amsterdã, no momento em que aterrissava em Detroit, às 11h53 locais (14h53 em Brasília). Segundo a companhia aérea Delta (proprietária da Northewest), algumas pessoas ficaram feridas na fracassada tentativa de atentado.
Autoridades americanas acusaram o nigeriano Abdul Mudallad, de 23 anos, pela tentativa de explodir o avião. Análises preliminares feitas pelo FBI, indicaram que o material encontrado com Abdulmutallab tinha o poderoso explosivo PETN, tetranitrato de pentaeritritol.
As autoridades ainda estão tentando esclarecer como o nigeriano conseguiu embarcar mesmo tendo o seu nome em uma lista de extremistas. Além disso, não ficou claro como ele conseguiu passar pela segurança com os explosivos.
O pai do nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab, havia alertado as autoridades dos Estados Unidos sobre as posições extremistas do filho, segundo fontes de inteligência americanas.
As autoridades americanas confirmaram que uma investigação sobre Abdulmutallab foi aberta após o aviso de seu pai, um importante banqueiro nigeriano, mas disseram que as informações não eram suficientes para colocá-lo na lista de pessoas proibidas de voar aos Estados Unidos.
Autoridades em Washington, que pediram anonimato, disseram que o nome de Abdulmutallab havia sido incluído em uma lista de mais de meio milhão de pessoas conhecida como Ambiente Datamart de Identidades Terroristas (Tide, na sigla em inglês).
Depois dos ataques de 11 de Setembro contra as Torres Gêmeas, a segurança nos aeroportos americanos é motivo de orgulho para os americanos, como demonstração da “competência” dos órgãos de segurança americanos.
Que competência? Um homem cujo pai o acusa de extremista, que está em uma lista de suspeitos, embarca tranquilamente em um avião em Amsterdã, e explode uma bomba dentro de um avião, isso é sinal de competência?
Como pôde embarcar? Nós inocentes passageiros, ao embarcarmos para os Estados Unidos, somos submetidos a uma série de controles. Na chegada, mais controles, verificações, listas, etc. Na saída, abrem as nossas malas, nossos computadores, nos mandam tirar os sapatos, etc.
Cumprem todas as regras – e ainda assim um terrorista consegue embarcar.
O nível de incompetência é tão alto que o próprio Presidente Obama declarou que as falhas de segurança que quase permitiram ao extremista nigeriano Umar Farouk Adbulmutallab detonar um explosivo no vôo Amsterdã-Detroit foram "sistêmicas" e são "totalmente inaceitáveis", "Quando nosso governo tem informações sobre um extremista conhecido e essa informação não é compartilhada e trabalhada, de forma que essa pessoa embarca em um avião com explosivos que poderiam custar 300 vidas, uma falha sistêmica ocorreu", afirmou Obama no Havaí, onde passa as festas com sua família.
Ainda segundo o presidente, a sucessão de equívocos levou a um "lapso catastrófico na segurança". O explosivo utilizado pelo nigeriano no frustrado atentado terrorista em Detroit era mais potente do que avaliaram inicialmente autoridades. Caso fosse detonada com sucesso, a bomba poderia ter provocado um buraco na fuselagem do avião, segundo reportagem publicada pelo Washington Post.
Especialistas advertem que até mesmo as determinações mais simples tomadas depois dos ataques de 11 de Setembro, como checar o nome em listas de suspeitos de terrorismo, não foram aplicadas e poderiam ter impedido o embarque de Abdulmullab.
Com o nome na lista de suspeitos de terrorismo, sem despachar bagagem e pagando a passagem em dinheiro vivo, o nigeriano não foi questionado pela segurança do aeroporto. Enquanto isso, nos EUA, as pessoas continuam enfrentando enormes filas e agora devem se adaptar às novas regras, como a proibição de ir ao banheiro na última hora de vôo.
E nós cidadãos dos “países emergentes” continuamos a acreditar nas imagens heróicas de Hollywood que passam nos cinemas e nas séries de TV como C.S.I., e outras análogas. A verdade é bem diferente. A verdade é um sistema incompetente e burocrático, e que nem sempre aplica as regras mais básicas de detecção de suspeitos.
E apesar de todos estes episódios humilhantes para as forças de segurança dos Estados Unidos, no dia 31 de Dezembro, o Taliban assumiu a autoria de um ataque suicida que resultou na morte de ao menos sete agentes da CIA em uma base no sul do Afeganistão, na Província de Khost.
O ataque é considerado o mais grave contra a equipe de inteligência dos EUA desde o início da guerra no Afeganistão, há oito anos, e um dos maiores da história da CIA. Ao menos outros seis funcionários ficaram feridos.
Segundo relato da Associated Press, entre os mortos está a chefe da CIA na base de Khost.
O diretor da agência, Leon Panetta, disse em mensagem aos funcionários que as mortes foram resultado de um ataque terrorista. "Devemos a eles nossa mais profunda gratidão, e prometemos a eles e a suas famílias que nunca vamos parar de lutar pela causa à qual dedicaram suas vidas -uma América mais segura".
O Diretor da CIA declara sua “profunda gratidão” pelo sacrifício de vidas. Mas nem uma palavra sobre responsabilidades. Supõe-se que os funcionários da CIA no Afeganistão sejam homens de elite, treinados em técnicas de detecção de mentiras, de atitudes suspeitas, supõe-se que verifiquem os nomes e as vidas de todos os afegãos que são recrutados pela CIA. No Afeganistão, ser recrutado pela CIA não é o mesmo que ser contratado para trabalhar na Nestlé ou no Carrefour. Deve haver uma detalhada análise do passado dos candidatos. Um acompanhamento e uma vigilância 24 horas por dia, pelo menos durante alguns meses. Provavelmente nada disso foi feito.
Mais uma vez pergunto: Quem foi punido? Quem é responsável? Estas perguntas jamais foram feitas pela mídia americana.
Um porta-voz do Taliban afirmou que o homem-bomba era um soldado das forças armadas afegãs que decidiu se juntar aos insurgentes. "Afegãos que estavam trabalhando com os americanos (...) agora estão com o Taliban. E agora eles sabem que os americanos são os inimigos da nossa religião", afirmou Zabiullah Mujahid, o porta-voz. A versão não foi confirmada pelos EUA.
A CIA coordenou o ataque inicial americano contra o Taliban no Afeganistão em 2001 e desde então tem contribuído com espiões, operações paramilitares e analistas em contra-terrorismo para a região. No último ano, a CIA vinha aumentando sua presença na região.
Apesar de já terem ocorrido outros ataques em bases na Província de Khost, este último foi particularmente audacioso porque o homem bomba ingressou na base pelo portão principal. Ele conseguiu chegar próximo a uma sala de ginástica do posto. Não se sabe até agora se trabalhava no local ou se ele se aproveitou de alguma brecha da segurança.
Leia de novo - Não se sabe até agora se ele trabalhava no local ou se ele se aproveitou de alguma brecha da segurança.
Se fosse no Brasil, a imprensa já estaria criticando, exigindo que os responsáveis fossem encontrados, etc.
A imprensa americana é tão dócil, que não publica uma só palavra de crítica. É uma imprensa inútil e emasculada. Sem coragem.
O ataque contra funcionários da CIA chega em momento de baixa moral da agência devido a acusações de falhas na vigilância ao terrorismo após a tentativa frustrada de ataque a um vôo que ia de Amsterdã a Detroit na última sexta.
Um item em que os americanos são realmente competentes é o Marketing.
Desde pequenos são treinados, preparados, para fazer o Auto-Marketing. Mostrar ao mundo que são capazes de tudo, que são os melhores em tudo, que não cometem erros nem têm falhas.
Pensa que estou exagerando? Lembra do furacão Katina, que destruiu a cidade de Nova Orleans? Durante o furacão, e nos primeiros dois dias após, a cobertura da imprensa, as noticias do governo Federal, Estadual, Municipal, mostravam como as autoridades estavam mobilizadas, e como “tudo estava sob controle”.
Este é o mantra do auto-Marketing.
Não se preocupem, “Está tudo sob controle” – ninguém mais competente do que as pessoas e as equipes que estão cuidando do caso.
Com o passar dos dias, descobriu-se que os efeitos do furacão haviam sido enormemente aumentados devido a falhas humanas, diques que deveriam ter sido abertos e não foram, causando seu rompimento e grande inundação.
Esta imagem é vendida ao mundo por Hollywood, pelos noticiários das TVs, pela CNN. Observe que sempre é mostrado como as situações de crise estão sendo bem administrados. Os responsáveis dão entrevistas coletivas onde destilam autoconfiança e firmeza, e a dócil imprensa, como sempre, não se atreve a perguntar sobre falhas, sobre cobrança de responsabilidades, sobre punições, sobre inquéritos disciplinares.
E nossa imprensa nos diz que aqui é a “Terra da Impunidade”.
A imprensa americana se limita a "informar" o que as autoridades dizem em entrevistas coletivas, press-releases, relatórios coloridos e bem encadernados preparados para consumo dos jornalistas.
Uma última reflexão – as organizações nos Estados Unidos que recebem as maiores verbas, que não sofrem cortes em seus orçamentos, que multiplicaram seus efetivos nos últimos anos, que foram totalmente “reorganizadas”, são as agencias de segurança.
E que demonstram uma total inabilidade, total incompetência, para cumprir seu papel.
São burocratas preocupados com suas carreiras, seus salários, seus carros, suas casas, etc.
Imagine agora o seguinte – se as organizações de segurança são tão incompetentes, como serão então as empresas comuns?
São piores. Uma competição quase mortal entre os funcionários a fim de subir na carreira, fofocas, histórias, escândalos sexuais, corrupção, falta de ética, e tudo encoberto pela dócil imprensa americana.
A mesma incompetência foi o motivo da Depressão de 2008, onde banqueiros, economistas, especialistas incapazes ocupavam altas posiçoes, não tinham a minima ideia do que fazer, não entendiam o que estava ocorrendo, e levaram o país para a mais grave crise desde 1929.
E você pode notar que não saiu na imprensa uma só palavra de critica aos dirigentes do Federal Reserve, o Banco Central. Nem contra os dirigentes do FMI, do Banco Mundial, das agencias de classificaçao de risco, como a Moody’s, que continuaram a classificar o Brasil como “alto risco” e os Estados Unidos com “nenhum risco” – como “risco zero”, senhores? Onde estão com a cabeça?
Não se iluda, o Império é poderoso apenas porque tem mais dinheiro.
E tem mais dinheiro porque a natureza deu ao país enormes reservas de petróleo, de ouro, de prata, deu ao país enormes territórios já prontos
GEOPOLÍTICA
Os EUA e a "pacificação presidencial" na América Latina
O presidente Barack Obama distanciou os EUA de quase toda América Latina e Europa ao aceitar o golpe militar que derrubou a democracia hondurenha em junho passado. O apoio ao processo eleitoral garantiu para os EUA o uso da base aérea de Palmerola, em território hondurenho, cujo valor para o exército estadunidense aumenta na medida em que está sendo expulso da maior parte da América Latina. Obama abriu a brecha ao apoiar um golpe militar, repetindo uma prática dos EUAbem conhecida na América Latina. O artigo é de Noam Chomsky.
Noam Chomsky
Data: 07/01/2010
Barack Obama é o quarto presidente estadunidense a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, unindo-se a outros dentro de uma longa tradição de pacificação que desde sempre serviu aos interesses dos EUA. Os quatro presidentes deixaram sua marca em nossa “pequena região” ("nosso quintal"), que "nunca incomodou ninguém", como caracterizou o secretário de Guerra, Henry L. Stimson, em 1945. Dada a postura do governo de Obama diante das eleições em Honduras, em novembro último, vale a pena examinar esse histórico.
Theodore Roosevelt
Em seu segundo mandato como presidente, Theodore Roosevelt disse que a expansão de povos de sangue branco ou europeu durante os quatro últimos séculos viu-se ameaçada por benefícios permanentes aos povos que já existiam nas terras onde ocorreu essa expansão (apesar do que possam pensar os africanos nativos, americanos, filipinos e outros supostos beneficiados).
