terça-feira, janeiro 12, 2010

O IRÃ E OS DIREITOS HUMANOS

Laerte Braga


Uma bomba detonada por controle remoto matou na terça-feira, 12 de janeiro, o cientista nuclear iraniano Massoud Ali-Mohammadi, professor da Universidade de Teerã. A bomba explodiu na própria universidade e o Ministério das Relações Exteriores afirma que “existem indícios de envolvimento dos EUA e de Israel no ataque”.

A expressão “indícios” chega a ser quase que uma concessão a Israel e aos EUA, já que é prática dos serviços secretos dos governos desses dois países a eliminação de adversários e aqueles que consideram “inimigos”. Isso é terrorismo lato senso e os governos de Israel e dos EUA são terroristas.

À época de Bush o presidente assinou decreto autorizando a CIA e agências de segurança e informações, a seqüestrar ou eliminar pessoas fora do território norte-americano em nome da “garantia da integridade do povo dos EUA”. Obama deu indicativos que esse tipo de crime seria banido em seu governo, mas como tudo o que Obama faz ou fala, na realidade se repete o governo Bush. Saiu a areia e entrou a vaselina.

As poucas mudanças são na política interna e mesmo assim voltadas para ganhos eleitorais e jogando o jogo das futuras eleições.

Está acontecendo em Teerã o julgamento de sete integrantes da religião Bahá’i, presos sob acusação de atividades suspeitas nos protestos contra a reeleição do presidente Mahamud Ahmadinejad.

Os porta-vozes dos Bahá’iis estão denunciando em todo o mundo o caráter “ilegal” das prisões e do julgamento, apontando que os direitos humanos dos presos estão sendo “violados”.

A constituição da República Islâmica do Irã reconhece a existência de mais três religiões além do Islamismo. O Zoroastrianismo, o Cristianismo e o Judaísmo. Todas têm uma cota de representação no parlamento iraniano.

O atual e os governos anteriores, mesmo o moderado de Rafsanjani, atribuem a integrantes da religião Bahá’i ligações com o governo terrorista de Israel, mais precisamente, o uso da religião Bahá’i como instrumento de Tel Aviv para práticas como a de terça-feira, dia 12, a que matou o físico Massoud Ali-Mohammadi.

A sede da religião Bahá’i é em Haifa, no território de Israel. As autoridades iranianas negam perseguição aos integrantes da religião ou à própria religião, mas exibem na mídia do país documentos que comprovam ligações de membros Bahá’is com Israel.

Para o governo de Teerã aceitar os Bahá’is não seria problema e nem é. Não existe veto algum à religião Bahá’i, mas a participação de vários dos que cultuam a fé, em flagrante desacordo com os princípios da própria religião, que proíbe atividade político partidária de seus integrantes, em atos contra o governo. Desde passeatas financiadas por Israel e EUA, manifestações montadas para criar um clima de conflito no país e atentados como esse que matou o físico Massoud Ali-Mohammadi.

A presença de agentes norte-americanos e israelenses em território iraniano se dá através de agentes infiltrados ou integrantes da religião Bahá’i.

Segundo as autoridades iranianas é o caso dos sete presos que estão sendo submetidos a julgamento e outros que foram presos durante a semana passada e nesta semana.

O fato é que a reeleição de Mahamud Ahmadinejad pegou de surpresa os EUA e Israel. A vantagem do presidente sobre seu principal adversário foi de quase dois por um e para isso foi decisiva a participação do eleitorado xiiita em todo o país. Norte-americanos e israelenses apostavam na derrota de Ahmadinejad.

O programa nuclear iraniano é um complicador para as pretensões de Israel e EUA no Oriente Médio. A construção de armas nucleares pelo Irã equilibra a situação naquela parte do mundo, o privilégio dessas armas deixa de ser só de Israel e isso muda, por exemplo, a política de agressão constante ao povo palestino.

O assassinato do físico Massoud Ali-Mohammadi elimina um cientista de peso no programa nuclear do Irã. É um ato de terrorismo puro, hediondo. Não vai, no entanto, paralisar esse programa.

E além de Israel, regimes ditatoriais como o do Egito, da Arábia Saudita, Jordânia, Emirados Árabes começam a enfrentar dificuldades em maior escala com as reações populares à forma como os palestinos são tratados. No Egito, por exemplo, partidos de caráter islâmico tiveram que ser proscritos para que não vencessem as eleições parlamentares em anos anteriores e colocassem em risco a ditadura de Osni Mubarak, controlado por Washington e submisso a Tel Aviv.

A construção de um muro pelo governo egípcio para impedir a passagem de palestinos acaba por somar-se ao muro de Israel que roubou terras palestinas e transforma o que deveria ser, de direito, por decisão da ONU, um estado palestino, num grande gueto. Um grande campo de concentração.

A prática do governo de Israel não difere da prática do governo alemão ao tempo do IIIº Reich. É idêntica.

É claro que a comunidade Bahá’i no Irã, envolvida por Israel e a partir de Israel, em Haifa, sede da religião, vive apreensiva e temerosa. Mas óbvio está a participação de lideranças Bahá’is em ações terroristas contra o governo do presidente Ahmadinejad.

Não significa necessariamente a participação do todo dos Bahá’is, mas é patente o uso da religião para outros fins.

Nessa medida fica difícil aceitar a inocência dos sete Bahá’is que estão sendo julgados em Teerã. Os documentos apresentados pelo governo e autoridades judiciárias do Irã sobre ações terroristas dos acusados a serviço de potências e interesses e estrangeiros são fartos.

A morte por assassinato, terrorismo, do físico Massoud Ali-Mohammadi, é quase que uma prova cabal desse tipo de ação e envolvimento de figuras de destaque na comunidade Bahá’i em complôs contra o Irã.

Quem quer que observe o noticiário sobre a reeleição de Ahmadinejad, voltar no tempo um pouco, vai perceber que a mídia ocidental, a norte-americana e a nosso caso a brasileira, procurou criar uma realidade bem diferente dos fatos, uma versão ao sabor de Washington e Tel Aviv. O temor que, transformando-se numa potência nuclear, o Irã consiga deter o processo terrorista posto em prática na região por Israel e pelos EUA, além das ditaduras de países árabes coniventes com Reich atual.

Não há dúvidas que direitos básicos e fundamentais têm que ser respeitados, do contrário, como dizia Guevara, se para impor nossas idéias precisamos da “porrada”, não há porque lutar. Isso no entanto não retira do governo do Irã, vontade do povo iraniano, o direito de garantir sua segurança e a soberania nacional, além da própria integridade territorial.

A História recente mostra que desde a Revolução Islâmica, que pôs fim a uma ditadura favorável aos EUA, as ações de norte-americanos e israelenses têm sido de violência e agressões sistemáticas ao Irã.

Terça-feira, 12 de janeiro de 2010 fica registrado como um dia em que a ação terrorista do império “eliminou” mais um inimigo. Barack Obama, qualquer autoridade governamental ou mídia dos EUA, ou aqui a nossa, quefalar em direitos humanos chega a ser um escárnio, um insulto.

São bárbaros, assassinos. Pena que estejam envolvendo toda uma comunidade, a Bahá’i, arrastando-a por algumas figuras, a uma situação lamentável.

Os próprios Bahá’is em todo o mundo devem refletir sobre o assunto levando em conta os princípios da religião. Para que não sejam transformados por Israel e pelos EUA, através de agentes, falsos Bahá’is, em instrumento de práticas golpistas e terroristas.

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