Portanto, era inevitável e, em grande medida, desejável para a humanidade em geral que o povo estadunidense terminasse por ser maioria sobre os mexicanos ao conquistar a metade do México, além do que estava fora de qualquer debate esperar que os (texanos) se submetessem à supremacia de uma raça inferior. Utilizar a diplomacia dos navios de artilharia para roubar o Panamá da Colômbia e construir um canal também foi um presente para a humanidade.
Woodrow Wilson
Woodrow Wilson é o mais honrado dos presidentes premiados com o Nobel e, possivelmente, o pior para a América Latina. Sua invasão do Haiti, em 1915, matou milhares de pessoas, praticamente reinstaurou a escravidão e deixou grande parte do país em ruínas.
Para demonstrar seu amor à democracia, Wilson ordenou a seus mariners que desintegrassem o Parlamento haitiano a ponta de pistola em represália pela não aprovação de uma legislação progressista que permitiria às corporações estadunidenses comprar o país caribenho. O problema foi resolvido quando os haitianos adotaram uma Constituição ditada pelos Estados Unidos e redigida sob as armas dos mariners. Tratava-se de um esforço que resultaria benéfico para o Haiti, assegurou o Departamento de Estado a seus cativos.
Wilson também invadiu a República Dominicana para garantir seu bem-estar. Esta nação e o Haiti ficaram sob o mando de violentos guardas civis. Décadas de tortura, violência e miséria em ambos países foram o legado do idealismo wilsoniano, que se converteu em um princípio da política externa dos EUA.
Jimmy Carter
Para o presidente Jimmy Carter, os direitos humanos eram a alma de nossa política externa. Robert Pastor, assessor de segurança nacional para temas da América Latina, explicou que havia importantes distinções entre direitos e política: lamentavelmente a administração teve que respaldar o regime do ditador nicaragüense Anastásio Somoza, e quando isso se tornou impossível, manteve-se no país uma Guarda Nacional treinada nos EUA, mesmo depois de terem ocorrido massacres contra a população com uma brutalidade que as nações reservam para seus inimigos, segundo assinalou o mesmo funcionário, e onde morreram cerca de 40 mil pessoas.
Para Pastor, a razão era elementar: os EUA não queriam controlar a Nicarágua nem nenhum outro país da região, mas tampouco queria que os acontecimentos saíssem do seu controle. Queria que os nicaragüenses atuassem de forma independente, exceto quando essa independência afetasse os interesses dos Estados Unidos.
Barack Obama
O presidente Barack Obama distanciou os EUA de quase toda América Latina e Europa ao aceitar o golpe militar que derrubou a democracia hondurenha em junho passado. A quartelada refletiu abismais e crescentes divisões políticas e socioeconômicas, segundo o New York Times. Para a reduzida classe social alta, o presidente hondurenho Manuel Zelaya converteu-se em uma ameaça para o que esta classe chama de democracia, que, na verdade, é o governo das forças empresariais e políticas mais fortes do país.
Selaya adotou medidas tão perigosas como o incremento do salário mínimo em um país onde 60% da população vive na pobreza. Tinha que ir embora. Praticamente sozinho, os EUA reconheceram as eleições de novembro (nas quais saiu vitorioso Pepe Lobo), realizadas sob um governo militar e que foram uma “grande celebração da democracia”, segundo o embaixador de Obama em Honduras, Hugo Llorens. O apoio ao processo eleitoral garantiu para os EUA o uso da base aérea de Palmerola, em território hondurenho, cujo valor para o exército estadunidense aumenta na medida em que está sendo expulso da maior parte da América Latina.
Depois das eleições, Lewis Anselem, representante de Obama na Organização de Estados Americanos (OEA), aconselhou aos atrasados latinoamericanos que aceitassem o golpe militar e seguissem os EUA no mundo real e não no mundo do realismo mágico.
Obama abriu a brecha ao apoiar um golpe militar. O governo estadunidense financia o Instituto Internacional Republicano (IRI, na sigla em inglês) e o Instituto Nacional Democrático (NDI) que, supostamente, promovem a democracia. O IRI apóia regularmente golpes militares para derrubar governos eleitos, como ocorreu na Veenzuela, em 2002, e no Haiti, em 2004. O NDI tem se contido. Em Honduras, pela primeira vez, esse instituto concordou em observar as eleições realizadas sob um governo militar de facto, ao contrário da OEA e da ONU, que seguiram guiando-se pelo mundo do realismo mágico.
Devido à estreita relação entre o Pentágono e o exército de Honduras e à enorme influência econômica estadunidense no país centroamericano, teria sido muito simples para Obama unir-se aos esforços latinoamericanos e europeus para defender a democracia em Honduras. Mas Barack Obama optou pela política tradicional.
Em sua história das relações hemisféricas, o acadêmico britânico Gordon Connell-Smith escreve: "Enquanto fala, da boca para fora, em defesa de uma democracia representativa para a América Latina, os Estados Unidos têm importantes interesses que vão justamente na direção contrária e que exigem um modelo de democracia meramente formal, especialmente com eleições que, com muita freqüência, resultam numa farsa".
Uma democracia funcional pode responder às preocupações do povo, enquanto os EUA estão mais preocupados em construir as condições mais favoráveis para seus investimentos privados no exterior? Requer-se uma grande dose do que às vezes se chama de ignorância intencional para não ver esses fatos. Uma cegueira assim deve ser zelosamente guardada se é que se deseja que a violência de Estado siga seu curso e cumpra sua função. Sempre em favor da humanidade, é claro, como nos lembrou Obama mais uma vez ao receber o Prêmio Nobel.
Tradução: Katarina Peixoto
O presidente Barack Obama distanciou os EUA de quase toda América Latina e Europa ao aceitar o golpe militar que derrubou a democracia hondurenha em junho passado. O apoio ao processo eleitoral garantiu para os EUA o uso da base aérea de Palmerola, em território hondurenho, cujo valor para o exército estadunidense aumenta na medida em que está sendo expulso da maior parte da América Latina. Obama abriu a brecha ao apoiar um golpe militar, repetindo uma prática dos EUAbem conhecida na América Latina. O artigo é de Noam Chomsky.
Noam Chomsky
Data: 07/01/2010
Barack Obama é o quarto presidente estadunidense a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, unindo-se a outros dentro de uma longa tradição de pacificação que desde sempre serviu aos interesses dos EUA. Os quatro presidentes deixaram sua marca em nossa “pequena região” ("nosso quintal"), que "nunca incomodou ninguém", como caracterizou o secretário de Guerra, Henry L. Stimson, em 1945. Dada a postura do governo de Obama diante das eleições em Honduras, em novembro último, vale a pena examinar esse histórico.
Theodore Roosevelt
Em seu segundo mandato como presidente, Theodore Roosevelt disse que a expansão de povos de sangue branco ou europeu durante os quatro últimos séculos viu-se ameaçada por benefícios permanentes aos povos que já existiam nas terras onde ocorreu essa expansão (apesar do que possam pensar os africanos nativos, americanos, filipinos e outros supostos beneficiados).
Portanto, era inevitável e, em grande medida, desejável para a humanidade em geral que o povo estadunidense terminasse por ser maioria sobre os mexicanos ao conquistar a metade do México, além do que estava fora de qualquer debate esperar que os (texanos) se submetessem à supremacia de uma raça inferior. Utilizar a diplomacia dos navios de artilharia para roubar o Panamá da Colômbia e construir um canal também foi um presente para a humanidade.
Woodrow Wilson
Woodrow Wilson é o mais honrado dos presidentes premiados com o Nobel e, possivelmente, o pior para a América Latina. Sua invasão do Haiti, em 1915, matou milhares de pessoas, praticamente reinstaurou a escravidão e deixou grande parte do país em ruínas.
Para demonstrar seu amor à democracia, Wilson ordenou a seus mariners que desintegrassem o Parlamento haitiano a ponta de pistola em represália pela não aprovação de uma legislação progressista que permitiria às corporações estadunidenses comprar o país caribenho. O problema foi resolvido quando os haitianos adotaram uma Constituição ditada pelos Estados Unidos e redigida sob as armas dos mariners. Tratava-se de um esforço que resultaria benéfico para o Haiti, assegurou o Departamento de Estado a seus cativos.
Wilson também invadiu a República Dominicana para garantir seu bem-estar. Esta nação e o Haiti ficaram sob o mando de violentos guardas civis. Décadas de tortura, violência e miséria em ambos países foram o legado do idealismo wilsoniano, que se converteu em um princípio da política externa dos EUA.
Jimmy Carter
Para o presidente Jimmy Carter, os direitos humanos eram a alma de nossa política externa. Robert Pastor, assessor de segurança nacional para temas da América Latina, explicou que havia importantes distinções entre direitos e política: lamentavelmente a administração teve que respaldar o regime do ditador nicaragüense Anastásio Somoza, e quando isso se tornou impossível, manteve-se no país uma Guarda Nacional treinada nos EUA, mesmo depois de terem ocorrido massacres contra a população com uma brutalidade que as nações reservam para seus inimigos, segundo assinalou o mesmo funcionário, e onde morreram cerca de 40 mil pessoas.
Para Pastor, a razão era elementar: os EUA não queriam controlar a Nicarágua nem nenhum outro país da região, mas tampouco queria que os acontecimentos saíssem do seu controle. Queria que os nicaragüenses atuassem de forma independente, exceto quando essa independência afetasse os interesses dos Estados Unidos.
Barack Obama
O presidente Barack Obama distanciou os EUA de quase toda América Latina e Europa ao aceitar o golpe militar que derrubou a democracia hondurenha em junho passado. A quartelada refletiu abismais e crescentes divisões políticas e socioeconômicas, segundo o New York Times. Para a reduzida classe social alta, o presidente hondurenho Manuel Zelaya converteu-se em uma ameaça para o que esta classe chama de democracia, que, na verdade, é o governo das forças empresariais e políticas mais fortes do país.
Selaya adotou medidas tão perigosas como o incremento do salário mínimo em um país onde 60% da população vive na pobreza. Tinha que ir embora. Praticamente sozinho, os EUA reconheceram as eleições de novembro (nas quais saiu vitorioso Pepe Lobo), realizadas sob um governo militar e que foram uma “grande celebração da democracia”, segundo o embaixador de Obama em Honduras, Hugo Llorens. O apoio ao processo eleitoral garantiu para os EUA o uso da base aérea de Palmerola, em território hondurenho, cujo valor para o exército estadunidense aumenta na medida em que está sendo expulso da maior parte da América Latina.
Depois das eleições, Lewis Anselem, representante de Obama na Organização de Estados Americanos (OEA), aconselhou aos atrasados latinoamericanos que aceitassem o golpe militar e seguissem os EUA no mundo real e não no mundo do realismo mágico.
Obama abriu a brecha ao apoiar um golpe militar. O governo estadunidense financia o Instituto Internacional Republicano (IRI, na sigla em inglês) e o Instituto Nacional Democrático (NDI) que, supostamente, promovem a democracia. O IRI apóia regularmente golpes militares para derrubar governos eleitos, como ocorreu na Veenzuela, em 2002, e no Haiti, em 2004. O NDI tem se contido. Em Honduras, pela primeira vez, esse instituto concordou em observar as eleições realizadas sob um governo militar de facto, ao contrário da OEA e da ONU, que seguiram guiando-se pelo mundo do realismo mágico.
Devido à estreita relação entre o Pentágono e o exército de Honduras e à enorme influência econômica estadunidense no país centroamericano, teria sido muito simples para Obama unir-se aos esforços latinoamericanos e europeus para defender a democracia em Honduras. Mas Barack Obama optou pela política tradicional.
Em sua história das relações hemisféricas, o acadêmico britânico Gordon Connell-Smith escreve: "Enquanto fala, da boca para fora, em defesa de uma democracia representativa para a América Latina, os Estados Unidos têm importantes interesses que vão justamente na direção contrária e que exigem um modelo de democracia meramente formal, especialmente com eleições que, com muita freqüência, resultam numa farsa".
Uma democracia funcional pode responder às preocupações do povo, enquanto os EUA estão mais preocupados em construir as condições mais favoráveis para seus investimentos privados no exterior? Requer-se uma grande dose do que às vezes se chama de ignorância intencional para não ver esses fatos. Uma cegueira assim deve ser zelosamente guardada se é que se deseja que a violência de Estado siga seu curso e cumpra sua função. Sempre em favor da humanidade, é claro, como nos lembrou Obama mais uma vez ao receber o Prêmio Nobel.
Tradução: Katarina Peixoto
O que o povo pensa a respeito do Serra
A "jestão" dos tucanos em São Paulo tem deixado os brasileiros desconfiados sobre a competência de José Serra. É óbvio que o jornalismo brasileiro está moribundo. Folha, Globo, Bandeirantes, Estado de São Paulo, Veja entre outros que representam as famílias midiáticas brasileiras só reproduzem ideologia demo-tucana. Em troca recebem vultosas somas, via propaganda enganosa que tenta fazer uma lavagem cerebral no povo brasileiro. O marqueteiro do Serra segue á risca Joseph goebbels,o propagandista de Hitler, de que uma mentira mil vezes repetida, se torna uma verdade. Todos que conhecem história sabem a isso levou. O governo do Estado de São Paulo, com recursos de impostos dos paulistas, gasta o dinheiro que deveria estar indo para a educação, combate às enchentes, saúde, transporte para tentar passar a imagem de um governo realizador. Em troca dessa grana e pela ideologia embutida nisso tudo, a imprensa brasileira está escondendo todas as facaltruas que está acontecendo em São Paulo. O fato do Jardim Pantanal estar alagado desde dezembro é um descalabro. QUALQUER governo que não faça parte da ideologia demo-tucana já teria sido fuzilado pela Glbo, Folha, Estado, Bandeirantes e Veja. Menos Serra e Kassab.
onde e como organizar a mídia alternativa?
Eduardo Guimarães
Notadamente nos últimos dois anos, vêm ocorrendo tentativas esparsas de se organizar minimamente a mídia “alternativa”, o que seja ela, a blogosfera , sites jornalísticos e algumas revistas, de menor tiragem e de poucos recursos, ditos "de esquerda", o que inclui a CartaCapital, a Caros Amigos, a Fórum e a Revista do Brasil, entre o que conta.
Por Eduardo Guimarães, no blog Cidadania.com
A dificuldade para se lograr tal feito explica o fato de o Brasil ter essa situação esdrúxula de só existirem grandes meios de comunicação de direita. Por que não podemos ter grandes jornais de esquerda como na França, na Itália ou nos Estados Unidos? Na França há o Libération ou L’Humanité, na Itália, L’Unità, ligado ao ex-Partido Comunista, e o independente Il Manifesto; nos Estados Unidos, há o socialista The Nation e, na Grã-Bretanha, The Independent.
Mas e no Brasil, o que temos? Folha, Globo, Estadão, Correio Braziliense, Jornal do Brasil, Zero Hora... E por aí vai. Televisões e rádios? Entre as que têm grande alcance, todas de direita. Sobram à esquerda as revistas supra-mencionadas e os sites e blogs, e essa é a mídia alternativa que se pretende organizar.
Aí vem a questão: organizar como? Já surgiu a ideia de um portal de internet, mas ninguém vai querer abrir mão de seu voo solo para escrever de graça, com obrigação a cumprir. É diferente de fazer um blog, onde você decide o que e quando vai publicar sem ter que respeitar prazos e quaisquer outras imposições que um veículo como um portal de internet exigiria.
Como se não bastasse essa dificuldade, não há dinheiro. Ninguém constrói hoje um portal de internet sem muito, muito dinheiro. Um jornalista da Record me disse que o recém-criado portal de internet R7, da Igreja Universal, conta com uma redação de uma centena e meia de jornalistas e recursos ilimitados para produzir conteúdo. Estamos falando, pois, de milhões de reais.
Outro dia li acho que foi o blogueiro Ricardo Kotscho dizendo que o Brasil tem mais “colunas” do que a Grécia antiga, pois estamos confinados a opinar e opinar, ou reproduzir conteúdo dos grandes veículos. Por falta de dinheiro.
Então onde e como organizar essa mídia “alternativa”?, perguntará o leitor.
Quando se fala em “organizar”, o sentido é ao pé da letra. Formar uma organização nacional dos veículos que, por conta de sua linha ideológica (e este é o fato crucial), sofrem boicote de um empresariado que acredita que comunistas comem criancinhas, e que é aquele que poderia investir em uma fatia do mercado para jornalismo totalmente desatendida no Brasil.
Diante disso tudo, nesta quinta-feira estive reunido com o “publisher” de um dos mais conhecidos e respeitados veículos da mídia “alternativa”, alguém que não recebe nome aqui porque não gosta de aparecer. Essa pessoa se propõe a encabeçar os esforços para se criar uma associação nacional desses veículos, entre os quais estaria este blog. Trata-se de uma tentativa de avançar até onde for possível.
Estamos vivendo um momento complicado, os que nadam contra a corrente da falta de recursos para fazer jornalismo cidadão, ou seja, sem lucrar nada. O ano eleitoral e a possibilidade de continuar fora do poder enlouqueceu a direita, que começa a adotar um nível de radicalização com ameaças de todo tipo aos que já começam a incomodar mesmo trabalhando de forma artesanal e sem recursos financeiros.
Fontes de financiamento, apoio jurídico, venda de espaços para publicidade, entre outros, seriam preocupação dessa associação. Ela teria força e representatividade, pois esses milhares de leitores deste, daquele e daquele outro blog, site ou pequena revista, juntos constituiriam um grande público.
Tenho dado minha contribuição para a integração da mídia “alternativa” na medida do possível. Em breve, colocarei outro anúncio gratuito neste blog para outra importante revista. Muitos dos sites e blogs “linkados” aqui dizem que o Cidadania lhes remeteu milhares de leitores. E há a militância política na ONG Movimento dos Sem-Mídia e o comprometimento com este espaço que já nem me pertence mais.
Se puder contribuir também para essa associação, contribuirei. Acho que o Brasil precisa ter pluralidade no espectro ideológico de sua imprensa. Essa situação de só a direita poder falar para muitos de uma só vez precisa mudar, e só mudará se cada blogueiro, se cada editor de site ou revista de esquerda se dispuser a colaborar.
Notadamente nos últimos dois anos, vêm ocorrendo tentativas esparsas de se organizar minimamente a mídia “alternativa”, o que seja ela, a blogosfera , sites jornalísticos e algumas revistas, de menor tiragem e de poucos recursos, ditos "de esquerda", o que inclui a CartaCapital, a Caros Amigos, a Fórum e a Revista do Brasil, entre o que conta.
Por Eduardo Guimarães, no blog Cidadania.com
A dificuldade para se lograr tal feito explica o fato de o Brasil ter essa situação esdrúxula de só existirem grandes meios de comunicação de direita. Por que não podemos ter grandes jornais de esquerda como na França, na Itália ou nos Estados Unidos? Na França há o Libération ou L’Humanité, na Itália, L’Unità, ligado ao ex-Partido Comunista, e o independente Il Manifesto; nos Estados Unidos, há o socialista The Nation e, na Grã-Bretanha, The Independent.
Mas e no Brasil, o que temos? Folha, Globo, Estadão, Correio Braziliense, Jornal do Brasil, Zero Hora... E por aí vai. Televisões e rádios? Entre as que têm grande alcance, todas de direita. Sobram à esquerda as revistas supra-mencionadas e os sites e blogs, e essa é a mídia alternativa que se pretende organizar.
Aí vem a questão: organizar como? Já surgiu a ideia de um portal de internet, mas ninguém vai querer abrir mão de seu voo solo para escrever de graça, com obrigação a cumprir. É diferente de fazer um blog, onde você decide o que e quando vai publicar sem ter que respeitar prazos e quaisquer outras imposições que um veículo como um portal de internet exigiria.
Como se não bastasse essa dificuldade, não há dinheiro. Ninguém constrói hoje um portal de internet sem muito, muito dinheiro. Um jornalista da Record me disse que o recém-criado portal de internet R7, da Igreja Universal, conta com uma redação de uma centena e meia de jornalistas e recursos ilimitados para produzir conteúdo. Estamos falando, pois, de milhões de reais.
Outro dia li acho que foi o blogueiro Ricardo Kotscho dizendo que o Brasil tem mais “colunas” do que a Grécia antiga, pois estamos confinados a opinar e opinar, ou reproduzir conteúdo dos grandes veículos. Por falta de dinheiro.
Então onde e como organizar essa mídia “alternativa”?, perguntará o leitor.
Quando se fala em “organizar”, o sentido é ao pé da letra. Formar uma organização nacional dos veículos que, por conta de sua linha ideológica (e este é o fato crucial), sofrem boicote de um empresariado que acredita que comunistas comem criancinhas, e que é aquele que poderia investir em uma fatia do mercado para jornalismo totalmente desatendida no Brasil.
Diante disso tudo, nesta quinta-feira estive reunido com o “publisher” de um dos mais conhecidos e respeitados veículos da mídia “alternativa”, alguém que não recebe nome aqui porque não gosta de aparecer. Essa pessoa se propõe a encabeçar os esforços para se criar uma associação nacional desses veículos, entre os quais estaria este blog. Trata-se de uma tentativa de avançar até onde for possível.
Estamos vivendo um momento complicado, os que nadam contra a corrente da falta de recursos para fazer jornalismo cidadão, ou seja, sem lucrar nada. O ano eleitoral e a possibilidade de continuar fora do poder enlouqueceu a direita, que começa a adotar um nível de radicalização com ameaças de todo tipo aos que já começam a incomodar mesmo trabalhando de forma artesanal e sem recursos financeiros.
Fontes de financiamento, apoio jurídico, venda de espaços para publicidade, entre outros, seriam preocupação dessa associação. Ela teria força e representatividade, pois esses milhares de leitores deste, daquele e daquele outro blog, site ou pequena revista, juntos constituiriam um grande público.
Tenho dado minha contribuição para a integração da mídia “alternativa” na medida do possível. Em breve, colocarei outro anúncio gratuito neste blog para outra importante revista. Muitos dos sites e blogs “linkados” aqui dizem que o Cidadania lhes remeteu milhares de leitores. E há a militância política na ONG Movimento dos Sem-Mídia e o comprometimento com este espaço que já nem me pertence mais.
Se puder contribuir também para essa associação, contribuirei. Acho que o Brasil precisa ter pluralidade no espectro ideológico de sua imprensa. Essa situação de só a direita poder falar para muitos de uma só vez precisa mudar, e só mudará se cada blogueiro, se cada editor de site ou revista de esquerda se dispuser a colaborar.
Boris e os garis
Boris e os garis
Por Marcelo Carneiro da Cunha, colunista do SigaMpost e membro do Conselho Editorial*
Estimados leitores, bem-vindos a 2010 e à alma do Boris Casoy. Pois foi a ela que tivemos acesso no último dia 31 de dezembro, quando ele, sem saber que o áudio do programa que apresenta continuava sendo transmitido, falou as suas famosas linhas "que merda, dois lixeiros desejando felicidades...do alto de suas vassouras... dois lixeiros... o mais baixo na escala do trabalho".
Pois eu discordo, estimado jornalista Boris Casoy. Naquele momento, foi o senhor quem representou o que existe de mais baixo na escala do trabalho, que é ser dotado de um desrespeito profundo por quem trabalha, e muito duro. E isso, como eu sei, o senhor sabe, a torcida do Corinthians e o senhor aqui ao lado sabem, foi uma vergonha.
Mas, como também bem o sabemos todos nós, o senhor não está sozinho. Dias atrás, um CEO de um dos maiores grupos de comunicação no Brasil disse que sua empresa tratava igualmente "desde os mais importantes até os mais irrelevantes" colaboradores. Bom, para esse neto da minha avó Jovita, se eu considero alguém irrelevante, seguramente não o considero igual aos mais importantes, concordam?
O Boris Casoy mostrou que pensa exatamente do mesmo jeito. Alguns são importantes, outros são irrelevantes, tão irrelevantes que não deveriam sequer ter a permissão para apresentar seus desejos de feliz ano novo a todos nós, brasileiros, em especial aos mais importantes.
Pois eu, estimado Boris, que me considero muito, mas muito importante, ao menos aqui na minha luxuosa laje de Pinheiros, recebi com muito agrado os votos de felicidade dos dois garis. Mas, posso assegurar, que jamais convidaria o senhor sequer para um Grapette com Cheetos, por mais importante que o senhor seja. Por que o senhor, e sua fala confirma, é mau. Aliás, o senhor é de direita, o que, aqui em casa, dá quase no mesmo.
Na verdade, Boris Casoy traz à tona o eterno debate sobre a relação das classes sociais no Brasil. Boris Casoy expõe o que um setor da classe mais poderosa pensa das demais classes, todas elas as mais baixas, para eles. E precisamos pensar nisso, todos nós.
Porque se o Brasil representa a possibilidade de uma democracia racial, e, quem sabe ainda um dia, uma democracia social, esse pensamento do Boris precisa ser um pensamento minoritário e deslegitimado em nossa sociedade. Precisamos deixar claro que o repudiamos, mesmo que compreendamos que ele existe. Precisamos afirmar, publicamente, que um gari, um motorista, um porteiro, mesmo que ocupando degraus mais baixos na escala salarial (e aqui estão mencionados um motorista e um porteiro porque dois representantes dessas categorias tiveram participações centrais em grandes eventos políticos recentes no Brasil) não são, nunca serão, o mais baixo na escala que importa, que é a escala da cidadania.
O pensamento elitista e discriminatório está entre nós, e isso é uma infeliz consequência da soma da nossa imperfeição com nosso passado escravocrata. Temos que admitir, temos que lutar contra. E o fazemos. Dos 361 comentários sobre o episódio Boris e os garis, que li em um portal, UM apenas defendia Boris, de alguma forma. De alguma maneira, a nossa cidadania foi ativada, e para o lado certo, nesse episódio triste.
Poderia ser pior. Outro jornalista igualmente de direita, igualmente poderoso, igualmente desconhecido em sua alma, nos mostrou a sua verdade de maneira muito pior, assassinando a sangue frio uma jovem que teve o azar de o repelir. E assim como Boris Casoy parece escapar com apenas um pedido sem graça de desculpas, Pimenta Neves, assassino confesso está até hoje em liberdade e isso sim, é uma vergonha, das que doem em todos nós.
Boris Casoy falou o que muitos falam, mas teve contra si o fato de fazê-lo em público e ser um daqueles arautos da moralidade, com seu bordão "Isso é uma vergonha". Assim como bispos e bispas, esses arautos, frequentemente, são vítimas de sua própria inconsistência e da sua própria imoralidade, amplificada pela pureza que aparentam.
Nesse caso, ganhamos todos, até mesmo os garis, que seguramente estão até agora recebendo o apoio de todos os como eu, indignados com essa maldade gratuita. Eles não perderam nada e preservaram a sua dignidade. A eles, o meu aplauso, o meu pedido de que sigam sendo os mesmos e desejando felicidades a todos, mesmo os mais importantes.
É por aí que vamos ultrapassar esses preconceitos mais idióticos que ainda nos assolam, e é por aí que vamos equilibrar grandes atos, como a eleição de um presidente operário, com os pequenos atos que definem o nosso cotidiano.
E para todos vocês leitores, de um sujeito nada, mas nada importante mesmo, por mais que apregoe o contrário, os meus mais sinceros desejos de um super 2010, para todos, todos, todos. Menos o Boris.
* Artigo postado no Terra Magazine em 08.01.2010
Quem é Marcelo Carneiro da Cunha
É escritor e jornalista. Participa do conselho editorial do MPost. Escreveu o argumento do curta-metragem "O Branco", premiado em Berlim e outros importantes festivais. Entre outros, publicou o livro de contos "Simples" e o romance "O Nosso Juiz", pela editora Record. Acaba de escrever o romance "Depois do Sexo", que foi publicado em junho pela Record. Dois longas-metragens estão sendo produzidos a partir de seus romances "Insônia" e "Antes que o Mundo Acabe", publicados pela editora Projeto.
Assista vídeos postados no Youtube
Boris Casoy ofende garis
Por Marcelo Carneiro da Cunha, colunista do SigaMpost e membro do Conselho Editorial*
Estimados leitores, bem-vindos a 2010 e à alma do Boris Casoy. Pois foi a ela que tivemos acesso no último dia 31 de dezembro, quando ele, sem saber que o áudio do programa que apresenta continuava sendo transmitido, falou as suas famosas linhas "que merda, dois lixeiros desejando felicidades...do alto de suas vassouras... dois lixeiros... o mais baixo na escala do trabalho".
Pois eu discordo, estimado jornalista Boris Casoy. Naquele momento, foi o senhor quem representou o que existe de mais baixo na escala do trabalho, que é ser dotado de um desrespeito profundo por quem trabalha, e muito duro. E isso, como eu sei, o senhor sabe, a torcida do Corinthians e o senhor aqui ao lado sabem, foi uma vergonha.
Mas, como também bem o sabemos todos nós, o senhor não está sozinho. Dias atrás, um CEO de um dos maiores grupos de comunicação no Brasil disse que sua empresa tratava igualmente "desde os mais importantes até os mais irrelevantes" colaboradores. Bom, para esse neto da minha avó Jovita, se eu considero alguém irrelevante, seguramente não o considero igual aos mais importantes, concordam?
O Boris Casoy mostrou que pensa exatamente do mesmo jeito. Alguns são importantes, outros são irrelevantes, tão irrelevantes que não deveriam sequer ter a permissão para apresentar seus desejos de feliz ano novo a todos nós, brasileiros, em especial aos mais importantes.
Pois eu, estimado Boris, que me considero muito, mas muito importante, ao menos aqui na minha luxuosa laje de Pinheiros, recebi com muito agrado os votos de felicidade dos dois garis. Mas, posso assegurar, que jamais convidaria o senhor sequer para um Grapette com Cheetos, por mais importante que o senhor seja. Por que o senhor, e sua fala confirma, é mau. Aliás, o senhor é de direita, o que, aqui em casa, dá quase no mesmo.
Na verdade, Boris Casoy traz à tona o eterno debate sobre a relação das classes sociais no Brasil. Boris Casoy expõe o que um setor da classe mais poderosa pensa das demais classes, todas elas as mais baixas, para eles. E precisamos pensar nisso, todos nós.
Porque se o Brasil representa a possibilidade de uma democracia racial, e, quem sabe ainda um dia, uma democracia social, esse pensamento do Boris precisa ser um pensamento minoritário e deslegitimado em nossa sociedade. Precisamos deixar claro que o repudiamos, mesmo que compreendamos que ele existe. Precisamos afirmar, publicamente, que um gari, um motorista, um porteiro, mesmo que ocupando degraus mais baixos na escala salarial (e aqui estão mencionados um motorista e um porteiro porque dois representantes dessas categorias tiveram participações centrais em grandes eventos políticos recentes no Brasil) não são, nunca serão, o mais baixo na escala que importa, que é a escala da cidadania.
O pensamento elitista e discriminatório está entre nós, e isso é uma infeliz consequência da soma da nossa imperfeição com nosso passado escravocrata. Temos que admitir, temos que lutar contra. E o fazemos. Dos 361 comentários sobre o episódio Boris e os garis, que li em um portal, UM apenas defendia Boris, de alguma forma. De alguma maneira, a nossa cidadania foi ativada, e para o lado certo, nesse episódio triste.
Poderia ser pior. Outro jornalista igualmente de direita, igualmente poderoso, igualmente desconhecido em sua alma, nos mostrou a sua verdade de maneira muito pior, assassinando a sangue frio uma jovem que teve o azar de o repelir. E assim como Boris Casoy parece escapar com apenas um pedido sem graça de desculpas, Pimenta Neves, assassino confesso está até hoje em liberdade e isso sim, é uma vergonha, das que doem em todos nós.
Boris Casoy falou o que muitos falam, mas teve contra si o fato de fazê-lo em público e ser um daqueles arautos da moralidade, com seu bordão "Isso é uma vergonha". Assim como bispos e bispas, esses arautos, frequentemente, são vítimas de sua própria inconsistência e da sua própria imoralidade, amplificada pela pureza que aparentam.
Nesse caso, ganhamos todos, até mesmo os garis, que seguramente estão até agora recebendo o apoio de todos os como eu, indignados com essa maldade gratuita. Eles não perderam nada e preservaram a sua dignidade. A eles, o meu aplauso, o meu pedido de que sigam sendo os mesmos e desejando felicidades a todos, mesmo os mais importantes.
É por aí que vamos ultrapassar esses preconceitos mais idióticos que ainda nos assolam, e é por aí que vamos equilibrar grandes atos, como a eleição de um presidente operário, com os pequenos atos que definem o nosso cotidiano.
E para todos vocês leitores, de um sujeito nada, mas nada importante mesmo, por mais que apregoe o contrário, os meus mais sinceros desejos de um super 2010, para todos, todos, todos. Menos o Boris.
* Artigo postado no Terra Magazine em 08.01.2010
Quem é Marcelo Carneiro da Cunha
É escritor e jornalista. Participa do conselho editorial do MPost. Escreveu o argumento do curta-metragem "O Branco", premiado em Berlim e outros importantes festivais. Entre outros, publicou o livro de contos "Simples" e o romance "O Nosso Juiz", pela editora Record. Acaba de escrever o romance "Depois do Sexo", que foi publicado em junho pela Record. Dois longas-metragens estão sendo produzidos a partir de seus romances "Insônia" e "Antes que o Mundo Acabe", publicados pela editora Projeto.
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CULTURA
Amantes" (Two Lovers, James Gray, 2008 - EUA)
Por Eleonora Rosset, psicóloga e psicanalista
É uma pena mas a tradução do título do filme do inglês para o português faz com que se perca o sentido de entre dois amores que existe na história que "Amantes" quer contar.
Joaquin Phoenix, um ator que tira uma máxima expressão de pormenores, dá vida a Leonard, um homem só, perdido, abandonado. Sua aparição no "pier" escuro nos faz compreender de imediato o estado desesperador em que se encontra. Em câmara lenta larga a roupa envolvida em plástico de lavanderia que levava e pula a mureta. Mergulha para a morte.
Mas é salvo e vamos descobrindo através das conversas entre seus pais que essa é a segunda tentativa de suicídio por causa da noiva que o abandonou. O retrato dela está ainda lá em seu quarto para que possa remoer essa dor.
Em "flashback" vemos a moça indo embora e ficamos sabendo que ambos eram portadores da possibilidade de uma doença genética grave. Não poderiam jamais ter filhos e ela não queria adotar.
Leonard toma remédios para doença bipolar e é a imagem da derrota.
Sabemos o quanto de ódio existe nesse estado de alma que chamamos depressão.
Pois bem, quando quis morrer, Leonard parecia querer matar tudo que nele o enchia de frustração: a doença genética, a angústia do abandono, a dor de não poder mudar nada disso. Doia nele, principalmente, a revolta contra a vida que ele não queria que acontecesse do jeito que estava acontecendo.
E não é por acaso que se sente imediatamente atraído por Michelle, desde a primeira vez que a vê, no corredor de seu prédio. São vizinhos.
Gwyneth Paltrow, também excelente no papel, faz essa "pirralha mimada" como diz o pai dela aos berros, saindo de uma visita à filha.
No mesmo instante em que a vê, Leonard crava os olhos nela: uma garota dourada que se veste de preto.
Claro que para esquecer a noiva amada, nada melhor que uma moça que parece só, perdida e abandonada como ele. Uma miragem.
Mas é a auto-destruição que ele fareja nela que o seduz.
Michelle não tem foco na vida: drogas, baladas, assistente e amante de um advogado casado que diz amá-la mas não larga a família...
Ela é o amor de perdição para Leonard.
Ele, de família judia tradicional, tem o carinho da mãe e do pai.
Isabella Rosselini faz a "jewish mamma" de forma sutil, só olhares preocupados e gestos contidos de proteção.
Para Leonard seus pais escolhem Sandra (Vinessa Shaw), boa moça de família judia com as mesmas tradições que eles. E Sandra atrai Leonard para si naturalmente. E o prende com um amor que não é exigente. Bonita e sensual faz amor com ele em uma cena sem gritos mas erótica. Paciente e compreensiva, o aquece com as luvas que comprou para suas mãos geladas.
Ela é o amor de redenção para Leonard.
"Amantes" ficou em cartaz por seis meses em São Paulo. Penso que o público é atraído por esse filme porque há nele o que há nos grandes romances literários ou seja, humanidade, conflito e paixão.
Além de uma trilha sonora belíssima que vai de bossa nova tocada por Stan Getz (Tom Jobim com "Vivo sonhando" e Jorge Benjor com "Chove chuva"), a árias de várias óperas entre as quais "Cavalleria Rusticana" e "Manon Lescaut" no vozeirão de Pavarotti.
"Amantes" nos fala da importância das escolhas que fazemos na vida. E da responsabilidade que vem com elas.
Entrevistado por Luiz Carlos Merten, James Gray disse: "Queria dar ao filme essa textura muito intensa que só se encontra na grande literatura romântica, nos maiores melodramas e na ópera. O amor como sentimento visceral."
James Gray conseguiu o que queria.
"Amantes" é um filme que merece ser visto e não vai ser esquecido.
Quem é Eleonora Rosset
Psicóloga pela PUC, psicanalista (membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise)
Assista trailer
http://www.sigampost.com.br/
Por Eleonora Rosset, psicóloga e psicanalista
É uma pena mas a tradução do título do filme do inglês para o português faz com que se perca o sentido de entre dois amores que existe na história que "Amantes" quer contar.
Joaquin Phoenix, um ator que tira uma máxima expressão de pormenores, dá vida a Leonard, um homem só, perdido, abandonado. Sua aparição no "pier" escuro nos faz compreender de imediato o estado desesperador em que se encontra. Em câmara lenta larga a roupa envolvida em plástico de lavanderia que levava e pula a mureta. Mergulha para a morte.
Mas é salvo e vamos descobrindo através das conversas entre seus pais que essa é a segunda tentativa de suicídio por causa da noiva que o abandonou. O retrato dela está ainda lá em seu quarto para que possa remoer essa dor.
Em "flashback" vemos a moça indo embora e ficamos sabendo que ambos eram portadores da possibilidade de uma doença genética grave. Não poderiam jamais ter filhos e ela não queria adotar.
Leonard toma remédios para doença bipolar e é a imagem da derrota.
Sabemos o quanto de ódio existe nesse estado de alma que chamamos depressão.
Pois bem, quando quis morrer, Leonard parecia querer matar tudo que nele o enchia de frustração: a doença genética, a angústia do abandono, a dor de não poder mudar nada disso. Doia nele, principalmente, a revolta contra a vida que ele não queria que acontecesse do jeito que estava acontecendo.
E não é por acaso que se sente imediatamente atraído por Michelle, desde a primeira vez que a vê, no corredor de seu prédio. São vizinhos.
Gwyneth Paltrow, também excelente no papel, faz essa "pirralha mimada" como diz o pai dela aos berros, saindo de uma visita à filha.
No mesmo instante em que a vê, Leonard crava os olhos nela: uma garota dourada que se veste de preto.
Claro que para esquecer a noiva amada, nada melhor que uma moça que parece só, perdida e abandonada como ele. Uma miragem.
Mas é a auto-destruição que ele fareja nela que o seduz.
Michelle não tem foco na vida: drogas, baladas, assistente e amante de um advogado casado que diz amá-la mas não larga a família...
Ela é o amor de perdição para Leonard.
Ele, de família judia tradicional, tem o carinho da mãe e do pai.
Isabella Rosselini faz a "jewish mamma" de forma sutil, só olhares preocupados e gestos contidos de proteção.
Para Leonard seus pais escolhem Sandra (Vinessa Shaw), boa moça de família judia com as mesmas tradições que eles. E Sandra atrai Leonard para si naturalmente. E o prende com um amor que não é exigente. Bonita e sensual faz amor com ele em uma cena sem gritos mas erótica. Paciente e compreensiva, o aquece com as luvas que comprou para suas mãos geladas.
Ela é o amor de redenção para Leonard.
"Amantes" ficou em cartaz por seis meses em São Paulo. Penso que o público é atraído por esse filme porque há nele o que há nos grandes romances literários ou seja, humanidade, conflito e paixão.
Além de uma trilha sonora belíssima que vai de bossa nova tocada por Stan Getz (Tom Jobim com "Vivo sonhando" e Jorge Benjor com "Chove chuva"), a árias de várias óperas entre as quais "Cavalleria Rusticana" e "Manon Lescaut" no vozeirão de Pavarotti.
"Amantes" nos fala da importância das escolhas que fazemos na vida. E da responsabilidade que vem com elas.
Entrevistado por Luiz Carlos Merten, James Gray disse: "Queria dar ao filme essa textura muito intensa que só se encontra na grande literatura romântica, nos maiores melodramas e na ópera. O amor como sentimento visceral."
James Gray conseguiu o que queria.
"Amantes" é um filme que merece ser visto e não vai ser esquecido.
Quem é Eleonora Rosset
Psicóloga pela PUC, psicanalista (membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise)
Assista trailer
http://www.sigampost.com.br/
sexta-feira, janeiro 08, 2010
terça-feira, janeiro 05, 2010
A escolha deve ser o Rafale
Não cabe a FAB decidiri qual avião comprar. Se fosse comprar o melhor mesmo seria o Sukhoi SU -35 russo. É um avião multifucional, com grande autonomia de voo, ótima manobralidade e capaz de detectar um alvo antes mesmo de ser visto por este. É um dos melhores aviões atuais. Pode enfrentar todos os aviões em operação no mundo atualmente, mesmo o F -22 Raptor dos Estados Unidos ou o F-35, ainda em processo de construção. Talvez por pressão dos Estados Unidos o SU 35 foi tirado do páreio. Restaram o Rafale francês, oGripen sueco e o F-18 Super hornett. No caça Gripen, fabricado pela Saab suceca, as turnbinas são as mesmas que equipam o F-18, de fabricação estadunidense. Ora, num se o Brasil entrar num conflito ou mesmo entrar na lista de países que não contam com a simpatia dos Estados Unidos, esses aviões ficarão no chão. O Irã tem na sua força aérea caças F-5 Tiger e na marinha F-14 TomCat, da época do xá. Esses aviões não estão voando, pois os Estados Unidos não permitem que se vendam peças de reposição para eles. O mesmo acontece com os F-16 da Venezuela. Comprar caças, não é optar pelo mais barato, como o texto da “jornalista” Cantanhêde faz crer (aliás, ela entende de caças tanto quanto de medicina). Ou segundo a matéria, a própria opção da FAB foi levando em conta o preço de aquisição e de operação. O Gripen é um caça ainda experimental, tem a metade da autonomia do Rafale e do F-18. ~´E um caça concebido para um país pequeno como a Suécia. Países continentais como o Brasil precisam é do SU-35 e na falta deste, o Rafale, por ter maior autonomia e poder de fogo. O caça americano F-18 está fora do páreo. Depois que os Estados Unidos vetaram a venda de aviões brasileiros à Venezuela, ficou claro que não dá para depender de material de procedência desse país. O presidente da República Federativa do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva deve escolher melhor o Rafale. Afinal ele é o Comandante em Chefe das Forças Armadas e teve 61% dos votos dos brasileiros em 2006 e atualmente conta com mais de 80% de aprovação do nosso povo. É ISSO.
sábado, janeiro 02, 2010
Por trás da muralha do Egito, em Gaza
por Dina Ezzat, no Al-Ahram Weekly
Tradução: Caia Fittipaldi
Às vésperas do primeiro aniversário da operação “Chumbo Derretido”, ataque de Israel contra Gaza, o Egito volta a alimentar a revolta na fronteira leste com a Faixa de Gaza sob duro boicote por Israel. Cairo tem negado acesso a comboios nacionais e internacionais, de organizações não-governamentais que querem chegar à Faixa de Gaza pela fronteira egípcia.
O ministério do Exterior divulgou duas decisões consecutivas, na 2ª e 3ª feiras, em que se rejeitam pedidos formulados por organizações humanitárias para entrar em Gaza. Segundo o ministério, os pedidos foram rejeitados porque as organizações não satisfizeram as exigências legais vigentes para a concessão do visto de entrada.
Fontes ligadas à segurança, que concordaram em falar a Al-Ahram Weekly sob condição de serem mantidas anônimas, atribuem a negativa ao fato de o governo egípcio não querer qualquer contato ou associação com algumas das referidas organizações nacionais e internacionais, que teriam ligações com a Fraternidade Muçulmana e com o Hamás. “Estamos dispostos a aceitar o pedido de entrada de organizações humanitárias, mas não nos interessa facilitar qualquer tentativa da Fraternidade Muçulmana ou do Hamás de usarem a situação em Gaza para tumultuar a situação nas fronteiras egípcias” – disse uma daquelas fontes.
Nem o Hamás nem a Fraternidade Muçulmana negam participação nas tentativas de fazer chegar socorro humanitário à população economicamente sufocada da Faixa de Gaza; mas negam absolutamente qualquer intenção de manipular a ajuda humanitária para finalidades políticas.
Funcionários egípcios têm informado que a situação já é tensa nas fronteiras. Fonte que também pediu que não fosse identificada disse que a segurança egípcia já tem provas de que ativistas do Hamás estão passando pelos túneis, nas duas direções; esses túneis são construções ilegais que ligam Gaza e territórios egípcios na península do Sinai. Segundo a mesma fonte, “são elementos que testam o terreno para uma possível invasão em massa de palestinos, para protestar contra a construção, pelo Egito, de um muro de segurança na fronteira com Gaza”.
O muro, dizem as autoridades egípcias, é parte de sistema de segurança mais amplo que inclui a instalação, em toda a região de fronteira, de sensores detectores de túneis fornecidos pelos EUA. As mesmas autoridades dizem que o plano dos EUA visa a dois grandes objetivos: primeiro, premiar a ação dos egípcios no combate ao contrabando de armas que, segundo os israelenses, estariam sendo recebidas pelo Hamás. Segundo, impedir qualquer contrabando de armas para o Egito e impedir que o Egito seja invadido por multidões de palestinos, como ocorreu em janeiro de 2008.
O ministro do Exterior, Ahmed Abul-Gheit, e Suleiman Awad, porta-voz do presidente, destacaram em declarações oficiais “o direito de tomar todas as medidas necessárias para proteger as fronteiras, considerando os altos interesses da segurança nacional do Egito”. “A soberania dos territórios egípcios é sagrada, e o Egito não aceitará nenhum risco que a ameace”, disse Awad.
Funcionários egípcios têm demonstrado indiferença aos protestos dos militantes humanitários, contra a construção da “muralha egípcia” – que tornará ainda mais desesperadora a situação dos habitantes de Gaza. “Gostemos ou não dos túneis ilegais entre Gaza e Egito, são a única via pela qual obter água, comida e remédios, mesmo que possam ser também usados para contrabandear armas”, disse um operador de um grupo internacional de ajuda humanitária.
Informação reunida pelo Weekly indica que “o muro de segurança” (para os egípcios) ou “a muralha egípcia” (para os palestinos) consiste de um enorme bloco de aço reforçado, e está sendo construída por partes. A ideia da construção em porções aparentemente desconexas visa a reduzir tensões e protestos – que já começaram, entre os palestinos de Gaza. Na 2ª-feira, milhares de palestinos reuniram para protestar contra a construção da muralha que, dizem, tornará ainda mais desesperadoras as condições de sobrevivência em Gaza, que já vive sob o duro bloqueio imposto pelos israelenses.
Ano passado, já houve manifestações contra o Egito, depois de o país ter mantido as fronteiras fechadas durante os 22 dias da “Operação Chumbo Derretido” contra Gaza.
Hoje, fontes do Hamas disseram que as medidas tomadas pelo Egito são inadmissíveis, sobretudo ao final de um ano duríssimo, tornado ainda mais difícil pelas medidas que o Egito tem adotado na operação da passagem de Rafah. Além disso, as mesmas fontes do Hamás sugerem que, ao tomar as mais recentes medidas que tomou, o Egito dá sinais de tentar desconectar-se do compromisso com a questão palestina e, em geral, com a causa de todos os árabes.
“Nada disso”, respondeu um diplomata egípcio, que também pediu para não ser identificado. Para ele, as medidas de segurança que o Egito está tomando na fronteira com Gaza não visam a criar qualquer atrito com o Hamás, mas, apenas, a evitar que Israel envolva também o Egito no processo de transferir responsabilidades pela Faixa de Gaza. “Israel quer livrar-se de Gaza, jogando-a sobre o Egito. O que estamos dizendo é que a potência ocupante é Israel. Como tal, toda a responsabilidade por Gaza cabe a Israel, não ao Egito.”
Segundo a mesma fonte, a visita de Omar Suleiman, chefe geral da Segurança egípcia a Israel, no domingo, deveu-se exclusivamente a essa questão. Suleiman, disse esse funcionário, tenta também que Israel comprometa-se a levantar, pelo menos parcialmente, o cerco de Gaza, caso chegue a bom termo a negociação de troca de prisioneiros. “Mas essa coisa toma um rumo num dia e, dia seguinte, tudo muda completamente.”
Simultaneamente, muitos oficiais egípcios dão sinais de preocupação e insistem em que o Egito não cogita de abandonar a causa dos palestinos. Estão em andamento consultas entre Cairo e várias capitais árabes e ocidentais, para que se criem condições que levem ao reinício das negociações entre palestinos e israelenses. “A menos que se reiniciem as negociações, não vemos possibilidade de que Israel sequer cogite de melhorar a situação de Gaza” – disse um diplomata.
Fontes egípcias em Washington dizem que há planos para uma visita do ministro do Exterior Abul-Gheit à cidade em meados de janeiro. A visita, dizem, serviria para examinar saídas possíveis para o atual impasse político causado pelo fracasso dos EUA, que não conseguiram impedir que prossiga a construção de colônias israelenses ilegais exclusivas para judeus, nos territórios palestinos ocupados.
Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, continua a insistir, dizem os diplomatas egípcios, na exigência de que, para reiniciar negociações com Israel, as construções ilegais sejam completamente congeladas.
“Há algumas alternativas, que estão sendo examinadas. Um cenário possível é Israel transferir a Abbas a autoridade para governar outros territórios palestinos, em troca de um arranjo mais rigoroso nas questões de segurança” – disse fonte que Weekly entrevistou em Washington. A mesma fonte informou que essa possibilidade está sendo analisada pela Autoridade Palestina e por várias capitais árabes que esperam que, assim, se supere o impasse criado quando Israel não suspendeu as construções ilegais.
Os desenvolvimentos – ou, mais apropriadamente, a ausência de qualquer desenvolvimento – no front palestino são o item principal da agenda do presidente Hosni Mubarak que, essa semana, visitará os Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e o Kuwait.
Tradução: Caia Fittipaldi
Às vésperas do primeiro aniversário da operação “Chumbo Derretido”, ataque de Israel contra Gaza, o Egito volta a alimentar a revolta na fronteira leste com a Faixa de Gaza sob duro boicote por Israel. Cairo tem negado acesso a comboios nacionais e internacionais, de organizações não-governamentais que querem chegar à Faixa de Gaza pela fronteira egípcia.
O ministério do Exterior divulgou duas decisões consecutivas, na 2ª e 3ª feiras, em que se rejeitam pedidos formulados por organizações humanitárias para entrar em Gaza. Segundo o ministério, os pedidos foram rejeitados porque as organizações não satisfizeram as exigências legais vigentes para a concessão do visto de entrada.
Fontes ligadas à segurança, que concordaram em falar a Al-Ahram Weekly sob condição de serem mantidas anônimas, atribuem a negativa ao fato de o governo egípcio não querer qualquer contato ou associação com algumas das referidas organizações nacionais e internacionais, que teriam ligações com a Fraternidade Muçulmana e com o Hamás. “Estamos dispostos a aceitar o pedido de entrada de organizações humanitárias, mas não nos interessa facilitar qualquer tentativa da Fraternidade Muçulmana ou do Hamás de usarem a situação em Gaza para tumultuar a situação nas fronteiras egípcias” – disse uma daquelas fontes.
Nem o Hamás nem a Fraternidade Muçulmana negam participação nas tentativas de fazer chegar socorro humanitário à população economicamente sufocada da Faixa de Gaza; mas negam absolutamente qualquer intenção de manipular a ajuda humanitária para finalidades políticas.
Funcionários egípcios têm informado que a situação já é tensa nas fronteiras. Fonte que também pediu que não fosse identificada disse que a segurança egípcia já tem provas de que ativistas do Hamás estão passando pelos túneis, nas duas direções; esses túneis são construções ilegais que ligam Gaza e territórios egípcios na península do Sinai. Segundo a mesma fonte, “são elementos que testam o terreno para uma possível invasão em massa de palestinos, para protestar contra a construção, pelo Egito, de um muro de segurança na fronteira com Gaza”.
O muro, dizem as autoridades egípcias, é parte de sistema de segurança mais amplo que inclui a instalação, em toda a região de fronteira, de sensores detectores de túneis fornecidos pelos EUA. As mesmas autoridades dizem que o plano dos EUA visa a dois grandes objetivos: primeiro, premiar a ação dos egípcios no combate ao contrabando de armas que, segundo os israelenses, estariam sendo recebidas pelo Hamás. Segundo, impedir qualquer contrabando de armas para o Egito e impedir que o Egito seja invadido por multidões de palestinos, como ocorreu em janeiro de 2008.
O ministro do Exterior, Ahmed Abul-Gheit, e Suleiman Awad, porta-voz do presidente, destacaram em declarações oficiais “o direito de tomar todas as medidas necessárias para proteger as fronteiras, considerando os altos interesses da segurança nacional do Egito”. “A soberania dos territórios egípcios é sagrada, e o Egito não aceitará nenhum risco que a ameace”, disse Awad.
Funcionários egípcios têm demonstrado indiferença aos protestos dos militantes humanitários, contra a construção da “muralha egípcia” – que tornará ainda mais desesperadora a situação dos habitantes de Gaza. “Gostemos ou não dos túneis ilegais entre Gaza e Egito, são a única via pela qual obter água, comida e remédios, mesmo que possam ser também usados para contrabandear armas”, disse um operador de um grupo internacional de ajuda humanitária.
Informação reunida pelo Weekly indica que “o muro de segurança” (para os egípcios) ou “a muralha egípcia” (para os palestinos) consiste de um enorme bloco de aço reforçado, e está sendo construída por partes. A ideia da construção em porções aparentemente desconexas visa a reduzir tensões e protestos – que já começaram, entre os palestinos de Gaza. Na 2ª-feira, milhares de palestinos reuniram para protestar contra a construção da muralha que, dizem, tornará ainda mais desesperadoras as condições de sobrevivência em Gaza, que já vive sob o duro bloqueio imposto pelos israelenses.
Ano passado, já houve manifestações contra o Egito, depois de o país ter mantido as fronteiras fechadas durante os 22 dias da “Operação Chumbo Derretido” contra Gaza.
Hoje, fontes do Hamas disseram que as medidas tomadas pelo Egito são inadmissíveis, sobretudo ao final de um ano duríssimo, tornado ainda mais difícil pelas medidas que o Egito tem adotado na operação da passagem de Rafah. Além disso, as mesmas fontes do Hamás sugerem que, ao tomar as mais recentes medidas que tomou, o Egito dá sinais de tentar desconectar-se do compromisso com a questão palestina e, em geral, com a causa de todos os árabes.
“Nada disso”, respondeu um diplomata egípcio, que também pediu para não ser identificado. Para ele, as medidas de segurança que o Egito está tomando na fronteira com Gaza não visam a criar qualquer atrito com o Hamás, mas, apenas, a evitar que Israel envolva também o Egito no processo de transferir responsabilidades pela Faixa de Gaza. “Israel quer livrar-se de Gaza, jogando-a sobre o Egito. O que estamos dizendo é que a potência ocupante é Israel. Como tal, toda a responsabilidade por Gaza cabe a Israel, não ao Egito.”
Segundo a mesma fonte, a visita de Omar Suleiman, chefe geral da Segurança egípcia a Israel, no domingo, deveu-se exclusivamente a essa questão. Suleiman, disse esse funcionário, tenta também que Israel comprometa-se a levantar, pelo menos parcialmente, o cerco de Gaza, caso chegue a bom termo a negociação de troca de prisioneiros. “Mas essa coisa toma um rumo num dia e, dia seguinte, tudo muda completamente.”
Simultaneamente, muitos oficiais egípcios dão sinais de preocupação e insistem em que o Egito não cogita de abandonar a causa dos palestinos. Estão em andamento consultas entre Cairo e várias capitais árabes e ocidentais, para que se criem condições que levem ao reinício das negociações entre palestinos e israelenses. “A menos que se reiniciem as negociações, não vemos possibilidade de que Israel sequer cogite de melhorar a situação de Gaza” – disse um diplomata.
Fontes egípcias em Washington dizem que há planos para uma visita do ministro do Exterior Abul-Gheit à cidade em meados de janeiro. A visita, dizem, serviria para examinar saídas possíveis para o atual impasse político causado pelo fracasso dos EUA, que não conseguiram impedir que prossiga a construção de colônias israelenses ilegais exclusivas para judeus, nos territórios palestinos ocupados.
Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, continua a insistir, dizem os diplomatas egípcios, na exigência de que, para reiniciar negociações com Israel, as construções ilegais sejam completamente congeladas.
“Há algumas alternativas, que estão sendo examinadas. Um cenário possível é Israel transferir a Abbas a autoridade para governar outros territórios palestinos, em troca de um arranjo mais rigoroso nas questões de segurança” – disse fonte que Weekly entrevistou em Washington. A mesma fonte informou que essa possibilidade está sendo analisada pela Autoridade Palestina e por várias capitais árabes que esperam que, assim, se supere o impasse criado quando Israel não suspendeu as construções ilegais.
Os desenvolvimentos – ou, mais apropriadamente, a ausência de qualquer desenvolvimento – no front palestino são o item principal da agenda do presidente Hosni Mubarak que, essa semana, visitará os Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e o Kuwait.
Um ano do massacre de Gaza
Há um ano, Israel começava um dos mais bárbaros massacres contemporâneos. Ingressou, com todo seu poder de fogo, em uma região já cercada, que não dava possibilidade de fuga à sua população. O Exército que, há décadas, mais recursos recebe da maior potência bélica da história da humanidade, os EUA, descarregava todo seu poderio sobre uma população indefesa, acusada de colocar em risco, com pífios foguetes domésticos (a tal ponto, que Israel não conseguiu descobrir nenhuma das supostas bases de lançamento, nem lugares de sua fabricação) que não tinham provocado nenhuma vitima no seu território. Israel utilizou inclusive armas proibidas, como fósforo branco, sobre a população palestina, encerrada na área mais densamente povoada do mundo.
Os ataques, que não encontraram nenhuma resistência militar, apenas moral, duraram 22 dias, chegando a provocar 225 mortos em um único dia. 1450 palestinos morreram, dos quais 439 menores de 16 anos e 127 mulheres. 4100 edifícios foram destruídos e outros 1 mil foram danificados. A missão de investigação da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas caracterizou os ataques como “crimes de guerra” e “crimes contra a humanidade”.
Foram destruídas milhares de casas, comércios, além de plantações, hospitais, escolas, universidades, clínicas – tudo que os tanques israelenses encontravam pela frente. Gaza se transformou numa terra arrasada. Quem a visitou depois daqueles terríveis 22 dias, relata que nada tinha ficado de pé, como conseqüência da orientação do Exército israelense, de que “ninguém é inocente em Gaza”.
Um ano depois da agressão, os corredores de entrada para Gaza continuam fechados, nada foi reconstruído, caminhões com alimentos e remédios apodrecem no deserto, às portas de Gaza, enquanto todo tipo de doença afeta a população, indefesa, diante do brutal cerco israelense e a impotência cúmplice da comunidade internacional. Dos 4 bilhões, 481 milhões de dólares arrecadados por mais de 70 países em conferência realizada em março no Egito, para a reconstrução, nada chegou a Gaza, fazendo com que a paisagem seja a mesma – ou pior, sobretudo pelas doenças – de quando os israelenses, impotentes para derrotar a resistência civil dos palestinos, se retiraram de Gaza.
O Egito colabora com esse cerco criminoso, ao deixar fechado o corredor a que tem acesso e ao construir agora um muro que tenta impedir a precária circulação por túneis clandestinos, por onde os palestinos fazem chegar os alimentos mínimos para impedir que morra de fome a população de Gaza. O relator especial da ONU para os territórios palestinos, Richard Falk, conclamou a que todos os países do mundo coloquem em prática sanções econômicas e de outra ordem contra Israel, pelas responsabilidades deste país no massacre e no cerco que mantêm contra Gaza.
Os 700 mil habitantes de Gaza desapareceram dos noticiários internacionais, assim que as tropas israelenses se retiraram. O governo de Israel busca desviar a atenção sobre a ocupação dos territórios palestinos e o cerco a Gaza, aumentando ainda mais a instalação de assentamentos judeus em pleno coração das cidades e dos campos da Cisjordânia, de onde saem regularmente jovens judeus, protegidos por tropas israelenses, para atacar casas, comércios, queimar plantações centenárias de azeitonas das indefesas famílias palestinas.
Israel se tornou um país odioso, racista, agente de um novo holocausto – segundo as palavras do próprio Jimmy Carter -, acobertado e armado pela maior potência militar da história, os EUA, que promove a guerra e pretende ser agente de negociações de paz. Nem sequer consegue deter a instalação de novos assentamentos – se é que pretende detê-los. Israel, um país que detêm, confessadamente, armamentos nucleares, ocupa territórios de outro país, impedindo que ele exerça os mesmos direitos que Israel goza, por resoluções das próprias Nações Unidas, tornando-se um Estado pária da legalidade internacional.
A posição do governo brasileiro de que somente incorporando outros governos – não comprometidos com os genocídios cometidos por Israel, que na semana passada assassinou mais 6 palestinos e continua suas detenções arbitrárias, como a de Jamal Juma, dirigente do movimento Stop the Wall – é que o processo de paz pode abrir horizontes reais de cumprimento das decisões da ONU, que garante a Palestina os mesmos direitos que os israelenses gozam há mais de 60 anos – o direito de ter um Estado palestino, soberano, com fronteiras delimitadas, com direito de regresso dos imigrantes, é a posição correta, que deve ser apoiada e incentivada por todos os desejam um mundo de paz, solidariedade e fraternidade e não o mundo das “guerras infinitas” de Bush, que Israel continua a colocar em prática, um ano depois do massacre de Gaza, contra os palestinos.
Os ataques, que não encontraram nenhuma resistência militar, apenas moral, duraram 22 dias, chegando a provocar 225 mortos em um único dia. 1450 palestinos morreram, dos quais 439 menores de 16 anos e 127 mulheres. 4100 edifícios foram destruídos e outros 1 mil foram danificados. A missão de investigação da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas caracterizou os ataques como “crimes de guerra” e “crimes contra a humanidade”.
Foram destruídas milhares de casas, comércios, além de plantações, hospitais, escolas, universidades, clínicas – tudo que os tanques israelenses encontravam pela frente. Gaza se transformou numa terra arrasada. Quem a visitou depois daqueles terríveis 22 dias, relata que nada tinha ficado de pé, como conseqüência da orientação do Exército israelense, de que “ninguém é inocente em Gaza”.
Um ano depois da agressão, os corredores de entrada para Gaza continuam fechados, nada foi reconstruído, caminhões com alimentos e remédios apodrecem no deserto, às portas de Gaza, enquanto todo tipo de doença afeta a população, indefesa, diante do brutal cerco israelense e a impotência cúmplice da comunidade internacional. Dos 4 bilhões, 481 milhões de dólares arrecadados por mais de 70 países em conferência realizada em março no Egito, para a reconstrução, nada chegou a Gaza, fazendo com que a paisagem seja a mesma – ou pior, sobretudo pelas doenças – de quando os israelenses, impotentes para derrotar a resistência civil dos palestinos, se retiraram de Gaza.
O Egito colabora com esse cerco criminoso, ao deixar fechado o corredor a que tem acesso e ao construir agora um muro que tenta impedir a precária circulação por túneis clandestinos, por onde os palestinos fazem chegar os alimentos mínimos para impedir que morra de fome a população de Gaza. O relator especial da ONU para os territórios palestinos, Richard Falk, conclamou a que todos os países do mundo coloquem em prática sanções econômicas e de outra ordem contra Israel, pelas responsabilidades deste país no massacre e no cerco que mantêm contra Gaza.
Os 700 mil habitantes de Gaza desapareceram dos noticiários internacionais, assim que as tropas israelenses se retiraram. O governo de Israel busca desviar a atenção sobre a ocupação dos territórios palestinos e o cerco a Gaza, aumentando ainda mais a instalação de assentamentos judeus em pleno coração das cidades e dos campos da Cisjordânia, de onde saem regularmente jovens judeus, protegidos por tropas israelenses, para atacar casas, comércios, queimar plantações centenárias de azeitonas das indefesas famílias palestinas.
Israel se tornou um país odioso, racista, agente de um novo holocausto – segundo as palavras do próprio Jimmy Carter -, acobertado e armado pela maior potência militar da história, os EUA, que promove a guerra e pretende ser agente de negociações de paz. Nem sequer consegue deter a instalação de novos assentamentos – se é que pretende detê-los. Israel, um país que detêm, confessadamente, armamentos nucleares, ocupa territórios de outro país, impedindo que ele exerça os mesmos direitos que Israel goza, por resoluções das próprias Nações Unidas, tornando-se um Estado pária da legalidade internacional.
A posição do governo brasileiro de que somente incorporando outros governos – não comprometidos com os genocídios cometidos por Israel, que na semana passada assassinou mais 6 palestinos e continua suas detenções arbitrárias, como a de Jamal Juma, dirigente do movimento Stop the Wall – é que o processo de paz pode abrir horizontes reais de cumprimento das decisões da ONU, que garante a Palestina os mesmos direitos que os israelenses gozam há mais de 60 anos – o direito de ter um Estado palestino, soberano, com fronteiras delimitadas, com direito de regresso dos imigrantes, é a posição correta, que deve ser apoiada e incentivada por todos os desejam um mundo de paz, solidariedade e fraternidade e não o mundo das “guerras infinitas” de Bush, que Israel continua a colocar em prática, um ano depois do massacre de Gaza, contra os palestinos.
sexta-feira, janeiro 01, 2010
Os pedágios
por Luiz Carlos Azenha
Um amigo teve a paciência de coletar os recibos de pedágio.
São Paulo-Bauru-São Paulo
Sete praças de pedágio na ida. Sete praças de pedágio na volta.
Quilômetros rodados: 652.
Valor gasto em pedágios: R$ 87,00.
Valor por quilômetro: 13 centavos de real.
Na New York Thruway o valor do pedágio é de 3 centavos de dólar por milha.
Na Flórida Turnpike é de 7,5 centavos de dólar por milha.
Fazendo a conversão, na New York Thruway, grosseiramente, o motorista paga 3,5 centavos de real por quilômetro rodado.
Na Flórida Turnpike, 8,5 centavos de real por quilômetro rodado.
Já dirigi nas duas: são rodovias melhores que a Castelo Branco e a Marechal Rondon.
Ou seja, 13 centavos/km aqui; 3,5 centavos/km em uma rodovia de Nova York; 8,5 centavos/km em uma rodovia da Flórida.
Há de se considerar que estamos comparando o Brasil (salário mínimo de cerca de 500 reais por mês) com os Estados Unidos (salário mínimo, por baixo, equivalente a 1.500 reais).
Será que a Thruway e Turnpike já amortizaram os custos de construção e podem, por isso, cobrar menos pelo pedágio por quilômetro rodado? Ou será que estamos pagando muito acima do preço aqui em São Paulo ou no Brasil?
Um amigo teve a paciência de coletar os recibos de pedágio.
São Paulo-Bauru-São Paulo
Sete praças de pedágio na ida. Sete praças de pedágio na volta.
Quilômetros rodados: 652.
Valor gasto em pedágios: R$ 87,00.
Valor por quilômetro: 13 centavos de real.
Na New York Thruway o valor do pedágio é de 3 centavos de dólar por milha.
Na Flórida Turnpike é de 7,5 centavos de dólar por milha.
Fazendo a conversão, na New York Thruway, grosseiramente, o motorista paga 3,5 centavos de real por quilômetro rodado.
Na Flórida Turnpike, 8,5 centavos de real por quilômetro rodado.
Já dirigi nas duas: são rodovias melhores que a Castelo Branco e a Marechal Rondon.
Ou seja, 13 centavos/km aqui; 3,5 centavos/km em uma rodovia de Nova York; 8,5 centavos/km em uma rodovia da Flórida.
Há de se considerar que estamos comparando o Brasil (salário mínimo de cerca de 500 reais por mês) com os Estados Unidos (salário mínimo, por baixo, equivalente a 1.500 reais).
Será que a Thruway e Turnpike já amortizaram os custos de construção e podem, por isso, cobrar menos pelo pedágio por quilômetro rodado? Ou será que estamos pagando muito acima do preço aqui em São Paulo ou no Brasil?
O que a "crise militar" nos diz sobre os jornalões. E sobre o Brasil
por Luiz Carlos Azenha
A "crise militar" anunciada pelos jornalões deveria ser utilizada, de forma didática, como um exemplo do uso da desinformação com objetivos políticos.
Diz mais sobre a falta de qualidade dos jornais brasileiros e do uso deles para objetivos políticos do que sobre os assuntos que teriam "gerado" a crise.
Comecemos pelo começo.
O Programa Nacional de Direitos Humanos foi criado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso quando -- ironia das ironias -- o ministro da Justiça era Nelson Jobim. Veja aqui.
Desde então aconteceram 11 conferências nacionais de Direitos Humanos. A décima primeira aconteceu em 2008. As conferencias nacionais de Direitos Humanos reúnem militantes da sociedade civil e representantes das diferentes esferas do governo. As conferências produzem resoluções aprovadas em votações. Essas resoluções podem OU NÃO resultar em projetos de lei patrocinados pelo Executivo. Projetos que tramitam como quaisquer outros no Congresso Nacional. Podem OU NÃO ser aprovados.
Aqui você pode saber quais foram as resoluções da mais recente conferência.
Como mostrou o Paulo Henrique Amorim, com a exposição de um vídeo, durante a conferência mais recente foi aprovada, por 29 votos a 2, a proposta de se formar uma Comissão Nacional de Verdade e Justiça.
Trata-se, portanto, apenas de uma proposta. Que poderá ou não ser adotada pelo Executivo brasileiro.
Uma proposta aprovada por 29 votos da sociedade civil:
Contra dois votos de representantes do Ministério da Defesa:
Feito isso, o presidente da República e a ministra Dilma Rousseff participaram do lançamento do Plano Nacional de Direitos Humanos, em sua terceira versão (lembrem-se, a primeira versão é do governo FHC).
Como constatou o colunista Janio de Freitas, da Folha de S. Paulo, a reação de desconforto dos chefes militares se deu depois do evento. Eles foram acompanhados pelo ministro Nelson Jobim. Estamos falando, até agora, de meras propostas aprovadas pela sociedade civil.
Mas, estranhamente, os jornais brasileiros descobrem o assunto AO MESMO TEMPO, na semana seguinte à crise, como notou Janio de Freitas.
Todos noticiaram o assunto com destaque, NO MESMO DIA:
Estadão, primeira página
O Globo, primeira página
Folha, página 3
Os textos dos três jornais estão repletos de informações falsas, deturpadas, incompletas ou que dão pernas a opiniões desinformadas.
Exemplos:
Na Folha, a reportagem assinada pela musa do alerta amarelo, aquela que sugeriu a todos os brasileiros, indiscriminadamente, que zarpassem para o posto de saúde mais próximo para tomar vacina contra a febre amarela, quando a vacina tem contra-indicações e NÃO PODE SER TOMADA POR TODOS -- a Eliane Cantanhêde -- diz que os militares "imaginam que o resultado dessas propostas seja a depredação ou até a invasão de instalações militares que supostamente tenham abrigado atos de tortura e não admitem o contrangimento da retirada de nomes de altos oficiais de avenidas pelo país afora".
Ora, a Folha não explica ao leitores o que é o Programa Nacional de Direitos Humanos, nem o que é a Conferência Nacional de Direitos Humanos, nem que as propostas da conferência são meramente propositivas. Dá pernas à teoria da "depredação" de instalações militares, completamente absurda.
O Globo, por sua vez, cita apenas um parlamentar: Raul Jungmann, do PPS-PE, aliado de Nelson Jobim e de José Serra:
"Ele chamou para si a crise e fez prevalecer sua autoridade -- disse Jungmann", diz o jornal carioca, atribuindo a crise ao ministro da Secretaria de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, que segundo o jornal "se confirmada a decisão de Lula de rever o decreto", "sai enfraquecido". É importante registrar que o decreto de Lula institui o Programa Nacional de Direitos Humanos SEM DEFINIR quais serão as propostas efetivamente apoiadas pelo Executivo. Portanto, não se pode falar em "recuo" de Lula: o presidente da República ainda não definiu os projetos que apresentará com base nos resultados da décima primeira Conferência Nacional dos Direitos Humanos.
Finalmente, chegamos ao Estadão: "Projeto muda Lei de Anistia e Jobim ameaça se demitir", diz a manchete de primeira página, factualmente errada.
Não existe projeto mudando a lei de Anistia. O alcance da Lei de Anistia, de 1979, será julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Leia aqui para entender.
O texto de primeira página do Estadão é falso:
O Programa Nacional de Direitos Humanos, que prevê a criação de uma comissão especial para revogar a Lei de Anistia de 1979, provocou uma crise militar.
Não é verdade que o PNDH-3 proponha a revogação da Lei de Anistia. O PNDH-3 contém uma proposta para a criação de uma Comissão da Verdade que, dependendo dos poderes atribuídos a ela, em tese poderia sugerir à Justiça a investigação e indiciamento de agentes públicos acusados de tortura, por exemplo. Mas ANTES seria preciso esperar a decisão do STF sobre o alcance da Lei de Anistia de 1979 e a decisão do Congresso EFETIVAMENTE criando a comissão da verdade e dando a ela PODERES REAIS de investigação. Notaram as nuances simplesmente desprezadas pelo Estadão?
No dia seguinte, tentando dar pernas à crise, o Estadão publica um editorial em que repete a mesma lógica de 1964, dizendo que o Programa Nacional de Direitos Humanos ameaça promover "uma nova e mais perniciosa divisão política e ideológica da família brasileira".
Patético, para dizer o mínimo.
Disso tudo, concluo:
1. Que os jornalões brasileiros, como denunciamos faz tempo, cumprem funções propagandísticas: foram incapazes de "perceber" a crise militar, de "investigar" a crise militar e noticiaram a "crise militar" com alguns dias de atraso, AO MESMO TEMPO, alimentados sabe-se-lá por quem.
2. Que os jornalões brasileiros, no mínimo, são incapazes de lidar com os fatos; no máximo, servem a uma campanha de desinfomação.
3. Que quem semeia a crise no mínimo acredita em uma solução "por cima" da sociedade civil brasileira; que quem semeia a crise ou está no comando dos quartéis e não dispõe de apoio na sociedade civil ou vai bater às portas dos quartéis por falta de eleitores, no mínimo para derrubar ou enfraquecer os ministros Tarso Genro e Paulo Vannuchi e no máximo para atingir a "terrorista" Dilma como "dano colateral".
Mas o episódio nos diz mais.
Revela a contínua incapacidade dos chefes militares de lidar com decisões tomadas publicamente, com participação de representantes da sociedade civil, pelo placar acachapante de 29 a 2, ainda que essa propostas sejam meramente indicativas, sem poder legal. É a democracia sem povo.
Revela também, pelo conteúdo dos comentários que o Viomundo aprovou nas últimas horas, a existência de um grupo de comentaristas conservadores que está disposto a defender a tortura como ferramenta oficial do Estado brasileiro, ainda que a tortura fosse ilegal PELA LEGISLAÇÃO ARBITRÁRIA dos regimes militares brasileiros.
Prefiro atribuir isso ao desespero da direita brasileira com a simples possibilidade de perder mais uma eleição no ano que vem.
Feliz 2010 a todos!
PS: Todas as informações deste post estão disponíveis na internet. Sugiro que se dê um curso de "Google" nas redações brasileiras.
PS2: A Conferência Nacional de Comunicação, realizada este ano pela primeira vez, apenas repete a fórmula de outras conferências nacionais, como a de Direitos Humanos. O fato de que a mídia boicotou a Confecom expôs claramente quais são os limites da "democracia" aceita pelos donos dos grandes meios de comunicação no Brasil.
PS3: Sempre é bom lembrar qual foi o destino daqueles que foram bater às portas dos quartéis antes do golpe de 1964: foram presos, cassados ou se tornaram grandes empresários da comunicação com amplo financiamento e cobertura dos chefes militares. Essa relação simbiótica foi capturada pela Beatriz Kushnir.
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A "crise militar" anunciada pelos jornalões deveria ser utilizada, de forma didática, como um exemplo do uso da desinformação com objetivos políticos.
Diz mais sobre a falta de qualidade dos jornais brasileiros e do uso deles para objetivos políticos do que sobre os assuntos que teriam "gerado" a crise.
Comecemos pelo começo.
O Programa Nacional de Direitos Humanos foi criado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso quando -- ironia das ironias -- o ministro da Justiça era Nelson Jobim. Veja aqui.
Desde então aconteceram 11 conferências nacionais de Direitos Humanos. A décima primeira aconteceu em 2008. As conferencias nacionais de Direitos Humanos reúnem militantes da sociedade civil e representantes das diferentes esferas do governo. As conferências produzem resoluções aprovadas em votações. Essas resoluções podem OU NÃO resultar em projetos de lei patrocinados pelo Executivo. Projetos que tramitam como quaisquer outros no Congresso Nacional. Podem OU NÃO ser aprovados.
Aqui você pode saber quais foram as resoluções da mais recente conferência.
Como mostrou o Paulo Henrique Amorim, com a exposição de um vídeo, durante a conferência mais recente foi aprovada, por 29 votos a 2, a proposta de se formar uma Comissão Nacional de Verdade e Justiça.
Trata-se, portanto, apenas de uma proposta. Que poderá ou não ser adotada pelo Executivo brasileiro.
Uma proposta aprovada por 29 votos da sociedade civil:
Contra dois votos de representantes do Ministério da Defesa:
Feito isso, o presidente da República e a ministra Dilma Rousseff participaram do lançamento do Plano Nacional de Direitos Humanos, em sua terceira versão (lembrem-se, a primeira versão é do governo FHC).
Como constatou o colunista Janio de Freitas, da Folha de S. Paulo, a reação de desconforto dos chefes militares se deu depois do evento. Eles foram acompanhados pelo ministro Nelson Jobim. Estamos falando, até agora, de meras propostas aprovadas pela sociedade civil.
Mas, estranhamente, os jornais brasileiros descobrem o assunto AO MESMO TEMPO, na semana seguinte à crise, como notou Janio de Freitas.
Todos noticiaram o assunto com destaque, NO MESMO DIA:
Estadão, primeira página
O Globo, primeira página
Folha, página 3
Os textos dos três jornais estão repletos de informações falsas, deturpadas, incompletas ou que dão pernas a opiniões desinformadas.
Exemplos:
Na Folha, a reportagem assinada pela musa do alerta amarelo, aquela que sugeriu a todos os brasileiros, indiscriminadamente, que zarpassem para o posto de saúde mais próximo para tomar vacina contra a febre amarela, quando a vacina tem contra-indicações e NÃO PODE SER TOMADA POR TODOS -- a Eliane Cantanhêde -- diz que os militares "imaginam que o resultado dessas propostas seja a depredação ou até a invasão de instalações militares que supostamente tenham abrigado atos de tortura e não admitem o contrangimento da retirada de nomes de altos oficiais de avenidas pelo país afora".
Ora, a Folha não explica ao leitores o que é o Programa Nacional de Direitos Humanos, nem o que é a Conferência Nacional de Direitos Humanos, nem que as propostas da conferência são meramente propositivas. Dá pernas à teoria da "depredação" de instalações militares, completamente absurda.
O Globo, por sua vez, cita apenas um parlamentar: Raul Jungmann, do PPS-PE, aliado de Nelson Jobim e de José Serra:
"Ele chamou para si a crise e fez prevalecer sua autoridade -- disse Jungmann", diz o jornal carioca, atribuindo a crise ao ministro da Secretaria de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, que segundo o jornal "se confirmada a decisão de Lula de rever o decreto", "sai enfraquecido". É importante registrar que o decreto de Lula institui o Programa Nacional de Direitos Humanos SEM DEFINIR quais serão as propostas efetivamente apoiadas pelo Executivo. Portanto, não se pode falar em "recuo" de Lula: o presidente da República ainda não definiu os projetos que apresentará com base nos resultados da décima primeira Conferência Nacional dos Direitos Humanos.
Finalmente, chegamos ao Estadão: "Projeto muda Lei de Anistia e Jobim ameaça se demitir", diz a manchete de primeira página, factualmente errada.
Não existe projeto mudando a lei de Anistia. O alcance da Lei de Anistia, de 1979, será julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Leia aqui para entender.
O texto de primeira página do Estadão é falso:
O Programa Nacional de Direitos Humanos, que prevê a criação de uma comissão especial para revogar a Lei de Anistia de 1979, provocou uma crise militar.
Não é verdade que o PNDH-3 proponha a revogação da Lei de Anistia. O PNDH-3 contém uma proposta para a criação de uma Comissão da Verdade que, dependendo dos poderes atribuídos a ela, em tese poderia sugerir à Justiça a investigação e indiciamento de agentes públicos acusados de tortura, por exemplo. Mas ANTES seria preciso esperar a decisão do STF sobre o alcance da Lei de Anistia de 1979 e a decisão do Congresso EFETIVAMENTE criando a comissão da verdade e dando a ela PODERES REAIS de investigação. Notaram as nuances simplesmente desprezadas pelo Estadão?
No dia seguinte, tentando dar pernas à crise, o Estadão publica um editorial em que repete a mesma lógica de 1964, dizendo que o Programa Nacional de Direitos Humanos ameaça promover "uma nova e mais perniciosa divisão política e ideológica da família brasileira".
Patético, para dizer o mínimo.
Disso tudo, concluo:
1. Que os jornalões brasileiros, como denunciamos faz tempo, cumprem funções propagandísticas: foram incapazes de "perceber" a crise militar, de "investigar" a crise militar e noticiaram a "crise militar" com alguns dias de atraso, AO MESMO TEMPO, alimentados sabe-se-lá por quem.
2. Que os jornalões brasileiros, no mínimo, são incapazes de lidar com os fatos; no máximo, servem a uma campanha de desinfomação.
3. Que quem semeia a crise no mínimo acredita em uma solução "por cima" da sociedade civil brasileira; que quem semeia a crise ou está no comando dos quartéis e não dispõe de apoio na sociedade civil ou vai bater às portas dos quartéis por falta de eleitores, no mínimo para derrubar ou enfraquecer os ministros Tarso Genro e Paulo Vannuchi e no máximo para atingir a "terrorista" Dilma como "dano colateral".
Mas o episódio nos diz mais.
Revela a contínua incapacidade dos chefes militares de lidar com decisões tomadas publicamente, com participação de representantes da sociedade civil, pelo placar acachapante de 29 a 2, ainda que essa propostas sejam meramente indicativas, sem poder legal. É a democracia sem povo.
Revela também, pelo conteúdo dos comentários que o Viomundo aprovou nas últimas horas, a existência de um grupo de comentaristas conservadores que está disposto a defender a tortura como ferramenta oficial do Estado brasileiro, ainda que a tortura fosse ilegal PELA LEGISLAÇÃO ARBITRÁRIA dos regimes militares brasileiros.
Prefiro atribuir isso ao desespero da direita brasileira com a simples possibilidade de perder mais uma eleição no ano que vem.
Feliz 2010 a todos!
PS: Todas as informações deste post estão disponíveis na internet. Sugiro que se dê um curso de "Google" nas redações brasileiras.
PS2: A Conferência Nacional de Comunicação, realizada este ano pela primeira vez, apenas repete a fórmula de outras conferências nacionais, como a de Direitos Humanos. O fato de que a mídia boicotou a Confecom expôs claramente quais são os limites da "democracia" aceita pelos donos dos grandes meios de comunicação no Brasil.
PS3: Sempre é bom lembrar qual foi o destino daqueles que foram bater às portas dos quartéis antes do golpe de 1964: foram presos, cassados ou se tornaram grandes empresários da comunicação com amplo financiamento e cobertura dos chefes militares. Essa relação simbiótica foi capturada pela Beatriz Kushnir.
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